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Por que o nível de serviço no Brasil é ruim (parte 1/2)

Inconformado por não entender como muitas empresas tratam seus clientes, procurei razões e mais razões que pudessem explicar as várias faces de um serviço insatisfatório que experimentamos atualmente. Acredite, são muitos erros infantis e grotescos que levam ao fracasso, desde um pequeno empreendimento até uma sólida marca, uma empresa que se preocupou com o capital, com uma ideia genial de seu produto e que não olhou para a prestação de um bom serviço.

nivel de servicoPartindo de um simples princípio de que toda empresa pratica serviços e de que ninguém gosta de ser maltratado ou ter seus direitos desprezados, o cliente potencializa tudo isso com dois fatores: o primeiro de que não está, ou se incomoda em estar, obrigado a adquirir determinado serviço e o segundo de que pode exigir um bom atendimento já que está pagando para isso.

Essa abordagem não se restringe ao que conhecemos como nível de serviço logístico e seu gerenciamento de fluxos de bens e serviços. Ela vai da origem de uma grande falha que ocasionou o não fechamento de um grande negócio ao atendimento de um garçom, por exemplo, ao servir um cafezinho. Tudo envolve um serviço e, como todo, deveria ter como fundamento a qualidade esmerada.

Para quem pensa que chegamos ao ponto de um atendimento ruim devido à falta de qualificação que assola o mercado, comete duplo engano, pois há sim pessoas qualificadas e com senso profissional a fim de comprar uma boa ideia, mas num mercado poluído, elas precisam ser garimpadas e trazidas ao time para que motivem os demais. É bem verdade que pessoas assim causam mais a inveja dos outros do que desejos de mudanças nestes. Então, troca-se! Para que uma equipe seja boa ela deve estar cercada com o que há de melhor. E não estou indo contra o que tanto prego em relação à valorização do ser humano, mas isso é uma consequência do filtro do mercado. O outro engano é simplesmente pensar numa justificativa para assegurar que o serviço é ruim e que não há como mudá-lo. Daí, não só não prezo por prestar um bom serviço como passo a não exigir que me forneçam um bom serviço e inicia-se uma cadeia perigosa de comodidades.

O assunto é tão extenso e complexo que muitos e muitos pontos surgem como fatores preponderantes que dão origem ao que chamo de “serviço hemorrágico”. Aos poucos, ou rapidamente, o sangue dado a uma tarefa, aquela grande ideia de negócio vai esvaindo-se enquanto se acha que o coração – e só ele – é importante para nos manter em atividade. E quem pensa que o coração é a empresa, se enganou de novo! O coração são as pessoas e por elas – e só por elas – os serviços, doentes ou sadios, são bombeados para fazê-los circular no mercado. O papel das empresas é representado aqui como o de um médico que deve cuidar das pessoas, pois ele só existe porque há pessoas que colaboram com um bom fluxo para satisfazer seu maior bem: os clientes.

Acontece que esse item fundamental, que é a prestação de um bom serviço, vem sendo esquecido por muitas empresas e por muitas pessoas que estão se acostumando a só reclamar informalmente. Impossível encontrar alguém que já não tenha sido mal atendido ou até desrespeitado em um estabelecimento. Fico pasmo quando vejo garçons, enfermeiros, médicos e tantos outros atendentes que lidam diretamente com o público, indiferentes sem que o cliente tenha a mínima chance de se sentir bem. Nada de sorrisos, de gentilezas ou compromissos em ser a ligação do que arduamente foi projetado com o objetivo principal. E aí surgem certos questionamentos quanto ao dom necessário para lidar com o cliente, quanto à falta de treinamento de responsabilidade das empresas e, acima de tudo, quanto à compra da ideia por essas principais pessoas que podem oferecer o sucesso ou o fracasso a um negócio.

Há algum tempo, um colega ofereceu uma palestra sobre a importância da prestação de um bom serviço, enquanto outro oferecia uma que apontava para redução de custos e aumento de lucros. Não precisa se esforçar para saber quem lotou o auditório. Não precisa de muito para saber que um bom nível de serviço é garantia de lucro e que essa ferramenta não está em equipamentos modernos, em sistemas caros ou em vultosas instalações. Ele está no desejo das pessoas em ofertar, sempre com inovações, um serviço que as valorize também.

Contudo, as pessoas não conseguem ser a razão da prestação de um bom serviço sem trazer consigo suas dificuldades e a visão a que o mercado as submete. Obrigadas e acuadas, elas refletem a desobrigação de empresas e órgãos públicos. Sobre isso trataremos na segunda parte.

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Gestão Gestão da Cadeia de Suprimentos Logística Supply Chain Management

Logística ainda é o melhor remédio contra crise

O aumento dos juros americanos atormenta o Brasil e demais países emergentes. Não é para menos, já que muitos investidores que ainda aguardavam a retomada total da economia americana, protegidos pelas altas taxas de juros no Brasil, retornam para um sistema mais seguro. Combinando com a desaceleração da economia chinesa, nossa maior parceira, e o rebaixamento da credibilidade do país diante da economia mundial, configura uma receita explosiva onde não faltam os demais ingredientes: crise política, desvalorização da moeda, aumento do desemprego com consequente queda na produção e perda de competitividade.

logistica criseHistoricamente, após a Segunda Guerra Mundial, vimos países se reerguerem apostando no que tinham de melhor para corrigir seus pontos fracos e despontarem como grandes economias tecnologicamente avançadas detentoras de um invejável poder de competitividade. Exemplos como a própria Alemanha e Japão enriqueceram iniciativas de tantos outros que obtiveram sucesso após crises ameaçadoras.

