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Carreira Comércio Exterior - COMEX Logística

A importância do despachante aduaneiro para o comércio exterior

Como despachante aduaneiro, vou confessar uma coisa importante para vocês: não consigo explicar, com facilidade, quais são os afazeres da minha profissão para muitos dos meus familiares e amigos.

despachante aduaneiroMuitos confundem com despachante de automóvel ou que então que ´eu trabalho no porto´ (com pouquíssima frequência eu tenho de ir ao Porto, já que muita coisa eu resolvo pelo computador e do escritório).

E com você, acontece o mesmo?

Apesar de não haver estatísticas oficiais, eu não teria receio de afirmar, baseado em muitos anos de experiência, de que mais de 95% do fluxo do comércio exterior brasileiro passa pelas mãos deste profissional.

As operações aduaneiras no Brasil são complexas e regidas por diversas normas. E em muitas delas, um simples descuido leva ao interessado uma sanção pecuniária que pode começar com R$ 500,00. É neste contexto que se insere o despachante aduaneiro.

O que faz o despachante Aduaneiro?

O despachante aduaneiro é o profissional com poder outorgado pelo exportador ou importador, que se encarrega de apresentar para Alfândega, a documentação estabelecida nas normas tributárias, relativas ao despacho aduaneiro de importação ou exportação.

Seu trabalho consiste na representatividade dos interessados perante aos mais diversos órgãos, também conhecidos como intervenientes governamentais, que promovem o Controle Aduaneiro, além de também atuar junto aos operadores do comércio exterior e da logística, como armazéns, transportadores, bancos, empresas certificadoras e portos e aeroportos.

De que forma posso atuar como despachante aduaneiro?

O exercício das profissões de despachante aduaneiro e de ajudante de despachante aduaneiro somente será permitido à pessoa física inscrita, respectivamente, no Registro de Despachantes Aduaneiros e no Registro de Ajudantes de Despachantes Aduaneiros, mantidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), e obedecerá às disposições da Instrução Normativa RFB nº 1209/2011.

O Mercado de Trabalho

O despachante aduaneiro pode trabalhar em comissárias de despacho aduaneira, indústrias, empresas importadoras ou exportadoras, de consultoria, empresas de logística, tanto como empregado ou empreender em seu próprio negócio e abrir uma empresa de prestação de serviços.

O mercado de atuação é amplo, e o profissional aduaneiro pode atuar no setor operacional, executando as atividades previstas na legislação, ou no setor consultivo, assessorando empresas a executarem suas operações de logística internacional, formação de preço, identificação da carga tributária exigida, do cumprimento do tratamento administrativo, além do controle do fluxo de embarque e desembarque de produtos, oferecendo eficiência e rapidez aos seus clientes.

É uma profissão que exige conhecimentos profundos de Direito e Legislação, Economia e Matemática, pois lida com números, cotações, contratos, mapeamento de processos e exigências alfandegárias.

Viu como não estou exagerando quando digo que não é fácil explicar o que eu faço?

E em 25 de abril é comemorado o Dia do Despachante Aduaneiro.  Parabéns para este profissional tão importante para o comércio exterior brasileiro, e que desembaraça qualquer problema!

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Comércio Exterior - COMEX Logística Transportes

O verdadeiro plano de exportações

Que não houve política industrial nos últimos 12 anos são os números que mostram. Segundo dados do UN Comtrade Database, a participação das exportações brasileiras de bens manufaturados em 2003 era de 1,02% do total mundial. A tendência era de que crescesse, o que, de fato, deu-se pelo menos até 2008, quando o índice chegou a 1,27%. Desde então, a porcentagem do Brasil nas vendas mundiais tem caído, chegando em 2013 a 1,08%. O índice de 2014 ainda não foi anunciado, mas estima-se que deve ter baixado para menos de 1%.

brasil exportacaoDiante disso, o governo que começou a 1º de janeiro reconheceu o desastre que foi a política externa nos últimos três mandatos, a partir da ideologização da diplomacia comercial e a consequente satanização dos Estados Unidos, o maior mercado do planeta. A justificativa estapafúrdia era de que havia uma excessiva dependência econômica do Brasil em relação à nação norte-americana que precisava ser reduzida. Diminuiu-se a dependência, mas, em compensação, o parque fabril nacional começou a ficar sucateado e o País entrou num processo de desindustrialização.

