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Logística

Como fazer TCC de logística

Recheado de dúvidas e de temores muitas vezes desnecessários, um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) não é o apocalipse de sua vida! Mesmo para quem não alcançou aquele destaque em sala de aula, principalmente pela correria de quem divide seu tempo entre trabalho e estudos, embora a tarefa exija dedicação, não é nada de outro mundo. Porém, se você ainda pensa assim, vamos descomplicar alguns pontos importantes também para outras áreas:

A escolha do título e dos objetivos:

Muitos alunos entram em desespero antes da escolha do título. E esse ponto merece mesmo muita atenção. Embora a orientação do curso aponte para temas pré-selecionados, você perceberá que eles possuem uma amplitude que pode ser explorada de várias formas. Para isso, seu primeiro passo deve estar voltado para a revisão de sua grade de curso. Ao observá-la novamente, o que muitos desprezam durante o curso, você perceberá elos que ligam uma disciplina à outra e os transformará em palavras-chaves. De posse do que mais tem peso no curso, você terá também mais segurança, maior e melhor oferta de literatura, abordagens mais importantes e maior receptividade por parte da banca examinadora.

Tema escolhido, você agora se perguntará sobre o objetivo geral de seu trabalho: qual o foco? O que quero alcançar com a pesquisa? A dica é escolher um verbo no infinitivo que mais se identifique com o tema (estudar, avaliar, analisar, discutir…). Em seguida, nessa lógica, você determinará os objetivos específicos (identificar, descrever, verificar, sugerir…). Agora sim! Você evitará a perda de tempo com outras literaturas e sua pesquisa será mais objetiva.
O que e como pesquisar?

No início tudo se torna mais complicado. Devido à ansiedade, muitos alunos querem encontrar o foco de seu TCC logo nas primeiras pesquisas e se veem perdidos em textos que parecem não dizer nada com nada. Esse também é um pouco do efeito da preguiça de ler e é certo que logo isso se tornará desanimador. Mas, calma! Tudo vai clareando quando se junta uma pesquisa com outras.

Há três dicas importantes acerca das pesquisas:

– No caso de livros, leia o sumário e a introdução na busca por identificar se ele aborda bem aquelas palavras-chaves e seus objetivos específicos. O fator tempo agradece. Prefira também literaturas mais recentes quando se tratar de cenários atuais e de propostas para sanar determinados problemas;

– em caso de artigos em sites e revistas, seus títulos dão pistas do conteúdo do texto, como os sumários e introduções dos livros. Fique atento e prefira títulos e artigos bem elaborados que contextualizem os assuntos – aqui no Logística Descomplicada você contará com um acervo de artigos elaborados por profissionais com experiência nas mais diversas áreas da Logística;

– além de seu orientador, converse com colegas e profissionais da área sobre o que você pretende e sobre suas dúvidas. Nessas horas podem surgir dicas valiosas.

Como iniciar seu TCC?

É hora de verificar o modelo de TCC ou o estatuto da instituição com as normas para apresentação, mas não vá fundo agora. Por enquanto, você observará a fonte (Arial ou Times New Roman 12), espaçamentos, modelos de citações e o modelo de referências. Nomeie arquivos (Microsoft Word) com os verbos escolhidos em seus objetivos específicos e um arquivo para as referências. Observe a dica:

– Ao identificar textos compatíveis com seus objetivos discorra (não copie e cole) sobre eles já os imaginando em seu TCC, identificando a fonte e colocando a referência no arquivo que você preparou. É como se tivesse dividido seu TCC em partes (o que é, para quê e como) para montá-lo posteriormente encaixando os textos através de seções cujos nomes virão claramente com o conteúdo.

É importante ressaltar que os arquivos receberão mais textos à medida do avanço das pesquisas e que haverá um reagrupamento desses textos na busca por dar sequência à ideia. Por isso vem a dica mais importante: não dê intervalos longos a essa tarefa, pois você pode perder o contexto. O ideal é que não passe mais do que dois dias sem pesquisar, escrever ou montar. Isso depende de cada pessoa, porém, perder o “fio da meada” vai lhe gerar um enorme retrabalho.
Na segunda parte, trataremos da montagem e de erros mais comuns (plágio, formatação e ortografia) nos elementos finais de um TCC.

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Carreira Logística

Por que escolher a carreira de logística?

São muitas as dúvidas que cercam aqueles que buscam se inserir ou que já trabalham na área. Elas são mais que naturais e por isso vamos descomplicar muitas delas no decorrer de nossas publicações trazendo-lhes novos conceitos e atualizações voltadas à realidade brasileira, onde a maioria dos livros ignora e assim tornam as informações voláteis e sem muita objetividade. De forma simples e direta, vamos abordar acerca dessa esplêndida área que pertence à classe das profissões de maior destaque no Mercado de Trabalho, cujas oportunidades são bem expressivas e configuram boas chances de ascensão curricular.

Cuidado! A razão de estar lendo este artigo pode ter mais a ver com o fato da Logística ter lhe escolhido do que você a ela. Há cerca de 20 anos, quando fui “jogado” na distribuição nacional, inundado de dúvidas, não entendia toda aquela transformação. Contudo, como os enormes desafios não eram opcionais, nascia naquela área nada monótona um profissional diferenciado. Só depois, por não haver disponibilidade alguma, faria curso técnico de 2 anos antes de concluir faculdade.