Se tratando de Brasil, o que poderíamos destacar como pontos fortes e fracos que nos auxiliassem na desconstrução da atual crise? Economicamente, uma palavra só revela o que temos de bom e o que temos de deficiência: logística. O problema é que temos várias outras deficiências na saúde, na educação, na segurança e na honestidade política que nos impedem de pensar, planejar e agir com precisão para sermos uma das três maiores economias do mundo.

Acontece que a Logística no Brasil sempre ficou em segundo ou terceiro plano. Prova disso é que primeiro se fabricou o carro no Brasil, na década de 30, e só depois, nas décadas de 40 e de 50, se passou a investir em rodovias. Hoje se estima que o país possua uma frota de mais de 82,5 milhões de veículos motorizados e mais da metade (46 milhões) é de automóveis. As estradas nem de longe acompanharam esse desenvolvimento, tanto que hoje o país possui menos de 204 mil km de rodovias asfaltadas numa malha de 1,36 milhão de km, e quase 130 mil km ainda estão no papel. E, diferente do que muitos pensam, essa prática se repete da distribuição de energia ao agronegócio, de toda a cadeia de suprimentos à logística reversa que, infelizmente, se arrasta na busca por alternativas.

Os números do modal rodoviário são mais expressivos devido ao seu percentual dentro da matriz logística, o qual alguns especialistas defendem estar na casa dos 70%, o que, a meu ver, representa um pouco mais que isso já que os demais modais necessitam do rodoviário no início e/ou ao final de suas atividades de transporte. Está aqui uma das maiores consequências da falta de planejamento logístico, pois o Brasil possui uma geografia altamente favorável à Logística: rios com ótima navegabilidade e portos estrategicamente localizados.

O desenvolvimento do transporte ferroviário parece cada vez mais distante mesmo com o aumento constante na injeção de capital no PIB por esse modal. Com uma infraestrutura do tempo do Império, as perdas são substanciais, principalmente devido aos quatro tipos de bitolas que predominam a malha férrea impossibilitando uma integração dos pouco mais de 30 mil km de rede.

Considerando que dois terços dos custos de quaisquer produtos são custos logísticos, o Brasil perde 13% do PIB (Produto Interno Bruto) devido às deficiências logísticas. Considerando ainda que o PIB de 2014 foi de R$ 5,521 trilhões, estamos falando de uma perda de quase R$ 718 milhões e, numa conta maluca, poderíamos dizer que sem tais deficiências, a Logística poderia somar cerca de R$ 1,8 trilhão ao PIB só com aquele velho argumento de que “ajuda quem não atrapalha”.

Será mesmo que sentiríamos impactos de crises internas e mundiais se tivéssemos uma logística mais competitiva? Estaríamos com índices ínfimos de desenvolvimento econômico se nossa logística fosse bem planejada e executada com seriedade?

O PIL (Programa de Investimento em Logística) de 2015, sobre o qual já discorri, foi esquecido em meio aos escândalos de corrupção. Mergulhados numa apatia política, amargamos uma situação cuja solução aponta para corrigirmos a forma com que tratamos nossa logística há décadas. Sabendo que isso levará um bom tempo, o momento de corrigir está passando. Não temos mais como esperar que chova, que percamos mais mercado, que a consciência política frutifique ou que nos atolemos em nossa própria incompetência… Temos urgência! Ou nossas ações não passarão de “voos de galinhas” nos deixando apenas um tempo para lamúrias enquanto sobrevivemos antes de “virar canja” no mercado.

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A humanização nas relações do trabalho

Vivemos atualmente uma fase, no mínimo estranha, no que concerne à importância das relações de trabalho de forma mais humana, mais fraterna. Não é – e nem pode ser – a competitividade uma desculpa para a falta de cordialidade e para comportamentos, não só antiéticos, como até denominados desumanos. A competitividade hoje não persegue apenas metas, também persegue pessoas.

humanizacao trabalhoA estranheza de como o trabalho vem se tornando um instrumento que promove a falta de sensibilidade entre as pessoas é que, não só se prega, como é absolutamente vital para as pessoas e organizações uma relação cada vez mais humana, cooperativa e fraterna entre os grupos que almejam sucesso. O trato com o ser humano não é só uma condição existente no mercado, ele deve ser uma meta também, pois nada se alcança se o básico não está presente.

Estamos vendo chefes cada vez mais arrogantes, detentores de um único lado da verdade e incapazes de se tornarem exemplos daquilo que cobram. Estamos vendo pessoas desapegadas ao zelo da relação humana e presas às coisas pequenas que rondam o trabalho, como mexericos e outras coisas que não levam a nada. Presenciamos diariamente coisas absurdas das famosas “panelinhas” que desvirtuam o caminho das organizações como se o objetivo delas fosse fatiado e readequado de forma a atender pequenos grupos que lutam entre si. Para muitos não há dúvidas de que isso venha a se originar numa carência dos propósitos educacionais que ensinam, acima de tudo, a igualdade e o respeito.