Para recuperar os estragos, o governo agora anuncia um chamado Plano Nacional de Exportações, que engloba um conjunto de medidas que visam à facilitação, promoção e inteligência comercial, redefinição de instrumentos oferecidos ao setor exportador, financiamento, seguro e garantias, além de desburocratização, redução do tempo de despacho aduaneiro e do trânsito de mercadorias. Ainda bem.

Só que, antes disso, o governo já cortou as desonerações sobre a folha de pagamentos, que deverá elevar o custo Brasil, que inclui aumento nos combustíveis, o custo elevado da energia elétrica e altas taxas de juros. Ao mesmo tempo, cortou o índice de 3% do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), limitando-o a um terço do potencial vigente. Para piorar, ainda ameaça dificultar as liberações de recursos pelo Programa de Financiamento às Exportações (Proex). A favor dos exportadores, até agora, só houve a desvalorização do real, que se dá pela perda da confiança na moeda.

Na verdade, se quisesse reverter essa situação, o governo teria de seguir as recomendações da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) no sentido de que mantenha e amplie os instrumentos de desoneração tributária das exportações e seja adotada uma política cambial neutra. Sem deixar de realizar uma campanha no exterior mostrando o Brasil como um país industrial. E mais: que volte a considerar os Estados Unidos como parceiro prioritário, inclusive organizando missões naquele país. E busque acordos comerciais com outros países e blocos, além de avaliar o Mercosul.

Em seu plano de revitalização das exportações, a AEB defende ainda o fortalecimento do apoio às micro, pequenas e médias empresas, com a criação de mecanismo equivalente ao Exporta Fácil, porém via marítima, além da reforma do sistema tributário e da legislação trabalhista. Tudo isso o governo deveria fazer, além de investir mais em infraestrutura, o que ajudará a reduzir os custos de logística.

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Comércio Exterior - COMEX Gestão Logística

Mercosul ou voo solo?

Não se pode deixar de reconhecer que os resultados alcançados pelo Mercosul em seus 24 anos de existência foram significativos, mas isso não quer dizer que o Brasil tem de ficar atrelado a esse acordo indefinidamente. Por isso, é preciso que o governo avalie muito bem a situação à que chegou o bloco e tome as decisões que se afigurem como as melhores para o País. O que se lê até mesmo em editoriais de grandes jornais é que o Mercosul impediria os seus sócios de firmar acordos isoladamente, mas esse entendimento começa a ser flexibilizado. A ideia que fica é que esse possível impedimento estava sendo usado apenas como uma desculpa esfarrapada para justificar o injustificável, ou seja, a ineficiência da diplomacia para fechar acordos com outros países ou blocos.

brasil argentinaSe o Mercosul impedisse que seus parceiros fechassem tratados isoladamente, a Argentina não teria firmado recentemente 15 acordos com a China que vão permitir aos chineses investir em obras de infraestrutura naquele país, recebendo em troca facilidades para vender equipamentos. Além disso, os chineses vão fornecer linhas de crédito, valendo-se de um acordo de swap (permuta) do yuan em relação ao peso para evitar uma futura alta nos juros. Não é preciso ser muito atilado para se concluir que esses acordos são contrários ao espírito do Mercosul e aos interesses brasileiros, especialmente dos exportadores de manufaturados.

Ainda apegado a uma estratégia que considera a Argentina parceira fundamental e sócia privilegiada, em função do mercado que representa para os manufaturados, o governo tem assimilado essa e outras afrontas, como medidas burocráticas que têm restringido a entrada dos produtos nacionais na nação vizinha. E, assim, perdido um tempo que poderá ser fatal para os interesses do País, resultado de divergências entre os sócios do Mercosul em relação a um acordo com a União Europeia (UE).

Ora, se, depois de 15 anos de negociações infrutíferas, não há possibilidade de o Mercosul avançar unido para um tratado com a UE, então que o Brasil busque um acordo individual com os europeus. Isso não significaria o fim do Mercosul, até porque, além da proximidade geográfica, as economias dos parceiros sul-americanos são complementares. Tanto o Brasil precisa do mercado argentino para colocar seus produtos como a Argentina necessita do mercado brasileiro.