Vários são os conceitos sobre Logística descritos por associações e por renomados escritores. Eles citam planejamento, movimentação, controles, mercadorias, serviços, origem e destino, armazenagem, clientes, prazos, custos…

Logística é isso e muito mais! É atividade com constante evolução, instrumento de competitividade, meio que possibilita a produção e integração dos setores de uma empresa, viabilização entre os planos desta e das expectativas e satisfação de seu público. Portanto, o melhor conceito seria:

“Logística é toda atividade que envolva o fluxo de materiais, da origem ao destino, com soluções que busquem o menor custo no transporte e na armazenagem agregando valor aos clientes internos e externos”.

Assim até parece simples, porém, são atividades que exigem muito conhecimento e planejamento. Quando se trata de fluxo, é tudo acerca de aquisições, distribuições, devoluções… Sobre soluções, aqui estão serviços e informações em sintonia com a oferta de custos menores que atendam, eficientemente, os prazos dos setores da empresa e de seus clientes ou consumidores finais. Ela não é só um apoio, como muitos pensam, é uma atividade indispensável para que as Organizações obtenham sucesso.

Como funciona a logística?

A divisão da Logística em Estratégica (que pensa) e Operacional (que executa), está atualmente numa linha bastante tênue, e ganhou força porque nenhuma empresa hoje contrata profissionais para fazer o óbvio. Isso hoje faz parte mais de uma divisão hierárquica do que propriamente de uma linha de importância.

Mas, quais as atividades de um profissional da atual área logística? Posso lhes garantir que são muitas, as quais abordaremos em artigos posteriores, como também posso garantir que a Logística reserva ofertas bem atraentes para pessoas com os seguintes perfis:

– Senso de organização: importante para lidar com vários processos ao mesmo tempo e utilizar informações em tempo hábil;

– gostar de cálculos: não precisa ser doutor em matemática, mas cálculos fazem parte da rotina do setor e raciocínio lógico soma bastante;

– estar aberto ao conhecimento: buscar conhecer as atividades de sua empresa e de seus clientes, a situação de sua infraestrutura, economia, transportes, sistemas, regulamentações e tudo que gere informações para as tomadas de decisões.

Claro que outras habilidades serão importantes para trabalhar com eficiência e eficácia e muitas serão desenvolvidas de acordo com sua área e com sua opção de formação, onde cursos técnicos e tecnológicos estão em alta e oferecem grades bem similares que atendem várias áreas da Logística: suprimentos, estoques, armazenagem, distribuição, frotas, atendimento, roteirização… Para outras, como comércio internacional e eletrônico, exige-se cursos mais específicos.

O bom da Logística é que tem área para toda aptidão e os desafios são muitos em cada uma delas, o que torna o profissional valioso e o desenvolve constantemente. Embora alguns pensem que certas funções não são importantes, experimente não realizar uma delas!… A única certeza é que se você se identificar com a área, logo perceberá que o que começou com uma necessidade transformou-se em paixão e então surgirá uma dúvida para qual não tenho resposta: fui eu quem escolheu a Logística ou foi ela que me escolheu?

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Logística

O que 2017 reserva para a logística

O setor logístico amargou consecutivos anos de queda de investimentos com números bastante negativos, especialmente nos últimos dois anos. Embora nosso desejo seja de mudanças que causem uma reviravolta mais que aguardada no setor, a agenda será a mesma em 2017. Lembrando que este artigo não tem a ver com adivinhações, apenas com uma boa leitura dos números, da economia, dos fatos, das necessidades do país e das previsíveis ações do jogo político.

Apreensivos e com uma economia ainda fatigada no primeiro semestre, só experimentaremos mesmo algum resultado positivo na segunda metade do ano, onde a economia começará a dar sinais de recuperação. E então, é bom que tenhamos um redimensionamento, rápido e preciso, das questões que envolvam investimentos para 2018 para que os números não entrem em declínio novamente.

2018 nos reservará melhores estimativas do que 2017. E isso se dará pelo fato de que os três últimos anos (2015, 16 e 17) tenham sido absolutamente insatisfatórios para o segmento logístico, mas com o aumento da demanda que provirá do melhoramento da economia, deveremos presenciar, mais uma vez, a “obrigação” de se investir em logística – infelizmente, visto dessa forma há anos.

Será 2017 o ano em que o Brasil se convencerá definitivamente que investir em logística é dar vários passos à frente? Países que adotaram um caminho de crescimento contínuo nos ensinaram que é necessário ter foco em infraestrutura logística para fomentar diversos segmentos econômicos, o que não ocorre no Brasil, pois vimos programas que previam investimentos na área serem esquecidos com qualquer tropeço da economia ou com a mudança dos ventos políticos. Equivocadamente temos uma logística que sobrevive da economia e não uma economia que se desenvolve diante de uma infraestrutura logística adequada.

