Artigo publicado na IX Semana de Engenharia de Produção Sul-Americana (SEPROSUL), no Uruguai, em novembro de 2009:
O papel do gerente e sua percepção do ambiente cultural em uma incubadora de empresas: leitura de um caso a partir da abordagem etnográfica
Autores: Fernando José Avancini Schenatto, Édio Polacinski, Alice França de Abreu.
As incubadoras de empresas são ambientes onde, tipicamente, a inovação é fator preponderante, pois é nela que reside o principal diferencial competitivo das empresas em desenvolvimento. Na interação com esses empreendimentos, o gerente da incubadora assume papel central na definição de estratégias e articulação de iniciativas, de modo que sua liderança é marcante na construção da cultura organizacional. Assim, este trabalho aborda a descrição do ambiente cultural de uma incubadora de empresas brasileira, a partir da visão de seu líder, de modo a permitir a compreensão de alguns processos e símbolos utilizados naquele contexto.
Para tanto, desencadeou-se uma pesquisa etnográfica, com dados coletados por entrevistas e observação participante, a partir dos quais foi feita análise em profundidade. Os resultados enfatizam, dentre outros aspectos, o esforço de cooperação existente entre gerente, empresários e colaboradores internos e externos à incubadora; o envolvimento profissional e emocional do gerente para com os empreendimentos incubados e seus proprietários; o formalismo presente nos processos gerenciais, associado à descontração no ambiente de trabalho e nas relações; o fator tecnologia presente no discurso e no dia-a-dia; e a motivação do gerente em crescer profissionalmente atuando numa iniciativa indutora de desenvolvimento regional sustentável.
A liderança, como uma das manifestações comportamentais verificadas nas organizações, tem sido amplamente estudada e discutida, na tentativa de compreender que fatores a estimulam e como obter o melhor proveito de sua
ocorrência na gestão de projetos e ações organizacionais. No escopo das ciências sociais, o agir do líder merece lugar destacado nos estudos de pesquisadores, uma vez que influencia, em grande parte, o modo como as relações sociais se constroem e a dinâmica pela qual uma cultura é definida.
Desse modo, retratar a visão de um líder sobre a cena cultural em que atua, seus valores, suas percepções, pode levar não só a uma melhor compreensão das razões pelas quais uma organização apresenta determinados comportamentos, inclusive o momento em que eles ocorrem, como também pode conduzir a melhores insights sobre como lidar com essas variáveis. A explicitação desse conhecimento cultural, tácito por natureza, poderá oferecer à organização oportunidades de buscar melhores práticas e de induzir mudanças comportamentais, de modo a conduzi-la a resultados mais satisfatórios e alinhados com a sua missão e visão.
Essa tem sido uma preocupação constante no contexto das incubadoras de empresas, que há muito são vistas como lócus de inovação. Embora haja quem questione sua eficácia estrutural no Brasil, há exemplos incontestes de sucesso desses empreendimentos, que resultam tanto na consolidação de empresas inovadoras como na indução de desenvolvimento regional sustentado. Tendo em mente essas questões, este trabalho objetiva compreender, a partir do método etnográfico, o ambiente cultural e o papel do líder em uma incubadora de empresas, verificando como as relações sociais se estabelecem e suas implicações no desempenho organizacional.
A relevância desta abordagem encontra-se no fato de que a grande maioria dos estudos desencadeados nas incubadoras de empresas enfoca seus resultados em termos de sucesso dos empreendimentos apoiados, analisando aspectos como os instrumentos de apoio oferecidos, os investimentos realizados e o perfil dos empreendedores. Uma abordagem interpretativista, a partir da leitura do líder acerca da cultura organizacional, é capaz de evidenciar aspectos subjetivos dos processos desenvolvidos ou subjacentes às relações estabelecidas e que influenciam sobremaneira na construção de um ambiente favorável à dinâmica da inovação e no sucesso das iniciativas realizadas, tanto pelas empresas, de forma independente, quanto pela própria incubadora.
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