Como UE e EUA estão para concluir um tratado amplo sobre comércio e investimento, o que se prevê é uma redução do espaço para países que não tenham acordos semelhantes com esses dois mercados que são os maiores do planeta. Como hoje o Brasil é responsável por 37% do comércio entre a América Latina e a UE, perder esse espaço pode ser catastrófico numa situação já difícil como a que o País atravessa.

Portanto, o Brasil, seguindo o exemplo da Argentina, poderia encetar um voo solo em direção à UE, o que estaria mais em sintonia com os
interesses de um país que, por sua economia mais diversificada, difere bastante da de seus parceiros sul-americanos. Basta ver que a
indústria brasileira, apesar de todas as turbulências, ainda se mantém em pé, enquanto o parque fabril argentino está praticamente destruído depois da desvairada política kirchnerista.

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Comércio Exterior - COMEX Geral

O Mercosul e a Argentina

Em 2014, as exportações do Brasil para a Argentina foram de US$ 14,1 bilhões contra US$ 19,6 bilhões em 2013, o que significou uma queda de 27%. Já as importações foram de US$ 14,1 bilhões contra US$ 16,4 bilhões em 2013, o que representou um recuo de 14%. Em 2015, a tendência é de queda ainda mais acentuada: em janeiro, as exportações recuaram 30% e em fevereiro, 17%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

argentina mercosulO recuo está ligado às preferências que a Argentina tem dado a China, em troca de investimentos em infraestrutura e até da construção de uma base espacial na província de Neuquén, o que se tem refletido em bloqueio a produtos brasileiros com medidas burocráticas. Além disso, os manufaturados brasileiros têm perdido competitividade, em razão de desajustes na economia interna, provocados por alto custo de energia, aumento nos combustíveis, corte nas desonerações sobre a folha de pagamentos, juros altos e descontrole nas contas públicas.

É provável que essa queda seja sazonal e que nos próximos anos haja um reaquecimento nas exportações para o país vizinho. É de lembrar que, desde 2008, o Mercosul tem sido o principal fornecedor de bens de capital para a Argentina, com o Brasil sendo responsável por mais de 90% desse fornecimento.

Em 2008, as exportações foram de US$ 17,6 bilhões; em 2009, de US$ 12,7 bilhões (-23%); em 2010, de US$ 18,5 bilhões (40%); em 2011, de US$ 22,7 bilhões (22%); e, em 2012, de US$ 17,9 bilhões (-20%). Entre os produtos mais vendidos estão automóveis, minério de ferro, alumina calcinada, chassis, tratores, pneus, autopeças, eletrônicos e têxteis. É de se ressaltar que, em 2014, dos US$ 14,2 bilhões vendidos, US$ 13 bilhões foram de produtos industrializados (93%). Já as importações da Argentina, em janeiro de 2015, sofreram um recuo de 20% e, em fevereiro, de 26%. É de notar, porém, que essas quedas estão dentro da média dos últimos anos: em 2008, o Brasil importou US$ 13,1 bilhões; em 2009, US$ 11,2 bilhões (-15%); em 2010, US$ 14,4 bilhões (29%); em 2011, US$ 16,9 bilhões (18%) e, em 2012, US$ 16,4 bilhões.

Por parte do Brasil, porém, não há nenhum embargo. Pelo contrário. Entre os produtos mais comprados estão trigo, automóveis, malte não
torrado, batata, cevada, polímeros de etileno, motores a diesel/semidiesel, nafta para petroquímica e ligas de alumínio. De US$ 14,1 bilhões em mercadorias adquiridas pelo Brasil da Argentina em 2014, US$ 12,5 bilhões foram de produtos industrializados (89%). Seja como for, a Argentina ainda representa para o Brasil mais de 90% do Mercosul. Basta ver que, no primeiro bimestre, a Argentina (US$ 1,8 bilhão) ficou atrás só dos EUA (US$ 3,8 bilhões) e da China (US$ 2,9 bilhões) entre os principais países de destino das exportações brasileiras.