Bem que gostaríamos de noticiar um avanço para 2017 e comemorarmos os investimentos que o setor tanto precisa, mas os que foram anunciados ainda são incertos diante de um desequilíbrio econômico em que o país está mergulhado. Os cortes e o congelamento orçamentário nos levam a duvidar se os R$ 13 bi previstos para 2017 serão mesmo empenhados. O próprio valor já nos dá uma amostra de que o Brasil ainda não aprendeu a investir, pois as rodovias terão 70% dele. Não que investir em rodovias não seja uma necessidade, é que na verdade continuamos alimentando uma matriz logística ultrapassada, onde as rodovias ainda ditam o preço de nossos produtos e tornam os demais modais de transporte reféns de sua precariedade. Aliás, segundo estudo divulgado em 2016 pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), com a atual situação, só as rodovias necessitariam de R$ 292,5 bi e as ferrovias de R$ 281,5 bi para se adequarem às demandas da movimentação econômica brasileira.

Enquanto isso, com as necessidades de soluções para as exportações brasileiras, que representam apenas 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média em outros países, segundo o Banco Mundial, é de 29,8%, ficamos na dependência, única e exclusiva, de investimentos privados através de concessões para as quais o governo não clarifica regras.

É doloroso ver o desinteresse pela área logística tão evidente no Brasil. Cada ano que não investimos em infraestrutura representa mais dois na recuperação do tempo em meio à competitividade imposta pelos mercados internacionais. R$ 151 bi são perdidos por ano devido à falta de investimentos básicos para manter a infraestrutura existente. Contudo, a Logística é ferramenta de superação e atravessaremos mais esse ano com muito trabalho e dedicação. E que essa dor que mencionei possa fazer o país perceber que 2017 poderia ser um ano bem diferente.

Então, você pode estar se perguntando o que deve ser feito no campo profissional em 2017 com um ano assim tão “parado”. Este é o momento em que a busca por uma melhor qualificação profissional será fator determinante para manter-se no mercado ou se reinserir nele. São essas dificuldades que revelam profissionais diferenciados, e a Logística é craque nisso. Aquele velho hábito de investir em qualificação apenas quando o mercado está aquecido é algo que deve ser deixado para trás. Serão mais de 13 milhões de desempregados e aqueles que investirem corretamente em si mesmos estarão fora desta soma.

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Gestão Logística

Feliz ano velho?

Pela primeira vez em muitos anos, perto de cinquenta, fico com a sensação de que este ano não vai embora assim rapidinho para dar lugar ao outro que se iniciará. E não é para menos! Afinal, foi um ano bem difícil.

Se não fosse pelas Olimpíadas que, apesar de alguns problemas, colocou o Brasil no centro do mundo de forma muito positiva, só teríamos a lembrança de projetos logísticos que não saíram do papel – mais uma vez –, de obras paradas (mais de 1.500, segundo o próprio governo federal), de planos com a participação público-privada sem resultados, e essa é a parte preocupante, pois com o incremento dos investimentos privados é que teremos chances de conduzir a Logística para o campo da adequação da demanda, mas o que vimos foi um estado quebrado e investidores sem confiança diante de tantos escândalos de corrupção e de um verdadeiro desserviço da nossa classe política.

Talvez a questão tenha mesmo relação com a credibilidade perdida por vários segmentos político-econômicos que corroboram para que nosso “feliz ano novo!” seja desejado ao outro com certa cautela, não com desprezo, mas com aqueles comentários complementares do tipo: “Temos que acreditar que será bom para que seja”. Sem dúvidas, o uso da “teoria da passagem de nível” sem melancolia, nem pessimismo, dando uma parada, ouvindo e refletindo, arrumando a casa e seguindo em frente parece bem oportuna para este final de ano.

Não à toa, 2016 culminou com as maiores falcatruas políticas, desfalques bilionários, tragédias que demonstraram que o dinheiro está mais importante do que as pessoas e muito por essas e por outras que ele, 2016, não queira ir embora de nossas vidas. Reservou os piores indicadores que se tem conhecimento no campo do emprego e dos serviços, trouxe números negativos para nossa logística e pôs fim a empresas que não estavam preparadas para uma seguida fase recessiva. É, ele não vai querer mesmo ir embora… Acho que teremos que arrancá-lo à força.

Claro que isso depende muito da visão de cada um. Sabe aquela coisa de que enquanto um chora outros ganham vendendo lenços? É bem por aí. O ano foi vitorioso na visão dos palmeirenses e inesquecivelmente triste para a Chapecoense, de saudades para quem se despediu de um familiar e de celebração para aquele que viu a família aumentar, de amargura para aquele relacionamento que findou e de extrema alegria por aquele pedido de casamento, de aprendizado para Hillary Clinton e de alguma coisa para Donald Trump… Contudo, tivemos nossas vitórias, independentemente do contexto do ano, e isso é muito bom para fincarmos os pés em 2017 com muito mais confiança.

O que é mesmo importante compreender é que nossas dificuldades sempre serão superadas pelo conjunto do nosso acordar, nosso levantar e nosso agir. Nossa capacidade de superação, de criatividade, é inabalavelmente nossa maior fonte de renovação daquela esperança que nos move, que nos impulsiona e que não permite que nos entreguemos. É fato que 2016 nos trouxe uma dicotomia inquestionável: para quem levou uma surra dele é hora de curar as feridas e encarar novos desafios com uma bagagem bem maior de conhecimento – e é conhecimento mesmo, não é fracasso – e, para aqueles que foram acalentados por ele é hora de conquistar a amizade de 2017 e explorar todas as oportunidades que ele oferecerá.

