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O “outono” da indústria brasileira

Muitos ignoraram a existência de uma crise na economia brasileira apontando-a apenas como sendo uma crise política. Eu mesmo teci comentários nessa direção quando ainda a política nos tirava a atenção de algo grave até então encoberto por tantos escândalos envolvendo tantos políticos. Não, não era só uma crise política que começava a afetar nossa economia que já pedia socorro enquanto nós nos estarrecíamos com tanta sujeira. Talvez até pudesse sustentar que tenha começado, como tantas outras situações, na política, no entanto, mais voltadas às questões que envolvem a omissão do que propriamente a corrupção, que também é tão presente.

industriaEnquanto o Governo Federal e a grande massa política do país se concentravam naquilo que fazem de melhor: a luta pelo poder, o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), um fundo especial vinculado ao MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), arrastava rombos bilionários e, nesta semana, alertou que se o desemprego continuar no ritmo atual não haverá recursos para pagar o Seguro Desemprego. E não só este fundo como outros, sofreram baques significativos que nos remetem ao setor produtivo brasileiro e seus sinais de perda de competitividade e de perda de massa operacional.

Assim como no outono as árvores abrem mão de suas folhas para concentrar sua energia em sua sobrevivência, as indústrias brasileiras usam de prática similar para permanecerem ativas na esperança de que essa “estação” possa ser superada e a retomada do setor traga o crescimento no qual sempre foi de fundamental importância para o país. Porém, os números não são nada animadores, pois a indústria brasileira acumula quedas seguidas e encolheu 8,3% em 2015, pior resultado desde 2003, e em fevereiro de 2016 encolheu incríveis 13,6%.

O efeito desse “outono” é devastador. E não só para a economia nacional, já que os empregados do setor, que já não percebem o retorno de impostos na saúde, segurança e educação, amargam a perda de renda enquanto a indústria também sofre de duas formas: uma pela ameaça do encerramento de suas atividades e outra que, caso sobreviva, se vê afetada pela falta de investimentos em infraestrutura, que já não ocorre como deveria, mas diante do encolhimento do setor, o poder público que sempre pensa e age de forma diferente, tem a prática de “adubar as árvores que já dão frutos e não plantar e prepará-las para dar frutos”.

Não precisa de muita pesquisa para se abismar com a quantidade de empresas que fecharam as postas de 2014 para cá. E não são quaisquer empresas. Entre estas, estão muitas cujas marcas se consolidaram no mercado e atingiram um nível de aceitação que lhes faziam abandonar a ideia de um dia viver situação similar. Dados das Juntas Comerciais dão conta que em 2015 foram fechadas quase 355 mil empresas de todos os setores, porém sabemos que o peso do setor de produção representa uma parcela importante para recuperar ou esmagar a economia, pois dele deriva vários outros mercados que sustentam muitas e muitas famílias. Para se ter uma ideia, só em São Paulo fecharam 4.438 fábricas em 2015. 24% a mais que em 2014. Entre estas estão setores que sofrem há tempos, como o setor têxtil e o automotivo que apesar de boas vendas em anos passados, sofrem com impostos que inviabilizam e eliminam a competitividade de seus produtos.

Fechar uma unidade como forma de sobrevivência para segurar custos em meio à queda da demanda é uma decisão extrema que compromete ainda mais a capacidade de crescimento do país. Redução de jornada com redução salarial funciona enquanto há alguma movimentação nos estoques, mas à medida que essa movimentação vai perdendo corpo, e isso é só questão de tempo quando não há mudanças efetivas, o quadro fica insustentável.

Embora o tom da economia seja que um ciclo se cumpra a cada sete ou até oito anos, é absolutamente comprovado que em muitos setores isso pode ser retardado ou antecipado a depender das proteções ou das exposições que os governantes sinalizam de suas decisões ou de suas omissões. Isso é determinante para qual “estação” venha a seguir. Até queremos que seja uma primavera que nos faça esquecer as sombras de outono, mas devemos lembrar que ainda temos um inverno todo pela frente.

Mesmo dividido pela Linha do Equador, onde o outono não assume suas características, o Brasil sabe muito bem o que faz suas “árvores perder folhas” e sabe também o que fazer para atravessar “o inverno e aproveitar bem a beleza da primavera”. Basta que nossos políticos abram mão de seus eternos “verões”.

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Promoção: você está no lugar certo?

Não há nada que alguém determinado profissionalmente deseje tanto do que o reconhecimento por seu trabalho. Como também, não há nada que prejudique mais a ascensão profissional de alguém do que a avidez por status ou a falta de espaço para o crescimento dentro da empresa. Tudo deve estar em equilíbrio e acontecer no momento certo, para ambas as partes. É notória que a busca pela realização profissional vem embaçando a visão desses profissionais, ansiosos ou “injustiçados”, que não se atentam que podem estar jogando futebol com as regras do beisebol, por exemplo. E você, acha que está no lugar certo para batalhar uma promoção?

carreira e promoçãoHoje a premiação por mérito, a mais legítima e infalível forma de valorizar um bom profissional, ao mesmo tempo em que a empresa se beneficia com a ação, vem sendo sufocada pela alta rotatividade (turnover) que impede um ganho de produtividade através do domínio técnico potencializado pela prática, pela falta de desenvolvimento e falta de valorização da prata da casa, ou ainda pela influência de fatores, nada profissionais, como a amizade interesseira que forma as chamadas “panelinhas”. Isso tem um efeito devastador, pois provoca os despreparados a pensar que podem e esfria o entusiasmo daqueles que buscam crescer acompanhando a empresa.