Portanto, cabe ao governo envidar esforços para que essa parceria seja mantida pelo menos nos níveis atuais, evitando novos retrocessos. E, acima de tudo, exigir que as regras e disposições regulamentares do Mercosul sejam respeitadas por todos os parceiros.

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Comércio Exterior - COMEX Logística

Comércio exterior: nova estratégia

Depois do malogro dos entendimentos da Rodada Doha, promovida pela Organização Mundial do Comércio (OMC), muitos países preferiram incrementar as negociações para a assinatura de acordos bilaterais ou regionais. Esses acordos procuraram, por meio da redução de tarifas aduaneiras e a concessão de facilidades, abrir mercados, ampliando as operações de exportação e importação. As nações que ficaram de fora desses acordos ou blocos acabaram por se isolar comercialmente e seus produtos passaram a encontrar mais obstáculos, além daqueles que surgem em razão de sua pouca competitividade.

estrategia comercia exteriorEsse é o caso do Brasil que, nos últimos 22 anos, só foi capaz de assinar três acordos – com Israel, Palestina e Egito – e, ainda assim, tão inexpressivos que pouco representam na corrente de comércio do País. Já nações como Chile, México e Estados Unidos, que preferiram assinar muitos acordos comerciais, apresentam números bem mais significativos.

Com a presença do empresário Armando Monteiro à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o governo parece, finalmente, ter despertado para a necessidade de promover a inserção do País nas cadeias produtivas, com vistas à colocação não só de commodites agrícolas e minerais como principalmente de produtos manufaturados e semimanufaturados.

A reaproximação comercial com os Estados Unidos parece caminhar bem com a possível visita da presidente Dilma Rousseff a Washington até setembro. Mas é preciso que essa reaproximação seja marcada pela promoção de feiras e exposições naquele país que mostrem que o Brasil não é só produtor de matérias-primas, mas que dispõe de um parque industrial capaz de produzir manufaturados de baixa, média e alta tecnologia, de que os aviões da Embraer são bom exemplo.

A nova estratégia não deve se resumir aos Estados Unidos, ainda que este país represente o maior mercado do planeta. O MDIC, por meio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), deve definir outros mercados prioritários, sem levar em conta ideologia ou aspectos políticos, abandonando uma prática que nos últimos anos só colheu fracassos na diplomacia comercial.

Nesse sentido, seria de suma importância que o Brasil convencesse seus parceiros no Mercosul a concluir as negociações com a União Europeia que já se arrastam há mais de dez anos. Antes disso, porém, seria recomendável que o próprio Mercosul fosse aperfeiçoado, deixando de ser uma união aduaneira para se transformar em área de livre comércio. Caso contrário, o Brasil vai continuar atrelado ao crescimento econômico da China. Se a nação asiática continuar a crescer em níveis elevados, as cotações das commodities serão mantidas e o País poderá ainda exibir uma balança comercial equilibrada. Mas, por trás disso, estarão o sucateamento e o fechamento de seu parque industrial que, aliás, em 2014, registrou um recuo de 3,2% em sua produção, o pior resultado desde 2009.

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Comércio Exterior - COMEX Demanda Gestão Logística

Ministério do Desenvolvimento (MDIC): um novo rumo

A nomeação do senador Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em substituição a Mauro Borges, é um indício de que o novo governo pretende mudar a diretriz que marcou a pasta na última gestão, caracterizada pela inércia diante da perda de competitividade do produto manufaturado brasileiro no mercado mundial.

desenvolvimento industria comercio brasilDisposto a eliminar ou reduzir alguns dos fatores que compõem o custo Brasil, o novo ministro já anunciou que pretende combater o “excesso de regulamentação e os procedimentos burocráticos” que impedem o desenvolvimento das atividades produtivas do País, além de defender a conclusão do acordo Mercosul-União Europeia e a formalização de um tratado entre o Mercosul e os países da Aliança do Pacífico Empresário, com carreira ligada à indústria, Monteiro conhece muito bem as dificuldades que exportadores e importadores encontram para atuar e, com certeza, será bastante receptivo às reivindicações do setor. Por isso, uma das primeiras reivindicações que deveria analisar é a proposta da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) para que haja uma reforma estrutural que possa oferecer ao produto brasileiro competitividade no exterior, a partir de um pacto federativo em favor da completa imunidade tributária nas exportações de bens e serviços.

