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Carreira Comércio Exterior - COMEX Logística

O que faz um despachante aduaneiro? Profissões na área de logística e comércio exterior (comex)

comércio exterior - despachante aduaneiroContinuando com nossa série sobre carreira e profissão em logística, chegou a hora de abordarmos a logística internacional e o profissional mais envolvido com este negócio: o despachante aduaneiro, profissional da área de logística e comércio exterior responsável por fazer com que importações e exportações aconteçam da maneira eficaz, eficiente e rápida.

Apresentamos uma entrevista com Carlos Araújo, despachante aduaneiro e profissional da área de logística internacional. Ele é especializado na área de produtos perecíveis e atua nas decisões de escolha do transporte, suas características técnicas e procedimentos alfandegários. Dentre outras informações valiosas, ele destaca que o profissional dessa área precisa ter nível superior (por exigência do mercado), além de línguas estrangeiras, com obrigatoriedade para o inglês. Ele atua em Vitória no Espírito Santo, e ao longo da entrevista deu diversas informações sobre a carreira e o mercado em geral, além de dados específicos sobre a região.

Confira a íntegra da entrevista abaixo e não deixe de conferir todos os links inseridos no final da matéria.

Carlos, fale um pouco para o leitor do Logística Descomplicada sobre o seu trabalho e as atividades que são sua responsabilidade como despachante aduaneiro e a relação do seu trabalho com a logística?

Nos dias atuais, a função do despachante aduaneiro deixou de ser apenas de ‘desembaraçador’ de papéis órgãos públicos federais e intervenientes no comércio exterior como no passado.  Atualmente, é preciso que este prestador de serviço tenha conhecimento de toda a cadeia de serviço dos seus clientes, desde os procedimentos iniciais, os chamados tratamentos administrativos, até as necessidades específicas para entrega e armazenamento da carga.

Além disso, um despachante aduaneiro precisa exercer a função de consultor aduaneiro, principalmente em questões legais e logísticas. Desde o tipo de transporte a ser utilizado e qual o tipo de embalagem adequada ao produto até a forma de armazenamento e o tipo de transporte adequado ao produto são variáveis em que este consultor aduaneiro pode ser chamado.

Qual a sua formação e como ela ajuda na execução de suas tarefas?

O primeiro elemento de formação de um despachante aduaneiro é o nível superior.  Mesmo que a legislação atual regulamentada pela Receita Federal não o obrigue a cursar uma faculdade, o mercado exige.  De nada adianta um despachante aduaneiro que tem sólidos conhecimentos operacionais (ou práticos como muitos gostam de chamar), sem que ele tenha estudado finanças, economia, relações internacionais, transportes e seguro.

Atualmente, as empresas importadoras ou exportadoras estão inseridas em um mercado cujos concorrentes não são locais, e sim globais.  Além disso, a legislação aduaneira obriga e fiscaliza uma séria de obrigações acessórias, contábeis, operacionais que exige muito do profissional consultor.

Além disso, o despachante aduaneiro precisa conhecer mais de um idioma, principalmente o inglês.  Atualmente, os documentos são emitidos nessa língua, e não conhecer o idioma norte-americano seria fatal.

Continuando, o despachante aduaneiro precisa se interessar pelo direito comercial, empresarial e aduaneiro.  Essas são as três ferramentas legais na qual o empresário de importação ou exportação está ligado 24h por dia.

Por último, e não menos importante, o despachante aduaneiro precisa ter sólidos conhecimentos das ferramentas de gestão responsável por prover recursos, equipamentos e informações para a execução de todas as atividades de uma empresa, que é a essência da logística empresarial.

Que tipo de cursos você recomenda que sejam feitos para alguém que deseje ingressar neste setor?

Em primeiro lugar, depois do curso superior, um despachante aduaneiro precisa dominar o idioma inglês. Como disse, não há a obrigatoriedade legal da profissão em ter estes dois ‘diplomas’.  Entretanto, mais importante do que necessidade legal, é a necessidade do mercado.  Nenhum cliente o contratará se souber que os elementos básicos ensinados em uma faculdade, como as ferramentas de gestão, e da língua inglês não são dominados pelo seu consultar.  É impensável que alguém possa ter sucesso no comércio exterior sem essas duas variáveis básicas.

Além disso, a atualização diária e constante das informações do setor precisam ser absorvidas pelo despachante aduaneiro.  Ele precisa conhecer como o mercado financeiro está naquele momento, já que o dólar irá impactar os negócios dos seus clientes.  Além disso, ele precisa conhecer as novas ferramentas de TI e de Gestão Logística que estão sendo aplicadas pelo mercado, e ser o provedor dessa informação aos seus clientes.  O site Logística Descomplicada é um blog que precisa ser lido diariamente pelos profissionais de logísticas e principalmente pelos profissionais aduaneiros.

