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Crise educacional coletiva

Que a educação está agonizando nesses tempos em que mais se necessita dela, todos sabem. Que a educação, vital à sociedade, se tornou banal para uns e inalcançável para outros, também já se sabe. Talvez o que não se saiba é como sair disso, porque fomos sendo conduzidos, paulatina e irresponsavelmente, por esse caminho e agora notamos que precisamos voltar, mas já se caminhou muito na direção errada. E agora, como retornar?

crise educacional coletivaQuando se fala de governos sempre preferimos usar os verbos errados nos momentos errados: culpar e não cobrar, cobrar e não participar, participar e não agir. Isso é causado por outro verbo: o “desconhecer”. Situação agravada pela nossa simples falta de interesse. Entregamos as nossas decisões nas mãos da política sem que se queira saber quem a conduz. Depois só nos resta a indignação. Pobre e pequena indignação que não passa da porta de nossas casas, dormindo ainda viva conosco para estar morta pela manhã. E a vida segue.

Talvez haja dureza nas palavras, mas esquecemos que os governantes saem do nosso meio. Pertencem a nossa mesma sociedade. São aqueles familiares, amigos ou aqueles conhecidos que empregam outros conhecidos para ajudá-los no ciclo do poder. Sem o domínio do verbo mais importante nesse caso, o “eleger”, como e o que cobrar?

Quando escrevi o artigo Crise educacional individual, destaquei a importância da influência de cada indivíduo no contexto da educação. Cada um contribui para um todo. Óbvio. Se não estivesse acontecendo o contrário…

A influência do ambiente pode ser mais forte do que a nossa identidade? Vem sendo. Atribuo, principalmente, àquela preocupação de como o outro nos enxergará – isso é importante à nossa conduta e não para um nivelamento –. Por isso, esse ambiente precisa ser sadio, pois quando juntamos uma porção de valores daqui ou dali, o resultado pode ser catastrófico.

Temos acompanhado a quantidade de carros de luxo envolvidos em acidentes que, por sobrepujar o respeito coletivo, o condutor parece sentir as vidas “desprezíveis” dos outros na palma de sua mão […] Essas mesmas pessoas foram aqueles alunos que, quando chamados à atenção por parte de suas professoras e professores, disseram o que mais se ouve em escolas renomadas: “Meu pai é quem paga o seu salário. Você é só uma empregadinha!” O pai vem reforçar isso com a diretora. A professora é repreendida. Afinal, não é assim que se conduz uma “empresa”. Como se manter ativa se afugentar seus “clientes”?

A inércia do Ensino Público é tão evidente que, diretores, professores e alunos que se destacam positivamente dentro desse campo são merecedores de aplausos. A essas pessoas, da área pública e privada, o nosso respeito e o nosso muito obrigado!

Agora me vem um pouco de nostalgia […] Tempos bons em que se tratava a figura do professor com a mesma forma respeitosa de um pai e de uma mãe. Hoje isso também ocorre. Contudo, os pais já não são respeitados e isso aflora em sala de aula, na hora da formação do conhecimento. Talvez seja isso que o aluno prefira carregar consigo para buscar suas vitórias futuras. Pior, leva outros alunos para o mesmo caminho. Afinal, educação hoje está virando coisa de careta […] Estamos, erroneamente, nos acostumando mais e mais com sua ausência. Estamos mais preocupados em formar profissionais do que formar pessoas.

Não vou falar dos baixos salários na área da educação, mas da sua razão de construir. Não vou falar dos altos salários na política, mas da sua razão de servir. As duas são vitais. Hoje você escolheria o magistério ou a política?

Hoje, dificilmente, se escolhe uma profissão por sua razão. Já escrevi em artigos anteriores sobre médicos que não suportam ver sangue, mas são conduzidos, por diferentes situações, a uma profissão que não será honrada. A área da educação também não estaria totalmente livre disso caso os salários fossem atraentes. Aqui está o problema. Muitas profissões foram abraçadas pelo capitalismo, a educação foi esquecida. Nem poderia ser diferente, já que nessa idéia de “o maior quem manda” há de ter os menores para obedecer. Como a educação coloca todos em situação de igualdade, ela é uma inimiga natural nessa relação, e vem sendo aniquilada pelo uso daquilo que ela tanto combate: a estupidez.

