Modal ferroviário, a saída

Modal ferroviário, a saída

Ninguém contesta que a malha rodoviária do Estado de São Paulo é de ótima qualidade e pode ser comparada à dos países mais desenvolvidos do mundo – entre as nações emergentes talvez só a África do Sul tenha rodovias tão bem construídas. Mas essa realidade não basta para suprir as necessidades do Porto de Santos.

O que o Porto necessita é de ferrovias de carga modernas. Se as rodovias já estão congestionadas por caminhões e carretas, que se dirigem e entopem as vias de acesso portuário, só há uma saída: a construção de mais ferrovias. Ocorre, porém, que as ferrovias no Estado de São Paulo estão sob a responsabilidade do governo federal. Só com um amplo entendimento entre o governo do Estado e a União será possível viabilizar esse imbróglio.

trem carga ferroviário solucao para o portoUma sugestão que técnicos especializados fazem é que seja feita uma emenda constitucional que possa estabelecer esse entendimento. Dessa maneira, o Estado poderia ficar como concessionário federal para subconceder à iniciativa privada o trabalho de executar as obras e colocar em funcionamento novas ferrovias.

Afinal, hoje, embora a União tenha desenvolvido um programa de concessão que apresenta enormes avanços e tirado o sistema de um atraso secular provocado pela incúria das próprias autoridades federais, a malha ferroviária em São Paulo e nos demais Estados se encontra em precário estágio.

É claro que a simples passagem da responsabilidade da União para o Estado não resolveria tudo. Até porque o governo do Estado tem dado mostras de que é igualmente um ogro que se movimenta a passos paquidérmicos. Basta ver a lentidão como avançam as obras de construção do metrô na capital paulista. Quase quarenta anos depois, a cidade de São Paulo só dispõe de cinco linhas, quando as necessidades atuais exigiriam dez linhas.

Inaugurado em 1972, com 20 quilômetros de extensão, o metrô paulistano tem atualmente só 89 quilômetros, com 83 estações, ao passo que o metrô de Xangai, na China, inaugurado em 1993, com seis quilômetros, hoje dispõe de 420 quilômetros de extensão, com 11 linhas e 282 estações. É uma diferença brutal.

Para piorar, graças aos incentivos dados pelo governo federal às montadoras, a cidade de São Paulo passou a receber, nos últimos meses, um volume de trânsito que já não suporta. Enquanto isso, discute-se a construção do trem-bala, um projeto caríssimo e equivalente à construção de uma usina hidrelétrica do porte de Itaipu, quando haveria alternativas mais em conta. É de lembrar que entre Nova York e Washington há um trem de passageiros que anda a 150 quilômetros por hora e atende muito bem às necessidades. Um trem-bala que corre a 300 quilômetros por hora não deixa de ser atraente, mas talvez seja projeto para um estágio em que a economia nacional permita maiores investimentos.

Portanto, há necessidade de se fazer uma avaliação apurada das necessidades. O que o Brasil precisa hoje é expandir sua malha ferroviária, hoje limitada a 30 mil quilômetros de extensão e concentrada nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste e atendendo ao Centro-Oeste e Norte. Só com a expansão do transporte ferroviário de carga será possível evitar um colapso logístico na movimentação do Porto de Santos. Só não vê isso quem não quer.

Gostou dessa matéria? Doe qualquer valor e ajude a manter o Logística Descomplicada gratuito:

Authored by: Mauro Lourenço Dias

É professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP.

There are 6 comments for this article
  1. luiz carlos tonce at 22:11

    Prof. Mauro Lourenço Dias sou estudante de logistica da Fatec de Santos, estou desenvolvendo um trabalho cujo tema é deficit da malha ferroviaria para o porto de santos , porem estou com dificuldades para encontrar material de pesquisa a esse respeito , falei com o pessoal da codesp e obtive muita pouca informação , tentei contato com o Sr rodrigo vilaça da ANTF, sem sucesso e cheguei a conclusão que para se obter material de pesquisa na area ferroviaria é muito dificil sera que o Sr pederia me ajudar, desde já agradeço pela atenção.

  2. luiz carlos tonce at 22:01

    gostaria de ter informações a respeito do deficit da malha ferroviaria para o porto de santos ?

  3. Gabriele Souza at 14:09

    Boa tarde!

    Profº Mauro, sou estudante do 8º semestre de administração de empresasa. E estou fazendo meu TCC, sobre o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário de Cargas em Relação ao Transporte Rodoviário no Estado de São Paulo. Por gentileza gostaria de saber se o senhor, poderia me informar um email para que eu encaminhasse um questionário referente a este tema, para que o senhor respondesse e que o mesmo fosse publicado em meu TCC.

    Desde já agradeço a atenção.

    Att;

    Gabriele Souza

  4. Fabio Santos at 10:54

    Transporte de massa é a solução para o caos no tränsito.

    É necessário mais investimento na malha ferroviária do nosso país.

  5. Ikaro Pinheiro at 8:24

    Plenamente de acordo que só com a expansão do transporte ferroviário de carga será possível evitar um colapso logístico na movimentação Brasileira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *