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A logística e a recessão

De acordo com a divulgação dos números do terceiro trimestre de 2016 sobre a economia, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país ainda vive um momento crítico de queda e de falta de confiança no mercado. A questão do “vamos superar a crise com trabalho” chega a seu momento mais difícil em que se provou que só o trabalho não resolve, principalmente quem não pode contar com ele. É hora também de analisar a situação para que saibamos como trabalhar, consumir e poupar. Essa história de fechar os olhos para a crise e trabalhar soa mais como uma tentativa desesperada do que uma habilidade para superá-la por meio do conhecimento e do planejamento.

logisticaAqui serão citados apenas alguns números para contextualização. Embora não sejam tão impactantes se analisados separadamente, eles revelam que, do contrário que muitos pensavam, ainda não desaceleramos a queda que se configura num aumento da confiança na economia nos afastando da recessão, pois todos os segmentos econômicos estão no vermelho e vários pioraram.

O que deve ser levado em conta aqui é que a queda do indicador do Produto Interno Bruto (PIB) dava sinais de desaceleração do segundo trimestre de 2015 (-2.3%) até o segundo trimestre de 2016 (-0.4%), e agora no terceiro trimestre de 2016 recua 0.8% com um acúmulo de queda de 4.4% em doze meses. É a sétima queda consecutiva e a décima no acumulado. O PIB per capta, que é a divisão do PIB pela quantidade de pessoas, é de -5.2%, o que significa que uma população que precisa consumir não o pôde fazer porque está mais pobre e mais endividada.

Se por um lado temos o chamado “ciclo vicioso da recessão”, que é quando há o desemprego e a queda da renda, as vendas despencam e as indústrias sofrem com isso demitindo mais trabalhadores, temos uma alta taxa básica de juros (13.75%) que faz com que investidores optem em ganhar junto aos bancos ao invés de investir diretamente na economia. Afinal, somos um país cauteloso e conservador na hora de correr riscos no mercado financeiro.

E aí você pergunta: “Ué, e o que isso tem a ver com a Logística?” Tudo. Como já dito várias vezes, a logística é a área que mais sofre com os impactos políticos e econômicos. O setor é o “medidor de temperatura” que sofre várias alterações na evolução da crise porque é o apoio presente em todos os segmentos do mercado. E, como os serviços caíram 0.6%, com destaque justamente para os transportes e o comércio que acumularam as maiores quedas, não fica difícil entender que as demissões estão ainda mais suscetíveis, os recursos mais escassos e os investimentos parados. Porém, como já dito também, nada que aterrorize os profissionais dessa área já tão habituada a lidar com dificuldades extremas. A questão fica concentrada mesmo em como e quando vamos superar tudo isso.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também divulgou que a taxa de ocupação, que é o que a indústria está utilizando de sua capacidade instalada no país, também piorou e hoje representa 65%. O que quer dizer que há a necessidade de recuperar o setor industrial, que caiu 1.3%, e até que isso aconteça também não receberá novos investimentos. Isso é terrível para a Logística.

Mesmo não gostando de tais comparações, pois há mecanismos diferentes entre Brasil e Estados Unidos, os brasileiros ouvem a todo o momento que o trabalho é a saída para superar a crise. Ora, os americanos têm jornadas de trabalho bem semelhantes às nossas e suas taxas de juros básicos oscilam entre 0% e 0.5% com inflação que gira em torno de 1% contra a nossa de 10.6%. Antes que se possa pensar que não adianta trabalhar, pelo contrário, o trabalho é extremamente necessário, o que vem em questão é que só o trabalho não resolve. Sem dúvidas estamos caminhando carregando algo errado e pesado nas costas que pode ser, por exemplo, nossa política econômica e sua forma de controlar inflação com juros altos permitindo que algumas instituições pratiquem juros que beiram os 400%.

Especialistas que previam uma estagnação da economia para 2017 agora já se permitem pensar em outra retração de até 1.5%. Aí o país necessitará de muito “oxigênio” devido o longo período de amarga recessão. Indiferentes a isso, nossa classe política, preocupada com seu próprio umbigo, ativa em suas prerrogativas e inerte em seus deveres, consome seu tempo em disputas de poder sem perceber que precisa agir para ter onde exercer o poder pelo qual tanto ambicionam.

Enquanto isso, trabalharemos porque esse é nosso instinto e nossa forma de contribuir com o desenvolvimento do país, mas àqueles que cabem as mudanças, é importante que saibam que está passando da hora…

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3 segredos que descomplicam a logística dos produtos agrícolas

Sazonalidade, grandes distâncias e baixo valor agregado podem parecer grandes desafios para profissionais que trabalham com a logística de produtos agrícolas. E de fato são!

logistica-agricolaMas depois de alguns anos no ramo você se acostuma com a repetição sistemática desses fatores e acaba encontrando maneiras de driblar esses desafios.

O Brasil exporta anualmente mais de 100 milhões de toneladas de commodities, que percorrem em média 1.500 km para sair das fazendas e chegar até o porto.