É importante também sabermos que hoje em dia a promoção está mais ligada às mudanças de atribuições e responsabilidades do que às alterações de salários. O que é bem controverso já que as responsabilidades dentro do processo deveriam estar relacionadas às remunerações, mas o mercado atual não funciona assim e acabou pegando o gancho dos profissionais que valorizam o status sem associação ao salário compatível. O resultado é que tem muita empresa considerando que ocupar um lugar de destaque é a principal moeda e isso nunca funcionou, pois para o colaborador isso é fugaz, principalmente quando vê as novas responsabilidades a ele imputadas sem a percepção de melhorias em sua qualidade de vida.

Há algum tempo isso era bem diferente, embora as três formas para se obter promoções fossem as mesmas de hoje, elas mudaram de ordem e dançam num variado grau de importância de empresa para empresa: amizades, competição e planejamento de processos. O erro que mais se vê é a falta de observância desses itens e o aceite do aprisionamento na “sala da lamúria” porque só se enxergam os princípios do tempo de empresa como se todas fossem corporações militares.

Os fatores mais usados para a promoção diz muito sobre a alma da empresa e da personalidade do colaborador e ambos se completam numa participação cujos percentuais se desenham, mais ou menos, assim:

– Amizade: Empresa=70% e Colaborador=30%. Empresas cujo fator predominante para promoções é a amizade, estão mais vulneráveis às questões que envolvem competência, produtividade e disciplina; enquanto o colaborador goza de comodidade e de um engajamento mais preocupado com a relação pessoal do que com a oferta de soluções consistentes;

– Competição: Empresa=50% e Colaborador=50%. Sem efeitos diferentes da primeira, embora o ambiente seja o contrário, pois enquanto naquela reina o bom relacionamento, nessa a fofoca e as “puxadas de tapete” favorecem uns e prejudicam todos. Importante observar que não se trata de “competitividade”, que é um meio sadio para a melhoria contínua e que está presente no terceiro fator;

– Planejamento de Processos: Empresa=30% e Colaborador=70%. E aqui estão contidos os principais e mais legítimos meios de se obter promoções baseadas na competência: novos planos, metas justificadas, reorganização de processos e novos métodos. Sabe aquele tempinho que você tem e que muitas vezes é desperdiçado ou dedicado aos dois primeiros itens? Ele pode ser aproveitado para conhecer outras atribuições de seu setor, ajudar e aprender as atividades de seus colegas e, com esse conhecimento, identificar gargalos que possam melhorar os processos. Ainda não inventaram outro meio que assegure o sucesso através da qualificação, da eficiência e da atitude.

É claro que os dois primeiros não condizem com o esforço de quem não conta com eles, mas não dá para ignorá-los. Até para que sirvam como explicação da falta de reconhecimento do esforço. Contudo, tenha cuidado! Se seu estilo profissional e seu percentual forem incompatíveis, e isso ocorre com qualquer fator “0”, você pode estar no lugar errado, perdendo seu entusiasmo e seu tempo. Se fortaleça no terceiro, não despreze o primeiro e se afaste do segundo, pois esse é prejudicial quando retorna. E tudo retorna para você.

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Gestão Logística

Política e paixões

Estamos vivendo, sem dúvidas, o momento mais crítico de nossa política. Diferente de outras épocas, não é aquele momento em que se separam homens de meninos como se dizia, mas onde se confunde coisas tão misturadas que para nós está cada vez mais difícil separar, embora fácil de entender, já que as engrenagens políticas funcionam em ritmos e direções diferentes em qualquer lugar do mundo.

bandeira-brasil-jpgMas, falando de Brasil, já imaginou se o povo entendesse e aprendesse a fazer política? Com certeza, estaríamos com o país num outro patamar. O problema é que enquanto os políticos produzem política, o povo produz paixões. E aqui cabe dizer que a politicagem também seria banida se o povo agisse politicamente e não passionalmente.

Os políticos precisam de nossas paixões para cometer suas sandices, assim como nós cometemos quando apaixonados, mas nossas paixões sobrevivem independentes da política e isso é muito ruim para o bem comum. A diferença é que eles não estão apaixonados, eles estão políticos e estão dispostos a mexer com qualquer tipo de sentimento em prol de seus objetivos político-econômicos.

Enquanto nossas paixões nos cegam, nossos políticos nos conduzem… E nos conduziram a um cenário lamentável, de abandono da moral, da ética e de conceitos inimagináveis. Mas, e se analisarmos a coisa toda politicamente? Política é assim mesmo e isso não vai mudar… Que tal o POVO mudar? E para quem pensa que estamos mudando, está se enganando, pois só estamos nos dividindo e nos apaixonando cada vez mais, e assim, mais sujeitos a sermos usados.

Eliminando esse nosso ambiente parcial que nossa paixão produz, viveríamos no ambiente político, como deveria ser e, consequentemente, expurgaríamos incompetentes, politicagens e teríamos políticos mais qualificados e mais comprometidos com os interesses do povo, que só assim deixaria de ser usado, como todo apaixonado o é por aqueles que da paixão se valem.

Note bem que a solução é a mesma para esquerdistas, direitistas e os do centro e suas tendências que, paixões à parte, querem a mesma coisa: um país limpo de corrupção, com saúde, segurança e uma educação de qualidade.

