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As classes sociais e a desigualdade no Brasil

Leia também sobre as implicações econômicas do crescimento da economia do Brasil em:

Brasil: 6ª potência econômica no ranking do PIB mundial

Ainda existem muitas dúvidas sobre a classificação das classes sociais no Brasil, e nesta matéria iremos não apenas explicar como é feita esta separação mas também oferecer ao leitor a possibilidade de calcular a sua classe social e comparar com o resto dos leitores, ao responder nossa enquete ao final do texto.

Por Leandro Callegari Coelho e Ludmar Rodrigues Coelho *

Há algum tempo não podemos mais falar em pirâmide de classes sociais no Brasil. Se antigamente as classes D e E continham a maioria da população, formando uma grande base, hoje encontramos um losango de classes sociais, com o inchaço da classe C nos últimos anos, vinda de uma migração das classes menos favorecidas.

Os dados abaixo refletem pesquisa realizada com 1500 pessoas em 70 cidades (incluindo nove regiões metropolitanas), na última semana de 2010. A pesquisa está disponível para download ao final do texto.

Apenas no ano de 2010, 19 milhões de pessoas deixaram as classes DE e 12 milhões subiram as classes AB. Há 5 anos, as classes A, B e C somadas representavam apenas 49% da população, enquanto em 2010 elas somavam 74%. Sobram apenas 26% para formar a velha base da pirâmide, que começa a tomar forma mais igualitária. Repare na tabela e no gráfico abaixo como as classes DE vêm perdendo massa, e como a classe C vem aumentando.

Distribuição da população por classe social

[table id=37 /]

gráfico da evolução das classes sociais no brasil

Repare também como mudou a distribuição da “pirâmide” de 2006 para 2010, se insistirmos em colocarmos as classes DE na base.

pirâmide das classes sociais no brasil em 2005 e 2010

 

Mas se fizermos o gráfico baseado no tamanho, repare como a diferença é mais marcante:

nova pirâmide das classes sociais no brasil 2005 e 2010

A chamada classe C ou a Classe Média Brasileira teve o acréscimo de 19 milhões de pessoas no ano de 2010, passando, assim, a ter 101 milhões de brasileiros e representando 53% da população do País.

Desigualdade social

De acordo com dados de 2005 da CIA, o Coeficiente de Gini do Brasil é de 56,7. Este coeficiente mede a desigualdade na distribuição de renda, sendo que se ele for igual a 100 indica distribuição totalmente desigual e igual a 0 indica total igualdade na distribuição da renda. Como comparação, países como Suécia, Dinamarca, Finlândia e muitos outros europeus tem este coeficiente abaixo de 30. No mesmo patamar do Brasil estão Guatemala, Colômbia, Honduras, Zimbábue e Haiti.

Outra indicação da distribuição de renda, além do Coeficiente de Gini, é a relação entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres da população. Neste caso, enquanto as melhores relações são menores que 10 (chegando a níveis tão bons quanto 4), no Brasil a relação é de 49,8 (ainda de acordo com dados da CIA). Esta relação é comparável à de países como Guatemala, Venezuela e El Salvador.

Como são calculadas as classes sociais?

A classificação de classes sociais utilizada no Brasil segue o estabelecido no Critério de Classificação Econômica Brasil, ou Critério Brasil. O Critério Brasil define as classes sociais em função do poder de compra e consumo de determinados itens. Se uma família tem acesso a cada um dos itens, ela ganha pontos, que são somados e comparados com uma tabela. A classe social desta família é determinada pelo número de pontos que ela conseguir somar, e existem 7 classes econômicas diferentes (A1, A2, B1, B2, C, D, E).

Em qual classe social estou?

