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O transporte de produtos perigosos no Brasil (parte 1/3)

Há dois meses me foi proposta a elaboração de um curso sobre o transporte de produtos perigosos, a qual me exigiu muita pesquisa apesar de eu já fazer parte desse mercado. O aumento do conhecimento foi substancial e as questões básicas do dia a dia que não são observadas chamaram atenção. Confesso que fiquei estarrecido diante da fragilidade do sistema que, mesmo sabendo de sua existência, surpreende pela gravidade.

produtos perigososBaseado na realidade do mercado hoje e no estudo realizado, compartilho o assunto com todos dividindo-o em três partes, onde abordaremos as questões sobre os produtos, sinalizações, regulamentos, capacitações e questões de infraestrutura.

Considero este texto, além de uma boa ferramenta de esclarecimento àqueles que estão ou pretendem ingressar no mercado, uma questão de utilidade pública. Afinal, esses produtos passam por você, próximos à sua casa, na sua rua todos os dias sem que haja um conhecimento razoável quanto ao RISCO, quanto aos procedimentos em casos de emergência, sem as dimensões do PERIGO de verdadeiras “bombas ambulantes” que estão nas mãos de pessoas despreparadas que, verdadeiramente, não conhecem ou não seguem certos procedimentos de segurança que caem no esquecimento diante da rotina.

São equipamentos em péssimas condições que transportam produtos que representam um risco enorme à população e ao meio ambiente. Mal sinalizados, muitos irregulares, desafiam os órgãos competentes e contribuem com a prática da corrupção num segmento onde o que deveria ser regra é exceção.

Apesar de uma atividade muito antiga, pois alguns historiadores atribuem seu início com a invenção da pólvora pela China na dinastia Han e que, mais tarde, seria transportada para uso militar, os regulamentos só foram propostos após tragédias que resultaram em perdas humanas. Foi o caso do Brasil também que em 1972, no estado do Paraná, começou a dar a devida atenção ao assunto com a explosão de um caminhão carregado com dinamites. Mas, o que repercutiu mesmo foi a contaminação de vários operários num descarregamento de pentaclorofenato de sódio, conhecido como Pó da China, em 1977 no Mercado de São Sebastião, no Rio de Janeiro, matando seis pessoas e causando doenças graves em outras tantas. Assim, em 1983 criou o Decreto-Lei nº 2.063 tornando-se o primeiro país da América Latina a criar normas específicas para o transporte de produtos perigosos.

A Organização das Nações Unidas (ONU) classificou os produtos perigosos dividindo-os em nove classes com suas subclasses de risco para que fossem criados procedimentos que atendessem a cada particularidade. Importante para se desenhar o atendimento e evitar a confusão entre perigo e risco que ainda é muito comum para muitos.

Para ficar claro, o perigo está associado à função da composição química do produto, já o risco está relacionado à combinação do perigo com outro fator que pode ser: a exposição, o armazenamento, o transporte, o contato, etc. Portanto, perigo x fator = risco.

É definido como perigoso um produto ou substância encontrada na natureza ou produzidos por qualquer processo que ofereça riscos à saúde das pessoas, à segurança pública e ao meio ambiente. Manuseados, armazenados e transportados de forma incorreta podem levar os envolvidos à morte; envenenar, corroer, explodir, pegar fogo ou contaminar as pessoas, o solo, as águas e o ar.

Na segunda parte vamos abordar mais sobre o regulamento confuso que permite seu próprio descumprimento e a inexpressividade das fiscalizações.

Por Marcos Aurélio da Costa

Foi Coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

16 respostas em “O transporte de produtos perigosos no Brasil (parte 1/3)”

Informo que tenho uma planilha de produtos perigosos.

Planilha criada para facilitar a busca de produtos perigosos e riscos.
Usando somente o código da ONU na planilha você visualiza tudo o que precisa para efetuar seu atendimento com segurança para sua equipe que esta no local do evento.
São mais de 3400 produtos relacionados e classificados com os critérios de riscos e contaminação retirados de pesquisas da internet e do livro abiquim.
Envio planilha teste para demonstração.

planilha2013@gmail.com // 41 99172032 com Adilson.