Completamente parado, onde só os níveis de desemprego aumentam e rodeado por problemas ligados a uma economia sem expectativas, o Brasil está naquela “cadeira elétrica torcendo para faltar energia”. Com o processo de Impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff em andamento, para alguns esse é o sinal da “falta de energia”, pois quem assumiria, em vários andares da linha de sucessão, não possuem qualificações e lisura para tal, embora isso trouxesse uma esperança, um suspiro a mais; enquanto para outros é a institucionalização da “cadeira elétrica” com a quebra do regime democrático que escolhemos após períodos sombrios; ou ainda para outros, é o desejo de segurar na “cadeira elétrica” no momento da execução como prova de lealdade e defesa de seus conceitos.

Não cabe aqui julgar qual grupo está correto ou qual grupo está mais apaixonado. Porém, cabe parar e pensar: “Ôpa! Não estamos querendo as mesmas coisas?” Sim, queremos as mesmas coisas! Só estamos jogando com regras diferentes e essas regras sim, estas estão erradas!

A mistura da paixão com a política só é boa quando aquele que entra para a política o faz com o intuito de servir aos seus representantes, já quando votamos em representantes escolhidos pelos efeitos produzidos pela paixão, o resultado é catastrófico.

Apenas uma coisa é bem defendida nesse meio: a alternância de poder. Isso funciona muito bem em qualquer regime, que não o ditatorial, é claro, mas a melhoria contínua proposta por essas alternâncias não nos vem trazendo muito proveito, pois as formas de governar estão ficando cada vez mais iguais. E embora alguns números possam apontar para um ou outro governo exercido no país nas últimas décadas, todos eles resultaram em escândalos de corrupção. Com cerca de 35 partidos políticos tão iguais, não temos como nos unir e escolher uma ideologia a ser seguida. Claro que isso é democracia, mas se a dúvida nos segura na bifurcação de duas paixões, que dirá com 35 possibilidades…

Longe de uma reforma política, a saída mais prudente parece ser nós mesmos reformarmos nossa política. E o primeiro passo me parece enxergá-la com a razão política e não com a unilateralidade da paixão.

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Lei 13103 – O que mudou na logística em um ano? (Parte 1/2)

Nesse caso, em relação às Leis que regem o setor de transporte rodoviário no Brasil, são dois os períodos a se perguntar sobre mudanças: um de 2012 até 2015, quando em abril daquele ano fomos apresentados a uma das leis mais utópicas já sancionadas no Brasil: a Lei 12.619, ou a Lei do Descanso, como queiram, e outro mais recente, quando em março de 2015 entrou em vigência a Lei 13.103, a Lei do Caminhoneiro, que revogou dispositivos da Lei anterior e propôs importantes mudanças que ainda são desconhecidas por muitos profissionais da Logística.

lei do caminhoneiroPara esse primeiro período de 2012 até 2015, o que mudou mesmo na Logística foi o substancial aumento das dificuldades para o setor: o operacional se adaptando a novas rotinas, motoristas sem cumprir com os pagamentos de seus financiamentos, policiais sem saber o que fazer e empresas limitadas e perdidas buscando novas formas de obedecer ou burlar uma lei que não deu em nada. E nem tinha como dar, pois nasceu com uma extrema falta de conhecimento da realidade e, de forma dúbia, veio num momento em que as vendas de caminhões despencavam e em plena implantação do diesel S-50. Sem falar do veto do governo ao artigo que o obrigava a construir os pontos de parada para descanso, das escorregadas meio que de lado quanto à manutenção e implantação de rodovias, como também do desinteresse em tornar o valor do frete mais justo para a classe. E muitos na Logística ficaram com aquele ar de incredulidade e com a decepção em ver jogada fora uma oportunidade ímpar de corrigir tantos e enormes problemas que assolam o transporte rodoviário de cargas e de passageiros.

Pois bem, a Lei 13.103/2015 que abraça o exercício da profissão de motorista, altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e trata com mais coerência a situação de motoristas profissionais quando das questões de obrigações e direitos que envolvam informações, remunerações e estruturas necessárias para a prática do descanso, que é a essência da Lei, vem como mais uma tentativa para sanar problemas antigos e crescentes. Embora tenha havido um progresso considerável no texto, também é difícil de ser fiscalizada e de ser cumprida ainda que muito necessária para o atual modelo rodoviário.

Como sugestão aos alunos de Logística, em especial aos profissionais mais voltados ao operacional, é importante o conhecimento da nova Lei que está disponível no Portal do Planalto, mas vou citar algumas das principais mudanças:

– o Art. 235-C alterou a jornada diária para 8 horas com até mais 4 horas extraordinárias mediante acordo em convenções;

– no § 3º continua valendo o descanso de 11 horas dentro do dia, mas agora são 8 horas ininterruptas e as outras 3 horas podem ser gozadas dentro das 16 horas restantes e podem coincidir com o período de parada do tempo de volante que agora são de 30 minutos dentro de cada 6 horas. Motoristas do transporte de passageiros continuam obedecendo a parada após as 4 horas ininterruptas;

– o Art. 235-G permite agora o pagamento de comissões e outras vantagens;

– o controle do descanso e das informações diante das fiscalizações passa a ser de responsabilidade do condutor e não mais do contratante;

– os termos sobre o tempo de espera estão mais claros;

– diante do grande aumento do uso de drogas pesadas por parte dos caminhoneiros, segundo últimas pesquisas, os exames toxicológicos receberam severas configurações.

Não há dúvidas de que o texto melhorou bastante e tais mudanças trouxeram mais coerência sobre as jornadas dos motoristas profissionais, empregados e autônomos, como também para questões de responsabilidades das informações, pesagens com pagamentos de pedágios ou não e sobre flexibilidades de horários e pagamentos comissionados, antes proibidos. Porém, ainda há alguns pontos, que necessitam de um maior estudo e de investimentos para tornar a Lei fiscalizável por parte dos órgãos competentes.