Some os pontos que sua família atinge utilizando as tabelas a seguir:

[table id=38 /]

Tendo seus pontos somados, compare com as faixas de corte abaixo para determinar qual a classe social de sua família:

[table id=39 /]

A tabela acima é a que determina em qual classe social cada família está, e não as rendas médias apresentadas em algumas pesquisas. A renda pode representar uma família de 2 pessoas ou de 10 pessoas, por isso há muita divergência. O importante é conhecer se aquela família tem acesso aos bens e serviços descritos acima.

Agora que você já sabe a sua classe social, responda a enquete abaixo e veja como você se situa dentre os leitores do site:

[poll id=”19″]


Fontes: Pesquisa O Observador Brasil 2011, CIA 1 e 2.

Por Ludmar Rodrigues Coelho

Ludmar Rodrigues Coelho é administrador de empresas e possui pós-graduações em MBA Executivo em gestão empresarial pela UFSC e MBA Executivo em Negócios Financeiros pela FGV-RJ.

40 respostas em “As classes sociais e a desigualdade no Brasil”

Paulo Lima Classe B1
O bôbo que paga impostos e não tem acesso a educação e saúde dignas do quanto contribui para o desenvolvimento do país!

O maior percentual de pagamento de impostos encontra-se no grupo de renda de C e D que pagam entorno de 48% de impostos sobre sua renda, o grupo A e B paga entorno de 26% de imposto sobre sua renda.

Por que não existe a opção por apenas 1 TV e 1 banheiro? É para que os pobres já saiam com 2 pontos de vantagem? Assim o povo acredita que a situação tá muito boa mesmo! Este artigo é muito ideológico, subestima o fato de que a nossa “maravilhosa nova classe C” mora na favela, se aperta num transporte público insalubre por horas a cada dia por um salário vergonhoso, e que para ter acesso aos bens de consumo se individa em crediários com juros abusivos, os mais altos do mundo, pagos pelos mais pobres do país.

Retardado nojento.
Você é um típico exemplo de brasileiro que só sabe escrever e não sabe ler nem esse gráfico simples.
O NÚMERO 2 QUE É MOSTRADO EMBAIXO É A QUANTIDADE DE PONTOS RECEBIDA, E EM CIMA, ONDE TEM 1,2,3,4+ QUE É O NÚMERO DE OBJETOS -.-‘
Puta que pariu em, por isso que o Brasil é essa merda.

Ou pelo fato de você não saber explicar isso de uma forma educada “Hatecrew”, o Brasil ta uma merda por causa dos brasileiros, não de uns ou outros, mas por culpa de >todos<, não se sinta diferente por entender o que ele, não entendeu, você também faz parte dessa "merda".

Por que não existe a opção por apenas 1 TV e 1 banheiro? É para que os pobres já saiam com 2 pontos de vantagem? Assim o povo acredita que a situação tá muito boa mesmo! Este artigo é muito ideológico, subestima o fato de que a nossa “maravilhosa nova classe C” mora na favela, se aperta num transporte público insalubre por horas a cada dia por um salário vergonhoso, e que para ter acesso aos bens de consumo se individa em crediários com juros abusivos, os mais altos do mundo, pagos pelos mais pobres do país.

rádio, dvd, … O que é isso cara , q porcaria de tabela , fala sério . Isso aí é pra engana os trouxa ! 
o que conta mesmo é a qualidade de vida das pessoas, coisa q ak no brasil nem ganhando 10 mil p/mes tem condição.

Ah Fala sério!!! Você acredita mesmo que essa tabela serve para classificar a classe social do brasileiro? Uma tabela que não leva em conta nem mesmo acesso à internet, aparelho celular, plano de saúde, etc… Além disso hoje em dia qualquer pessoa vivendo em uma favela tem qualquer um desses eletrodomésticos da tabela. A renda per capita familiar não é importante para explicar a classe social?

sem contar que ele nao leva em consideração como foi afquirido esses eletrodomesticos.. , nao diferencia se foi pago pelo proprio bolso, se foi herança ou presente