Marcos,
Texto de extrema importancia. Interessante tambem os comentarios dos colgas deste grupo. Uma informacao postada abaixo relata que o Brasil foi um dos pioneiros na regulamentacao deste tema. Precisamos voltar a ser referencia, a comecar por nao tolerar desvios.
Sds,
Fabio Figueiredo.

Dia 25 e 26 de Junho en Recife, vou ministrar unm Curso de MERCADORIAS PERIGOSAS.. Transporte e Armazenagem.. IATA; ADR e a Norma Europeia terrestre e a IMGD da IMO.
Consultas: (81)9933-0494 Ana Alves / (81) 9733-8788 Ana Margolis
mail: winner@winnerprojects.com

Muito obrigado a todos que comentaram e oferecem uma grande ajuda para os próximos textos.

Vocês não só fazem o sucesso do Logística Descomplicada, como contribuem substancialmente para um país mais consciente, para um mercado mais voltado às soluções.

Obrigado e sucesso a todos!

O Autor.

Interessante os comentários. Ótimas e corretas constatações.

No entanto, muito cuidado para não generalizarmos o descaso no transporte de produtos perigosos.

O Brasil conta com uma imensa oferta de transportadoras qualificadas, com 30, 40, 50 anos de experiência no transporte de produtos perigosos, detentoras de certificações que garantem a qualidade, segurança e integridade dos envolvidos, tanto em suas operações quanto nas rodovias brasileiras. Estas empresas desenvolvem seus próprios treinamentos,
preparam seus profissionais, controlam suas ações e primam pelo compromisso com
seus clientes, com a comunidade e com o meio ambiente.

Obviamente que tudo tem um preço, e quem opta por pagar o valor justo de mercado, contrata sempre estas empresas.

SASSMAQ e ISO são certificações básicas para a escolha de um transportador.

É necessário avaliar a empresa transportadora de modo geral, acompanhando suas ações no mercado, sua conduta ética, seus princípios e valores. As transportadoras comprometidas vão além do exigido por lei!

É inegável que muitos embarcadores, buscando “redução de custos”, ainda contratam e, indiretamente, incentivam os “transportadores piratas”. É lamentável.

Creio que seja uma questão de conscientização, e isto demanda tempo.

Ainda somos jovens nessa área. Temos muito que aprender e melhorar, mas não podemos deixar de olhar para o lado e valorizar aqueles que, a duras penas, vêm lutando para garantir a profissionalização do segmento de transporte.

Parabéns pela proposição do tema.

Prezado David,

Muito obrigado pelos seus lúcidos comentários. Realmente estou tendo o cuidado de não generalizar porque sei que ainda existem empresas sérias que procuram fazer um bom trabalho mesmo com todas as dificuldades.
Contudo, o intuito não é destacar o lado negativo do mercado, é alertar mesmo! Tenho certeza que da forma com que o texto abordar o assunto, quem é sério e assume suas responsabilidades, não irá se identificar com tamanhas falhas operacionais e falta de ética. A verdade é que, infelizmente, as regras vêm virando exceções, e isso é muito preocupante para qualquer mercado.
Não deveríamos contar só com isso, mas hoje nossa única esperança de melhoria contínua são essas empresas que você muito bem citou. Elas desafiam o meio corrupto e procuram trazer mais segurança aos seus processos dentro de um ambiente altamente “contaminado”. É esse ambiente extremamente carente de educação e boa vontade que venho destacar e chamar à mudança.

Abraço e muito sucesso.

Com certeza Marcos, este chamamento é muito importante.

Acredito que seu curso agregará conhecimentos para quem busca melhoria em suas atividades. Também penso que sempre serve de alerta! Urge a necessidade dos transportadores e operadores logísticos perceberem e imporem ao mercado o real valor de seus serviços.

abraço e sucesso no novo curso dobre TPP.

