Só se fala em crise. Assim como tudo tem seus altos e baixos, a economia do Brasil não fugiria à regra. Mas, o que há de diferente nessa crise? Como nossa logística está reagindo a esse período – que só está no começo – e em qual setor deixará suas marcas? A verdade é que, com a falta de atenção, ela pode trazer consequências catastróficas para todos os segmentos da economia. Para alguns, consequências passageiras, para outros determinantes.
O Programa de Investimento em Logística (PIL), cujo valor total será de R$ 198,45 bi provindos de investimentos privados e financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do qual já tratamos aqui e que nos leva a acreditar que está mais numa ordem de sobrevivência política do que propriamente numa abertura para as tão sonhadas soluções logísticas, já que a maioria dos projetos não saiu do papel no plano anterior divulgado em 2012, veio tarde demais. O momento realmente é para investimentos. Contudo, com a retração da economia, não precisamos de muito para entender que com a baixa na cadeia produtiva, um país que funciona como arrecadador não disporá de orçamentos para suas intenções. Da mesma forma, o pilar do PIL, os investimentos privados, segue a mesma lógica.
O que realmente não dá para entender é o nosso despreparo diante de uma situação previsível como esta. Previsível por quê? Ora, imaginemos que recebemos um cartão de crédito com um limite razoável e que aquele bem que tanto almejávamos agora está acessível. Comprá-lo parece inevitável. O saldo ainda dá para outras coisinhas e o momento deve ser bem aproveitado, afinal temos uma renda e merecemos usufruir daquilo que antes estávamos privados… A hora de pagar a conta chegou e a renda parece não estar compatível com o débito. Isso é o que está acontecendo com o Brasil. Simplesmente chegou a hora de pagar a conta.
Desde 2008, com a acentuada crise americana e depois a europeia, o Brasil vinha recebendo injeções financeiras de investidores que fugiam dos perigos previsíveis dos mercados estrangeiros. Passados esses perigos previsíveis, esses investimentos foram embora e nos deixaram com uma falsa sensação de poder. Não há dúvidas de que o país se beneficiou com a situação. Porém, como um grande e suculento tomate que não foi colhido na hora certa, os investimentos não foram bem aproveitados, pois encontraram uma infraestrutura atrasada e insuficiente que não permitiu que a cadeia produtiva encontrasse uma maior e melhor forma sustentável para fomentar todos os segmentos da cadeia econômica. Resultado? O tomate só despertou os olhos ávidos da corrupção que pensou estar diante de algo diferente, jamais visto na história do país e que, se antes era retirada uma fatia, agora podem ser retiradas duas que não farão falta… Mas, fez! E o tomate não se sustentou no ramo e veio ao chão para ser atacado pelas outras pragas que o aguardavam.
Da mesma forma que buscamos equilibrar nossas contas, o Brasil tem que fazer o mesmo para voltar a gerar oportunidades. É só uma questão de proporção. Também dependemos de políticas públicas acertadas para que continuemos com chances de quitar nossas dívidas para depois voltarmos a comprar e continuarmos crescendo.
Parece que não entendemos que não há nada de graça no mercado. Mesmo quando o “grátis” está em letras garrafais. Se não pudermos adquirir só o que é grátis separadamente – o que nunca se pode – estaremos pagando no que venha atrelado. Nos deixamos levar por facilidades além da nossa capacidade financeira e, como dito, se tudo é uma questão de proporção, temos aquela TV a mais para colocar no quarto enquanto o país gasta com uma política energética incapaz de suprir tanta demanda, ou obtivemos mais um carro enquanto o Brasil insiste em gastar US$ 5 bi com caças suecos. Tudo o que ficou foi o trauma de termos perdido mais uma chance por não aproveitamos o momento de forma consciente e planejada. Pode ser pior se acharmos que ainda somos os donos da bola.
Surpreendidos com a fatura, passamos a entender que a economia funciona de forma sistemática onde se deve comprar e produzir. Passamos a fase das compras e temos que nos organizar para voltar a produzir ao mesmo tempo em que pagamos a conta. Como? São muitas as respostas.
5 respostas em “A hora de pagar a conta”
Boa noite pessoal.
Trabalho no ramo de auto peças em uma multinacional com 22 filiais no país e me interessei muito pelo curso até porque prático no dia a dia mas tenho medo de fazer o curso e não ter retorno.
Medo do mercado não está tão acessível diante dessa crise.
Alguém pode me dar uma opinião?
Prezada Ana Flávia.
Obrigado pelo seu contato e de todos que acompanham nossos artigos que têm a função de informar e despertar opiniões.
Quanto à sua solicitação, baseado nos mais de quinze anos em Logística, posso lhe afirmar que sempre houve esse tipo de dificuldades no mercado. Numa crise, precisamos nos antecipar para que ao término dela estejamos preparados enquanto outros perderam tempo se lamentando. Sem contar que depois dessa estaremos sujeitos a outras crises. A única saída sempre será a qualificação, seja num curso de logística ou em outro no qual você se identifique. Quanto à abertura do mercado, a aérea de logística sempre será necessária em todas as situações. Se hoje é uma área sofrida, nada tem a ver com sua necessidade em todos os segmentos, pois é imprescindível para o desenvolvimento econômico do país, mas tem a ver mesmo com seus problemas infraestruturais que teimam acompanhá-la pela falta de investimentos. Isso vem mudando. Infelizmente, não na velocidade necessária.
Saúde e sucesso.
5 bilhões em caças suíços? Quer ter riqueza e protege-la como? O gasto com tais armamentos tinha que ser feito e foi feito com bastante atraso, sendo que o projeto de renovação de caças FX2 já vem se arrastando pelas paredes sujas de brasília por muito tempo. Aliás na parte logística do exercito eles supriram varias e ainda não todas lacunas de defesa!
Ultimamente o investimento em logística só fica aguardando e que eu estou analisando vai ficar aguardando de novo os investimento!
Bom dia Pessoal.
Como já foi dito não temos como aumentar nossas exportações pois os meios para faze-lo, portos, transportes internos, etc. estão saturados e não suportam uma tonelada a mais. Passou da hora de aparelharmos nossos portos, descomplicar a burocracia de exportação, construirmos ferrovias para desafogar as estradas e diminuir o preço dos fretes internos. E por que não um novo porto moderno e eficiente. Mas não deve ficar nas mãos do governo pois assim não funcionará. Deve ser operado pela iniciativa privada.
E não se preocupem com o gasto. Cada centavo investido nessas melhorias retornará em breve com o aumento das exportações. Afinal para se produzir precisamos de gente, maior arrecadação na previdência, pagaremos mais impostos, mais folga para o tesouro. Precisaremos de veículos para transportes, mais empregos e impostos, ETC.
Será que o governo federal com seus milhões de “técnicos” não consegue enxergar isso.
E também, se tirarmos os desonestos do governo e das estatais, vai ajudar muito nossa recuperação econômica.