Devido à extensão do assunto, trataremos de mais pontos polêmicos e de controvérsias que cercam a Lei 13.103/2015 numa segunda parte. Será mesmo que veremos algo diferente da Lei anterior ou essa também veio para compor a lista de leis não cumpridas no Brasil?

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Infraestrutura é a cura para um PIB doente (parte 2/2)

A infraestrutura brasileira é ferozmente atacada por políticas públicas que visam uma concentração de recursos para a facilitação da corrupção. Sustento isso com propriedade, pois já fui responsável, através de uma grande empresa, por dados relativos às rodovias de sete estados brasileiros cujas obras eram visitadas por mim e presenciei inúmeros problemas por falta de repasse das verbas ou por desvios destas. Vias de péssima qualidade, feitas para durar pouco e assim atrair mais recursos, são a tônica do nosso ultrapassado setor de transportes.

infraestruturaO Brasil recentemente vem sendo apontado como responsável, juntamente com a China, pela redução da estimativa de crescimento do PIB mundial em 2016 que, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) será de 3,4% e não de 3,6% como anteriormente. A redução também será sentida em 2017. Não parece uma queda significativa, mas estamos falando de um PIB global em torno de 75 trilhões de dólares em que 70% desse valor é formado pelos dez primeiros colocados. O Brasil foi 8º em 2015, superado pela Índia. O país já foi o 6º em 2011 e desde então vem caindo consecutivamente. Ainda segundo o FMI, seremos superados também pela Itália em 2016.

Se somarmos o PIB de 2014 (0,1%), ao recuo de 3,7% em 2015 (números ainda não oficiais), às estimativas de um recuo de 3,4% também em 2016 e 0% em 2017, agravado pela expansão da economia global, temos um Brasil muito enfraquecido diante de seus propósitos econômicos com o mundo. E isso afeta diretamente nosso bolso. É como se você tivesse recebido R$ 100 mil em 2014 para pagar R$ 95 mil em dívidas e em 2017 recebesse R$ 95 mil para pagar R$ 115 mil em dívidas.

Infelizmente, e volto a dizer que não defendo nenhum partido político, pois as práticas políticas de todos eles são quase todas equivocadas e exclusivistas, o governo vem com medidas extremistas que inclui a injeção de R$ 83 bi através de empréstimos ao já endividado trabalhador que dará como garantia parte de seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e o retorno de impostos criados para um propósito e desvirtuados em seguida, como foi a Contribuição PROVISÓRIA sobre Movimentação Financeira (CPMF) criada para o socorro da saúde pública em 1996, que vigorou até 2007 e externou desvios e aplicações indevidas em outras áreas. Criada por um partido, criticada por outro, agora defendida por outro e criticada por um… Nossa, que confusão! Isso também já ocorreu em 2001 com uma fatia de 10% a mais para as empresas sobre o FGTS das rescisões contratuais de empregados para que o governo cobrisse rombos de planos falidos que persistem até então. A máquina pública brasileira não se cansa de vampirismos? Não precisamos de mais dinheiro nesse momento, precisamos de credibilidade. E isso só vem através de dois caminhos: cortes de gastos públicos e investimentos em infraestrutura para gerar empregos baixando custos de produção e de distribuição ao mesmo tempo em que atrai mais investidores. Meu Deus! Será que todos os economistas deste país estão equivocados do ponto de vista do governo? Por mais quanto tempo suportaremos pagar essas contas e vê-las aumentando a cada dia?

E a infraestrutura fica dependendo de uma reforma política, mas só vemos disputas intermináveis pelo poder; de uma reforma fiscal, mas o que vemos são estados mergulhados em dívidas públicas com a União e suas disputas pela maior fatia dos impostos sobre produtos e serviços; de uma reforma previdenciária para equilibrar seu passivo, mas o que vemos são brasileiros com seus direitos violados diante de uma Previdência falida que sustentou uma greve, por mais de cem dias, para evitar pagar direitos aos trabalhadores que dela dependiam no momento. Ou será que não deveríamos associar a greve a uma economia temporária de recursos do Órgão cujo governo, em nenhum momento, se pronunciou publicamente com o interesse de resolvê-la? Caminhamos também para essa Previdência sem sabermos em qual situação estará quando dela precisarmos, e o mesmo acontece com nossa infraestrutura que não suporta mais esperar por providências e vê seu conjunto ultrapassado, seus usuários limitados e seus projetos adiados.

Investir em infraestrutura hoje não é só uma necessidade econômica, acima de tudo, é uma necessidade humana para que os usuários de transportes sejam tratados com dignidade, a distribuição aproveite ao máximo as riquezas que produzimos, o saneamento possa melhorar a saúde das pessoas e que possamos colher as melhorias de qualidade de vida que o Estado tem o dever de ofertar. Para isso, a palavra “impossível” deve se transformar em “projetos”, “promessa” em “ação” e “corrupção” em “assassinato” perante a Justiça deste amado e sofrido Brasil. E que meu “discurso” não seja “discurso”.