Com certeza 2016 emprestará muito de seus aspectos para 2017, pelo menos até o 1º semestre, contudo, pelo fato de não sermos envolvidos pelo efeito surpresa, já estaremos em vantagem. O resto – e o que nos resta – é trabalhar da maneira que sabemos, buscando sempre nos aprimorar no que fazemos e buscarmos uma unificação para que não pareça que estamos em barcos diferentes. Essa história de lado “A” e lado “B” combatendo uma adversidade tem que acabar. Estrategicamente, só existem dois lados: o do problema e o da solução.

E que as soluções venham na sua vida e lhe encontre trabalhando, mas perto da família e de seus amigos; que lhe encontre perseverando com saúde e com entusiasmo. Se estiver vivendo muito num problema, cruze a fronteira e passe para o lado da solução – e viva a solução!

Saúde e sucesso a todos!

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Carreira Logística

Caminhando no deserto

Ao longo da vida todos passam por desertos. Os momentos difíceis nos campos profissional e pessoal geralmente nos ensinam muito e nos preparam para outros desafios. Talvez sem esses desertos não pudéssemos perceber por quantos jardins já passamos também. E nada tem a ver se você é forte ou fraco, rico ou pobre, homem ou mulher… Os desertos são mesmo a melhor maneira de sabermos do que somos feitos: quanto se pode ainda caminhar, quanto sol ainda se pode suportar e quanta sede você ainda poderá resistir até deixar a areia causticante para trás. Os desertos são inevitáveis na caminhada de qualquer pessoa. O que se diferencia mesmo é a forma com que se escolhe caminhar por eles.

Com a crise no Brasil, muitos estão passando por desertos mais longos e mais quentes. A forma com que somos apresentados a eles pode ser das mais diversas possíveis: uma crise financeira, um relacionamento, incertezas da profissão, um caminho escolhido, uma decisão não tomada… Os desertos sempre estarão nos convidando a atravessá-los e, na maioria das vezes, não dependem de nosso “sim”.

Típico dos seres humanos, damos total preferência aos jardins e evitamos os desertos de todas as maneiras possíveis. Nada mais normal. O que realmente não é normal é esquentarmos ainda mais o sol e a areia, jogar a reserva de água fora e caminhar em círculos alongando nossa travessia com lamentações e/ou inércia.

À noite, a temperatura cai drasticamente e nos vemos sozinhos, desamparados e com muito frio. Cruzar os desertos sozinhos é uma opção que temos, mas podemos ter sim, companhia que nos conforte no frio e sirva como apoio na caminhada diária. Assim existe uma chance maior de encontrar um oásis ou até mesmo abreviar significativamente a jornada ao encontrar nossa fase de jardim com a ajuda daqueles que querem nosso bem.

Há quem defenda que nossa vida, na verdade, é um grande deserto e os oásis pelo caminho são os momentos felizes que a vida reserva àqueles que sabem compreender e explorar essa imensa área. Talvez seja assim mesmo. O fato é que não se pode evitá-lo a vida toda, e que bom que ele não passe a vida toda para dar as caras! Muitos que caminham em seus desertos tardiamente não suportam o calor do dia ou o frio da noite. Temos que estar treinados para sermos fortes.

Implacáveis desertos a que estamos sujeitos… Impiedosamente ensinam os fracos que se preocupam mais em encontrar uma sombra do que a saída para uma nova terra; premiam os capacitados com belos oásis ou com abreviações de jornadas, mas fazem questão de se mostrarem sempre bem próximos e mais ameaçadores, testando nossa inventividade em cada situação.

Somos inteligentes suficientemente para suportar qualquer deserto. Desistir não condiz com nossa natureza. Fomos feitos para encarar desertos, assim como os desertos foram feitos para nos tornar fortes. Só precisamos ter cuidado com o que queremos. Muita água pode se transformar em oceanos e aí podemos realmente morrer, pois fomos feitos para desertos.

Esses desertos nos trazem muitos presentes bons também. A maioria personifica-se e passa a caminhar conosco, mas precisamos também caminhar em seus desertos. Essas pessoas podem nos guiar, podem ser nuvens para abrandar o calor do Sol e um cobertor à noite. Porém, se nos enganarmos, elas podem tomar nossa última reserva de água. A cautela é sempre recomendável ao escolher tais companhias, pois há muitos que conseguem transformar um deserto em jardim ali, na sua frente, enquanto outros transformam um jardim no deserto mais árido que possa existir. Mesmo que o deserto não facilite muito, nosso sucesso está em identificá-las, valorizá-las ou em só lhes dar “bom dia”, se for esse o caso.

Que este Natal seja um refrigério para seu dia e um cobertor para sua noite. Se seus desertos estiverem mais implacáveis em 2017 lembre-se de que você também estará bem mais forte.

Saúde e sucesso a todos!