Como sempre, no Brasil tudo e resolvido do modo mais facil.
Para alimentar uma ilusao de que o pais esta bem, ficou mais facil abaixar os parametros e fazer de conta que tudo esta bom, que agora voce pode ser alguem.
Se no acesso aos bens, fosse incluido educacao em escolas particulare, a coisa iria mudar em muito!
Vivi nos Estados Unidos por 10 anos, com um classe C (trabalho de peao!), fazia por mes, sem esforco sobre humano, US$ 6.500,00.
Faca as suas contas no dolar de 1,8 e vera que e R$ 11.700,00. O que me faz um cara rico! OK, mas isso e la! Entendo a critica de alguns. Mas no Brasil faco 12 mil e sofro pra pagar contas! La fazia economia de ao menos 2.500 (US$) ao mes, sem sacrificios!
Qual o problema aqui? Tudo e mais caro! Converta o valor em dolares e vai perceber que pode comprar o mesmo item por metade ou as vezes um terco do valor no Brasil. Culpe o governo, sim ele tem parte com impostos, mas culpe a ganancia dos comerciante, nao os finais, as os intemediarios, que estes monopolizam mercados de insumos e estabelecem precos entre eles. Isto nao e ilegal?
Voltando a vaca fria…facamos uma analogia…
No tempo da escravidao, os coitados recebiam dos seus senhores, os restos do porco, e acabaram por introduzir a feijoada no cardapio brasileiro. Era um premio, muito mais um agrado, para contentar a massa.
Depois de 10 anos fora, vi que todos tem celular, MP3, IPad, carro novo, apartamento, roupa de marca, voce pode incluir seu item nesta lista. Financiado? 3 pagamentos? 13 salario? Mas quem tem dinheiro para pagar acima de 2.000 por filho na escola??? voce ainda esta recebendo agrados na forma de financiamento, com acrescimo de carnaval e futebol! Acorda!
Quer saber, isso nao basta de uma grande ilusao social, e quem acredita nisso tem o que chamo de anestesia social! Se esta de carro na rua e vem um pobre, fecha a janela rapidinho (logico que tem AC) e olha pro lado! Ainda fica fazendo jestos de que nao tem dinhero…
Eu queria mesmo ter dinheiro para comprar uma casona de 800 mi a vista, ter uns carroes e por meus filhos na escola de 3 mil reais, bilingue com opcao de terceira lingua, curriculo aceito no exterior.
Bom, fazendo as contas pra tras, talvez se eu fizesse uns 25 mil ao mes, poderia chegar neste sonho em 5 anos, mas ainda estaria financiando os carros… pobre de mim…talvez 35 mil seja o numero!
Agora o que parece ser devaneios, voce colega que faz 2.500 por mes, acredite…tem gente que faz isso e nao sao poucos. O pior e que acham que nao e suficiente!
Bom o comeco deste assunto eram classes sociais. Para mim e a grande maioria o alfabeto comeca em A. Deve haver algumas letras escondidas que possam indicar os inumeros que dirigem BMW, Volvo, Lamborguini pelas ruas, e outras letras ja conhecida para classificar os inumeros (sim sao muitos, abra os olhos!) que nao tem casa, ou vivem 12 em um barraco invadido, catam reclicavel para fazer dinheiro, final de feira. Deprimente…
 Vi um comentario de um rapaz perguntando se um classe A1 seria milionario. Por este conceito, eu sou. que letra vem antes do A mesmo???
Brasileiro, acorde!

Não podemos esquecer também de que todos nós somos muito consumistas.A pesquisa fala de como os brasileiros melhoraram ,economicamente,nos últimos anos e isso n podemos negar. É claro que se houvesse menos egoismo da parte dos ricos ,n haveria ainda tantos pobres.

Bom Dia!

Deve haver algum problema com os gráficos, pois se a pessoa tiver 5 tvs, compradas na década passada, 3 carros antigos, uma casa com 3 banheiros, o que não é difícil hoje em dia, facilmente está na classe A1.