Esse escoamento é concentrado no período pós-colheita, aproveitando também as janelas internacionais de exportação.

SEGREDO 1: VENCENDO A SAZONALIDADE

Lidar com produtos agrícolas é o mesmo que lidar com sazonalidade. Embora você tenha que ter equipamentos para realização de atividades logísticas durante todo o ano, você só irá utilizá-los por alguns meses de safra.

Se você de fato é proprietário desses equipamentos (máquinas agrícolas, tratores, caminhões, etc) estude maneiras de fazer bom uso deles fora do período de safra.

Uma dica é adaptar todo o maquinário para a rotação de cultura da própria fazenda. O mesmo caminhão que transporte a soja no primeiro semestre pode transportar o milho no segundo semestre.

Outra dica é alugar esses equipamentos para outros interessados durante o momento que não estão sendo utilizados.

É uma forma de monetizar um capital investido que está te gerando depreciação o ano todo, mesmo que você só o utilize alguns meses.

SEGREDO 2: VENCER AS GRANDES DISTÂNCIAS

Não se acomode com o fato de, nos últimos 10 anos, você exportar sua soja pelo porto de Paranaguá.

A infraestrutura para exportação de commodities agrícolas tem mudado bastante nos últimos anos, com abertura de novos corredores de exportação bem como novos players atuando no mercado.

Se você não tem volume suficiente para baixar os custos de transporte através de uma alternativa intermodal, você pode estudar a possibilidade de vender a soja para uma trading que irá potencializar essa logística.

Mas tome cuidado! Para usar ferrovias e hidrovias, volume é um fator essencial na negociação. Não deixe que todo o ganho logístico fique na mão da trading…

SEGREDO 3: ESTUDANDO MERCADOS FUTUROS

Eu sei… plantar e colher não é uma atividade fácil. Fazer toda a logística da commodity, menos ainda.

Mas todos sabemos que, devido ao baixo valor agregado das commodities, o impacto do custo da logística no preço final do produto pode alcançar mais de 30%.

Então vale a pena ter boas habilidades de negociação, certo?!

Proteger-se das oscilações de preços fazendo negociação no mercado futuro, além de minimizar riscos, é também uma forma de enxergar oportunidades.

Não precisa ser um grande player para fazer isso… Basta ser um grande aprendedor e entender a dinâmica do mercado.

Não acho que esses segredos sejam fáceis de serem aplicados – mas também não é tão complicado assim.

Se você já aplica algumas dessas dicas, compartilhe conosco aqui nos comentários! Você pode ajudar outros profissionais da área a traçar estratégias e descomplicarem suas logísticas!

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A injustificável sonegação

Estamos bem acostumados a falar da corrupção em nossa política e de todos os efeitos que ela causa nos tirando qualidade de vida e até mesmo nossa esperança de que possamos construir um país diferente. Mas, a sociedade também tem suas mazelas similares e que talvez causem mais danos do que os que estamos acostumados a narrar. Muito embora tenhamos na ponta da língua a justificativa de que nossos impostos não retornam em serviços essenciais à sociedade, devido à política inescrupulosa, não soa bem fazermos aquilo que tanto combatemos.

sonegacaoO Brasil já carrega em sua conta negativa valores expressivos que poderiam nos tornar uma nação economicamente mais consistente. Claro que isso não é um fato apenas em nosso país. A maioria dos países sofrem com algum tipo de furo de caixa, uns mais e outros menos, mas o que incomoda mesmo é a falta de ações combativas que venham a, pelo menos, inibir verdadeiros saques ao dinheiro comum que poderia, entre tantos fins, salvar vidas por meio da saúde e da segurança, construir uma educação de primeira qualidade, estradas, portos, ferrovias, aeroportos e toda uma infraestrutura logística para sairmos desse estado deficiente que transforma pequenas tarefas em grandes batalhas, como no transporte público, por exemplo.

Como dizia minha avó: “É dinheiro pra passar a vida toda só contando.” E, de fato, estamos falando de BILHÕES. São valores que em um único setor poderia cobrir rombos como o da economia (R$ 170,5 bi) e o estimado da Previdência (R$ 183 bi). Só esses dois rombos, que tanto azucrinam nosso juízo, poderiam ser quase sanados com os anuais R$ 200 bi estimados abocanhados pela corrupção e com os R$ 100 bi estimados de prejuízo anual com a pirataria. Contudo, ainda não se compara com as estimativas do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (SINPROFAZ) que garante que o valor sonegado anualmente é crescente e, só em 2016, será de R$ 500 bilhões. Não, não está errado! São R$ 500 bilhões a menos nos cofres do Tesouro Nacional! 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. E desse valor, apenas 1% é recuperado.