Em tempos em que um “bom dia” se tornou mera formalidade, estamos desaprendendo a querer o bem aos que fazem parte do caminho do nosso sucesso profissional. Da mesma forma que questões ligadas ao relacionamento de pessoas configuram os maiores motivos para demissões atualmente, as organizações vêm dando cada vez menos atenção a esses pontos. Mergulhadas em cumprimentos de metas, elas tornam pessoas invisíveis e desprezam o principal meio de realização de seus propósitos.

Mas, o que significa humanizar relações de trabalho e o que podemos obter com essa prática? Basta pensarmos o quanto é penoso acordar e logo pensarmos que estamos prestes a encarar um ambiente pesado que, além de exigir nossa competência, extrai o máximo de nossa paciência. Basta imaginarmos um ambiente onde o respeito seja o principal instrumento de trabalho e que não queiramos para o outro aquilo que não queremos para nós. Essa humanização passa por meus preconceitos e vai até o íntimo dos meus sonhos. Se conseguir entender que meus sonhos precisam do outro para se tornar reais e que não posso apenas pensar em usar o outro para realiza-los, mas deixar-me ser instrumento para a realização de sonhos também, começarei a entender melhor sobre humanização e o que isso pode agregar no meu dia a dia no trabalho.

Talvez a fase mais difícil para uma humanização no trabalho seja me tornar um humano não perfeito assumindo meus medos, meus erros, minhas fraquezas e tudo o que são considerados defeitos para a manutenção de um ser estritamente competitivo. Aliás, ser para o outro aquilo que somos com nosso travesseiro configura a maior virtude necessária nesse meio: a coerência. Porém, estamos cada vez mais preocupados em sermos o que não somos para agradar quem não gostamos.

Vi verdadeiros milagres acontecerem quando certas frases como “desculpe, eu errei” e “peraí, deixa eu te ajudar!” foram ditas no momento certo. Foi como se a transformação de um fosse proporcionada pela atitude do outro. E é basicamente isso que acontece na fluidez de uma relação humanizada: se ver no outro.

Sorte que há organizações voltadas ao interesse da boa convivência entre seus integrantes. Elas entendem que a qualidade dessas relações precede qualquer aspiração de sucesso comum e logo esses integrantes percebem que acima de um lado profissional está a paz em todas as suas potencialidades e que a qualidade de vida está relacionada com sua proporcionalidade. O que parece ainda não ser percebido por outras empresas é o sucesso que essas organizações alcançam pelo exercício dessa humanização. Muitas preferem apenas sonhar com lucros como se para isso não precisassem de pessoas.

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Carreira Gestão Logística

Acreditando no trabalho duro

Poderia citar alguns dos muitos brasileiros que começaram do zero e hoje dominam segmentos do mercado conquistados com muito suor e ideias originais. Poderia contar suas histórias de abdicações, de decisões difíceis e de suas quedas que, na maioria das vezes, os fizeram pensar em desistir, de “chutar o pau da barraca” como dizem. Mas, ao invés disso, acreditaram que só poderiam chegar onde queriam trabalhando duro, inovando, se superando, se reinventando. E chegaram! Poderíamos nos alegrar com exemplos assim se essa pequena parcela não estivesse à beira de ser engolida pela grande parte dos brasileiros que deixaram de acreditar no trabalho, e espalham aos quatro cantos que ninguém mais enriquece à custa do trabalho duro.

trabalhoTambém não critico quem pensa assim. Afinal, com a nossa atual situação política, não poderia deixar passar despercebida a impunidade daqueles que metem a mão no dinheiro público desvirtuando a atividade do trabalho e posando como empresários de sucesso. É quase uma “lavagem de dinheiro” já que conseguem dobrar de patrimônio em tão pouco tempo atribuindo a uma empreitada de sucesso, quando na verdade foi tudo originado de forma avessa ao sentido do trabalho duro. Talvez o maior prejuízo nesses casos não seja o montante que desviam, mas o enfraquecimento de nossas convicções sobre as formas lícitas de como vencer na vida com suor e com ética. E, aos poucos, tendemos a acreditar que o crime compensa e que o trabalho honesto é perda de tempo. Ambas as tendências estão bem equivocadas, mesmo que vivamos num país onde a lei está do lado do mais forte, a verdade jamais será negociada, pois ela é uma só.

Cada vez mais o trabalho vem assumindo sinônimos de sofrimento, de obrigação. Num mundo competitivo está cada vez mais difícil trabalhar naquilo que se gosta e o que deveria ser regra hoje se tornou exceção. O velho bordão de que “o trabalho dignifica o homem” é sempre usado para justificar algo que nós mesmos criamos para nos convencer de que temos que suportar dezesseis horas diárias, entre idas e vindas e o horário de trabalho, e ainda encontrarmos dignidade nisso. Onde está a dignidade de quem acorda às 04:00 horas da manhã e retorna às 22:00 horas para dormir e recomeçar tudo no dia seguinte? Dois ônibus e um metrô para chegar ao trabalho esgotados; uma jornada sem qualidade, sem perspectivas, e um retorno ainda pior que a ida. O nome disso, no qual muitos brasileiros estão mergulhados, chama-se “sobrevivência” e não dignidade.