Eu fiz o teste e o resultado foi 30. Como assim 30? Classe A1?
Sendo que a minha renda familiar é de no máximo R$ 2500,00, para 5 pessoas.
Meus pais tem superior completo, o que hoje em dia é bastante comum.

Pra mim, classe A1, é renda de no mínimo R$ 10000,00 pra cima.
3 carros na garagem, do ano.
Empregada, Ipod, Ipad, Iphone, PS3, TV 3D
Piscina, quadra, adega, etc.
Dinheiro investido em ações, casas, terrenos.
Filhos em escola particular "Top"
Cartão de crédito ilimitado

Deveria haver uma pesquisa mais profunda
Pois ,pra mim, eu estaria entre as classes B e C.

Abraços

concordo com vc, brenno, como é que o ibge baseia-se nesses critérios e dependendo do resultado vc pertence a tal classe, não concordo, meu pai ganha acima de 10.000 isso quer dizer que ele pertence a classe A?? Para mim tá longe de pertencer, a idéia que eu tenho da classe A e o que o ibge deveria considerar era quantos bens vc possui em seu nome, tipo propriedades rurais e urbanas, quantos aviões particulares, quantas viagens se faz ao ano para o exterior, quantos carros importados… isso sim são dados que lhe classificam a pertencer a classe A não basear- se em salário.

A minha renda familiar é de 7 000 reais eliquidos e eu fiquei em b2, sendo q eu tenho superior completo, mas meu marido parou no ultimo período. No meu caso, achei justo o resultado, pois mus filhos estudam em escola particular, fazem curso de ingles, possuem tablet e notebook. Coisas q na pesquisa realmente nao mensionam.

boa tarde, estou fazendo minha monografia e precisava saber a classificaçao economica dos brasileiros, e a sua fonte. pode me ajudar? aguardo email

Matéria do Valor Econômico:

Classe emergente contém consumo

O aumento da inflação, provocado pela elevação de preços dos alimentos e tarifas públicas, especialmente de transportes, já arrefeceu o ímpeto consumista das classes emergentes da população. Pela primeira vez desde 2005, houve queda no consumo quantitativo de produtos básicos (2%) nas classes D e E, formadas por famílias com renda mensal de até quatro salários mínimos. Nos itens não básicos, o crescimento das compras, que corria em um ritmo de 19%, caiu para 10% no trimestre.

Os dados são de estudo feito pela consultoria Kantar Worldpanel, que visitou as residências de 8,2 mil brasileiros nas últimas semanas. A queda de 2% refere-se a mercadorias de consumo frequente nos segmentos de alimentos, bebidas, higiene, limpeza e cuidados pessoais.

"É preciso ficar de olho para ver se essa perda se consolida como tendência", diz Fatima Merlin, diretora da Kantar Worldpanel no Brasil. Na classe C, que reúne a grande massa dos novos consumidores, houve estabilidade no volume comprado de produtos básicos, enquanto no mesmo período do ano passado as taxas cresciam entre 10% a 12%. Nas camadas A e B, menos sensíveis à elevação de preços de alimentos e de tarifas públicas, houve aumento de 3% no volume de mercadorias básicas adquiridas.

Uma constatação curiosa da pesquisa foi a firmeza do consumo de mercadorias supérfluas, que manteve o crescimento mesmo nas classes D e E. Trata-se, segundo avaliação de consultores, de uma característica do novo comportamento da classe média emergente. Se o cenário econômico dá sinais de leve piora, esse consumidor não tende a cortar, necessariamente, o que é supérfluo.

O arrefecimento do consumo de produtos básicos, de qualquer forma, é fator de preocupação, salientado pelos analistas nas projeções de desempenho das empresas de consumo e varejo, porque os investimentos de curto prazo dessas companhias têm sempre levado em conta o ritmo de consumo.