Em 2015 o Brasil pagou valor igual (R$ 500 bi) em juros da dívida pública para banqueiros e empresários e deixou de cobrar outras centenas sonegadas. Pensar só em arrecadação de nada valerá se não organizar para cobrar e fiscalizar para arrecadar. A tão temida Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que o governo procura reinventar, por exemplo, arrecadaria 15 vezes menos o que é sonegado em impostos. O que reforça a necessidade de ter uma rigorosa ação de fiscalização e que deva ser qualificada para tanto, pois 80% dos valores sonegados passam por operações de lavagem de dinheiro altamente sofisticadas. E mais de 60% do valor total sonegado se concentra em 12 mil empresas, com destaque para o setor industrial.

A Dívida Ativa da União soma R$ 1,2 TRILHÃO que se arrasta em processos judiciais que cabem recursos e mais recursos sem que haja uma linha de resgate para um dinheiro que faz muita falta. Afinal, você sabe quanto o Orçamento da União prevê para gastos na saúde e na educação? São pouco mais de R$ 120 bi após o corte de R$ 3,8 bi em ambas as pastas. Agora imagine o impacto sobre os R$ 753 milhões orçados para o Transporte… Se nossa logística necessita de mais do que o recomendado, 4% do PIB, como investimentos para a diminuição de seus imensos desafios, e que hoje se investe menos de 2%, o que poderíamos mudar com essa dinheirama toda?

De números em números – que por sinal são impressionantes – vamos correndo riscos ao considerar normal o fato de não pagar um dever porque o dinheiro vai ser mal utilizado. Continuo acreditando que o fator preponderante é mesmo o de levar vantagem, como aquelas entendidas na “lei de Gerson” que faz pensar que o contraventor é o esperto e os demais são os otários da vez. Reafirmo que é inegável que nossa carga tributária seja excessiva e sufocante, que é inegável que esse montante não seja direcionado de forma competente e responsável, mas o canal da sociedade que busca por mudanças, sem dúvidas, não é esse que se apresenta. Esse é mais um de muitos casos que devem ser combatidos para, enfim, amadurecermos como nação.

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Por que o comércio já tem produtos de Natal?

Com a passagem do Dia das Crianças, o próximo grande feriado festivo para o comércio é certamente o Natal. É um pouco cedo, pois faltam mais de 2 meses para que o bom velhinho venha nos entregar presentes, mas pode ser um bom negócio, tanto para os consumidores quanto para os lojistas.

natalGrande parte dos produtos de Natal sofrem do mesmo mal dos produtos perecíveis. E aqui não falo apenas de frutas, legumes e derivados de leite. São também perecíveis jornais, revistas, sangue e moda. Muitos produtos natalinos não tem nenhum valor passada a noite do dia 25. Quem vai comprar uma árvore de Natal no dia 26? Luzinhas piscantes? Decorações? E o que dizer dos brinquedos e presentes. Enquanto o preço deles certamente cai a partir do dia 26, as crianças querem seus presentes entregues na hora certa, afinal eles se comportaram o ano inteiro e o bom velhinho vai visitá-las.

Mas e a logística das vendas do Natal? As cadeias de suprimentos que alimentam as vendas natalinas tem situações críticas e específicas, como ocorre nas festas temáticas (dia dos namorados, dia dos pais, dia das mães, dia das crianças…).

1. Os produtos destas festas são altamente sazonais. Muitas lojas de departamento tem um espaço dedicado apenas para itens sazonais. Essas seções de itens sazonais tem um giro de produtos que segue o calendário das festas: Natal, ano novo, carnaval, etc. Ocorre que depois do dia das crianças, o próximo grande evento é realmente o Natal. Então, vale mais a pena colocar produtos natalinos agora, do que deixar as prateleiras vazias.

2. As lojas de departamento ajudam os consumidores a se prepararem para o Natal. As decorações, árvores, pisca-pisca, meias e bengalas são compradas e instaladas muitas semanas antes da chegada do papai Noel.

3. Como são produtos sazonais, muitos consumidores preferem comprar cedo, para não correr o risco que seu produto preferido acabe.

Para ajudar, no Brasil muitas pessoas começam a utilizar o 13o salário adiantado e fazem as compras aos poucos nos cartões de crédito, o que contribui para o mercado natalino antecipado.

Finalmente, vale lembrar que a logística não tem culpa pelas musiquinhas que as lojas insistem em tocar nessa época…

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Os maiores entraves da logística brasileira (parte 2/2)

Após falar sobre a falta de qualificação, vamos abordar um pouco sobre a falta de infraestrutura e os excessos da burocracia, considerados os três maiores obstáculos para o sucesso do nosso setor logístico, pensando na estreitíssima relação entre eles e na errada aceitação que nos remete a prejuízos, estresses e insatisfações que nos colocam numa linha de risco ao nos fazer acreditar que a correção de um só ponto resolve um todo:

problemas-logisticaDe que adiantaria a excelência profissional sem uma infraestrutura adequada ao porte econômico do Brasil? Uma boa infraestrutura utilizada por bons profissionais que a desenvolvem e trabalham para a atualização de forma sustentável para o melhor estado de competitividade é o que qualquer país almeja.