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Infraestrutura é a cura para um PIB doente (parte 1/2)

A soma dos valores de bens e serviços produzidos em um espaço de tempo é um importante indicador macroeconômico que mede atividades de consumo, investimentos e produção. Através do Produto Interno Bruto (PIB), podemos avaliar o crescimento ou recuo da economia e analisar comportamentos de um país diante da competitividade global. Podemos saber também sobre as pessoas e seus progressos. Apesar de considerar o PIB per capita (por pessoa) altamente impreciso devido questões gritantes de má distribuição de renda, ele pode indicar um maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Com isso, poderíamos também direcionar as arrecadações de forma mais substancial e precisa para as áreas comuns: saúde, educação, segurança e infraestrutura. Mas, sabemos que politicamente não é bem assim.

infraestrutura maritmaMais que números, esse indicador revela atitudes, ou falta delas, que comprometem o andamento econômico e que podem desequilibrar vários de seus segmentos: o maior deles, sem dúvidas, é a logística. Isso se torna claro e evidente pelo simples fato da logística estar presente e ser elo entre esses três pilares: produção, consumo e investimentos. E daqui, por conclusão, chegamos ao setor cuja atenção deveria ser imprescindivelmente dada por nossos governantes: o da infraestrutura. Ela pode ser a chave do sucesso ou a tampa do caixão.

Contudo, com uma política de deixar no chinelo qualquer “House of Cards” (série norte-americana que explora os bastidores políticos da Casa Branca), e não faço referências a qualquer partido, mas à prática política de uma forma geral, presenciamos verdadeiras aberrações construídas pela cegueira, pela incompetência ou simplesmente pelo sabor do poder. Razões estas, colocaram a infraestrutura brasileira num incômodo 53º lugar no ranking mundial elaborado pelo International Institute for Management Development (IMD) divulgado em 2015. O país desceu 12 posições segundo dados de 2001.

O Brasil hoje faz parte de uma extrema minoria que considera a alta de juros sua maior e melhor ferramenta de combate à inflação enquanto possui o mais caro dos Congressos entre doze países, emergentes e desenvolvidos, pesquisados em 2013 pela Transparência Brasil. Segundo a pesquisa, o Congresso Nacional gastava R$ 16.197,00 por minuto, coladinho com os Estados Unidos. Entretanto, em relação ao PIB, só o Senado Federal consome 0,2%. Isso é três vezes mais do que o mexicano, seis vezes mais do que o americano e onze vezes mais do que o espanhol. A pesquisa NÃO abrange os Palácios, Assembleias e Câmaras espalhadas pelo país e NÃO inclui objetos de corrupção que outras pesquisas estimam em até 2,3% do PIB. Se estamos falando de R$ 5,7 trilhões para 2015, a corrupção levaria então seus R$ 131 bilhões. Será?

Em 2015, nosso PIB recuou, segundo números do Banco Central (BC) e que ainda serão revistos, em 3,7%. Para 2016 continuaremos recuando mais 3,4% e em 2017 nossa economia, segundo especialistas, estagnará com algo bem próximo a 0%. E qual a estratégia diante disso? Investir em infraestrutura na sua amplitude: ferrovias, rodovias, portos, redes de transmissão de energia, saneamento… A infraestrutura é a maior fonte geradora de empregos num país. Em 2015 perdemos mais de 1,5 milhão de vagas. Ela movimenta a economia em todos os seus segmentos e promove uma verdadeira mudança através do emprego e do usufruto de estruturas mais adequadas à competividade que faz, de fato, um país crescer para melhor arrecadar e não só arrecadar pensando em crescer.

No curso seguido pelo Brasil, sua avaliação comercial piora gradativamente e os investimentos fogem. Como investir em um país com um custo logístico de 12% do PIB que atualmente investe menos de 2% em infraestrutura – menos da metade do que deveria – e ainda assim não enxerga um excelente negócio? Você aumentaria a mesada de seu filho para ele gastar com ilicitudes? Pegaria seu suado dinheirinho para investir em uma fábrica de máquinas para desentortar bananas? Os investidores também não! Eles querem acreditar que o governo possa diminuir seus gastos e enxugar a máquina pública promovendo um aumento eficiente dos serviços que presta honrando seus compromissos. E o melhor meio para isso é planejar e usar da melhor forma o dinheiro que, sem dúvidas, temos em caixa para isso e muito mais. O que falta mesmo é interesse comum e planejamento.

Por que não cortamos gastos como fazem outros países para contornar crises e não promovemos um programa sério de investimentos em infraestrutura que nos alavanque a exemplo de tantos? Temos excelentes profissionais, somos um povo inteligente e trabalhador. Afinal, quais malditos interesses nos subjugam ao ponto de pensarmos que não somos capazes de mudar isso?

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A logística em 2016

O mercado passa por maus bocados e o setor logístico é um dos últimos a sentir esses impactos devido à sua amplitude. A logística, vital em todas as áreas da economia, já sofre constantemente pela falta de investimentos públicos e por certo desprezo, até mesmo por parte do empresariado nacional, quanto ao enorme potencial de soluções que o setor guarda e aguarda ser explorado. Numa crise como a que atravessamos atualmente, a desaceleração nesse segmento é sentida quando atinge seu ponto mais incerto: o da reacomodação. E esse momento chegou.

logisticaSuponhamos então, que o Brasil seja um ônibus que quebrou brecando bruscamente e, após os sustos e o tempo que levamos para saber o porquê da freada, se estamos inteiros e se estamos no nosso lugar – sem contar o tempo de xingamento reservado ao motorista – agora começamos a traçar novas metas e redesenhar nossos planos para alcançarmos nossos objetivos. E aqui os setores se diferenciam: há aqueles que podem pegar um táxi, mas não há táxis para todos; há aqueles que pensam no metrô, mas a estação pode estar longe; há aqueles que resolvem seguir a pé, mas muitos se cansarão no caminho e ainda há aqueles que ficarão esperando até que tentem consertar o ônibus e este possa seguir seu rumo. Que o ônibus será consertado não há nenhuma dúvida. Quem tem lá seus cinquenta anos de idade já passou por muitos sustos desse tipo. Contudo, a espera é mais perigosa e desgastante do que todas as alternativas que contribuem para um conserto mais rápido.

