O governo criou o Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI), mas apenas investir em recursos de infraestrutura não garante uma logística eficiente
A presidente Dilma anunciou na semana passada um pacote de concessões de rodovias e ferrovias com investimento de R$ 133 bilhões ao longo de 30 anos que prevê duplicar 7.500 quilômetros de rodovias e construir 10 mil quilômetros de ferrovias.
A ação foi chamada pelo governo de “Plano Nacional de Logística: Rodovias e Ferrovias”. Dada a fragilidade da infraestrutura logística do país, parece inquestionável a sua relevância.
Porém, apenas investir recursos em infraestrutura não garante uma logística eficiente. A logística que funciona depende muito mais da forma com que ela se operacionaliza do que dos investimentos e de grandes estruturas criadas.
A infraestrutura já existente no Brasil é muito mal utilizada, tanto por governos como por empresas, num sistema tradicional logístico pouco eficiente e caro. Caminhões parados, caminhões vazios, investimentos em sistema de TI que funcionam mal, atrasos nas entregas, elevados estoques para garantir um mínimo de capacidade operacional são alguns dos indícios de que os sistemas tradicionais de logística estão superados.
Poderemos ter ganhos significativos com mudanças radicais nos métodos e técnicas logísticos inspirados na filosofia lean, sem requerer significativos investimentos. Muitas das montadoras de veículos já operam nesse sistema ou estão trabalhando nessa direção.
A premissa básica da logística lean é reconhecer que as atividades de movimentação, transporte e espera de produtos são sempre “desperdícios”. Ou seja, elas não agregam valor concreto ao produto oferecido. E, por isso, precisam ser evitadas, eliminadas ou reduzidas ao máximo.
O conceito de “entregas frequentes” em “pequenos lotes”, de acordo com as necessidades exatas e imediatas dos clientes, através de veículos de “tamanho certo” e programadas para ocorrer sempre direto no ponto de uso do produto, sem intermediários, simplificam a logística, reduzem os estoques e melhoram o nível das entregas. Dessa forma, “sistemas puxados” substituem “sistemas empurrados”.
A logística lean requer operações estáveis e padronizadas. E seguir o mais próximo possível o ritmo da demanda real. Ou seja, nunca se transportar nada a mais do que o estritamente necessário. A logística lean procura entregar somente o que será consumido e na hora que for consumido.
E, ainda, a logística lean também deve funcionar sob um sistema que estimule a exposição e resolução de problemas, para que se faça, cotidianamente, o kaizen (melhorias) em todos os processos e atividades.
Apenas com isso, há uma série de ganhos, como, por exemplo, na diminuição de estoques das empresas, eliminando-se assim boa parte dos custos embutidos na armazenagem e na movimentação de materiais. Ou na eliminação de “intermediários”, que muitas vezes só agregam custos e poucos valores reais no processo.
Dessa forma, almoxarifados custosos desaparecem ou se transformam em cross-docks, locais de armazenamento rápido apenas utilizados para a transferência de produtos.
Há uma redução significativa dos custos totais de logística, de 20% a 40%, além de reduções de estoques, melhorias nos níveis de entrega, liberação de capacidade logística (caminhões, empilhadeiras, espaço físico etc.), entre outros benefícios.
O sistema de logística lean procura ser como um rio que flui suavemente. Com isso, ganham as empresas e seus clientes, que passam a ter menores custos, maior competitividade e mais qualidade.
É evidente que as atuais ineficiências da estrutura da logística nacional causam altos custos, além da baixa produtividade e perdas de competitividade para a sociedade e para as empresas. E dificultam o crescimento da economia. Essa estrutura efetivamente precisa ser melhorada.
Mas, como o Governo Federal acaba de fazer, a solução tradicional é sempre a mesma: aumentar os níveis de investimentos. E apenas isso.
Podemos ir além da obviedade e pensar diferente. Ou seja, pensar “lean” na logística. Se olharmos para esses problemas sob uma nova ótica, podemos vislumbrar soluções mais simples e eficientes, de resultados quase imediatos.
Disponibilizar mais recursos aparece sempre como a solução para nossos problemas. Mas precisamos pensar na melhor utilização possível dos recursos existentes. Por tudo isso, junto a um “Plano Nacional de Logística” seria vital um “Plano Nacional de Logística Lean”. Os cofres públicos agradeceriam.
Por José Roberto Ferro, presidente e fundados do Lean Institute Brasil. Fonte: Época Negócios
6 respostas em “Que tal um ‘Plano Nacional de Logística Lean’?”
Caros amigos transportadores. Os primeiros passos para se pensar em “Plano Nacional de Logística Lean” deve ser o de retornar a origem e fazer valer a regra básica da Tara x Lotação para todo e qualquer produto.Melhor ocupação dos veículos atende a todas as bandeiras de sustentabilidade.Os produtos devem ser de tamanhos diferentes mas nunca a embalagem. Design,MKT e Trade MKT devem co existir com a regra da cubagem,caso não,sempre serão os algozes do transportador e de retorno sub entendido.Atentem a capacidade tupiniquim de absorver e adequar-se as novidades de âmbito federal -como foi com a URV- e torne-as, em curto prazo, internacional.
Interessante, mas o Brasil é um continente, o que funciona muito bem no sul ou no nordeste, não necessariamente funcionaria na região norte, posso citar como exemplo o estado do Acre, ao qual trabalho, temos umas das mais complicados logísticas do país, no inverno amazônico as chuvas acabam com as estradas, no verão o rio entre o Acre e Rondônia praticamente seca, inviabilizando a travessia da balsa, se o Índio se sente prejudicado são nossas estradas que são fechadas, se uma comunidade se sente prejudicada, são nossas estradas que são fechadas, se ativistas protestam contra as hidrelétricas, se temos greve de caminhoneiro etc, etc, e tal, isso sem contar que não temos industrias para viabilizar o retorno da carreta, então temos sempre que levar em condições os fatores culturais e geográficos, para podemos definir a forma logística mais adequada para uma região. Marcos Lima – Gerente de Logística – Supermercado Araújo
Já tava mias que na hora do nosso governo tomar uma atitude ,em relação ao nosso sistema logístico !vamos ver agora o funcionamento ? plano já temos!!
O plano nacional de logística e nada mais e nada menos as ferramentas de trabalho! Agora só vai faltar melhorias na legislação do pais (burocracia) e na economia ,estratégia econômicas e acordos entre fronteira etc.Pois o corpo não se mexe sem a cabeça.
Interessante, mas mesmo um PNLILean não logrará sucesso se não houver melhorias na legislação geral do Brasil… Em economia com Global Sourcing a necessidade de estoques além de estar ligado ao transit time, está intimamente ligado ao tempo de liberação das mercadorias.
No papel, a idéia é linda e maravilhosa, mas quero ver operacionalizar, com o emaranhado legal do Brasil. Olhando do lado de fora parece fácil, mas tentem do lado de dentro do Governo…
Docas e outras empresas estatais não são mais ágeis devido à falta de autonomia e a Lei 8.666/30 (a famigerada lei das licitações ou 8 “capeta”)…
Burocracia é a palavra chave, ou neste caso, busca por uma burocracia lean!
O sistema lean na logística, seria um caminho de sucesso para o país que está acostumado a abrir a mão para gastar cada vez tentando ser eficaz mas sem ser eficiente.