Finalmente, há os cursos de formação de curta duração.  Antes esses cursos eram fornecidos no eixo RJ-SP-MG, inviabilizando financeiramente a atualização da classe empresarial.  Atualmente, muitos desses cursos podem ser feitos à distância, a um custo muito acessível.

Qual a principal dificuldade que você enfrenta na realização de suas atividades?

Trabalhar como despachante aduaneiro requer uma boa dose de paciência, afinal os interesses dos empresários não são os mesmos da fiscalização pública.  Em algumas vezes, o importador quer a sua carga antes mesmo dela ter chegado ao terminal, enquanto a alfândega trabalha em horário comercial, das 9h as 18h, com duas horas de almoço.

Inclusive, uma pesquisa recente confirmou que Brasil não avança mais os seus negócios internacionais por causa da Alfândega e dos procedimentos aduaneiros, segundo o ranking de logística elaborado pelo Banco Mundial.  O país está atrás de emergentes como China, África do Sul, Malásia e Turquia. Esse relatório mede a capacidade dos países de transportar bens, e conectar indústrias e consumidores aos mercados internacionais. E a eficácia da alfândega e de outros órgãos de controle de produtos e fronteiras, foi a variável negativa para o Brasil, que ficou 82º nessa avaliação, e em 41ª na posição geral.

Além da baixa produtividade aduaneira de nosso país, a falta de infraestrutura portuária atrapalha o dia-a-dia das empresas e dos despachantes aduaneiros.  As vezes é necessário aguardar uma ou duas semanas para desunitizar um contêiner por inteiro.  E como as vezes essa desova é uma imposição da fiscalização, o importador pode levar até um mês para ter a sua carga liberada.  E mesmo que a culpa não seja do despachante, o cliente o pressionará e tentará por a culpa pela ineficência e pelo atraso.

Finalmente, mesmo sabendo que é uma necessidade, ainda há no mercado diversos profissionais que não se interessam pelo uso intenso da tecnologia da informação em todos os seus níveis.

Praticamente todos os escritórios que prestam serviços aduaneiros possuem um site institucional da sua empresa.  Entretanto, é comum não mantê-los atualizados, ou quando o fazem, se preocupam apenas com as informações institucionais.

Poucas são as empresas que oferecerem boletins de informações atualizadas sobre a legislação do comércio exterior, ou que oferecem follow-up do andamento das importações ou exportações de seus clientes.

Apesar de saber que isso acontece, é inadmissível para um prestador de serviço que foi convertido em consultor, não se utilizar do email, blogs, redes sociais ou os outros mecanismos disseminadores de informações.

A informação é o principal ativo que o despachante aduaneiro precisa oferecer ao mercado, qualquer que seja o mecanismo.

Como você vê o desenvolvimento do comércio exterior brasileiro e os investimentos em infraestrutura (portos, acessos, estradas)? A área está em expansão, mas as perspectivas são boas?

Atualmente, todos os grandes portos do país sofrem com a falta de dragagem.  Há navios que precisam esperar a maré adequada para atracar no caís, o que gera aumentos substanciais no frete ou até mesmo a recusa por parte do armador em operar no Porto de Vitória.  Entretanto, a dragagem não é a panacéia para todos os males da precária infraestrutura portuária capixaba.

É preciso ter um programa de investimentos públicos para resolver estes gargalos estruturais, com o difícil acesso rodoviário ao porto, a falta de espaço na retro-área, alargamento e aprofundamento no canal de navegação, novos e modernos equipamentos de operação de contêiner e a construção de um novo terminal que possa abrigar navios maiores.

Além da falta de investimentos em dragagem, ampliação, os portos sofrem com as dificuldades de acesso terrestre, aumentando o tempo médio de espera dos navios.

Atualmente, muito se fala em fazer uma estrutura logística eficiente, eficaz e inteligente. Qual é o papel do despachante aduaneiro nesse novo modelo?

Com planejamento integrado, envolvendo o Governo Federal, Estadual e a iniciativa privado, que este planejamento tenha foco na cadeia produtiva, e que possa identificar as carências do setor beneficiado, principalmente o exportador.  Além disso, é preciso que as soluções sejam específicas, técnicas (e não políticas), cirúrgicas e que atue na necessidade específica de cada região.