Na prática, o mercado busca novas rotas, novas praças, novos públicos e é agora que a logística de armazenagem e de transportes passa a ser ainda mais sufocada. Infelizmente, muitas empresas buscam a redução dos custos do transporte antes mesmo da busca pela redução de seus custos de produção. E o que vemos são transportadoras regularizadas perdendo mercado para o “transporte cru” – aquele sem seguro e sem o cumprimento de deveres legais que, geralmente, queima o preço no mercado e traz consequências que levam tempo e mais reduções de margens para serem contornadas.

Não é novidade que 2016 será um ano difícil. Mas, para a logística em especial, será um ano ainda mais complicado, pois enquanto os outros setores já buscaram seu rumo – na metáfora do ônibus – uma grande parte do segmento logístico precisa ficar por perto para consertá-lo: é o caso do setor automotivo que diminui suas atividades, do setor de obras que também cai drasticamente e tantos outros. Aí quem transporta numa outra faixa do mercado também é atingido já que uma parte dessa frota migra para outros segmentos causando aquele efeito “baleia de água doce”, que é tão somente a tentativa de sobrevivência no mercado que causa desequilíbrio embora encarar os desafios seja legítimo e necessário.

É, 2016 tem um desenho desfavorável para vários segmentos logísticos. A começar por aqueles cuja infraestrutura perdeu o rumo totalmente. O governo expôs suas dificuldades para cumprir planos essenciais e cortou o orçamento para 2016. Não há dúvidas de que tudo isso atingirá em cheio o Programa de Investimentos em Logística (PIL) que, como comentado aqui, possuía metas inatingíveis em 2015 – que realmente não foram atingidas – e desenhava a mesma ambição para 2016. Aconteceu que no primeiro semestre de 2015 houve, com números já confirmados, uma repetida queda nos investimentos em infraestrutura. O semestre registrou apenas 0,33% do Produto Interno Bruto (PIB) investidos em obras de transporte, saneamento, energia e de telecomunicações, segundo estudos da Inter.B Consultoria. Os números do segundo semestre de 2015 não devem ficar muito diferentes, embora eu acredite na superação do primeiro, ainda será o pior ano para a logística em termos de investimentos em infraestrutura.

O Brasil, na década de 70, já chegou a investir 10% do PIB. Na década passada esse percentual chegava a 2% e veio caindo consecutivamente. Lembrado que nossos custos logísticos são de 12% do PIB. Para assegurar nossa competitividade, precisaríamos investir anualmente 4% nos próximos oito ou dez anos. Mas, com o infame declínio dos números e da infeliz visão sobre a importância dos investimentos em logística, não se espera para 2016 números diferentes e a queda no percentual fará parte do cenário. Até porque vale lembrar também que o ano começa com os velhos assuntos do impeachment da presidente da República e da cassação do presidente da Câmara dos Deputados. Enquanto isso estará se arrastando por Brasília, começará no Rio de Janeiro as Olimpíadas e depois já estaremos respirando as eleições municipais. E os investimentos em logística? Ah, fica para depois!…

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A logística na fila do descaso

O Brasil nunca esteve tão parado. Desde o início do Século XXI o país que foi, por muitas vezes, classificado como um grande canteiro de obras, atraindo investidores e gerando uma significativa movimentação na economia com uma ampla oferta de empregos, se vê hoje travado e sem expectativas. Se não fosse pela infame movimentação política e suas lutas pelo poder e os chocantes, embora previsíveis, nababescos atos de corrupção, ficaríamos até sem assuntos. Aliás, essa história de crise, guerra entre a presidência e o Congresso Nacional, escândalos da Petrobras e tantos outros paralisam o país que necessita de ações já! O Brasil precisa retomar sua rotina administrativa antes que essa letargia se torne rotina e nos embriague como vem embriagando os Três Poderes.

logistica filaAs obras para a Copa de 2014 foram, sem dúvidas, a maior movimentação em termos de ampliação estrutural e de mobilidade que o país viveu após a revolução industrial. Contudo, o que ficou como legado não foi, nem de longe, equivalente ao que foi investido, e sei que esse assunto também já rendeu o suficiente. Porém, jamais deveremos esquecer essa lição de que o Brasil se pôs numa vitrine e não vendeu bem o seu produto devido à falta de planejamento – e devido corrupções, é claro.

Essa falta de planejamento já é alarmante por si só, mas quando nem esse mau planejamento toma alguma forma de ação necessitada em tantos segmentos da economia… Aí realmente temos seríssimos problemas. Imagine uma empresa onde os funcionários cruzaram os braços aguardando o plano de produção que não veio; o setor administrativo interessado apenas em saber quem ganhará a batalha entre os diretores enquanto os clientes ficam sem atendimento […]. O que produzirá essa empresa e qual seu futuro? Só sabemos mesmo que os clientes serão os mais prejudicados, ou pelo descaso, ou pela necessidade do produto ou serviço e ainda pagar mais caro para suprir algo que já o estorrica no mercado.

Como profissional de logística há quase duas décadas, que me perdoem os otimistas, mas sempre que se noticia um programa de investimentos no país na área sempre fico com o pé atrás, pois não é só questão de investimento nisso ou naquilo que vai alavancar nossa logística e dar-lhe o que realmente necessita e merece. Nada disso será eficaz se não houver a consciência do real papel e da importância da logística em nosso país.