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Carreira Desempenho Gestão

A queda na educação brasileira

Esse é um assunto sobre o qual gostaria de abordar somente a parte boa. Porém, nessa enxurrada de ações negativas que envolvem nossa educação e, consequentemente, nossa Logística e todas as áreas e profissões que dela dependem, não se encontra alento para tanta tristeza. Dói bastante ver como é conduzida a educação em nosso país.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou neste mês os números do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (o Pisa, na sigla em inglês). A prova ocorre a cada três anos e é realizada em 70 países, 35 membros da OCDE e 35 parceiros, pontuando três áreas: ciências, leitura e matemática, dando ênfase em ciências nesta edição.

No Brasil, a prova é de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e foi realizada em 841 escolas particulares e do ensino público (federal, estadual e municipal), contanto com a colaboração de 23.141 alunos, 73% na faixa dos 15 anos de idade.

O Brasil se colocou em 63º em ciências, 59º em leitura e em 66º colocado em matemática. Cingapura foi o primeiro em todas as áreas entre os 70 participantes. A parte mais triste é que sempre ficamos abaixo da média nas seis edições, desde o ano 2000, e nossa maior evolução no decorrer dos anos foi em matemática que, nesta edição, recuou se tornando a pior matéria entre as três, das quais as outras duas (ciências e leitura) também pioraram.

Um indicador chama atenção para as provas que, em suma, são classificadas em níveis de 1 ao 6, exigindo o nível 2 para um perfil básico de conhecimentos e habilidades que são essenciais, não só em sala de aula, mas para a vida com todas as questões que envolvam oportunidades; mais da metade de nossos estudantes ficaram abaixo do nível 2 nas três áreas: ciências com 56,6%, leitura com 50,99% e matemática com 70,25%.

Diferentemente do que muitos pensam, o ensino na esfera federal obteve melhor pontuação do que o ensino privado em todas as áreas testadas. A diferença está mesmo quando comparamos as esferas públicas. Assim, o ensino federal ficou em primeiro, depois vem o ensino privado, e aí começa uma queda acentuada para o ensino na esfera do estado e piora bastante na esfera municipal.

Os países mais bem colocados, como: Cingapura, Japão, Estônia, Finlândia, China, Canadá e Irlanda, não por coincidência, são reconhecidos internacionalmente pela extrema valorização da figura do professor. Lá, um professor tem ascensão profissional e um prestígio social que não se vê em outros países que, na sua maioria, não respeita e não valoriza a profissão, colhendo posteriormente frutos semelhantes aos quais estamos colhendo no Brasil.

Há que se trabalhar, e trabalhar pesado, para mudar esse cenário que também passa pela falta de qualificação do professor. Pesquisas dão conta que muitos não estão preparados para os novos desafios do ensino. Isso, é claro, também passa pela questão da desvalorização da profissão que vem ficando, ano após ano, menos atraente financeiramente e oferecendo riscos à saúde e à segurança desses profissionais como nunca se viu. Professores afastados por pânico de lecionar, muitos devido às agressões em sala de aula, configura o fundo do poço. Absurdo!

A divulgação desses números nos choca por estarmos vivendo períodos cada vez mais difíceis para a colocação ou recolocação no mercado de trabalho, expostos aos problemas de saúde pública que nos deixam acuados como nos deixam aqueles que optam pela violência e por métodos nada convencionas. Sei que muitos podem dizer que isso não é falta de educação, mas falta de caráter. Na verdade nunca saberemos ao certo, pois tudo está atrelado às questões de oportunidades e as melhores sempre serão ofertadas pela educação.

Choca também por esses números serem do início de 2015, pois há demora na consolidação, e como tivemos dois anos bem difíceis, inclusive este 2016 com cortes vigorosos no orçamento para a educação para o próximo ano, não há muita esperança de que hoje sejam melhores. Queira Deus que eu esteja muito enganado.

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Gestão Logística

A logística e a recessão

De acordo com a divulgação dos números do terceiro trimestre de 2016 sobre a economia, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país ainda vive um momento crítico de queda e de falta de confiança no mercado. A questão do “vamos superar a crise com trabalho” chega a seu momento mais difícil em que se provou que só o trabalho não resolve, principalmente quem não pode contar com ele. É hora também de analisar a situação para que saibamos como trabalhar, consumir e poupar. Essa história de fechar os olhos para a crise e trabalhar soa mais como uma tentativa desesperada do que uma habilidade para superá-la por meio do conhecimento e do planejamento.

logisticaAqui serão citados apenas alguns números para contextualização. Embora não sejam tão impactantes se analisados separadamente, eles revelam que, do contrário que muitos pensavam, ainda não desaceleramos a queda que se configura num aumento da confiança na economia nos afastando da recessão, pois todos os segmentos econômicos estão no vermelho e vários pioraram.

O que deve ser levado em conta aqui é que a queda do indicador do Produto Interno Bruto (PIB) dava sinais de desaceleração do segundo trimestre de 2015 (-2.3%) até o segundo trimestre de 2016 (-0.4%), e agora no terceiro trimestre de 2016 recua 0.8% com um acúmulo de queda de 4.4% em doze meses. É a sétima queda consecutiva e a décima no acumulado. O PIB per capta, que é a divisão do PIB pela quantidade de pessoas, é de -5.2%, o que significa que uma população que precisa consumir não o pôde fazer porque está mais pobre e mais endividada.