Violência, infraestrutura de transportes insuficiente e um custo de vida alto agravado pela carga tributária que se paga sem que haja qualquer retorno com a qualidade necessária, vêm tornando o trabalho duro uma alternativa de sobrevivência e não de desenvolvimento com crescimentos humano e econômico. Talvez por isso estejamos descrentes quanto ao trabalho duro nos tornar ricos, pois já o realizamos para garantir o básico. Aonde isso vai dar não se sabe. O que se sabe mesmo é que só o trabalho duro já não garante prosperidade. Ele deve vir acompanhado de Q.I. – e nada tem a ver com aquela história do “Quem Indica” –. O trabalho duro deve estar atrelado à “Qualidade” e à “Inovação” senão não passará de uma rotina, desgastante e enfadonha.

Não se pode esquecer também daquela outra parte que não acredita em trabalho duro e desvirtua as conquistas alheias. Quem já não passou por alguma situação ao adquirir um bem, seja uma casa, um carro ou até mesmo um aparelho celular, à custa de trabalho duro, e ouviu de terceiros aqueles comentários maliciosos sobre a origem disso ou daquilo? Parece que quem trabalha duro está fadado a não poder crescer tamanha a descrença no trabalho honesto.

Deixemos tudo isso de lado e passemos a acreditar no trabalho duro e acompanhá-lo com Q.I. Grandes vencedores só chegaram lá porque agarraram a oportunidade como uma caixinha de joias e colocaram lá o trabalho duro com inteligência, qualidade e inovação. É difícil imaginar o que será de nós se deixarmos de acreditar no trabalho que realmente torna o homem digno, quando esse trabalho é realmente digno. Talvez sua riqueza esteja na satisfação, na paz e na força para vencer. O dinheiro jamais deverá ser uma razão, pois ele será sempre uma consequência.

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Logística

A hora de pagar a conta

Só se fala em crise. Assim como tudo tem seus altos e baixos, a economia do Brasil não fugiria à regra. Mas, o que há de diferente nessa crise? Como nossa logística está reagindo a esse período – que só está no começo – e em qual setor deixará suas marcas? A verdade é que, com a falta de atenção, ela pode trazer consequências catastróficas para todos os segmentos da economia. Para alguns, consequências passageiras, para outros determinantes.

brasil criseO Programa de Investimento em Logística (PIL), cujo valor total será de R$ 198,45 bi provindos de investimentos privados e financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do qual já tratamos aqui e que nos leva a acreditar que está mais numa ordem de sobrevivência política do que propriamente numa abertura para as tão sonhadas soluções logísticas, já que a maioria dos projetos não saiu do papel no plano anterior divulgado em 2012, veio tarde demais. O momento realmente é para investimentos. Contudo, com a retração da economia, não precisamos de muito para entender que com a baixa na cadeia produtiva, um país que funciona como arrecadador não disporá de orçamentos para suas intenções. Da mesma forma, o pilar do PIL, os investimentos privados, segue a mesma lógica.

O que realmente não dá para entender é o nosso despreparo diante de uma situação previsível como esta. Previsível por quê? Ora, imaginemos que recebemos um cartão de crédito com um limite razoável e que aquele bem que tanto almejávamos agora está acessível. Comprá-lo parece inevitável. O saldo ainda dá para outras coisinhas e o momento deve ser bem aproveitado, afinal temos uma renda e merecemos usufruir daquilo que antes estávamos privados… A hora de pagar a conta chegou e a renda parece não estar compatível com o débito. Isso é o que está acontecendo com o Brasil. Simplesmente chegou a hora de pagar a conta.

Desde 2008, com a acentuada crise americana e depois a europeia, o Brasil vinha recebendo injeções financeiras de investidores que fugiam dos perigos previsíveis dos mercados estrangeiros. Passados esses perigos previsíveis, esses investimentos foram embora e nos deixaram com uma falsa sensação de poder. Não há dúvidas de que o país se beneficiou com a situação. Porém, como um grande e suculento tomate que não foi colhido na hora certa, os investimentos não foram bem aproveitados, pois encontraram uma infraestrutura atrasada e insuficiente que não permitiu que a cadeia produtiva encontrasse uma maior e melhor forma sustentável para fomentar todos os segmentos da cadeia econômica. Resultado? O tomate só despertou os olhos ávidos da corrupção que pensou estar diante de algo diferente, jamais visto na história do país e que, se antes era retirada uma fatia, agora podem ser retiradas duas que não farão falta… Mas, fez! E o tomate não se sustentou no ramo e veio ao chão para ser atacado pelas outras pragas que o aguardavam.

Da mesma forma que buscamos equilibrar nossas contas, o Brasil tem que fazer o mesmo para voltar a gerar oportunidades. É só uma questão de proporção. Também dependemos de políticas públicas acertadas para que continuemos com chances de quitar nossas dívidas para depois voltarmos a comprar e continuarmos crescendo.

Parece que não entendemos que não há nada de graça no mercado. Mesmo quando o “grátis” está em letras garrafais. Se não pudermos adquirir só o que é grátis separadamente – o que nunca se pode – estaremos pagando no que venha atrelado. Nos deixamos levar por facilidades além da nossa capacidade financeira e, como dito, se tudo é uma questão de proporção, temos aquela TV a mais para colocar no quarto enquanto o país gasta com uma política energética incapaz de suprir tanta demanda, ou obtivemos mais um carro enquanto o Brasil insiste em gastar US$ 5 bi com caças suecos. Tudo o que ficou foi o trauma de termos perdido mais uma chance por não aproveitamos o momento de forma consciente e planejada. Pode ser pior se acharmos que ainda somos os donos da bola.