O governo de Michel Temer vem com algumas propostas que já pertenciam ao PIL (Programa de Investimentos em Logística) do governo de Dilma Rousseff que pretendia investir quase R$ 200 bi, mas caiu em descrédito após ser lançada uma segunda etapa sem a implantação de muito do que contemplava a primeira, batizado de “Crescer” pelo PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), deixa de ser algo exclusivo para o incremento do setor logístico já que contempla também privatizações ou concessões nas áreas de saneamento, distribuição de energia e exploração de minérios e loterias.

Na tentativa de viabilizar o Programa, o atual governo pretende arrecadar R$ 24 bi, só em 2017, e mudou algumas regras que tornam as negociações mais atraentes para os investidores. O tempo dirá se serão proveitosas para os usuários, pois tais mudanças influem em questões tarifárias, mas esse não é o principal ponto negativo, pois a atuação do Crescer parece bem modesta diante das necessidades do país além de estar estruturado em privatizações e concessões apenas.

Sendo o Programa anterior ambicioso demais ao ponto de sabermos que muito do “planejado” não seria alcançado, o atual precisará bem mais que isso para alavancar a Logística e com isso suprir expectativas para geração de emprego e de renda que a economia tanto precisa para superar este difícil período. Embora tenhamos que ver tudo com otimismo e, independentemente desse ou aquele governo, não temos muitas alternativas a não ser trabalhar e acreditar num Brasil diferente, mas só um bom planejamento nos entusiasmará e nos fará caminhar na direção certa. E, como já dito, só o tempo nos trará essa resposta e tomara que venha logo, mesmo com tantas contendas políticas que só prejudicam a todos.

Por último, vamos imaginar profissionais qualificados atuando numa logística com uma boa infraestrutura cercados por uma burocracia desproporcional e desinteressada com os fluxos dos processos e seus resultados. Difícil falar disso e não citar o transporte marítimo. Esse modal, sem dúvidas, é o que mais sofre com esses entraves criados para facilitar e fiscalizar, mas, na verdade, é um artifício arrecadador contumaz e um vergonhoso canal de propinas que faz absurdos parecerem normais.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que as empresas exportadoras percam cerca de R$ 4,3 bilhões ao ano devido à burocracia em portos. O valor da armazenagem pode aumentar até 150% e, acredite, às vezes é só a falta de um carimbo. No Brasil, são cerca de 24 horas remuneradas para cada processo (no México são apenas 3 horas), mas isso não vale para alimentos e bebidas que, dependendo da quantidade de carimbos esperam liberação por 20 ou até 40 dias, nem para alguns “canais vermelhos” que podem esperar e esperar…

Em 2015, o WEF (Fórum Econômico Mundial) pesquisou sobre facilidades para cumprir exigências regulatórias em 140 países, o Brasil ocupou a 139ª posição. Isso quer dizer que o consumidor final paga mais caro devido acréscimos de despesas administrativas, de armazenagens, transportes emergenciais e estoques redimensionados.

Engana-se quem pensa que esse entrave está presente apenas em portos. Os aeroportos também sofrem com isso e, muitas vezes, até chegam a superar absurdos praticados em portos. Na armazenagem, por exemplo, os custos podem sofrer aumentos de até 600%. O que dizer ainda quando a Receita Federal entra em greve? O que dizer do transporte rodoviário e seus postos de fiscalização com seus sistemas e atendimentos precários?

Sem querer minimizar a gravidade de tais entraves e sem querer desviar a atenção que o assunto exige… Haja nervos para trabalhar na Logística!…

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Os maiores entraves da logística brasileira (parte 1/2)

Não é novidade para aqueles que trabalham no setor de logística que as dificuldades para cumprir prazos representem, muitas vezes, um desafio sobre-humano. Também não é mais novidade que os prejuízos gerados nesse setor sejam impactantes para empresas e, consequentemente, para o bolso do consumidor. Pior que tais prejuízos sejam vistos dentro de uma “normalidade” e que nada aponte para uma solução num curto ou médio prazo deixando esse esplêndido setor se desvirtuar, pois ele não está aqui para gerar prejuízos, muito pelo contrário, nossa taxa de crescimento está diretamente ligada ao que a Logística nos oferece hoje.

Muitas pesquisas apontam um custo logístico em torno de 12% em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. É um custo operacional extremamente alto se compararmos com países concorrentes que, no caso dos Estados Unidos, representa quase o dobro do que os norte-americanos gastam com uma logística bem mais aparelhada. Considerando um investimento sólido e com custos logísticos aceitáveis, na casa dos 7%, a contribuição da Logística representaria algo em torno de 15% para o PIB que, se em 2015 foi de R$ 5,9 trilhões, estamos falando de R$ 885 bilhões entre reduções de custos e ganhos estimados com processos mais ágeis que resultam numa maior movimentação econômica. Peso dobrado se considerarmos um prejuízo se transformando em lucro…

Então, como ainda não incorporamos esses números à taxa de crescimento do país? Infelizmente, são muitas as causas. Contudo, três estão intimamente ligadas e sempre presentes na Logística ao ponto de se confundirem deixando que todos as vejam como normais e inevitáveis. Porém, se não atacarmos a falta de qualificação, a falta de infraestrutura e os excessos da burocracia, jamais poderemos pensar em uma logística eficientemente competitiva e auxiliadora de processos que resultem em crescimento econômico para o Brasil.