Se por um lado temos o chamado “ciclo vicioso da recessão”, que é quando há o desemprego e a queda da renda, as vendas despencam e as indústrias sofrem com isso demitindo mais trabalhadores, temos uma alta taxa básica de juros (13.75%) que faz com que investidores optem em ganhar junto aos bancos ao invés de investir diretamente na economia. Afinal, somos um país cauteloso e conservador na hora de correr riscos no mercado financeiro.

E aí você pergunta: “Ué, e o que isso tem a ver com a Logística?” Tudo. Como já dito várias vezes, a logística é a área que mais sofre com os impactos políticos e econômicos. O setor é o “medidor de temperatura” que sofre várias alterações na evolução da crise porque é o apoio presente em todos os segmentos do mercado. E, como os serviços caíram 0.6%, com destaque justamente para os transportes e o comércio que acumularam as maiores quedas, não fica difícil entender que as demissões estão ainda mais suscetíveis, os recursos mais escassos e os investimentos parados. Porém, como já dito também, nada que aterrorize os profissionais dessa área já tão habituada a lidar com dificuldades extremas. A questão fica concentrada mesmo em como e quando vamos superar tudo isso.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também divulgou que a taxa de ocupação, que é o que a indústria está utilizando de sua capacidade instalada no país, também piorou e hoje representa 65%. O que quer dizer que há a necessidade de recuperar o setor industrial, que caiu 1.3%, e até que isso aconteça também não receberá novos investimentos. Isso é terrível para a Logística.

Mesmo não gostando de tais comparações, pois há mecanismos diferentes entre Brasil e Estados Unidos, os brasileiros ouvem a todo o momento que o trabalho é a saída para superar a crise. Ora, os americanos têm jornadas de trabalho bem semelhantes às nossas e suas taxas de juros básicos oscilam entre 0% e 0.5% com inflação que gira em torno de 1% contra a nossa de 10.6%. Antes que se possa pensar que não adianta trabalhar, pelo contrário, o trabalho é extremamente necessário, o que vem em questão é que só o trabalho não resolve. Sem dúvidas estamos caminhando carregando algo errado e pesado nas costas que pode ser, por exemplo, nossa política econômica e sua forma de controlar inflação com juros altos permitindo que algumas instituições pratiquem juros que beiram os 400%.

Especialistas que previam uma estagnação da economia para 2017 agora já se permitem pensar em outra retração de até 1.5%. Aí o país necessitará de muito “oxigênio” devido o longo período de amarga recessão. Indiferentes a isso, nossa classe política, preocupada com seu próprio umbigo, ativa em suas prerrogativas e inerte em seus deveres, consome seu tempo em disputas de poder sem perceber que precisa agir para ter onde exercer o poder pelo qual tanto ambicionam.

Enquanto isso, trabalharemos porque esse é nosso instinto e nossa forma de contribuir com o desenvolvimento do país, mas àqueles que cabem as mudanças, é importante que saibam que está passando da hora…

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Logística

Um papo sobre logística

Pode parecer bobagem, mas nada incomoda mais do que alguém dizer que logística é só transporte. Tenho certeza de que muitos profissionais já experimentaram de perto aquele desinteresse ou mesmo o desdém dos ignorantes que preenchem os mercados com suas visões embaçadas e com suas opiniões parciais. E não incomoda o fato de não saberem sobre a Logística, afinal muitos profissionais também não conhecem muito sobre essa recente maravilha, mas é por sentir de perto aquilo que os governos fazem quando “planejam” seus orçamentos e desprezam um setor que é o caminho do emprego e da sustentabilidade.

logisticaPapeis como o que desempenhamos aqui no Logística Descomplicada ajudam muito a desconstruir a falta de importância sentida pelos profissionais da área, já que os desafios são reais, e tentam deixar outros setores mais próximos do verdadeiro significado da Logística através do conhecimento. Quando se lê algumas linhas, muitos não imaginam, nem de longe, quantas horas de pesquisa e de construção empírica foram dedicadas para lhes levar informação segura e isenta para que você possa construir sua opinião e encarar o mercado de uma forma mais clarificada.

Claro que hoje tudo é motivo para desconfiança. São muitas as informações que se desenham fantasiosas ou estrategicamente direcionadas para o alcance de um ideal ou meramente para “encher linguiça”. A Logística, por ser relativamente recente ante outras profissões, está repleta de informações que nos faz pensar que é um paraíso, ou por outro lado que é extremamente desanimadora, nos fazendo duvidar de tantos absurdos. Eu mesmo sempre duvidei do caos rodoviário logo que me encantei pela Logística, até conhecer de perto esse modal anos depois. Os apertos que passei em minhas jornadas para garantir uma pesquisa mercadológica sincera foram clarificadores, mas não desanimadores, pois eu já estava fisgado e com o pleno conhecimento do quão importante era a Logística.