E o despachante aduaneiro pode contribuir com o conhecimento técnico e teórico adquirido ao longo da sua carreira.  Às vezes, soluções simples de serem implementadas trazem benefícios extraordinários para o dia-a-dia das empresas.

Como exemplo, há um porto no Espírito Santo que obrigava que os processos de importação fossem entregues na sede da Alfândega, que fica na capital do estado, Vitória.

Mesmo a mercadoria estando há 20 km de distância do local de entrega das pastas, era preciso cumprir esse ritual e perder um ou dois dias até que a entrega fosse feita por um malote exclusivo da fiscalização.

Depois de várias reclamações, representantes da classe empresarial junto com os representantes da fiscalização, chegaram à conclusão que aquilo poderia ser simplificado e a entrega acontecer no local em que a mercadoria estava armazenada.

Hoje, ninguém mais perde um segundo sequer esperando o vai-e-vem das pastas.

Para seguir nesta carreira, o que você sugere que seja feito?

É inquestionável o crescimento do comércio exterior brasileiro nos últimos cinco anos. São sucessivos recordes mensais nas exportações brasileiras, e cada vez mais empresas começam a participar deste processo de internacionalização, seja através da importação ou da exportação.

Mas para que este bom momento continue, precisamos saber se estamos preparados e formando profissionais para esta nova “onda”, que já mostrou que veio para ficar. A resposta para este questionamento deve passar, principalmente, pela formação do despachante aduaneiro, que agora se apresenta como consultor aduaneiro e que vai buscar para o seu cliente, soluções que se enquadrem no core business da organização.  Em outras palavras, é preciso fazer o seu cliente ganhar mais dinheiro sendo eficaz e eficiente.

Em primeiro lugar, o despachante aduaneiro precisa cursar uma faculdade, seja em logística ou em comércio exterior. Lá ele deverá ter contato com a dinâmica globalizada que potencializou a importância do comércio exterior e das profissões. Muito embora advogados, economistas, contadores, entre outros, também atuam neste mercado, somente o curso de comércio exterior ou de logística dará a bagagem necessária para as questões do dia-a-dia das empresas internacionalizadas.

Em segundo lugar, este profissional atuará no dia-a-dia da empresas de importação, exportação, bancos, consultorias e despachantes aduaneiros. Além de se especializar na gerência dos processos de importação e exportação, ficará também sob a sua responsabilidade, questões ligadas à logística aduaneira e empresarial, além de temas ligados à área fiscal e tributária.

A terceira variável importante para esse profissional do futuro é o uso intenso das ferramentas de tecnologia da informação.  Ele precisará ter um ótimo e atualizado website para oferecer à sua clientela e ao mercado, todas as informações importantes e imprescindível de comércio exterior.  Ter um twitter e/ou um blog para emitir opiniões sobre determinados assunto é vital. Apesar das redes sociais terem caído no gosto da garotada até 20 anos, muitas empresas estão dispensando muito tempo e grandes somas de recursos para entenderem o que é dito nesta rede.  E o despachante aduaneiro não pode ficar de fora.

E a quarta e última variável importante para o despachante aduaneiro do futuro é o domínio da língua e a vivência internacional.  Muitas pós-graduações oferecidas no Brasil têm parcerias com outras universidades  países cuja infraestrutura portuária é avançada, como Estados Unidos, Bélgica, Holanda e Hong Kong.  Sem sombra de dúvida, um profissional com estas características será um profissional disputado nesse mercado, seja como colaborador ou como empresário do ramo de despacho aduaneiro.

Carlos Araújo é editor do blog ComexBlog. Para conhecer um pouco mais sobre a profissão de despachante aduaneiro, acesse o post O que faz um despachante aduaneiro do blog Comexblog.

Veja mais matérias na série especial sobre carreira e profissão na área de logística.

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Por Leandro Callegari Coelho

Leandro C. Coelho, Ph.D., é Professor de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos na Université Laval, Québec, Canadá.