Sabemos que a falta de qualificação não se restringe apenas ao setor logístico, mas é nele que essa deficiência mais impacta, pois de nada adianta investir em outras áreas se os processos destas sempre se afunilarão na Logística.

Para a correção deste ponto, vários outros surgem e necessitam de uma maior atenção. A começar pelos investimentos em educação e incentivos aos professores brasileiros que um último estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em 46 países, apontou que além deles enfrentarem salas cheias e sem condições adequadas para o trabalho, ganham menos da metade da média salarial paga nos demais países trabalhando mais. A média na rede pública brasileira é de US$ 12.337,00 / ano, enquanto nos demais países é de US$ 28.715,00 / ano. O piso salarial de um professor está em R$ 2.135,00, mas em 10 estados brasileiros isso não se cumpre.

A desvalorização do ensino no Brasil passa por várias etapas e se mantém como algo histórico. Enquanto um professor precisa trabalhar mais para complementar sua renda, os alunos têm prejuízos na qualidade do ensino que, inevitavelmente, cai. Sem contar que tal situação afasta as pessoas da profissão e os alunos das salas, pois sem qualidade há o desprezo pela necessidade. É o que revela o mesmo estudo que apontou que 75% dos jovens brasileiros, de 20 a 24 anos, não estudam, enquanto em demais países houve registro de 55,2%.

No universo particular das faculdades o professor ganha mais, mas isso não significa que a qualidade esteja assegurada, pois o cansaço físico se sobrepõe diante das necessidades que muitos têm em ter uma profissão paralela. O nível dos trabalhos apresentados em sala fica muito abaixo da média e isso também pode ser atribuído ao cansaço do aluno e sua pressa em terminar o curso visando sua entrada ou melhoria no Mercado de Trabalho.

O Ministério da Educação afirma que vem investindo e melhorando o ensino médio, mas muitas pesquisas apontam quedas nas posições anteriores em comparação com outros países. A mesma OCDE coloca o Brasil em 60º de 76 países pesquisados em 2015, porém, em 2016, de 64 países pesquisados, o Brasil ocupou o 58º lugar embora as taxas de escolarização e acesso à educação tenham melhorado. O que deduzimos que a baixa qualidade é mesmo responsável pelo ingresso desastroso de muitos “profissionais” despreparados para o mercado e que os discursos insistentes sobre melhorias na educação não conduzem mudanças necessárias e extremamente urgentes.

Como o assunto é muito interessante pela riqueza de informações para a composição de uma linha lógica, continuarei numa segunda – e última – parte.

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Estradas explosivas

A mídia vem noticiando ultimamente vários acidentes assustadores nas estradas brasileiras. Várias mortes, várias vítimas com ferimentos e várias pessoas que jamais esquecerão as cenas trágicas que testemunharam quando das explosões de caminhões-tanque, após um tombamento ou colisão, com as chamas avançando sobre tudo e sobre todos. Isso não só é assustador como recorrente. Quais elementos estão envolvidos em tantas ocorrências que contribuem para o medo ao pegar uma estrada no Brasil? As exigências satisfazem o mínimo da segurança necessária ao cruzarmos com essas “bombas-relógio”? Os condutores estão qualificados? A manutenção desses veículos está de acordo com o perigo que representam?

Essas e várias outras perguntas surgem sempre que nos deparamos com imagens de chamas engolindo tudo pela frente. Mas, os elementos envolvidos em acidentes do tipo são bem mais complexos e fogem ao entendimento geral. Aqui estão envolvidos o despreparo, a omissão, a autoridade, a ganância, a exploração do trabalho, a droga, a falta de infraestrutura e a irresponsabilidade de funcionários, patrões e do poder público.

Estive presente nesse mercado por alguns anos e, em outros, rodei milhares de quilômetros por estradas brasileiras quando de minhas consultorias acompanhando obras de infraestrutura pelo Brasil e, além daquelas perguntas que citei, uma em especial surge primeiro que qualquer outra: “e se fosse comigo?”

Presenciei vários acidentes em que a imprudência imperava sobre a ação, mas um me chamou mais atenção: um condutor de um caminhão-tanque carregado com gasolina teve uma pane de freio em uma das rodas traseiras. Ele dirigiu alguns quilômetros superaquecendo a roda até que o fogo tomou conta do pneu, e rodou mais uns metros até parar num posto de combustíveis para usar o telefone. Alheio ao perigo e sem se preocupar com os curiosos que se aproximaram sem a mínima noção do risco. Infelizmente, ele tem muitos semelhantes.