Mais um programa de investimentos que atola num canteiro de promessas antes mesmo que se ligue o motor do caminhão carregado com planos que parecem mais sonhos do que projetos. Escrevi sobre o PIL (Programa de Investimentos em Logística) para 2015 até 2018 que previa quase R$ 70 bi só para esse período. Muito? Não. Isso não é quase nada dos mais de R$ 293 bi que o Brasil precisa para recuperar e ampliar apenas nossas fatigantes rodovias. O ano praticamente acabou e o que saiu do papel foram as chamadas “receitas programáticas”, aquelas ações que engordam os cofres públicos com as concessões e privatizações, mas as “aplicações programáticas”, a exemplo do Plano de 2012, não se tornaram projetos no papel. Ainda é animadora a questão levantada sobre concessões e a importância de se investir em ferrovias e no transporte fluvial, mas se nada disso sai ou vai para o papel, é comum pensar que o Brasil ainda não dá a devida importância para o setor logístico. E se esse custo logístico representa dois terços do custo de um produto; se perdemos mais de um terço da nossa produção agrícola no transporte e na armazenagem; se deixamos de exportar bilhões de dólares pela precariedade dos nossos portos… Não sei mais o que pode ser usado para chamar atenção.

Os mais inteirados sabem que o país ganha com esse caos em forma de impostos: custo alto = imposto alto; morosidade = mais serviços = mais impostos… Essa é uma fórmula difícil de ser mudada quando o país prefere arrecadar ao invés de economizar. Com a necessidade de circular com recursos orçamentários para alimentar os canais de corrupção, parece que tanto faz se o que sobra vai ou não ser usado eficazmente.

Enquanto a solução por parte do poder público e com o envolvimento do povo não chega, nossa logística permanece na fila do descaso, assim como a educação e a saúde. Enquanto a política for vista como uma ferramenta de autopromoção e não como uma ferramenta de prestação de serviços, não podemos esperar por mudanças substanciais. Enquanto o país não aprender que prender custa mais do que educar, que curar é mais caro que prevenir e que soluções nos impulsionam, podemos incluir nossa logística numa fila estúpida sem cadeiras para sentar e descansar.

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Por que o nível de serviço no Brasil é ruim? (parte 2/2)

É preocupante quando ouço empresas dizerem que seus clientes são o seu maior bem. Por um lado, são mesmo! Porém, assim como esquecem que seus funcionários na verdade são seus “sócios empreendedores”, pois investem seu tempo na concretização de um projeto e sem eles não há como conquistar clientes, esquecem também que os clientes são pessoas e, muitas vezes, os negociam no mercado como se estes fossem qualquer coisa que não tivesse vontade própria.

nível de serviçoA ideia que toma força em nossa cultura de que o trabalho é obrigatório também está aniquilando as chances da prestação de bons serviços. Duas coisas se fundem e tomam forma de um mesmo mal: empresas com a visão de que ter funcionários é um mal necessário – e há muitas assim – e funcionários que trabalham porque precisam sobreviver. O resultado disso é que não se enxerga a responsabilidade e o prazer em atender bem, tanto às tarefas internas quanto clientes.

Uma dessas faces que dão origem à precariedade nos serviços é que os funcionários não gostam do que fazem. Há dois anos, em um evento da Associação Paulista de Supermercados, um professor da Universidade de Harvard trouxe números de uma pesquisa mundial da Gallup que apontavam que 72% das pessoas não gostavam do seu trabalho. Mas, um número em particular chamava ainda mais atenção: desse percentual, entre 18 e 20% estavam “ativamente desengajadas” e uma em cada cinco pessoas tinha o interesse em prejudicar a empresa em que trabalhava. Nos últimos sete anos o percentual de pessoas engajadas não passa de 30%. Não há dúvidas de que isso reflita diretamente na prestação de serviços. E se considerarmos outros números noutras pesquisas de que a maioria dos infartos ocorre nas manhãs das segundas-feiras, visualizamos um cenário de absoluta deficiência entre pessoas e empresas que reflete em seus serviços.

Mais uma face que contribui substancialmente para essa má qualidade dos serviços no Brasil é a nossa insuportável carga tributária. Os encargos trabalhistas levam muitas empresas à impossibilidade de investir na qualificação de seus funcionários. Agravando ainda mais, outras empresas que não investem para não correr riscos de perder esses funcionários para as concorrentes, empresas que não enxergam a qualidade como ferramenta de lucro e outras que visam apenas os lucros indiscriminadamente, fomentam essa grade indesejável nessa conturbada relação entre o que queremos e o que temos a dar.

A questão da educação vem como um forte fator gerador da situação do nosso nível de serviço. Aquele atendimento dado na ponta da relação com o cliente tem a educação e o acolhimento como requisitos básicos para a construção de uma fidelidade. Nisso não precisamos copiar nenhum país, pois o povo brasileiro é acolhedor por natureza. São poucos os países em que alguém se presta a parar e fornecer alguma informação a outrem. Poucos possuem a cordialidade do brasileiro. Então, por que não conseguimos levar isso para dentro das empresas? Ambiente competitivo? Não acredito muito nessa relação. Afinal, também temos a extrema necessidade de nos relacionar bem com nossos “concorrentes” para conhecê-los melhor. Talvez a situação da obrigatoriedade de trabalhar explique melhor porque perdemos essa cordialidade ao tratar com as pessoas.