25 respostas em “O que faz um despachante aduaneiro? Profissões na área de logística e comércio exterior (comex)”

Parabéns pela matéria, mas gostaria de realçar que as faculdades de comércio exterior como tanto outras deixam á desejar…fui á procura do curso por necessidade, pois atuo na área de desenvolvimento de sistemas de uma empresa voltada para o comercio exterior, o único professor que entendia de comércio exterior era o coordenador do meu curso, é uma área muito abrangente, mas colocar o despachante aduaneiro á este nível de obrigatoriedade foi dar uma forçada…Estes serviços que acabou de referenciar ao Despachante, cabe na verdade á uma Comissária, pois nela terá um despachante aduaneiro responsável pelo cliente no Radar, interpretes, relações internacionais, agenciamento, consultoria, analista de comércio, câmbio, logística, desenvolvedor de sistemas integrados, entre outros. Na verdade o que acontece hoje em dia, é que o funcionário de uma comissária, por desembaraçar os processos dos clientes com uma certa rotina, acha que é fácil, sai do emprego e decidi trabalhar home office e oferece ao importador o desembaraço pela metade do preço, o “brasileiro sendo brasileiro” aceita e nasce assim profissionais despreparados, abrindo MEIs e não sabendo a importância de outros profissionais para sua empresa, um faz tudo em qualquer área acaba por não fazer nada…

Hoje em dia há profissionais que dominam todas as áreas citadas acima, desde a parte econômica, jurídica, línguas, direito até as do comércio internacional em geral, os profissionais de Relações Internacionais, ou seja, os INTERNACIONALISTAS, estão preparado para tudo, desde a diplomacia até o comércio. Estes, na minha opinião, estão mais bem preparados do quê um profissional que lida apenas com o comércio exterior. Estes, lidam com tudo que vier nessa nova fase de globalização que estamos vivendo.

Curso superior é diferencial, porém para ser despachante é necessário em primeiro lugar ser aprovado no Exame de Qualificação ADA da ESAF. E não exige nível superior. Eu sou estudante de comércio exterior e as ferramentas que a faculdade proporcionam podem sim fazer a diferença. Comércio Exterior oferece um leque aberto de opções….

Bom dia!
Necessito enviar uma quantidade de vinhos para um evento que será realizado em salvador inicio de novembro
Preciso de quem possa fazer todo o procedimento e a entrega no destinatario final que é pessoa fisica?
Atenciosamente
Elisa Silva
Favor entrar em contato através do email:
tienda@castillodemaluenda.com

O cara está falando ai que “O primeiro elemento de formação de um despachante aduaneiro é o nível superior”. Quantos candidatos de curso superior foi aprovado nesta última seleção da Receita Federal? Ou você pensa que um cursinho superior destas falculdades “pagou passou” torna o sujeito mais inteligente ou é uma fórmulla magica de “DESEMBARAÇAR UMA CARGA”?
Você está sendo pretensioso.

Na verdade ele não disse que basta ter um diploma nas mãos, ele se referiu ao conhecimento, quem não busca conhecimento não consegue se manter.

Como despachante aduaneiro no RJ há 25 quero parabenizar pelo texto que sem dúvida esclareceu muitos pontos acerca da profissão

Sim, entretando para ser despachante não é necessario faculdade e sim a carteira de despachante, primeiro voce vira ajudante de despachante e fica 2 anos com registro em carteira, após os dois anos voce solicita a carteira de despachante e faz uma prova, após feito voce está dentro! FONTE: EUs2COMEX

Isto é, se conseguir arrumar um emprego na área.
Porque por mais que tenha Faculdade e cursos de capacitação e provável que não consiga, somente com alguém indicando!
Envie meu curriculum para quase todas comissarias de despacho aduaneiro do Rio de janeiro, tanto por e-mail quanto pessoalmente e também procurei o sindicato para tirar duvidas e me auxiliar cujo não me ajudou em praticamente nada! Continuarei a tentar e desejo boa sorte!

Olá Alexander, então eu tenho esse registro aprovado pela receita passado os dois anos de ajudante agora já com o registro, mas nunca trabalhei, estou tentando uma oportunidade de como começar, vc sabe como eu consigo entrar para aprender e trabalhar nesta área. Obrigada! Danielle

Paz ai!
Trabalho na area de despacho a 1 anos numa empresa Despachante Aduaneiro (PAHO DESPACHANTE, LDA) NACALA PORTO MOCAMBIQUE.
Quanto a sua questao caro Henriques, com a esperiencia que tenho, o curso de gerstao portuaria vem coajuvar os proceguimentos de dezembaraco aduaneiro actuando em linhas de Navegacao, agentes portuarios.

É muito importante as explicações relativa as atividades,como não poderia deixar de ser quatro variaveis citadas estão em toda área do conhecimento,como nível superior,uma língua estrangeira,a TI e os site, seja tuiter ou outros demais importante nos dias de hoje.

Muito interessante a explanação das atividades e cotidiano do despachante aduaneiro.E a premissa de que o fluxo de informações é essencial para que o organização e o profissional da aduana esta correta assim como qualquer área do conhecimento procura desenvolver-se a Logística e o Comércio Exterior não são diferente.

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