Só esse exemplo contempla a maioria dos elementos de risco os quais mencionei anteriormente. Bom que esse não terminou em tragédia, mas refletiu tudo de inapropriado quanto aos conceitos de uma condução segura, proteção de área e procedimentos em emergências sobre os quais abordei em artigos anteriores que falavam dos riscos do transporte de produtos perigosos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 1,25 milhão de pessoas no mundo morrem por ano em acidentes de trânsito. Se considerarmos que uma morte já seria um absurdo, no Brasil são mais de 47 mil mortes e mais de 200 mil pessoas hospitalizadas por ano. Não temos, sequer, levantamentos concretos, pois os números do Ministério da Saúde apontam “apenas” 43 mil mortes e não se tem um acompanhamento sobre a alta hospitalar. Controverso também, quando comparamos os números do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), de 2015, que apontam 42.500 indenizações por morte e, pasmem, 515.750 por invalidez. E, mesmo com o que conhecemos sobre a demora dos processos judiciais no Brasil e sobre a investida da corrupção na área do DPVAT, sabemos que esses números não refletem uma realidade e podem ser ainda mais graves do que aparentam quanto às vítimas fatais.

Não se têm números precisos sobre a situação em particular desse tipo de transporte, o que se sabe mesmo é que as estradas já oferecem perigo suficiente para causar mortes; que tem muito departamento de manutenção dizendo ao motorista que consertará o sistema de freio na “próxima” viagem; muito dono de caminhão preocupado com o valor do frete e sem dinheiro para a manutenção e qualificação de seus motoristas, outros preocupados em aumentar seus lucros; muitos motoristas sem juízo conduzindo cargas perigosas e muitos transeuntes sem a noção dos riscos aos quais estão submetidos por simplesmente cruzarem com essa série de elementos envolvidos numa tarefa que, em grande parte, deveria ser bem diferente.

A paz na estrada se constrói bem antes de pegar o volante; antes mesmo de construir a estrada, o veículo e o profissional que o conduzirá.

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Por que empresas fecham após uma crise?

O fim de uma crise pode trazer falsas sensações para empresas cujas contas estão em desequilíbrio. Aquela coisa do “passou!” ou aquela do “agora vamos que vamos!” não acontecerá se não houve um bom planejamento, controle e o ganho de muito conhecimento nesse período. São muitas as empresas que fecham as portas durante uma crise por falta de “jogo de cintura”, mas também são muitas as que fecham após as turbulências, pois o mercado recupera seu ritmo bem mais rápido do que aquelas que não se prepararam para a retomada da economia.

Não deixa de ser algo muito natural no Ciclo da Economia, porém, é algo evitável ser surpreendido pela velocidade de seu mercado de atuação. A maior causa está em se focar no problema e não nas soluções. Temos um hábito mortal de olhar só para o problema e de lhe fornecer energias para que ele se agigante. Não deixa de ser um caminho necessário pensar em como superar uma crise, mas não se pode dispensar muito tempo nessa fase, pois o mais importante é como sua empresa estará ao final dela. Isso é de grande valia para novas ideias, novos modelos para o mercado e até para evitar grandes prejuízos.

Semana passada, pedi o que talvez possa ser minha última pizza num estabelecimento perto de onde moro. A qualidade caiu assustadoramente, embora o preço tenha se mantido. Em conversa com o proprietário, exercendo meu direito de consumidor ao reclamar da qualidade, vieram todas as palavras ligadas ao período difícil: matéria-prima mais cara, redução de custos, demissões, contas atrasadas… Opa! Tudo errado! Essas palavras fazem parte apenas daquela primeira parte citada: superar a crise. E quanto à parte principal de como estarei ao final da crise? Isso está diretamente ligada às outras perguntas para as quais se tem que saber as respostas de bate-pronto, como: aonde foram meus clientes? Quantos funcionários deverei contratar? Quanto devo pagá-los? Em quanto tempo conquistarei a qualidade plena?

Imagine-se de mãos atadas para trás enquanto vê o leite fervendo e subindo, subindo… Assim é sua empresa ao final de uma crise: seus clientes lhe abandonaram porque você abandonou sua qualidade e o bom serviço, seus melhores funcionários lhe abandonaram porque você não formou uma relação de parceria, e isso inclui bom relacionamento, pagamentos justos, reciclagens… E, para piorar, a mão-de-obra ficou escassa de uma hora para outra e agora você deverá pagar um salário mais alto do que seus antigos funcionários e qualificá-los sem nenhuma garantia de que não esteja perdendo tempo e ainda mais qualidade nos processos. E, com o leite prestes a derramar, ou você tem coragem para se virar e correr o risco de queimar as mãos ou ainda, antes do leite ferver, conseguir desatar suas mãos. Esta última e melhor opção é sinônimo de planejamento.

O problema é que a grande maioria pensa em soprar forte e apagar o fogo, sem se preocupar com os efeitos do gás que pode matar lentamente ou colocar tudo pelos ares em pouquíssimo tempo.