Surpreendidos com a fatura, passamos a entender que a economia funciona de forma sistemática onde se deve comprar e produzir. Passamos a fase das compras e temos que nos organizar para voltar a produzir ao mesmo tempo em que pagamos a conta. Como? São muitas as respostas.

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Logística

Os bastidores da logística operacional

O campo da logística operacional realmente não é fácil. Não que a logística estratégica também não reserve suas dificuldades àqueles que, teimosamente, respiram problemas com infraestrutura, com pessoal, com leis equivocadas e falta de visão e vontade políticas que fazem parte dessa “magia” chamada Logística. Mas, se a área estratégica é aquela que “planeja até enquanto se executa”, a operacional é aquela que “executa até enquanto outros dormem”.

logistica operacionalQuando se faz parte das duas áreas, como eu, é possível medir direitinho tudo o que representa cada uma dentro do processo. Assim como é possível perceber que uma está sempre em evidência enquanto a outra está sempre nos bastidores. Não que o sucesso as distinga, mas os reconhecimentos as separam.

Não, não há nada de errado com você que trabalha na área operacional. É assim mesmo. Não deveria ser, mas não é diferente em nenhum lugar do mundo. É uma área em que se pensa que as mãos são mais importantes do que a cabeça. O que não é verdade e também não me parece justo. Em todos os momentos o operacional é uma extensão importantíssima do estratégico. A constatação é simples: um planejamento não termina enquanto se realiza e é necessário raciocínio também enquanto se executa.

Um projeto pode ser dividido em até três partes importantes: o principal, os meios e os “possibilitadores”. Na Logística, a área operacional é a única que está presente em todas as partes. Como numa guerra, onde o principal é vencê-la, os meios são representados pelas conquistas de territórios e os “possibilitadores” podem ser vistos através do confronto direto com o inimigo. O “poderio operacional” está forte no confronto direto, está presente na ocupação… Mas, o sucesso da operação parece sempre ser brindado apenas pelos oficiais.

Envolvida diretamente com as dificuldades de pessoal, de equipamentos, de rotas e suas particularidades que vão desde a precariedade de nossas estradas até as leis equivocadas e o controle do trânsito caótico de nossas cidades, a logística operacional, por muitas vezes, sequer é consultada em certas tomadas de decisões. O papel de apenas executar tarefas não representa o que o operacional realmente significa para o sucesso dos projetos, para o alcance das metas. É que, infelizmente, no Brasil desenvolve-se mais a cultura do mérito para aquele que está em evidência enquanto quem realmente faz fica meio esquecido por trás das cortinas. Como na música, não é comum conhecermos os compositores de canções maravilhosas interpretadas por cantores em evidência. Logo as associamos ao cantor e cometemos grande injustiça com o talento daquele que compôs.

Esse exemplo na música nos confunde sobre inteligência e evidência e nos revela que nas logísticas estratégica e operacional essa “separação” nada tem a ver com inteligência, já que o compositor seria o inteligente na situação e este fica esquecido ou desvalorizado. Tem a ver mesmo com a evidência daqueles que captam os méritos para si deixando de fora o restante da equipe. No entanto, inteligência e evidência são importantes para todos os mercados. E na Logística não deveria ser diferente. Essas partes, estratégia e operação, são apenas para direcionar tarefas e responsabilidades dentro de um projeto que busca o mesmo resultado com o empenho e o mérito de todos e para todos.

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Desempenho Gestão Logística

Investimentos em logística só trazem esperanças

O governo federal lança o Programa de Investimento em Logística (PIL) que será aplicado entre 2015 e 2018. O valor para esse período é de R$ 69,25 bilhões e o programa contempla ainda R$ 129,2 bilhões que serão investidos a partir de 2019 até o término do prazo de concessões que, de acordo com alguns contratos, pode chegar a 30 anos.

programa investimento logistica rodovia ferroviaO valor total previsto será de R$ 198,45 bilhões provindos de investimentos privados, com percentuais substanciais financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que podem variar entre 15% e 70%. Na ordem de investimentos, as ferrovias receberão R$ 86,4 bi, as rodovias R$ 66,1 bi, portos R$ 37,4 bi e aeroportos R$ 8,5 bi. O plano na realidade é um redesenho do divulgado em 2012, cuja maioria dos projetos, incluindo os mais importantes para o setor, não saiu do papel, como os 10 mil novos quilômetros em ferrovias.

Não há dúvidas de que a Logística necessita urgentemente de uma revisão inovadora em sua infraestrutura. Sua aparelhagem, defasada por décadas pela cegueira do poder público, limita o desenvolvimento econômico do país empurrando para baixo as estimativas dos segmentos vitais que ainda movimentam nossa economia. Porém, interessa saber como o governo obteve esses números já que, em grande parte das possíveis concessões, não se sabe o valor, os meios e as regras para a negociação. Muitas dessas regras pertencem ao PIL de 2012 e outras ainda estão em estudo. Esses pontos alimentam a opinião pública de que o atual Programa apenas tem a intenção de desviar os olhares dos casos de corrupção e reverter a desgastada popularidade do atual governo.

