Até ser convidado pelo editor deste site para escrever sobre minhas expectativas para 2010 no campo da logística eu, sinceramente, não tinha parado para pensar sobre o assunto. Até o momento estava focado em minha tese de doutorado, que estou desenvolvendo na área de avaliação de desempenho logístico. Considero esta parte da gestão logística um grande desafio, uma vez que se medirmos algo de forma incorreta ou se tomarmos decisões com base em informações incorretas poderemos comprometer a competitividade de uma empresa. E, apesar de todas as pesquisas e propostas da área, há ainda um grande caminho a ser percorrido, até porque novos parâmetros estão sendo incluídos, como a questão ambiental. Esse será meu foco de pesquisa em 2010.
Bem, e o que deverá acontecer no campo da logística? Para responder, é necessário considerar que a logística pode ser um processo importante de uma empresa, é considerado um negócio para operadores logísticos, por exemplo, e deve ser um compromisso estratégico para um país.
Alguns fatos – econômicos e sócio-ambientais – têm transformado estes três contextos ao redor do mundo e terão repercussão direta sobre a logística no próximo ano e com certeza nos anos seguintes a este. Vamos analisar alguns deles:
Passada a pior parte da crise mundial – pelo menos é o que parece aqui no Brasil – os olhos do mundo voltaram-se para cá, o que significa que mais empresas podem decidir entrar no Brasil e que os grupos aqui instalados podem reforçar sua presença. Empresas como o Grupo Pão de Açúcar e as Casas Bahia, viram neste contexto a necessidade e a oportunidade de solidificar sua participação em seu mercado, através da fusão das duas empresas e, com isto, economizar entre dois e quatro bilhões (Revista Exame de 16/12/2009, p. 198-199), além de tornar a empresa mais resistente às investidas de grupos estrangeiros.
Com certeza, boa parte do ganho de escala, que pode representar até 10% do faturamento de todo o novo grupo formado, virá da logística. Para ser um fornecedor deste grupo não há como se manter competitivo sem uma logística ágil e enxuta, operando no menor custo possível. Esta é a primeira, e provavelmente mais óbvia, previsão que faço. A pressão pela redução dos custos logísticos será (continuará) um dos principais pontos em 2010.
Outro fator impacta no compromisso estratégico que um país tem sobre sua infra-estrutura logística. Há alguns dias, os líderes de 193 países estão reunidos em Copenhague, na Dinamarca, para discutir formas de reduzir os impactos ambientais causados pela forma como escolhemos nos desenvolver economicamente no decorrer dos últimos séculos. A grande questão que estes líderes estão tentando resolver é: como reduzir os impactos ambientais sem perder poder econômico? E provavelmente, como não gastar muito dinheiro com isto? Está claro que isto demandará um esforço de todos – governos, empresas e nós, consumidores – e mudará a forma como muitas coisas são feitas hoje.
O governo tem papel fundamental nisto, já que suas políticas públicas determinarão como as empresas farão seu transporte (caminhão, trem ou navio), o quanto essas organizações serão competitivas e, por conseqüência, o quanto elas emitirão de poluentes. E neste contexto, tanto as empresas que se utilizam da logística como aquelas que oferecem serviços logísticos terão ressaltada a necessidade de se adaptar a uma estrutura logística ambientalmente menos nociva em 2010.
Como não poderia deixar de ser, as campanhas políticas dos candidatos a presidência e governador deverão debater estas questões e possivelmente tornarão mais evidentes a necessidade de mudança. E neste contexto, irei usar agora o exemplo do pequeno município de São Lourenço do Oeste – SC, que está em vias de tornar Lei o uso de sacolas retornáveis, não mais permitindo o uso de sacolas plásticas, o que ainda é feito na maioria das lojas e supermercados do Brasil. Esta ação que já funciona na prática e que contou com a iniciativa do Núcleo de Supermercados do município, terá reflexos também na forma como os produtos serão embalados, pois o povo começa a analisar os impactos que isto traz em seu dia-a-dia.
Por exemplo, um pequeno comerciante da mesma cidade, ainda não muito adaptado à iniciativa, olhando para a prateleira de sua loja de chocolates, disse: “de que adianta sermos obrigados a usar sacolas retornáveis se todos estes produtos usam plástico na sua embalagem?”. Nisto sua cliente responde: “é o momento para começarmos a cobrar seus fornecedores”. Ou seja, é só uma questão de tempo para que todas as empresas necessitem se adaptar a este tipo de iniciativas, o que trará mudanças significativas nas embalagens e na logística.
Assim, o ano de 2010 terá fortes movimentos no sentido de reduzir os custos, o que exigirá que as empresas se adaptem às melhores práticas gerenciais e tentem ganhar escala operacional, ao mesmo tempo em que todos os povos do planeta lutarão para diminuir a emissão de poluentes. Isto, automaticamente, fará com que a logística sofra mudanças efetivas onde custos e meio ambiente serão aspectos centrais.
Uma resposta em “Expectativas para a logística em 2010”
O texto está excelente… Gostaria de saber se posso usar em meu blog.. Farei referencia de onde retirei.. Muito obrigado e abs!