Embora saibamos que as empresas olham melhor para aqueles setores que lhes proporcionam receita direta, também sabemos que o ambiente externo, ou seja, nossa falta de infraestrutura, não possibilita soluções mais impactantes na redução dos custos, outra menina-dos-olhos dos empresários, e assim enxergam a Logística como o sol quente do deserto pelo qual eles têm que caminhar. Porém, a visão está equivocada, pois a Logística não deve ser representada pelo “sol quente”, mas pela oportunidade de poder atravessar o deserto, e não apenas com o objeto do transporte, mas com um diversificado pacote de soluções.

E a Logística vem sendo, dessas e de outras formas, mal interpretada no mundo empresarial: ela vale o que pode dar de lucro ou o que pode reduzir nos custos, e nunca o que pode proporcionar num contexto empresarial e ambiental. Por isso é chato quando você propõe soluções logísticas que envolvem processos e pessoas para alguém que pensa que a Logística se resume em transportes. É como ouvir desse alguém que uma unha é mais importante do que um útero.

Está claro que temos um longo caminho pela frente. Mudar tais conceitos demanda tempo, mas esse tempo não pode ser esperado como algo que passe por si só, ele deve ser um tempo com dedicação e empenho daqueles que acreditam que tudo pode ser diferente, que todos os profissionais mereçam ser respeitados e valorizados e que a Logística seja enxergada como um pacote de soluções que vai além do que conhecemos hoje.

É para isso que trabalha o Logística Descomplicada: um instrumento sério, cujas informações contribuem para a construção do real entendimento e importância da Logística, para lhe ajudar em seu caminho profissional através da exploração de conteúdo para trabalhos acadêmicos, escolhas profissionais, meios e soluções para o mercado, na construção de um profissional voltado à excelência e de um cidadão mais consciente de seu papel na sociedade.

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Logística Transportes

Ferrovias pra quê?

O Brasil depende muito do transporte rodoviário para movimentar suas cargas: um transporte caro, poluidor e perigoso. Os números são divergentes entre estudiosos, mas muitos apontam para uma dependência na casa dos 70%, enquanto outros defendem que seja em torno de 60%. Vários países se empenham para diminuir, cada vez mais, o percentual de dependência rodoviária em suas matrizes logísticas. Os Estados Unidos e a Austrália, por exemplo, mantêm esse percentual abaixo de 30%, enquanto a China não passa de 10%. Eles entenderam de forma bem simples que custo alto não combina com competitividade.

ferroviasMuitos historiadores explicam que a história do Brasil não contribuiu para o desenvolvimento de uma logística eficiente e bem estruturada, pois as práticas de monocultura não tinham como fomentar regiões maiores ao ponto de impactar sobre todo o país. No entanto, trazendo o Brasil para os dias de hoje, teríamos que pensar em algo bem diferente para que daqui a algum tempo não estejamos lamentando e ouvindo tentativas semelhantes para justificar o porquê de não ter feito. Essa coisa de ferrovias mal planejadas, insuficientes, bitolas diferentes, trilhos ligando nada à coisa nenhuma e de exclusividade para minérios e grãos, tem que ficar no passado! Há tempos deixamos oportunidades para trás para nos agarrar em vícios difíceis de serem abandonados e parece que estamos fazendo tudo novamente deixando um setor inteiro ao deus-dará.

Sofremos com inúmeros conflitos regionais que tinham a luta armada como principal meio para firmar o caminho da sociedade brasileira, fora as que envolveram outros países, os impactos de guerras mundiais e o domínio militar no país. Sabemos muito bem que isso tirou o foco do desenvolvimento porque muitas de nossas revoluções foram contra nós mesmos. Ao final destas, faltava aquela inciativa de união e investir no país para recuperar o tempo perdido.

Na verdade, quando nos referimos à infraestrutura ferroviária, observamos lacunas enormes nos períodos em que se tentava implantar algo mais significativo. Em muitos períodos a falta de sinergia era notória: parecia que cada um queria construir do seu jeito sua própria ferrovia. Era uma malha de retalhos e isso atrasou muito o setor e seus efeitos permanecem como um entrave bastante significativo.

A 5ª edição da pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizada em 2015, mostra que estamos bem distantes de uma mudança necessária em nossa matriz de transportes, embora após 1996, com o início das concessões, o setor ferroviário tenha registrado crescimento de quase 30% do volume de cargas transportadas entre 2006 e 2014. Porém, houve também um aumento das invasões nos perímetros da malha ferroviária que fazem com que a velocidade caia para até 5 km/h em algumas áreas, gerando aumento de custo e ineficiência.

A malha ferroviária brasileira para o transporte de cargas mede 29,7 mil km e possui 279 cruzamentos com rodovias considerados críticos que também diminuem a eficiência através da insegurança. Comparando com os Estados Unidos que possuem extensão territorial semelhante à nossa, são 240 mil km de ferrovias e, para cada mil km2 de extensão territorial, eles têm 32 km de ferrovias, a Índia tem 23 km, a China 20,5 km, a Argentina 13,5 km enquanto o Brasil possui apenas 3,6 km, menos até que o Chile com 9,8 km e México com 7,9 km.