Mesmo desconfiado, unido a muitos brasileiros, vejo coisas positivas no PIL. Embora não acredite totalmente no Programa, pois sabemos que grande parte desses investimentos não se realizará devido ao histórico já conhecido, o acordar do governo para a busca de alternativas e o incentivo a participação do investimento privado representa algo que acredito ainda solucionar muitos dos nossos problemas logísticos. Mas, com o cuidado de não alimentar o pessimismo, outras coisas parecem não mudar: falta de planejamento consistente, impedimentos para a realização dos projetos, o aval para a participação de 29 empresas citadas na Operação Lava Jato e um tempo do qual não dispomos, já que o início do Programa precisaria ser imediato, pois só aumentam os fatores de colapso da nossa logística potencializados pela corrupção e pela crise econômica atual. Vale lembrar que, só para o setor rodoviário, estima-se a necessidade de investimentos na ordem de R$ 290 bilhões.

Também não restam dúvidas de que o PIL 2015 estaria no caminho certo ao destinar maior parte dos investimentos para o setor ferroviário que, entre tantos trechos previstos, destina R$ 40 bi para a chamada Bioceânica, uma ferrovia que interligará o Centro-Oeste e o Norte do país ao Peru com uma enorme importância para os estados atendidos e para um programa de exportações para a China.

Para as rodovias, o governo pretende leiloar, ainda em 2015, 15 lotes que totalizam 6.974 quilômetros e prevê licitações de 11 trechos de rodovias federais em 10 estados para 2016. As questões que obrigam as concessionárias a cumprir, por exemplo, a duplicação dos trechos em até 5 anos ainda não está bem definida e outros pontos representam obstáculos difíceis para o Programa.

Os portos e aeroportos parecem ser um ponto frágil do PIL, pois em 2012 os portos faziam parte do Programa, mas nada saiu do papel. Já os aeroportos só deverão fazer parte do Programa no primeiro trimestre de 2016 com a entrega à iniciativa privada do aeroporto de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e de Porto Alegre, além da outorga (que vence quem paga ao governo o maior bônus pelo direito de explorar um serviço), que vai valer para todos os segmentos, de mais 7 aeroportos regionais.

Ficou de fora projetos importantes como a recuperação de trechos fluviais, o que também nos faz pensar que esse problema tem uma solução muito, muito distante, embora de grande importância para a reconstrução da economia.

Importante que os profissionais, não só de Logística, se inteirem sobre o PIL e tirem suas próprias conclusões de uma forma independente de uma preferência política. Minha maior preocupação na realidade, e que busquei clarificar aqui, é com promessas sem fundamento que representam um retrocesso naquilo que já está crítico e que só trazem “esperanças” para nossa logística carente de ações. Gostaria muito de estar enganado dessa vez…

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A logística que os brasileiros merecem (parte 2/2)

Claramente não é essa matriz logística que merecemos, mas talvez tenhamos contribuído para esse desenho atual. Num país com intervenções militares tão recentes, onde a economia ficou estagnada e o desenvolvimento logístico deu lugar às varias formas de repressão, após tantas e tantas denúncias de corrupções, dos bilionários esquemas nas privatizações, na Petrobrás, na Caixa Econômica e na Receita Federal, onde os investimentos deram lugar aos favorecimentos políticos e de empresas particulares ligadas diretamente à baixa qualidade na prestação de serviços… enquanto assistimos a tudo passivamente apenas esboçando pequenos projetos para pequenas conquistas… Sim, somos responsáveis por isso também!

logistica brasilInfelizmente, não podemos esperar grandes mudanças para os próximos dois anos. A retração da economia brasileira, embora muitos ainda não sintam e outros não admitam, será cruel para a área de investimentos em logística. Temos os desenhos de crises como a da energia, dos combustíveis e do setor produtivo que mexerão com os orçamentos públicos, do qual a logística é extremamente dependente. Talvez aqui um ponto-chave: muitos países abriram, há muito tempo, as portas para os investimentos da iniciativa privada que deram muito certo. No Brasil, esse modelo também deu bons resultados através de concessões e de parcerias público-privadas que, apesar de dividir opiniões, são medidas urgentes e eficazes para não paralisarmos os sistemas de vez. O problema é que esses países desenvolveram esses métodos no redesenho de seus evoluídos sistemas, enquanto nós buscamos para remediar ausências de projetos e deficiências de execuções de obras que custam três ou quatro vezes mais do que realmente deveriam.

Os estudos mais apurados sobre a situação da nossa logística estão sempre voltados às questões que envolvem as rodovias. Até compreensivo já que temos esse modal como o carro-chefe da matriz, mas é, ao mesmo tempo, a afirmação de que estamos presos a um sistema ultrapassado quando consideramos que mais de 70% das nossas cargas passam por rodovias – eu particularmente acredito ser bem maior por falta de informações sobre autônomos e de “empresas” não registradas que deixam esse número perto da casa dos 80%.

Com muitas alternativas, nossa logística retrai a cada assoreamento de rio, a cada dano em ferrovias e assiste a um crescimento assustador das operações portuárias em portos que teimam permanecer com sua estrutura insuficiente.

Porém, a Logística é e precisa ser grandiosa. Por mais simples que uma operação possa ser, ela é repleta de detalhes. Hoje está como está porque estamos repletos de incertezas. Sem projetos ousados um setor não anda pra frente. Aliás, é altamente prejudicial quando pequenos projetos empacam na metade e, além de gastar recursos que para nada servirão agora, deixa-nos uma sensação incômoda e desanimadora de que não podemos sonhar com coisas grandes já que as pequenas nos enterram. Mas, não pode ser assim! A Logística brasileira precisa respirar e encontrar seu caminho para evoluir.