Voltando ao exemplo da pizzaria, vamos imaginar que, com a perda de qualidade, de cada 100 clientes, pelo menos 50 procurarão os concorrentes de imediato; com a redução dos custos e uma leve diminuição no preço final, mais 20 novos clientes surgirão fugindo de preços altos dos concorrentes. E se nesse momento a solução fosse a manutenção da qualidade? Ousar ainda é a melhor receita para gerar receita. E, mesmo com lucro zero, a pizzaria estará no mesmo eixo da qualidade, mantendo grande parte de seus clientes com o know-how para resgatar ou conquistar outros após essa fase de substitutibilidade. Caso opte mesmo em reduzir a qualidade, ao retomá-la, seus custos retornarão maiores que os anteriores, com o tempo contando, daqueles 50 clientes, 40 também a abandonará mais tarde e, com uma estrutura inchada, ela passará a ter aqueles 20 – os dos preços baixos e fieis só até acharem um preço menor – e mais uns 10 como base. Das duas uma: ou fecha ou se torna medíocre.

É muito importante saber que você precisou de dinheiro para construir sua marca e hoje é ela que lhe fornece o dinheiro, e este não paga qualquer dano a que ela seja submetida.

É mesmo um grande erro as empresas acharem que para a saída de uma crise a qualidade tenha que ser afetada. Isso está muito ligado à ganância ou ao desespero e não ao modelo de mercado ideal. Pensando pequeno, opta-se sempre em entregar o tesouro à concorrência ousada.

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Os danos do stock out

Mesmo com o avanço da tecnologia e a criação de novos métodos de gestão, o controle dos estoques continua apavorando as empresas. Aliás, esse processo parece desafiar qualquer ideia que procure aperfeiçoar e cooperar com as mais diferentes formas e necessidades de se controlar um estoque.

stockoutHá muito tempo que a gestão de estoques não é presenteada com novas técnicas com foco na sua acuracidade. Há quem diga que processos como Just in time – que é um sistema de administração da produção que determina que nada deva ser produzido, transportado ou comprado antes da “hora certa” – e demais ações ligadas ao gerenciamento da cadeia de suprimentos não passaram com suficiência pelos processos de melhoria contínua que a dinâmica do mercado atual exige. Esse é um campo no qual novas ideias serão sempre bem-vindas. Porém, a visão sobre as vantagens de uma boa gestão de estoques, que seja responsável pelo planejamento e controle de todos os estágios da matéria-prima até o produto acabado entregue aos clientes, parece não muito bem fixada no comportamento do quadro de pessoal. Talvez aqui esteja mesmo a maior dificuldade da atividade.

Embora muitos não concordem, fomos e somos mesmo aculturados com ações de desperdício. Isso pode ser comprovado por várias pesquisas disponíveis na mídia que apontam para um desinteresse da maioria em controlar, conservar e garantir o uso correto de recursos. E dessa forma damos pouca importância aos meios necessários que levem um estoque à quase-perfeição. Não se assimilou ainda, como deveria, que um produto pode ter seu preço, sua qualidade e seu atendimento ao cliente, interno ou externo, bastante melhorado através de um controle de estoques eficiente. O pior disso é que essa falta de visão consegue agravar situações ligadas aos custos de aquisição e de manutenção dos estoques.

Os custos de um Stock out, o chamado “furo” nos estoques, normalmente são impossíveis de serem calculados, pois além do lucro não realizado, não se sabe o que mais a empresa perdeu no mercado com o impacto sobre sua marca, sobre outras vendas e sobre a perda de clientes, além de trazer uma indesejável vulnerabilidade aos seus controles físicos e de sistemas que, entre outras coisas, podem orientar para possíveis desvios aumentando as desvantagens financeiras. Acredita-se que, mesmo com todas as variáveis, um Stock out até possa passar despercebido, mas seus danos serão sentidos em alguma etapa do processo e, geralmente, sempre refletirá no bolso.

Um erro grave, comum a muitos outros segmentos no mercado, é o investimento em meios tecnológicos sem a parceria com investimentos ligados à qualificação das pessoas responsáveis pelos estoques. Uma empresa pode ter um controle magnífico com as pessoas certas e pouca tecnologia e falhar absurdamente com uma tecnologia de ponta nas mãos de pessoas inaptas que lidam com os estoques. A aptidão para lidar de forma responsável e eficiente com estoques não está presente em todos. Controlar estoques não é para quem só quer.

O Stock out transformou-se num importante indicador, mas no mais indesejável, já que se deve evitar, de todas as formas, que ele ocorra. Como indicador, deve ser adaptado para cada caso, contudo funciona como um termômetro dos processos internos apontando falhas que impactam desde a perda de uma venda até paradas importantes na produção. Há casos de empresas de pequeno e médio porte que baixaram definitivamente suas portas devido aos erros sistemáticos em seus estoques, e não quer dizer que grandes empresas também não corram tal risco.

Os danos provocados por Stock outs podem ser setoriais: quando afetam de imediato as informações necessárias para o andamento da rotina, como os limites de estoque mínimo, máximo, ponto de ressuprimento e outros; são intersetoriais: quando se tornam gargalos na produção, compras e geram dificuldades na expedição; e os de ordem externa: quando afetam rotinas de fornecedores e comprometem o atendimento dedicado aos clientes. Sejam quais denominações esses danos recebam, eles estão intimamente ligados e refletem sempre na insatisfação dos clientes, internos e externos.