Essa sugestão da AEB prevê a desoneração do produto exportado, ao longo de toda sua cadeia produtiva, livrando-o de quaisquer impostos, taxas, contribuições e outros gravames. Com isso, seriam eliminados os problemas provocados por compensações, acúmulo de créditos ou
ressarcimento aos exportadores.

Outra sugestão da AEB é a criação de um fundo de financiamento a programas de exportação, formado por diversificadas fontes de recursos, mas que conte com a participação da União no aporte do montante inicial. Esse fundo facilitaria o acesso ao crédito por parte de micro, pequenas e médias empresas, incentivando a maior participação dessas organizações nas atividades de exportação.

Com isso, seria possível aumentar significativamente o número de empresas exportadoras. É de se notar que, em 2007, as empresas exportadoras somavam 20.889 e que, em 2014 foram 19.250, depois de chegar a 18.809 em 2013, segundo dados do MDIC. Já as importadoras eram 28.911 em 2007 e chegavam a 44.069 em 2012, ou seja, houve um crescimento de 52%. À falta de números mais atualizados, pode-se dizer que hoje há três vezes mais empresas importadoras que exportadoras.

Obviamente, a defesa de uma política voltada para o incremento da produção de manufaturados e sua inserção no mercado mundial não significa uma posição contrária à exportação de commodities. Pelo contrário. Com maiores investimentos do governo na infraestrutura logística, as commodities manteriam o poder de competição, diante de uma possível baixa nas cotações mundiais.

Seja como for, o fundamental é aumentar a exportação de manufaturados, atividade que adiciona maior valor agregado e gera mais empregos formais e qualificados, fatores fundamentais para movimentar a economia.

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Comércio Exterior - COMEX Gestão Logística Transportes

Um projeto para o comércio exterior

Em recente palestra durante seminário sobre os rumos da política de comércio exterior na Fundação Getúlio Vargas (FGV), o diretor de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abimaq), Klaus Curt Muller, afirmou que não basta abrir o mercado nacional, mas dar condições para o fabricante brasileiro enfrentar não só o produto importado como colocar o seu equipamento lá fora. De fato, como disse o empresário, se a máquina brasileira é 30% mais cara do que a alemã, por exemplo, fica mais difícil vender não só aqui, mas também no exterior.

brasil comercio exteriorSuperar essas dificuldades não será tarefa fácil, mas o próximo governo precisará estar consciente, desde o primeiro dia de janeiro de 2015, de que terá de colocar em prática um projeto de comércio exterior que não inclua apenas a América Latina ou países africanos ou o Oriente Médio, mas todo o planeta. Sem uma diretriz global, o País continuará a perder mercado não só em sua própria casa como especialmente no exterior, inclusive naqueles mercados que são considerados tradicionais. Aliás, isso já acontece na Argentina, onde, apesar do Mercosul, os produtos chineses substituem os brasileiros nas prateleiras, em razão das facilidades cambiais que os asiáticos oferecem.

Na verdade, pouco adiantará traçar uma estratégia para a abertura de mercados se o novo governo não fizer a sua lição de casa, ou seja, atacar as causas do chamado custo Brasil, que fazem, por exemplo, a nafta, principal insumo dos produtos químicos, custar 30% mais cara do que no mercado europeu ou o dobro do valor pago nos Estados Unidos. Também não se pode pensar em resolver os problemas do comércio exterior por setores, como tem tentado, sem muito êxito, o governo atual.

É preciso definir uma estratégia global que, além de estabelecer com blocos ou nações isoladamente tratados de preferências comerciais, venha a ser desenvolvida ao mesmo tempo em que sejam construídas e reformadas rodovias e aeroportos e ampliada a malha ferroviária, bem como reduzido o atual caos portuário, com a instalação de novos terminais públicos e privados, devidamente acessíveis por caminhões, trens e barcaças, o que inclui a modernização do precário e incipiente sistema hidroviário de hoje.