Reparem que as classes C e B irão ficar bem maiores que as outras. E duvido que alguem marque a classe E, pois essa pessoa provavelmente nem computador tem e se tiver usando uma lan, vai estar no msn e não vendo um site como este. heheheh.

Poxa, sou da classe C, mas ainda me sinto muito pobre.

E por fim, alguém da classe A1 seria compatível com um milionário não?

Deveriamos colocar ao lado dessa pesquisa o endividamento de cada classe, uma vez que ter

algum utensilio depende de financiamento, e o bem ainda não é do cidadão da classe DE ou C, só quando quitado.

Como pode sair da classe pobre e ir para classe média, se a receita pode não cobrir os gastos

e muito menos os financiamentos. Ser ajudado pelo bolsa familia, não significa, sair da miseria.

Caso aconteça algo determinante onde o governo não possa contribuir socialmente, será

um caos.

Mais uma matéria interessante, desta vez da Revista Veja da semana de 11 de maio de 2011. Texto de autoria de J. R. Guzzo:

Mais um portento

No meio de todo o ruído levantado nesses últimos tempos para saudar a subida da classe "C", ou o aparecimento da nova "classe média", a verdade é que pouco se ouve falar de um fenômeno ainda mais interessante – o surgimento de algo que se poderia descrever como a classe "AAA". Ela não é mencionada na propaganda oficial; ao contrário, sua existência é um constrangimento nas áreas ligadas ao poder público. Também não tem despertado a menção dos analistas políticos, mais preocupados, ultimamente, em descobrir se os emergentes são lulistas, dilmistas ou neoconservadores. Essa nova classe, enfim, parece não ter atraído até agora o interesse dos departamentos de marketing de empresas em busca de consumidores de bolso cheio – ou, se já atraiu, ninguém está disposto a ficar falando disso. Numa pátria-mãe menos distraída do que o Brasil de hoje, porém, a classe AAA provavelmente despenaria um pouco mais de curiosidade. Ela é formada por gente que, de uma forma ou de outra, prospera recebendo dinheiro do governo, inclusive por meios lícitos – e aí estamos falando de cada vez mais gente, cada vez mais prosperidade e cada vez mais dinheiro, a ponto, talvez, de colocar este país diante de uma nova espécie de portento econômico.

Não se trata, no caso, de qualquer dinheiro público. Nada de povão por aqui – não entram na classe AAA, por exemplo, os brasileiros que vivem do Bolsa Família e de outras obras de caridade do governo. Também estão fora funcionários públicos de posição e remuneração modestas ou que, se ocupam cargos mais altos e têm salários melhores, trabalham de verdade, como qualquer cidadão comum. A população que habita esse mundo é formada por todos os que têm a ventura, hoje em dia, de vender algo ao governo, especialmente quando vendem caro e, melhor ainda, quando conseguem vender sem entregar. A seu lado, subindo de vida dentro do mesmo pesqueiro, estão os que não vendem mas recebem – o caso clássico é o dos controladores de ONGs que, através dos seus amigos dentro do governo, e dos amigos dos amigos, recebem doações do Erário para realizar tarefas vagas, isentas de prestação de contas ou simplesmente inexistentes. Estão nessa classe emergente, também, os milhares de companheiros presenteados com cargos na máquina pública e na constelação de altos empregos que se espalha em torno dela – conselhos de empresas estatais, autarquias, diretorias de fundos de pensão, institutos disso, secretarias daquilo. Há todo um meio de campo, com fronteiras mal definidas, cada vez maior e cada vez mais caro, de intermediários entre o poder público e as empresas privadas que fazem negócios com ele. Completam o bloco, enfim, os beneficiários da corrupção pura e simples – os que sempre trabalharam no ramo e uma aguerrida turma de novos talentos. É gente que gasta depressa, consome muito e, frequentemente, paga em dinheiro vivo – da mesma forma, aliás, como recebe.

