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A opção do transporte hidroviário

Um levantamento realizado pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), do Rio de Janeiro, mostra que o Brasil tem a pior infraestrutura de logística entre os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Em rodovias pavimentadas, o Brasil dispõe de apenas 212 mil quilômetros, enquanto a Rússia tem 655 mil quilômetros e a Índia e a China 1,5 milhão cada. Para se ter um termo de comparação, diga-se que os Estados Unidos têm 4,2 milhões e o Canadá 516 mil.

transporte hidroviário BrasilMesmo assim, o Brasil continua a transportar 76% de suas cargas sobre caminhões.  No Estado de São Paulo, o mais desenvolvido da Federação, a situação é ainda mais grave: 80% das cargas movimentadas passam por rodovias, o que causa numerosos transtornos para a população e para o setor produtivo. Para comparar, lembre-se que os Estados Unidos, país da indústria automobilística e das rodovias, somente 38% das cargas viajam de caminhão.

Diante disso, o desafio do governo paulista – e do brasileiro – é multiplicar a participação de outros modais no transporte de cargas, notadamente o ferroviário e o hidroviário. Mas, à guisa de exemplo, analise-se apenas a questão hidroviária. Até 2003, apenas 0,5% do tráfego de mercadorias no Estado era realizado por hidrovia, ou seja, 700 milhões de toneladas por quilômetros úteis (tku). Naquele ano, o governo do Estado lançou o Plano Estratégico Hidroviário que previa a elevação desse índice para 6% até 2012, ou seja, 16 bilhões de tku.

Por enquanto, o transporte aquaviário está concentrado na Hidrovia Tietê-Paraná, embora haja espaço para a ampliação do modal, principalmente se o governo estadual investir mais e explorar a navegação dos rios Paranapanema, Grande, Paraíba e, principalmente, do Ribeira do Iguape, levando o desenvolvimento ao Litoral Sul e Vale do Ribeira.

Segundo dados da Agência Nacional de Transporte Aquaviários (Antaq), o modal hidroviário no Estado atende praticamente a grãos, farelos e óleos vegetais (soja, trigo e milho), produtos do setor sucroalcoleiro (cana, açúcar e álcool), petroquímicos e combustíveis, insumos agrícolas (calcário, fertilizantes e defensivos), madeira e celulose, além de contêineres em menor número.

Os investimentos ainda são incipientes, principalmente se se levar em conta que o modal hidroviário é 20 vezes mais barato que o rodoviário. Uma barcaça pode transportar até 1.500 toneladas, equivalente a 60 carretas, que podem transportar no máximo até 25 toneladas cada. É de ressaltar ainda que, nas hidrovias, não há pedágios nem buracos que causam danos aos veículos e à carga e o risco de roubo é menor. Além disso, uma barcaça pode substituir até 15 vagões com capacidade para carregar até 100 toneladas.

Mas é claro que há obstáculos: a profundidade dos rios é insuficiente em determinados trechos e há pontes estreitas que dificultam a passagem, por exemplo. Sem contar que o transporte hidroviário é mais lento e demorado. Dependendo da época do ano, os rios ficam rasos e a navegação se torna inviável. Mesmo assim, é um modal atraente, pois os fretes hidroviários podem ser 62% mais baratos que os rodoviários. O que falta é investimento para torná-lo uma opção factível para todo o tipo de carga.

Por Mauro Lourenço Dias

É professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP.

4 respostas em “A opção do transporte hidroviário”

Guilherme Mattes, acredito que é melhor pensar no desenvolvimento que os outros modais podem levar para outras
áreas, se você pensar no modal ferroviário que pode levar desenvolvimento para o interior dos estados que são áreas mais carentes de amparo do governo, o hidroviário levará para as cidades ribeirinhas, isso irá gerar emprego em várias cidades assim já evitando a migração das pessoas para as capitais a procura de emprego. Pode até diminuir o fluxo do rodoviário mas ele não deixará de existir porque o outros modais irão precisar dele nas pontas, essa é a idéia o rodoviario tem que ser para distancias curtas/médias. Sem contar que estes modais irão baixar o valor do frete para as industrias que poderão diminuir o valor de seus produtos e irá ter um maior consumo no mercado fazendo girar a economia e todos ganham. O governo sabe disso mas é mais fácil fazer propaganda politica construindo estradas ou tapando buraco, porque isso é feito dentro de um mandato, mas já construir ferrovias demora ai vai ficar pronta só em outro governo já ai eles julgam que não vale a pena.

É exatamente como disse Renato da Silva Gomes, infelizmente nossos políticos só tem em mente os fins eleitoreiros e não planejam uma infraestrutura a médio e longo prazo, são imediatistas, pois assim fica mais visível aos olhos do povo e acarreta em mais publicidade e votos para os mesmos. Mas isto tem que mudar, de algum jeito, primeiramente pode ser mudando a cultura e visão política da população, devemos escolher políticos como se escolhe mercadorias nos supermercados, desculpe a expressão, mas é assim mesmo, escolher o que tem melhor custo benefício, mais eficaz, barato e que tem haver com sustentabilidade, e se escolhemos algo que não atende nossas expectativas nunca mais voltamos a adquirir novamente.

Mauro, você acredita que as questões sociais que envolvem o transporte rodoviário brasileiro não irão frear o desenvolvimento de outros modais internamente em nosso país?
Imagine quantas pessoas hoje dependem de fretes rodoviários para sobreviver, quantas famílias não estão envolvidas direta e indiretamente.
Não protejo este aspecto, mas acho que não é tão simples apenas investir em novos modais, enquanto por trás temos um problema social com tal amplitude.

Bom dia

Sr mauro
Sou estudante MBA em Logística, e gostaria de ser um palestrante na Feira do Porto Naval da cidade de Rio Grande defendendo esta idéia, sendo assim gostaria muito de sua ajuda. Por favor me retorne.

Um abraço

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