Só assim, com tal visão estratégica, será possível avançar para assegurar custos mais baixos de produção que possam alterar o atual quadro de desvantagem que o produto brasileiro sofre no exterior, em razão de numerosos acordos de preferências que foram estabelecidos e
dos quais, por inércia ou incompetência dos últimos governos, o País não se beneficia.

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Comércio Exterior - COMEX Desempenho Logística

Reindustrialização das exportações

Apesar do excelente desempenho das commodities nos últimos anos, mesmo enfrentando um dólar barato demais, o Brasil ocupa apenas a 22ª posição no ranking dos exportadores, embora tenha o sétimo Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Isso ocorre em razão da perda de competitividade dos produtos industrializados no mercado externo, que tem sido provocada pelo chamado custo Brasil.

exportacoes industriaisComo se sabe, essas duas palavras resumem um quadro complexo que representa um desafio para o próximo governo e também para as futuras gerações: infraestrutura deficiente e cara, alta carga tributária, falta de reformas de base e defasagem cambial. Tudo isso tem ajudado a ocasionar déficits comerciais que não param de crescer e trazem consigo a eliminação de empregos. E, à falta de empregos, milhares de jovens são levados à marginalidade, engrossando as estatísticas da violência social.

Portanto, é fundamental alterar essa situação a partir do aumento da participação industrial na pauta exportadora. Afinal, basta ver o citado ranking dos exportadores para perceber que os 14 maiores são países eminentemente vendedores de produtos manufaturados. É isso que permite a definição de uma política de comércio exterior.

Se o Brasil continuar por muito tempo dependendo da venda de commodities, com certeza, vai entrar num ciclo depressivo sem volta. Basta ver que a participação industrial na pauta de exportações caiu de 59% em 2000 para 37% em 2013. Se continuar nessa trajetória, não é difícil prever o aumento do desemprego na indústria, o que significa uma redução no número de consumidores e problemas também no mercado externo.

Esse fenômeno está também ligado à estratégia equivocada adotada pelo governo anterior, que decidiu substituir uma possível dependência à economia norte-americana por outros parceiros, esquecendo-se de que os Estados Unidos são o maior mercado do planeta, cujas compras ultrapassam a faixa de US$ 2,5 trilhões. O resultado foi que a participação dos Estados Unidos na exportação brasileira caiu de 25% em 2002 para 12% hoje.

Atualmente o maior parceiro comercial do Brasil é a China, que compra 17% de tudo o que o País vende para o exterior. Só que há uma diferença que explica o atual fenômeno da desindustrialização pelo qual o Brasil passa: enquanto os Estados Unidos  compram produtos industrializados, de maior valor agregado, o país asiático adquire basicamente grãos e minério de ferro.

Para piorar, além de ter um peso pequeno nas compras norte-americanas (1,5%), o Brasil se dá ao luxo de registrar déficits comerciais com os Estados Unidos, comprando mais do que exporta para lá. Portanto, é preciso urgentemente criar condições para que o País passe por um processo de reindustrialização que promova a sua inserção internacional.

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Comércio Exterior - COMEX Gestão

Comércio exterior: mudar é preciso

O balanço sobre a movimentação de cargas nos portos e terminais portuários do Brasil, divulgado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) em agosto, é uma prova incontestável de que o comércio exterior brasileiro não vai bem e carece de uma diretriz política que o coloque no rumo certo. Segundo o relatório da Antaq, no primeiro semestre de 2014, o volume de cargas enviadas pelos portos e terminais portuários nacionais para o exterior recuou, quando o destino foram os tradicionais clientes.

comercio exteriorNa comparação com o mesmo período de 2013, as vendas para os Estados Unidos alcançaram 10,8 milhões de toneladas, registrando uma queda de 5%. Para o Japão, o volume caiu 8%, registrando 15 milhões de toneladas. Também sofreram redução as vendas para a Holanda (14%) e Coréia do Sul (9%). Isso mostra que o País não vem fazendo uma política de comércio exterior eficaz no sentido de não só abrir mercados como ampliar sua participação nas vendas para clientes já tradicionais.

Por outro lado, o Brasil importou 28% menos produtos da Argentina e 20% menos da Espanha, em consequência talvez da crise econômica que tem afetado esses dois países. Em compensação, as importações dos Estados Unidos cresceram 24%, o que denota um contrassenso. Afinal, os Estados Unidos são o maior mercado do planeta e o normal é que os demais países registrem superávit em seu relacionamento com aquela nação, ou seja, o comum é que vendam mais do que comprem.