Graças aos profissionais diferenciados e aos projetos que ainda movimentam os sonhos particulares de um bom nível de serviço, prefiro acreditar que nossa logística sairá do coma que a assola por décadas. E nada tem a ver com visão pessimista em achar que seu estado realmente é grave. Sem exagerar em metáforas, mas é claro para quem conhece sobre Logística que ela tem os remédios para sua pronta recuperação ao seu alcance, só precisa acordar desse maldito coma.

A Petrobras, através de seu desenvolvimento em pesquisas, e que se diga de passagem, importantes pesquisas que nos colocou em evidência no cenário mundial, foi a empresa que mais contribuiu para o desenvolvimento logístico brasileiro juntamente com os segmentos do minério de ferro e do nosso importantíssimo agronegócio. Para ter uma visão real da Logística no Brasil hoje basta olhar para esses setores e empresas hoje e ficar com aquela pergunta engasgada, a mesma que Drummond fez em 1942: “E agora, José?”.

Espero profundamente que os “Josés” respondam o que precisamos ouvir. Espero que eles se convençam que essa não é a Logística que merecemos e que podemos mudá-la, desenvolvê-la através de um trabalho duro e responsável. Responsáveis pelo nosso futuro somos todos nós “Josés e Marias” envolvidos num projeto grandioso de tornar nossa Logística grandiosa como realmente merecemos.

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A logística que os brasileiros merecem (parte 1/2)

Quando vejo o trem-bala japonês, o Maglev, atingindo 603 km por hora e sendo uma proposta de transporte totalmente viável para os padrões japoneses em 2027, e o funcionamento do Shinkansen (Nova Linha Troncal), desde 1964, como um modelo de pontualidade, praticidade e que hoje oferta um transporte veloz, seguro e que possibilita ganhos nada modestos à economia japonesa, me pergunto: o que temos de projetos sólidos até 2027 nesse aspecto? Ao conhecer o modelo de transporte público de Londres que oferece tudo o que para nós brasileiros soa como fantasia quando, na verdade, só significa respeito pelo ser humano, pelo cidadão, pelo contribuinte, me pergunto: o que deu errado conosco?

logisticaAté seria mais fácil compreender se colocássemos a culpa apenas na corrupção, apesar de ser um câncer social; mas, é só isso? Alguns pensam que é o principal ou único motivo para vivermos um atraso tão significativo dentro de todos os segmentos e, principalmente dentro da Logística, com todos as deficiências estruturais tão conhecidas e tão vividas por nós brasileiros. Sendo ela a principal, gera uma discussão ampla por ser hoje um artifício mundial, apesar de que os níveis altos de corrupção estão mais presentes no nosso país do que nos já citados aqui; já sobre ser o único motivo, tenho a absoluta certeza de que não é. Mesmo quando outros motivos levam à corrupção, há outras circunstâncias responsáveis por uma logística instável, ineficiente, insuficiente e judiada que detemos hoje.

Podemos destacar aqui a falta de conhecimento e interesse por parte do poder público, juntamente com os empecimentos na forma burocrática sobre o poder privado que limita os investimentos naquilo que faz crescer a economia, falta de competência e de planejamento fiscalizado para que vá para o papel e saia dele, falta de acompanhamento da população que sucumbe como vítima e não se vê como a detentora do poder emprestado aos representantes. Uma coisa é certa: para onde se olha, para onde se mexe, o principal e único motivo para tudo isso é a política brasileira abonada pelos brasileiros.

Também não adianta colocarmos a culpa em governo “x” ou governo “y”. O Brasil arrasta correntes que assombram nossa economia há mais de três décadas quando desaceleramos e ficamos dependentes da globalização que nos ofertou novos negócios, mas não nos trouxe novos meios de transporte, implantações e conservações da nossa estrutura de atendimento por despreparo nosso. Os problemas transcendem reformas políticas, fiscais e econômicas, apesar de serem absolutamente necessárias. São situações que nos fazem pensar se estamos nessa por não crescermos ou não crescemos por estarmos nessa.

Em meio a tudo isso, só sabemos que nós brasileiros não merecemos um setor logístico que nos é ofertado. Somos um povo trabalhador, acolhedor e inteligente que preza pela competência naquilo que faz, mas vê seus cidadãos morrerem em rodovias federais que não oferecem segurança àqueles que zelam pela vida – em 2014 foram 8.227 mortes, quase uma a cada hora –; vê suas crianças serem engolidas por um sistema que as transformará no que somos hoje. Sim, temos futuro! Desde que entendamos que precisamos de investimentos conscientes que venham mudar essas situações e que tenhamos prioridades nesses investimentos. Educação é, sem dúvidas, a primeira de todas. E não adianta só investir. Para a Unesco, o investimento mínimo em educação é de 4% a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) ou 20% do orçamento. O Brasil cumpre parte da meta investindo 6,6% numa educação desfocada, ineficiente e com propósitos distantes, mas tem seu orçamento voltado ao sustento da máquina pública.