Nessa batalha diária pelo funcionamento redondo do estoque, a solução paira sobre soldados e sobre o arsenal: a arma certa com o soldado certo. E me permitam continuar com a metáfora: “ganha sempre aquele que nunca considera vencida a batalha, que dirá a guerra”.

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Gestão Logística

Como a economia pode mudar sua vida

Já sabemos que a macroeconomia e suas variáveis, como a taxa de juros, inflação, desemprego e tantas outras, pesam sobre nossas decisões, nossas frustrações e realizações. Uma relação que muitas vezes parece injusta, pois a economia depende de nós enquanto nós dependemos dela.

economiaA microeconomia, aquela que reflete nossas ações e omissões de forma individual, vem sendo desprezada diante da grande atenção que a macroeconomia nos vem tomando. Afinal, qual brasileiro hoje não está preocupado com o andamento da economia do país?

A verdade é que muitos brasileiros continuarão sofrendo por não terem uma disciplina escolar voltada à organização econômica – algo que é defendido por muitos – para aprender a tocar a vida de forma planejada. E como uma fração faz parte de um todo, esse conhecimento muito contribuiria para uma macroeconomia mais fortalecida e consciente.

Um controle econômico precisa essencialmente de planejamento e disciplina para se alcançar as realizações financeiras. Há quem diga que a disciplina é mais importante do que o dinheiro, pois se for pouco com disciplina pode dobrar, mas se for muito sem disciplina vai acabar.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou pesquisa apontando que 90% dos brasileiros têm dificuldades para quitar dívidas. A crise contribui, é claro, mas essas dificuldades também são significativas quando a economia é favorável, pois a maioria dos brasileiros sempre teve dificuldades para controlar suas finanças pessoais. Segundo o SPC (Sistema de Proteção ao Crédito), só em 2015, 3,4 milhões de pessoas foram negativadas no sistema. O número de brasileiros com dívidas em atraso chegou a 58 milhões no primeiro trimestre de 2016. Isso representa quase 40% da população entre 18 e 95 anos. E o pior é que, segundo uma pesquisa da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), os números foram agravados por dívidas de serviços essenciais, como água e energia elétrica. É obvio que o aumento do desemprego que se abateu sobre mais de 11 milhões de brasileiros, e que ainda cresce de acordo com últimos levantamentos, agrava tais números, porém, será que se estivéssemos individualmente preparados para turbulências em nossa economia teríamos números tão expressivos?

A Fecomércio (Federação do Comércio de São Paulo) levantou todas as dívidas dos brasileiros e a soma foi de R$ 803 bilhões, e o mais assustador é que desse valor, que já foi maior, só os juros representam R$ 320 bilhões. Ao mesmo tempo em que é assustador, não é surpresa que os juros representem o maior fator de um endividamento crescente, depois do desemprego, que também tira a renda do trabalhador que se vê acuado e sem meios para sanar suas dívidas.

Contudo, não se pode negar que a falta de controle orçamentário se sobrepõe a esses fatores já citados, pois segundo especialistas, ganhar R$ 1 mil e gastar R$ 1,2 mil é a principal fonte de endividamento do brasileiro. Até mesmo usando o exemplo da dívida pública do Brasil, não se pode gastar mais do que se arrecada. E o indivíduo que não controla seus gastos de acordo com seu salário, que não se informa sobre os juros que está pagando, que contrata empréstimos sem planejamento e que não faz um controle detalhado de suas dívidas fixas e variáveis, corre sérios riscos de cair em um poço sem fundo.

Repito que planejamento e disciplina são essenciais. Se não estiver disposto a abrir mão de algumas coisas, de nada adiantará buscar controlar seu orçamento pessoal. Um bom começo é saber quanto custa uma hora real de seu trabalho (seu salário líquido dividido por 220) e comparar com o preço de algo cujo valor deverá ser dividido pelo valor de sua hora trabalhada. Se você ganha R$ 2.500,00 (já descontadas as taxas), por exemplo, uma camiseta de R$ 80,00 lhe custará 7 horas de seu trabalho; ou substituir aquele celular por outro de R$ 1.200,00 lhe custará mais de 105 horas de trabalho (mais de 13 dias de trabalho); ou ainda um simples lanchinho (refrigerante + sanduíche) pode lhe custar uma ou duas horas de seu trabalho. Vale a pena trabalhar horas por algo que talvez possa viver sem? É só uma questão de valorizar seu esforço, seu tempo e seu dinheiro lhe dando a dimensão do quanto realmente lhe custa algo, essencial ou não.

Você é quem está no controle de seus gastos. Economize e proteja seu futuro, renegocie dívidas sem adquirir outras maiores, informe-se sobre as muitas faces dos controles de suas finanças, pois a economia que lhe gera problemas também lhe traz soluções. Você e ela podem ter uma relação de sucesso.