A pesquisa também aponta que seria necessário investir R$ 281 bilhões em 213 obras e construir 72 terminais de cargas para termos um modal que atendesse aos propósitos do país. Contudo, no ritmo atual, seriam necessários 54 anos para realizar esse plano, pois o governo investe em média, apenas R$ 1,4 bilhão por ano perdendo 1/3 do orçamento liberado por falhas no planejamento. A situação só não está pior porque o setor privado, de 2006 até 2014, investiu R$ 33,5 bilhões – quase o triplo do que o setor público investiu.

O extrativismo aumentou nos últimos anos, a agricultura bate recordes de produção, o custo por tonelada transportada em ferrovias é três vezes e meia mais barato do que pelo modal rodoviário e ainda ecoa a pergunta no Brasil: ferrovias pra quê? Talvez seja devido às facilidades que a corrupção encontra na rede rodoviária, não que na ferroviária não exista, mas os canais rodoviários proporcionam uma diversidade de possibilidades: serviços inexistentes ou mal executados, materiais de terceira, pouca durabilidade, uso da máquina pública, desvios de verbas e a magnífica indústria da multa, além da acomodação e aceitação de seus entraves. Se a História explicou os porquês da inconsistência de nossas ferrovias, talvez hoje possamos explicar sua insuficiência olhando para nossas rodovias… De fato, ferrovias pra quê?

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A falência da infraestrutura rodoviária (parte 2/2)

Recomendo, antes de tudo, a leitura da primeira parte deste artigo para que possa ser contextualizado (link).

Embora os números da edição anterior desta pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) também tenham trazido números altamente desconfortáveis para o setor logístico, sempre temos aquela esperança, aquele desejo de que algo melhore e nos dê algum alento em nossa rotina, ao mesmo tempo que tentamos entender como funciona esse descaso, esse desprezo por um setor que, bem sabemos, não deveria ser tão utilizado, como já foi explicado, no entanto, é o que temos para fazer essa gigantesca máquina logística funcionar. O que não dá mesmo é não investir em nada.

Com sérios problemas estruturais que revelam a fragilidade de um sistema e das vidas que por ele passam, temos que tornar pública tal situação e tentar enxergar algo de bom em tudo o que foi divulgado. E a parte boa não é tão boa para uma parte dos brasileiros que torcem o nariz para o assunto das concessões de rodovias. Confesso que também não era o que queria. Me junto aos que gostariam que as gestões públicas fossem verdadeiramente eficientes e atendessem às necessidades do crescimento ordenado da economia. Porém, não é esse o cenário.

Analisando os números totais, juntando gestão pública e gestão concedida, temos 41,8% das rodovias pesquisadas classificadas como ótimas e boas. O restante delas é classificado como regulares, ruins e péssimas. Poderíamos até nos iludir de que os números não são tão absurdos, mas a verdade é que o contraste se revela quando separamos as gestões:

– Gestão pública: nos 83.223 Km das rodovias federais e estaduais, apenas 5% foram consideradas ótimas, 27,9% boas, 38,2% regulares, 21,1% ruins e as péssimas são 7,8%;

– Gestão concedida: nos 20.036 Km de vias sob concessão, 39% são ótimas, 39,7% são boas, 19,9% regulares; apenas 1,3% são ruins e 0,1% são péssimas.

Também, ano após ano, acompanhamos esse cenário que se modifica numa velocidade pouco atraente aos negócios. Como não se vê investimentos à altura do que representa o modal, também não se vê números que demonstrem a expansão desses 12,3% de rodovias asfaltadas no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, para cada mil quilômetros são 438 km de rodovias asfaltadas, na China são 360 km, no Brasil são apenas 25 km. É preocupante essa paralisia, pois de 2006 até 2016 a frota cresceu 110,4%, enquanto as rodovias federais se expandiram 11,7%. O percentual de expansão para 2016 está estimado em 1,5%. Assim, amargamos a 111ª posição no ranking sobre qualidade da infraestrutura rodoviária levantada pelo Fórum Econômico Mundial, que analisou 138 países.

Diante disso, é inacreditável que o governo federal tenha investido apenas 0,19% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura de transporte no ano de 2015. E aqui estão inclusos todos os modais e não só o rodoviário. A conta fica bem mais alta quando todos esses transtornos e a falta de um planejamento sério impactam em custos operacionais, como já informado, e na pior consequência que é a perda de vidas. Em 2015, só nas rodovias federais policiadas, foram mais de 121 mil acidentes, entre perdas materiais e humanas, com um custo de R$ 11,1 bilhões.

Quando se pergunta sobre a diminuição do interesse dos profissionais que se utilizam dessas rodovias todos os dias sobre prosseguir na profissão, procuram-se outros fatores que não esses. Os caminhoneiros já convivem com a exploração de seu trabalho e com os baixos valores do frete, agora vivenciam a cada ano um cenário que não muda: seus companheiros de profissão sendo retirados de seus convívios por causa de um buraco, de uma curva insegura ou de um assalto facilitado pela precariedade do trecho… E ainda vem a pergunta: “Por que está faltando caminhoneiro no mercado?”

Até comentei outras vezes aqui que eles estão procurando pagar uma faculdade para os filhos e incentivá-los em outras profissões. Muitos desses pais caminhoneiros também não saem por falta de opção. Os motivos estão dispostos em números os quais os governos não estão dispostos a mudar.