Já o relacionamento  com a China só aumentou no semestre passado, o que deixa claro o viés ideológico adotado pelo atual governo em sua política comercial: o Brasil importou 31% mais e exportou um volume de carga 14% mais do que no primeiro semestre.

O problema é que a China compra basicamente commodities, limitando-se a vender produtos manufaturados, enquanto os Estados Unidos tradicionalmente compram do Brasil mais produtos industrializados e de maior valor agregado. Nesse ritmo, o País corre célere para se tornar um fornecedor de matérias-primas, o que é um mau sinal para o parque industrial brasileiro.

Os números divulgados pela Antaq, portanto, atestam os erros da diplomacia econômica do País e, ao mesmo tempo, explicam em boa parte os problemas que a indústria enfrenta. Ou seja, atado a um Mercosul que não avança, o Brasil sofre as consequências das desastrosas administrações dos governos Kirchner na Argentina e de uma política vesga que, nos últimos 20 anos, privou o País de acordos comerciais com mercados mais desenvolvidos, o que limitou o intercâmbio  do setor industrial e estimulou a concentração das exportações nos mercados sul-americanos.

Em outras palavras: se o Brasil já vem perdendo espaço até com seus tradicionais clientes, a situação poderá piorar sensivelmente se Estados Unidos e União Europeia, os dois mais importantes mercados do mundo, concluírem as negociações para a formação de uma área de livre-comércio.

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Comércio Exterior - COMEX Desempenho Gestão Logística Transportes

Comércio exterior: perspectivas

Ainda que não se possa dizer que vêm por aí tempos de vacas magras, os prognósticos dos especialistas em comércio exterior são de que o cenário global nos próximos anos deverá estar carregado de nuvens plúmbeas. Como o Brasil não soube se beneficiar dos anos de vacas gordas que foram os da primeira década deste século e não fechou acordos de livre-comércio nem ampliou tanto quanto podia a sua inserção internacional, as perspectivas não são muito favoráveis.

comex brasilPor isso, não é fortuita a preocupação com certo isolamento comercial a que o País se impôs, limitado a sua participação no Mercosul, que hoje nem progride nem regride. A impressão que fica é que o governo anterior, ao trabalhar decididamente há dez anos para o fracasso das negociações que visavam à formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), deu um tiro no pé na Nação.

Afinal, com o fracasso da Alca, os Estados Unidos partiram para outras alternativas. E a expectativa é que venham a fechar acordos amplos, ainda que regionais, como a Parceria Trans-Pacífico (TPP), com países da Ásia, com exceção da China, e o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), com a União Europeia. Se esses acordos megarregionais forem formalizados, não é difícil imaginar um quadro em que os países que não façam parte deles possam estar excluídos dos grandes mercados mundiais.

Menos mal que a China continuará a comprar as commodities brasileiras, o que poderá garantir por largos anos a manutenção do superávit na balança comercial. É de notar, porém, que as commodities minerais em direção a China começaram a cair e, dificilmente, esse ritmo será revertido, o que significa que o país asiático deverá comprar mais produtos agropecuários, como exige o seu modelo de crescimento baseado no consumo doméstico. Seja como for, para o Brasil, não é confortável que venha a se tornar um país apenas exportador de matérias-primas.

A aposta nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) também não resultou em grandes operações comerciais para o País até agora, ainda que para julho estejam previstas a criação de um Banco de Desenvolvimento e a formalização de um Acordo Contingente de Reserva. A previsão é que essas nações, com exceção da China, não deverão apresentar taxas elevadas de crescimento, o que significa que deverão contribuir pouco para a evolução do comércio a nível global.

Diante disso, o que se espera é que haja, a partir do próximo governo, maior empenho do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) em aumentar a participação do Brasil no comércio mundial, hoje limitado a 1,2% de tudo o que se vende e compra no planeta. Essa ampliação pode começar pelas vizinhanças mesmo, com um acordo de preferências comerciais com países como Chile, Colômbia, Peru e México, que já formaram a Aliança para o Pacífico.