Não é necessária uma fórmula mágica para reverter essa situação. Basta olhar e combater as causas. A dificuldade maior se deve à origem desses “ataques” que colocam a área da educação em uma profunda situação de desgaste. O que dizer dos livros do MEC (Ministério da Educação e Cultura) repletos de erros e agora apoiando a formação de uma nova linguagem baseada naquilo que não foi competente ao passar aos alunos? O que dizer do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) que nasceu como solução e todos os anos está presente em processos judiciais? O que dizer de nós, os únicos beneficiários, esperando a solução dormindo confortavelmente em nossas camas de pregos? Parece que essa é uma guerra de um só exército. Os “inimigos” parecem estar ao nosso lado, dormindo ou tramando, tornando tudo mais difícil. E agora, para onde atirar?

Por Marcos Aurélio da Costa

Foi Coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

8 respostas em “Crise educacional coletiva”

Que belo artigo Marcos! Mais uma vez você nos surpreendendo com seus textos e parabéns pelo site! Precisamos tentar e sempre buscar conhecimentos e informações para, quem sabe, um dia vivermos um mundo mais civilizado. Acho sim que o governo deveria investir muito na educação das pessoas, ainda acredito que a educação é a chave de tudo, mas concordo e vejo também, as pessoas muito distantes disso, parecem que não fazem questão de se educar e de buscar esses conhecimentos. Vejo jovens se revoltando do nada, como no caso que aconteceu na USP, alguns jovens, que se dizem estudantes, revoltados com a polícia que estava ali fazendo o seu trabalho, pelos mesmos jovens que exigiram tal segurança…é um absurdo..jovens, esses, que eram pra dar o exemplo de educação e civilização, por estarem numa faculdade, não, pelo contrário, eles preferem inverter completamente tais valores…isso é muito triste…

Concordo com o autor quando o mesmo ressalta que "Os “inimigos” parecem estar ao nosso lado, dormindo ou tramando, tornando tudo mais difícil"…É uma luta que parece que vai ser constante, para não nos acomodar diante de toda essa situação, diante de toda essa deficiência de qualificação e falta de humanismo das pessoas. Muito bom o artigo, parabéns!

Excelente artigo Marcos! São artigo como esses que paramos pra pensar o quão distante estamos desse mundo que vivemos, impressionante a inversão de valores que temos de enfrentar a cada dia que passa…

Parabéns pelo artigo.

Sou um eterno estudante da geração X, e a cada curso realizado, é impressionante a percepção na indiferença dos alunos (maioria) com o que está acontecendo, não participam, falta visão para debates produtivos, falta raciocínio lógico para compreender o contexto, e só vejo interesse quando a aula acaba mais cedo ou o professor não vem… Isso porque são cursos caros, e voltados ao mercado de trabalho, então imagino o que acontece no ensino básico e fundamental, como relata a colega professora.

Não sei como a sociedade pode valorizar tanto algumas coisas menos importantes como sites de relacionamento, entretenimentos de baixa qualidade, consumismo e capitalismo selvagem, e desvalorizar coisas tão importantes como o conhecimento e a ética, e que são as melhores contribuições que podemos deixar como legado nessa vida. A luta continua! E você, que valores está deixando para seus filhos?

Jadilson, obrigado pelo lúcido comentário. Justamente com a educação acontece o fenômeno de comprar, pagar caro por ela, e fazer questão de não levá-la. Mas esses jovens querem ter um bom emprego, ganhar bem… sem esforço! Acham que um certificado é tudo. Ele até abre portas, mas o que te mantem lá é o conhecimento. Por isso vivemos uma fase de banalização, uma enorme deficiência de qualificação profissional e, pior, falta de respeito pelo próximo.

Obrigado também a Maria de Lourdes por sua opção. Com todas as dificuldades, é a mais necessária e a mais acertada.

Parabéns Sr. Marcos Aurélio da Costa, este artigo retrata nossa realidade. Sou professora no ensino médio e técnico por opção, sinto no dia a dia o comportamento dos alunos, a fraqueza da posição do professor quando deseja transmitir a importância da ética. Hoje o que importa aos jovens é a tecnologia, o facebook, o celular, o Ipod. Como mudar isso?

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