Nunca houve tanto dinheiro em circulação nesse mercado – cerca de 1 trilhão de dólares em 2011, 1 belo e redondo trilhão, levando-se em conta que o governo, o grande cliente, representa cerca de 40% do PIB nacional, que deve fechar o ano com um total aproximado de 2,5 trilhões de dólares. O cofre está aberto para os mais variados tipos de transação. Podem-se vender estádios de futebol, aeroportos e trens-bala – ou trens não-bala, que, por sua vez, tanto podem ir na direção norte-sul como na leste-oeste. Também há, nesse mar de oportunidades, a chance de negociar instalações para uma Olimpíada inteira, serviços terceirizados de mão de obra e campanhas de publicidade informando ao público que o Brasil é de todos. É possível receber dinheiro do Erário em troca de usinas hidrelétricas, organização de festas juninas e recitais de poesia. Há excelentes perspectivas, na área judicial, para arrancar indenizações do Tesouro Nacional – e por ai segue a procissão. Ela passeia pelo país inteiro, mas é Brasília, obviamente, a sua cidade predileta – nada mais natural que a renda per capita na capital esteja a caminho dos 30000 dólares anuais, cerca de três vezes a média nacional. É o progresso.

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Acabamos de ficar sabendo, com base no último censo do IBGE, que há exatamente 16267197 miseráveis no Brasil de hoje; são os cidadãos com renda mensal de até 70 reais. É uma boa notícia e, ao mesmo tempo, um mistério. A boa notícia é que eles são apenas 8,5% da população total. O mistério é saber como alguém consegue ganhar 71 reais por mês, por exemplo, e não viver na miséria.

E eu lutando pra ser Classe AAA… Acho que vou ficar aqui por baixo mesmo, tenho menos chances de ser rotulado como político ou corrupto!

Matéria da Folha.com do dia 08 de maio:

Inflação tem peso diferente para cada classe de renda

A representante de vendas Claúdia Bocault não precisou ver os números da inflação para apontar rapidamente o que tem aumentado de preço nos seus gastos. "Comer fora ficou mais caro", diz.

Com uma renda superior a dez salários mínimos por mês, ela afirma que o supermercado não é território do grosso das suas despesas. "Moro sozinha, não compro produtos básicos, como arroz e feijão. Mas percebi que a gasolina está ficando mais cara", conta.

A Folha acompanhou três consumidoras, na última semana, em São Paulo. O objetivo era anotar o que, na lista de compras de cada uma delas, tinha subido de preço. A avaliação era feita pela própria consumidora, numa espécie de medição do que seria a sua inflação pessoal.

Bocault consome itens importados e percebeu que esses produtos, como vinho e azeite, estão mais em conta.

CARNE MAIS CARA

A atriz Elvira Roethig, 56, diz que sente o aumento dos preços no supermercado. A renda da família é inferior a R$ 3 mil mensais.

Ela tem um consumo que se poderia chamar de racional. Compra o que acredita ser indispensável em casa. Mas só leva em maior quantidade o que percebe que está barato. "É um investimento."

"Nos produtos básicos, como arroz, feijão e óleo, é melhor comprar da marca boa e comer pouco do que comer muito da marca ruim", opina. Nas despesas do mês, ela percebeu que os remédios para controlar a pressão ficaram mais caros.

A vendedora Angélica Santos, 30, mora sozinha em Barueri (SP). Todos os dias, pega ônibus e trem para chegar ao trabalho, na zona oeste de São Paulo.

"Gasto muito com transporte e com aluguel. E os dois subiram", conta a vendedora. Integrante da classe D/ E, Angélica raramente come fora.

Leva marmita para o trabalho. A carne sumiu do carrinho no ano passado. "Virei vegetariana, não faz falta", conta. Ela vai quase todos os dias ao mercado, atrás do melhor preço. "Ontem, eu olhei o macarrão instantâneo e não comprei. Estava caro. Hoje, achei mais barato e comprei".

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocast

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