Os maus serviços intersetoriais também contribuem bastante para reclamações de clientes. Eles podem se originar de rusgas entre tais setores da empresa, passando pela falta ou guarda de informações que podem levar ao fracasso uma determinada operação. Nós que trabalhamos com logística sabemos o quanto isso prejudica o cumprimento das atribuições, pois tudo o que está relacionado à falta de informação reflete diretamente nos prazos de entrega e na boa prestação de um serviço interno ou externo. De qualquer forma, o cliente sempre será o maior prejudicado quando essas informações não fluírem como devem.

Os clientes mais clássicos carregam a solução para o mau serviço de maneira a não voltar ao estabelecimento ou desprezar a referida marca. Isso é natural, mas não resolve. Como profundo adepto do diálogo, acredito que esse seria sempre o primeiro ponto, passando depois para o exercício do direito e por último às exigências de reparações legais que sirvam como instrumento para que a empresa perceba que precisa mudar, investir em treinamento e promover um ambiente sadio para seus “sócios empreendedores” antes de exigir que passem a seus clientes aquilo que não possuem.

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Desempenho Gestão Logística Supply Chain Management

Por que o nível de serviço no Brasil é ruim (parte 1/2)

Inconformado por não entender como muitas empresas tratam seus clientes, procurei razões e mais razões que pudessem explicar as várias faces de um serviço insatisfatório que experimentamos atualmente. Acredite, são muitos erros infantis e grotescos que levam ao fracasso, desde um pequeno empreendimento até uma sólida marca, uma empresa que se preocupou com o capital, com uma ideia genial de seu produto e que não olhou para a prestação de um bom serviço.

nivel de servicoPartindo de um simples princípio de que toda empresa pratica serviços e de que ninguém gosta de ser maltratado ou ter seus direitos desprezados, o cliente potencializa tudo isso com dois fatores: o primeiro de que não está, ou se incomoda em estar, obrigado a adquirir determinado serviço e o segundo de que pode exigir um bom atendimento já que está pagando para isso.

Essa abordagem não se restringe ao que conhecemos como nível de serviço logístico e seu gerenciamento de fluxos de bens e serviços. Ela vai da origem de uma grande falha que ocasionou o não fechamento de um grande negócio ao atendimento de um garçom, por exemplo, ao servir um cafezinho. Tudo envolve um serviço e, como todo, deveria ter como fundamento a qualidade esmerada.

Para quem pensa que chegamos ao ponto de um atendimento ruim devido à falta de qualificação que assola o mercado, comete duplo engano, pois há sim pessoas qualificadas e com senso profissional a fim de comprar uma boa ideia, mas num mercado poluído, elas precisam ser garimpadas e trazidas ao time para que motivem os demais. É bem verdade que pessoas assim causam mais a inveja dos outros do que desejos de mudanças nestes. Então, troca-se! Para que uma equipe seja boa ela deve estar cercada com o que há de melhor. E não estou indo contra o que tanto prego em relação à valorização do ser humano, mas isso é uma consequência do filtro do mercado. O outro engano é simplesmente pensar numa justificativa para assegurar que o serviço é ruim e que não há como mudá-lo. Daí, não só não prezo por prestar um bom serviço como passo a não exigir que me forneçam um bom serviço e inicia-se uma cadeia perigosa de comodidades.

O assunto é tão extenso e complexo que muitos e muitos pontos surgem como fatores preponderantes que dão origem ao que chamo de “serviço hemorrágico”. Aos poucos, ou rapidamente, o sangue dado a uma tarefa, aquela grande ideia de negócio vai esvaindo-se enquanto se acha que o coração – e só ele – é importante para nos manter em atividade. E quem pensa que o coração é a empresa, se enganou de novo! O coração são as pessoas e por elas – e só por elas – os serviços, doentes ou sadios, são bombeados para fazê-los circular no mercado. O papel das empresas é representado aqui como o de um médico que deve cuidar das pessoas, pois ele só existe porque há pessoas que colaboram com um bom fluxo para satisfazer seu maior bem: os clientes.

Acontece que esse item fundamental, que é a prestação de um bom serviço, vem sendo esquecido por muitas empresas e por muitas pessoas que estão se acostumando a só reclamar informalmente. Impossível encontrar alguém que já não tenha sido mal atendido ou até desrespeitado em um estabelecimento. Fico pasmo quando vejo garçons, enfermeiros, médicos e tantos outros atendentes que lidam diretamente com o público, indiferentes sem que o cliente tenha a mínima chance de se sentir bem. Nada de sorrisos, de gentilezas ou compromissos em ser a ligação do que arduamente foi projetado com o objetivo principal. E aí surgem certos questionamentos quanto ao dom necessário para lidar com o cliente, quanto à falta de treinamento de responsabilidade das empresas e, acima de tudo, quanto à compra da ideia por essas principais pessoas que podem oferecer o sucesso ou o fracasso a um negócio.

Há algum tempo, um colega ofereceu uma palestra sobre a importância da prestação de um bom serviço, enquanto outro oferecia uma que apontava para redução de custos e aumento de lucros. Não precisa se esforçar para saber quem lotou o auditório. Não precisa de muito para saber que um bom nível de serviço é garantia de lucro e que essa ferramenta não está em equipamentos modernos, em sistemas caros ou em vultosas instalações. Ele está no desejo das pessoas em ofertar, sempre com inovações, um serviço que as valorize também.

Contudo, as pessoas não conseguem ser a razão da prestação de um bom serviço sem trazer consigo suas dificuldades e a visão a que o mercado as submete. Obrigadas e acuadas, elas refletem a desobrigação de empresas e órgãos públicos. Sobre isso trataremos na segunda parte.