Ótimo assunto.
Infelizmente, as bombas ambulantes que rodam nas estradas continuarão existindo. Pois além da fiscalização ser falha, a própria indústria é a grande causadora deste problema.
O transportador a cada momento que passa tem um custo maior para oferecer condições seguras de transporte, participação em diversos programas (SASSMAQ, Atuação Responsável, …), lidar com a lei 12.619 que é falha, ainda tem que a todo momento diminuir o valor de frete por pressão da indústria.
Desta maneira a manutenção dos equipamentos e treinamentos aos profissionais da área diminuem. A tendência do mercado é que se continuarmos a aceitar essas condições impostas a qualidade de serviço e a segurança vão diminuir. Já é fato que os números de acidentes com produtos perigosos aumentaram.
Ou existe uma união para regularização do setor, ou no futuro essas bombas estourarão constantemente.

Abraços.

Prezado João Paulo,

Você observou uma grande realidade: Estamos vendo a segurança, o treinamento e a ética sucumbirem em meio ao LCE (Lucro Capital Empregado). Mas, essa “união” a que se referiu é bem difícil acontecer, pois esses negócios só enxergam no outro a rivalidade, a competitividade, o desejo de faturar mais ao ponto de “queimar preços”. Claro que existem empresas sérias! Lidando todos os dias com essas “contaminações” de mercado. Eu diria que está cada vez mais difícil agir com seriedade – Difícil, mas graças a Deus, ainda possível.

Abraço e muito sucesso.

Sou analista de Logística em uma empresa quimica, é assustador a falta de preparo dos motoristas e olha que para transportar produtos perigosos o motorista tem que ter o curso do MOPP (até tem o certificado mas não conhece nada), algumas transportadoras não fornecem o EPI para os motoristas e ajudantes, outra parcela de culpa também fica por parte dos clientes, pois quando o veículo chega na empresa para efetuar a coleta, o veiculo é submetido a um check list para verificar se o veiculo esta em bom estado e se tem o KIP de emergencia. Quando detectamos alguma anormalidade não autorizamos o carregamento da mercadoria e logo o cliente liga alegando que se responsabiliza e tal. ai temos que explicar que não é bem assim que funciona.
Infelizmente tivemos alguns acidentes recentemente no Brasil ( Uma epresa em Daidema, Uma empresa em Guarulhos e agora uma empresa no Rio de Janeiro).
Mas realmente este mercado é muito carente de pessoas qualificadas e até mesmo de cursos.
Na empresa que trabalho adotamos a postura de trabalhar apenas com transportadoras certificadas pelo SASSMAQ, Licença do Exercito, Policia Civil, Federal, S.O.S Cotec ou Similar e também pedimos um plano de Emergencia e Contigencia.

Prezado Rogério,
Conheço bem o que relatou e lhe parabenizo por ser exceção. Bom saber que algumas empresas resistem à modalidade do “deixa passar”.
Em trabalho numa empresa de combustíveis, seus carros (frota própria) foram bloqueados num check list onde faltavam itens de segurança (kit, EPI, pneus, vazamentos) e no dia seguinte, sob pressão do comercial, a diretoria liberou todos.
Essa é uma realidade em muitas, muitas empresas mesmo!
Vou explorar mais esse seu comentário nos próximos textos.
Abraço e muito sucesso.

Muito bom seu comentário,parabéns!Estarei aguardando os próximos.Como educador de trânsito percebo um grande despreparo dos profissionais que transportam tais produtos e acredito que a maior parte da culpa é de quem ministra os cursos e treinamentos para os mesmos, pois cobram por uma prestação de serviço e não se preocupam com qualidade.

Sou graduado em Logística e transportes pela Fatec, tive a matéria de transportes de produtos perigosos no sexto semestre, vi que tem muita coisa a ser feita no transporte deste tipo de produto, quero muito continuar estudando sobre o assunto e fazer mais cursos para aprofundar o conhecimento nesta área.

Espero ansiosamente as proximas partes e como vai tratar o assunto sobre a fiscalizaçao, o motorista como primeiro s sinalizador e socorrista no local e as demais certificações que não abragem certos tipos de transportes (liquidos e gasosos) e produtos(explosivos)… Até o momento bom texto.

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