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O maior desafio logístico de todos os tempos (parte 2/2)

Ao buscarmos soluções sempre esbarramos em pontos como: inércia, cultura, conscientização, interesses, falta de compromisso e má gestão. E, enquanto nos preocupamos com o que gera o quê, nos tornamos mais ávidos por recursos que nos façam prosperar ou que nos proporcione comodidade, esquecendo que podemos escolher representar um problema ou uma solução.

desperdicio de graosApontada como “a solução” vem a Logística Reversa (LR). E seria parte muito importante se houvesse planejamento e estrutura para que se desenvolvesse. Mas, ainda estamos muito atrasados para entender a LR. Se não aprendermos logo como USAR as chances de REUTILIZAR vão se perder nas ações de uma minoria idealista, correta e bonita para satisfazer a consciência daqueles que dizem que, pelo menos, alguém está fazendo algo. E, sabe aqueles pontos que acabei de citar? Pois é, podemos agora dizer que a LR está inerte por causa da cultura e falta de conscientização dos indivíduos e, para as organizações, não há interesse em investir nem em estabelecer um compromisso já que o poder público se preocupa com impostos e não com impactos – só se esses forem resumidamente financeiros.

Hoje, uma folha de papel reciclado custa 15% a mais do que o convencional. Não seria assim com esse e outros exemplos se a questão da reciclagem não fosse uma grande hipocrisia: quando se diz que o lixo é o artigo mais caro do mundo vamos de encontro com as dificuldades das empresas e cooperativas de catadores que sobrevivem sem apoio e com míseros trocados; quando separamos nosso lixo em casa, a coleta que não é seletiva e é maioria, mistura tudo novamente. É mais fácil uma empresa que trata seus resíduos ser multada, pois precisa cumprir diversos itens para as licenças caras e demoradas, do que uma que lança seus resíduos indiscriminadamente.

Ainda desperdiçamos um terço (mais de 1,3 bilhão de toneladas) de todo o alimento produzido no mundo, seja por questões culturais ou problemas com infraestrutura de transportes e de armazenagem. Esse valor representa cerca de US$ 750 bilhões por ano, fora outros efeitos como a emissão de 3,3 bilhões de toneladas de gases na atmosfera, o uso da água para a produção desses alimentos, que equivale ao fluxo anual do maior rio da Europa, o Volga na parte européia da Rússia, e a contaminação do solo e lençóis freáticos. No Brasil, produzimos mais de 25% a mais do que precisaríamos para nos alimentar. Mas, do que fica no mercado interno, só consumimos 36%, pois 20% do alimento pronto é desperdiçado, mais 20% na colheita, 15% no processo industrial, 8% no transporte e 1% no varejo.

Nessa conta desumana conseguimos entender as dificuldades logísticas para a busca de soluções: uma logística enxuta (lean) que funciona numa empresa, mas não em nossas casas (comportamento); um avanço tecnológico muito à frente da nossa infraestrutura (meios e condições). Estamos buscando acertar dentro de um ambiente de erros. Temos o melhor carro sem estradas, o trem mais rápido sem os trilhos e um navio sem mar.

A Logística precisa ser vista como aquela que oferece e não como a que necessita. Precisa ser moldada dentro de coerências e se desenvolver de forma planejada. Os “aventureiros” precisam parar de brincar de logística e dar seus lugares àqueles que realmente sabem o que têm e sabem como usar.

É duro admitir que tudo o que esperamos da Logística está trancado por teorias, ás vezes, fantasiosas se tentarmos implantar projetos com essa atual infraestrutura e modelo de gestão pública e privada que neutraliza qualquer boa ideia que não tenha como único objetivo a lucratividade. É duro aceitar que um setor vital, como é a Logística, esteja fadado a sobrevier sempre no sufoco e tendo que “se virar” em meio às crises de combustíveis, energética, de abastecimento de água, de falta de mobilidade e, causadora de tudo, a crise da falta de honestidade – seja ela de caráter financeiro ou de informação.

Sem dúvidas, a conscientização com os investimentos corretamente direcionados serão importantíssimos para uma saída logística, embora não signifique que aquele país que melhor fizer seu dever de casa estará livre de consequências. O que realmente assusta é que todos os estudos apontam para uma necessidade urgente de uma renovação logística, de uma mudança de comportamento, e não estamos vendo isso acontecer. Sem apoio, o setor está altamente dependente de outros segmentos e vê, de longe, suas soluções enterradas em conceitos e estruturas ultrapassadas, deficientes e cuja única função hoje é “enxugar gelo”.

Por Marcos Aurélio da Costa

Foi Coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

5 respostas em “O maior desafio logístico de todos os tempos (parte 2/2)”

Excelente texto!!! Visão atual, global, realista e que demonstra a nossa realidade de maneira clara e objetiva! O problema esta em nós, enquanto seres humanos, falta EDUCAÇÃO!!! É preciso investir em educação de forma maciça e constante em todas as esferas, sejam elas municipais, estaduais, federais. Educação é a única saída, ainda há tempo, mas precisa começar já, agora!!! Para mudar o destino da nossa nação e de qualquer outra, precisamos criar uma nova geração de Políticos, Juízes, médicos, policiais, pessoas com uma nova visão onde o desejo comum é o respeito ao próximo, respeito com o meio ambiente, respeito à vida, honestidade e embora possa parecer um sonho distante e inatingível, a esperança sempre deve ser renovada. Parabéns pela texto apresentado. Concordo plenamente com o que está posto e quando leio algo assim, me vejo com uma sensação de que nem tudo está perdido, existem pessoas que compartilham o desejo de que tudo pode ser melhorado e alertam sobre os problemas existentes e apontam soluções!!!
Obrigado!
EDUCAÇÃO É A ÚNICA SOLUÇÃO!!! AINDA HÁ TEMPO!!!

Prezado Jailton,

Obrigado pelo seu comentário. Leitores como você nos inspira a continuar a árdua busca da conscientização. Pena eu não poder acrescentar nada em seu comentário, você falou tudo. EDUCAÇÃO… Tudo.

Saúde e sucesso pra você.

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