Há exatos dois anos escrevi o artigo “A agonia do frete no Brasil” onde se chamava atenção para a relação desigual entre o setor produtivo e o setor de transportes. Qualidade e lucratividade numa relação difícil, conturbada, desigual e desleal.
Ultimamente o Brasil vem assistindo a uma batalha, tardia, mas legítima, na mídia sobre a situação do setor de transportes. Muitos pensam que se deve ao aumento do diesel, mas isso foi só mais uma gota no copo transbordado. A verdade é que o setor já vem agonizando há mais de uma década; sem perspectivas, pelo menos amenizadoras, num segmento vital para a economia e para o crescimento.
Sem solução por parte do próprio mercado e do poder público, a alternativa é sempre tentar tornar inválida uma reivindicação legítima. Surgem então, as especulações de que os caminhoneiros estão sendo manipulados pelos donos de transportadoras. Ora, isso muda a situação do setor? Resolve os inúmeros problemas em nossa infraestrutura doente, ineficiente e insuficiente? Como deixar de fora as transportadoras que estão prestes a fechar as portas porque não encontram soluções para seus custos?
Seja por iniciativa das transportadoras ou de autônomos, essas reivindicações não podem ser descaracterizadas. Não se pode marginalizar quem procura mudar uma situação que, atualmente, é um dos maiores gargalos do nosso país. Pouco importa quem está dando uma notícia ruim. Ela sempre será ruim!
É claro que vivemos num país de interesses recônditos e que alguém pode tirar proveito disso. Mas, duvido que sejam aqueles que se arriscam por essas estradas afora que carreguem a má intenção. Quem não quer viver com dignidade? Estão lhes arrancando a dignidade de forma desumana. Se hoje não podemos identificar quem poderia sordidamente se favorecer com essas reivindicações é porque nosso setor está doente há anos, e se o caos se instalou não foi devido aos esforços de uma meia dúzia de interesseiros para aumentar seus lucros à custa do sofrimento de uma classe que é um elo importantíssimo para a manutenção do crescimento brasileiro, mas devido à falta de investimentos, oportunos e certeiros, do poder público em nossa matriz de transportes.
Enquanto os valores dos fretes da soja e do milho despencam até 40%, como em Mato Grosso se comparado aos valores de 2013, os investimentos em infraestrutura rodoviária no Brasil só diminuem ano após ano. A pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada em 2014, aponta que os investimentos do governo federal, apesar de ter crescido na última década, vêm apresentando desaceleração desde 2011. Segundo o documento, foram efetivamente aplicados R$ 11,2 bilhões naquele ano, R$ 9,3 bilhões em 2012, R$ 8,3 bilhões em 2013 e, em 2014, até setembro, mês do estudo, foram R$ 7,5 bilhões. Se imaginarmos que seriam necessários R$ 293,8 bilhões para melhorar as condições das principais rodovias do país, esses “investimentos” anuais são ínfimos mesmo sem contarmos que parte desses valores escoa pelos ralos da corrupção.
A esses números insatisfatórios, junta-se a falta de investimento em outros segmentos logísticos que causam um inchaço nas rodovias; o aumento dos principais fatores que compõem o valor do frete: pessoal, combustível, pneus e impostos; a precariedade das rodovias que favorecem as ações de bandidos que eleva os valores dos seguros de cargas e a falta de sensibilidade do poder público em meio à toda essa receita desastrosa, não pode nos trazer outros resultados senão os que acompanhamos e nos dividimos em apoiar ou nos irritar com quem procura, sem excessos, mudar uma situação insustentável.
Infelizmente ainda há brasileiros que não entendem que essa “guerra” é paga por todos. Ela vai desde o aumento do pãozinho de cada dia, passa pela diminuição da nossa qualidade de vida e vai até ao estorricar do dinheiro público com despesas com acidentes, com a grande fatia para a corrupção e para contribuir com a quebra da nossa famigerada Previdência Social. É ou não um problema de todos e para todos? Descaracterizando uma causa justa, me questiono: o que nos resta fazer para resolver a situação dos fretes rodoviários, melhorar a infraestrutura e devolver a dignidade àqueles que tiram seus sustentos do setor?
6 respostas em “Soluções distantes para os fretes no Brasil”
Concordo em genero, numero e grau, é o que venho falando a anos, tenho um esperanca que o setor passe por um regulamentacao efetiva, porque lei ja existe demais, nos proximos anos, e que fique realmente que tenha condicoes de operar!
Sou Técnico em Logística. E Trabalho no transporte,com o objetivo de reduzir custos,,, é notável que o Brasil depende do modal rodoviário, e que as dificuldades e injustiças aplicadas no setor a curto prazo quem sofre é o transportador, a médio e longo prazo são todos os consumidores finais. . . quem se aproveitou com esta reviravolta no diesel, foram os postos de combustíveis… ninguém pode sair perdendo, isto é fato mas se você não controlar o preço e cobrar desconto e comparar com concorrentes ETC. da de pagar um financiamento de carreta só com o rombo- aqui em MT é o coração do Brasil. e se o projeto FERRO-NORTE, estivesse em construção, dês de quando foi planejado. o Brasil já teria Melhorado e Muito no escoamento de Grãos e no transporte geral, mas fazem pouco caso quanto a isso… Tem gente que prefere fazer PORTO EM CUBA.
Sou estudante técnico de Logística e tenho acompanhado de perto a situação de nossa infraestrutura,ou melhor a falta dela.Programas de melhorias como PACs e PIL tem muito mais um cunho político do que de fato um pensamento real voltado aos setores e modais deficitários,com sabedoria um mestre em transporte me diz”tem sempre alguém ganhando”sim,triste,não se sabe se as grandes redes que monopolizam custos e influenciam o mercado ou se seria somente a questão política,desvio de verbas e outras negociações com interesses privados.
Os nossos governantes não vontade politica de investir em infraestrutura logistica!Os nossos modais rodoviário estão em colapso.Sem LOGÍSTICA O BRASIL PARA!SEM CAMINHÃO O BRASIL PARA!
A matéria, aparentemente, desconsidera a existência de outros modais de transporte e mantém a visão rodoviarista do problema dos transportes no Brasil. A verdade que esse problema só será sanado com uma visão sistêmica do setor de transportes. Por exemplo, não faz o menor sentido um caminhão trafegar da cidade de São Paulo para uma capital nordestina quando a combinação de modais rodoviário e marítimo é muito mais sensata.
Artigo interessante. Mostra algo já conhecido aos profissionais da área, mas tampouco entendido pelo restante da população. Talvez a elaboração de um mecanismo que demonstre o valor do transporte nos produtos comercializados seria impactante, podendo demonstrar, de forma ainda mais direta, os problemas com transportes pelo país. Como exemplo o mecanismo de pagamento de imposto, conhecido como impostômetro, conhecido por demonstrar quanto de imposto pagamos.