Somos capazes de construir uma logística pautada em soluções, com modais integrados ao mesmo tempo independentes para que sobrevivam fomentando os demais. Temos que ter estrutura para inovar ou copiarmos o que dá certo em outros países, coisa que não temos hoje, senão a vontade apenas. Somos capazes de redesenhar nossos portos e aeroportos para que tenhamos pleno atendimento de nossas necessidades. Dinheiro temos para isso e já perdemos um tempo substancial que reduz nossas alternativas e nos deixa acuados perante os concorrentes.

Sim, merecemos um transporte público eficiente e que devolva o respeito aos seus usuários para que possam produzir com a energia hoje deixada nos trens e nos ônibus ou nas ruas por aqueles que não dependem do transporte público, mas que também são prejudicados por várias razões diretas ou indiretas. Merecemos ofertar ou adquirir soluções logísticas confiáveis e suficientemente adequadas ao nosso crescimento. Merecemos um setor que nos lance aos degraus mais altos onde estão presentes países que, por enquanto, só os invejamos.

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E se não tivéssemos problemas na logística?

Acredito que todos os formandos, independentemente da área, dividem seus anseios em duas perguntas bem distintas: “onde irei demonstrar o quanto sei?” e “como levar minha área à perfeição?”. A primeira diz respeito ao trabalho, salário, destaque profissional, realizações… A segunda nos direciona para três caminhos: utopia, decepções e trabalho duro.

logisticaQuem – como eu – já não imaginou um setor logístico funcionando perfeitamente? Um setor sem deficiências, aproveitando bem os recursos, proporcionando qualidade de vida às pessoas e representando uma solução confiável para tudo? Me pego algumas vezes pensando nisso. Que nada mais é do que a consequência de um mergulho no trabalho duro e a necessidade de trabalhar minhas inúmeras decepções para que um dia possamos chegar perto da utopia do escritor inglês Thomas Morus (1480-1535) que imaginou um governo organizado para um povo equilibrado e feliz.

Às vezes, faz bem esquecer um pouco que são os problemas que nos trazem conhecimentos, oportunidades e sucesso. Embora perigoso, faz bem imaginarmos algo perfeito para trilharmos um caminho que nos leve a isso. Só precisamos nos atentar para o imaginar como planejamento e não como fantasia.

A Logística hoje é o setor que mais agrega valor, mas é também o mais carente de investimentos e, talvez por isso, o que mais alimenta decepções. Com seus problemas “a apanhar com baldes”, este setor no Brasil precisa, cada vez mais, recrutar pessoas com novas ideias, que trabalhem duro sem perder a capacidade de sonhar; que vejam nas decepções algo para ser mudado e não sofrido; que vejam nos problemas grandes oportunidades, porém, acima de tudo, que conheçam e vejam a realidade sem perder aquela poesia do começo com o cuidado de não viver no passado, mas que esse olhar aponte para um futuro melhor.

Quando imagino podermos colocar na mesa dos brasileiros 30% a mais de comida ao invés de desperdiçarmos no transporte e na armazenagem; termos um transporte público eficiente, rápido, seguro e confortável; o reconhecimento dos profissionais do setor pelos bons serviços prestados; olharmos para o mar próximo aos nossos portos e não vermos navios e mais navios numa fila para atracação consumindo dinheiro por falta de vontade política para melhorar a infraestrutura… Imaginar que nossos trens possam cruzar todos os estados brasileiros desafogando as tão prejudicadas e insuficientes rodovias ao mesmo tempo em que imagino nossos rios bem cuidados para a fluidez do nosso transporte fluvial para não afogar também essas ferrovias… Imagino que nossos aeroportos não têm goteiras, pernilongos e atrasos constantes e que a dimensão de tudo o que vemos não representa muito diante daquilo que queremos, daquilo que sabemos que podemos mudar para estarmos mais perto do que imaginamos, do que sonhamos para nós e para os outros.

Uma Logística, sem problemas tão sérios, é a maior ferramenta de uma nação para conquistar índices de crescimento que garantam a qualidade de vida do seu povo. Não seria nenhum exagero dizer que é bastante significativa para o desenvolvimento e para a realização de novos sonhos. Não seria exagero dizer que nossas riquezas seriam duas, três vezes mais. Ou alguém acredita que o país não perde sua eficiência produtiva com um transporte público tão precário? Ou que nossa matriz logística não está limitando nosso crescimento? Nossa economia cresceu significativamente da chamada “Era JK” para cá. O mundo mudou, mas nosso desenvolvimento logístico não acompanhou esse crescimento e o resultado é que temos um motor BMW rodando num fusquinha.

O pior de tudo é saber que não nos faltaria muito para alcançarmos essa perfeição na Logística. Temos uma excelente geografia, conhecimentos, tecnologia e mãos fortes e habilidosas. A barreira é a de sempre: a corrupção que nos afasta das decisões corretas e acrescenta um valor e tempo absurdos em nossas realizações.

Já que a Logística possui essa magia que encanta mesmo diante de tantas dificuldades, não percamos jamais a capacidade de sonhar com um serviço perfeito. E que os problemas jamais nos afaste daquela visão inicial de transformar, agora com mais lucidez. E se os grandes pintores enxergavam seus quadros antes de pintá-los, por que não podemos nós imaginarmos a Logística no Brasil de forma perfeita e como gostaríamos que realmente fosse para justificar o quão duro damos para que ela aconteça? Mas, não só imaginar, também conhecer, exigir e trabalhar.