Mais um desastre econômico no Brasil vem afetar, não só o já deficiente mercado logístico de combustíveis, como a confiabilidade nos negócios da Petrobras conduzidos de forma desastrosa e interesseira.
A compra de uma refinaria em Pasadena, no estado do Texas (EUA), por quase US$ 1,19 bi quando esta valia pouco mais de US$ 42 milhões, é mais uma razão para sermos o 13º país com o combustível fóssil mais caro do mundo e, considerando nossas reservas de petróleo, termos a gasolina mais cara do mundo entre os principais países produtores, mesmo com uma mistura (hoje de 25%) de álcool para “reduzir” os custos. Mas, o que realmente está por trás de um negócio mal conduzido como esse? Quais os impactos logísticos/econômicos?
Apesar de nos chocarmos com a corrupção praticada na Petrobras, não só com esse caso de Pasadena como com a refinaria de Pernambuco (Abreu e Lima) que, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), a obra orçada em US$ 2 bi saltou para US$ 18 bi (são mais R$ 36,5 bilhões de diferença), essas manobras comerciais indicam que há algo monstruoso crescendo nesse mercado para ir além de propinas milionárias.
Em setembro de 2010 a Petrobras celebrou a maior capitalização realizada no mundo. Foram R$ 120 bi injetados no caixa com a emissão de mais de quatro bilhões de ações. Só no primeiro ano, investidores amargaram perdas na casa de 20%. Em 2012 consolidou-se a compra dos outros 50% da refinaria em Pasadena, detidos por um conglomerado de empresas belgas, após uma disputa judicial que custou mais US$ 171 milhões. O Conselho da Petrobras, que tinha à frente a hoje presidente Dilma Rousseff, aprovou o arrendamento dos primeiros 50% da refinaria em 2006 e, anos depois, alegou não ter conhecimento de cláusulas contratuais que obrigaria a Petrobras garantir lucro de 6,9% à empresa belga Astra Oil Company e nem da obrigação em pagar pela outra metade em caso de divergências entre as partes. Contudo, em 2007, o mesmo Conselho aprovou a compra de uma refinaria no Japão com cláusulas idênticas ao contrato de Pasadena.
Não há dúvidas de que os problemas de infraestrutura no Brasil vão além das tentativas de garantir o abastecimento no país. Alguns devem se perguntar sobre a razão de comprar refinarias estrangeiras, mas as razões são as mesmas que levaram a Petrobras vender quase metade de suas reservas de petróleo da camada pré-sal: insuficiência estrutural para extrair, refinar e atender a demanda nacional. Na verdade, a razão, além da corrupção que está por trás dessas ações desastrosas, tem a ver com a desvalorização de um patrimônio nacional na busca futura de uma negociação de uma empresa que tanto foi motivo de orgulho para os brasileiros – razão não menos corrupta do que as citadas e de tantas outras “varridas para baixo do tapete”.
Talvez estejamos nos preocupando à-toa? Não se observarmos que o setor de telecomunicações, não menos importante para o país, foi conduzido da mesma forma e hoje sabemos como está. Nada de ser a favor ou contra privatizações desde que sejam proveitosas para o Brasil e não negociadas de forma a enriquecer A ou B. A forma de desapego pela estatal plantada aos poucos nos brasileiros conduz a negócios sujos que se escondem na nossa ideia de que é “apenas” ingerência de capital ou mais uma da corrupção que permeia nossa velha política.
Há anos a Petrobras vem “nadando contra a correnteza” sem o real conhecimento da maioria dos brasileiros. São ações sem lucros, rebaixamentos da credibilidade para investimentos, negócios mal conduzidos – pelo menos para o povo brasileiro – e desvalorização patrimonial mesmo com os investimentos e projetos tocados pela empresa. O patrimônio que era de quase R$ 500 bilhões, hoje vale menos de R$ 200 bilhões. Infelizmente, o pré-sal não será suficiente para reverter esse quadro, pois o intuito verdadeiro é de que não seja mesmo.
