De acordo com a divulgação dos números do terceiro trimestre de 2016 sobre a economia, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país ainda vive um momento crítico de queda e de falta de confiança no mercado. A questão do “vamos superar a crise com trabalho” chega a seu momento mais difícil em que se provou que só o trabalho não resolve, principalmente quem não pode contar com ele. É hora também de analisar a situação para que saibamos como trabalhar, consumir e poupar. Essa história de fechar os olhos para a crise e trabalhar soa mais como uma tentativa desesperada do que uma habilidade para superá-la por meio do conhecimento e do planejamento.
Aqui serão citados apenas alguns números para contextualização. Embora não sejam tão impactantes se analisados separadamente, eles revelam que, do contrário que muitos pensavam, ainda não desaceleramos a queda que se configura num aumento da confiança na economia nos afastando da recessão, pois todos os segmentos econômicos estão no vermelho e vários pioraram.
O que deve ser levado em conta aqui é que a queda do indicador do Produto Interno Bruto (PIB) dava sinais de desaceleração do segundo trimestre de 2015 (-2.3%) até o segundo trimestre de 2016 (-0.4%), e agora no terceiro trimestre de 2016 recua 0.8% com um acúmulo de queda de 4.4% em doze meses. É a sétima queda consecutiva e a décima no acumulado. O PIB per capta, que é a divisão do PIB pela quantidade de pessoas, é de -5.2%, o que significa que uma população que precisa consumir não o pôde fazer porque está mais pobre e mais endividada.
Se por um lado temos o chamado “ciclo vicioso da recessão”, que é quando há o desemprego e a queda da renda, as vendas despencam e as indústrias sofrem com isso demitindo mais trabalhadores, temos uma alta taxa básica de juros (13.75%) que faz com que investidores optem em ganhar junto aos bancos ao invés de investir diretamente na economia. Afinal, somos um país cauteloso e conservador na hora de correr riscos no mercado financeiro.
E aí você pergunta: “Ué, e o que isso tem a ver com a Logística?” Tudo. Como já dito várias vezes, a logística é a área que mais sofre com os impactos políticos e econômicos. O setor é o “medidor de temperatura” que sofre várias alterações na evolução da crise porque é o apoio presente em todos os segmentos do mercado. E, como os serviços caíram 0.6%, com destaque justamente para os transportes e o comércio que acumularam as maiores quedas, não fica difícil entender que as demissões estão ainda mais suscetíveis, os recursos mais escassos e os investimentos parados. Porém, como já dito também, nada que aterrorize os profissionais dessa área já tão habituada a lidar com dificuldades extremas. A questão fica concentrada mesmo em como e quando vamos superar tudo isso.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também divulgou que a taxa de ocupação, que é o que a indústria está utilizando de sua capacidade instalada no país, também piorou e hoje representa 65%. O que quer dizer que há a necessidade de recuperar o setor industrial, que caiu 1.3%, e até que isso aconteça também não receberá novos investimentos. Isso é terrível para a Logística.
Mesmo não gostando de tais comparações, pois há mecanismos diferentes entre Brasil e Estados Unidos, os brasileiros ouvem a todo o momento que o trabalho é a saída para superar a crise. Ora, os americanos têm jornadas de trabalho bem semelhantes às nossas e suas taxas de juros básicos oscilam entre 0% e 0.5% com inflação que gira em torno de 1% contra a nossa de 10.6%. Antes que se possa pensar que não adianta trabalhar, pelo contrário, o trabalho é extremamente necessário, o que vem em questão é que só o trabalho não resolve. Sem dúvidas estamos caminhando carregando algo errado e pesado nas costas que pode ser, por exemplo, nossa política econômica e sua forma de controlar inflação com juros altos permitindo que algumas instituições pratiquem juros que beiram os 400%.
Especialistas que previam uma estagnação da economia para 2017 agora já se permitem pensar em outra retração de até 1.5%. Aí o país necessitará de muito “oxigênio” devido o longo período de amarga recessão. Indiferentes a isso, nossa classe política, preocupada com seu próprio umbigo, ativa em suas prerrogativas e inerte em seus deveres, consome seu tempo em disputas de poder sem perceber que precisa agir para ter onde exercer o poder pelo qual tanto ambicionam.
Enquanto isso, trabalharemos porque esse é nosso instinto e nossa forma de contribuir com o desenvolvimento do país, mas àqueles que cabem as mudanças, é importante que saibam que está passando da hora…