Já não se vê a abertura para empresas estrangeiras como uma boa estratégia para contornar nossos inúmeros e sérios problemas logísticos. Na verdade, nossos problemas de infraestrutura são oportunos. A situação toda reforça ainda mais a opinião de alguns parlamentares que defendem a necessidade de privatização abrindo mão de mais um segmento: o mais forte para a economia do país. Talvez estejamos à mercê da outra face da corrupção: aquela que, não satisfeita em ganhar com a venda dos “ovos de ouro”, anseia por vender a “galinha”. Já vimos essa história antes[…]
8 respostas em “Petrobras: por trás de Pasadena”
Gostaria de ressaltar dois pontos do texto: Passadena não valia apenas US$ 42 milhões, isto já foi demonstrado e; a adição de etanol à gasolina não é para reduzir custos, isto é feito por vários motivos como estimular o setor, por causa do loby do setor do alcool e porque a não somos auto suficientes na produção de gasolina, precisando importar para completar o mercado, a Petrobras vem fazendo isto importando uma gasolina mais cara e vendendo com menor preço no mercado nacional, portanto há que se escolher se reclama que nossa gasolina é alta ou dos prejuísos da empresa, então o percentual de alcool na gasolina reduz a necessidade de importação do produto que além de tudo sobregarregaria a infraestrutura logística que já opera no limite.
tudo tem que ser apurado!ao inves de gastarem milhões de dinheiro com refinarias poderiam investirem milhões em infraestrutura logística no nosso país!
Concordo com o colega Eduardo,criar um tópico para discutir assuntos ligados a uma empresa gerida pelo governo é interessante,porém,o post deve conter informações completas e de fontes da mídia que tentam demonizar o atual governo.
Esses dados são claramente manipulados e não refletem o que de fato aconteceu,e pior tem apenas caracter de jogar porcaria no ventilador.
O Site do PHA é uma fonte importante para se buscar a verdade sobre a Petrobras,e ai sim podemos discutir Passadena,com fatos e não com factoides.
Errata.Entenda:de fontes da mídia que NÂO tentam demonizar o atual governo.
Prezado Ivan,
Em resposta ao seu comentário, o qual agradecemos pela participação, todas as explicações estão na resposta do comentário de Eduardo Santos.
Reforço apenas a neutralidade partidária a que me submeto para escrever matérias para o Brasil e não para A ou B. O intuito verdadeiro foi provocar uma preocupação com o destino da Petrobras com sua atual situação.
Saúde e sucesso.
Poderia postar o custo de refinarias similares em outros paises do mundo para sermos isentos nas comparações?
O autor do texto não conhece a fundo a situação da compra da Refinaria de Pasadena. Sugiro que leia as o blog Conversa Afiada que explica detalhadamente os valores envolvidos na compra. Se não tiver tempo, pare para refletir na ordem de grandeza: US$ 42 Milhões para comprar uma refinaria de petróleo? Somente isso? A Astra Oil não pagou somente isso! Compare com a linha seguinte do seu texto: “estimativa de US$ 2 BILHÕES” para construir a Refinaria Abreu e Lima. Uma refinaria não custa pouco!
Prezado Eduardo Santos,
Obrigado pelo seu comentário, o qual se faz necessário alguns esclarecimentos e acréscimos de informações técnicas, pois tenho “know how” por anos nesse mercado:
1- Por mais estranho que possa parecer e, por isso virou notícia, os valores estão corretos e confirmados por Sérgio Gabrielli, presidente da empresa na época. Caso queira investigar melhor (o que fiz bem antes de escrever a matéria) procure pelos relatórios da Consultora BDO Seidman e balanços da Astra Oil. Inclusive, a Astra investiu US$ 84 mi que não foram suficientes para modernizar o parque de refino. Valor semelhante à dívida pública de US$ 85 mi deixada com a cidade e o estado que está em etapa condenatória para a Petrobras. Ficou um pelo outro.
2-Para esclarecer, houve um valor pago pelo estoque que valia na época US$ 6,1 mi, mas a Petrobras ofertou US$ 170 mi e avaliou pós refino por US$ 340 mi. No entanto, é de petróleo pesado. Para quem não sabe, o Brasil é autossuficiente nesse tipo e estamos exportando para refino, mas o que interessa mesmo é o petróleo leve (menos custos, mais capacidade de refino e extração dos produtos nobres em níveis satisfatórios). Esse tipo também exportamos uma parte, pois não temos parque adequado para refino necessário à demanda.
3-Os comentários acima lhe ajudam a entender a diferença de construção de uma refinaria NOVA (com parque industrial de refino moderno e capacitada para 230 mil bpd) por uma (de 106 mil bpd que opera em apenas 70%) quase obsoleta que assim não ficou devido aos investimentos da Astra, que não a modernizou suficientemente e NÃO a adaptou às novas tecnologias. Para se ter uma ideia, os Estados Unidos não constroem novas refinarias desde 1976 (a Greenfield).
Portando, caro leitor, tenha a certeza de que essas informações são resultados de uma aprofundada pesquisa. Com o compromisso de isenção em sua mais absoluta neutralidade partidária. Se defendo algum interesse, é o de um país mais bem informado, sem qualquer alienação, sem a intenção de malquistar. Se há algo de errado, não sou eu nem você que explicará tudo isso. Com a palavra, nossos governantes.
Saúde e sucesso.