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Somos idiotas por comprar iPad com grande armazenamento?

Muitos smartphones e tablets vêm em um conjunto limitado de variações. Considere o iPad por exemplo: ele vem em duas cores e pode ser ter comunicação por redes de celular ou não. E tem então a questão da capacidade de armazenamento.

A Apple oferece o iPad com três níveis de armazenamento diferentes – 16GB, 32GB e 64GB – e escolher o tamanho certo é uma das escolhas mais difíceis para os compradores do tablet. Agora, há quem diga que a maioria das pessoas são enganadas quando consideram a compra além da capacidade mínima de armazenamento.

Desde os dias do iPod, a Apple aumentou seu lucro através dos upgrades. A empresa oferece as versões “básicas” de seus dispositivos a um preço atraente para muitas pessoas. Este preço funciona como um marketing que os convida a entrar na loja. Uma vez que você estiver lá, seu olho passeia para o produto ao lado. 16GB de armazenamento são mesmo suficientes para meu novo iPad? Será que não acharei pouco daqui um ano ou dois? Quem sabe eu deva pegar o próximo… são apenas US$ 100 (nos EUA)…

Isso é exatamente o que a Apple quer que você pense. Uma vez que você decidir ir além do iPad básico, os lucros da companhia disparam. De acordo com a iSuppli, o iPad básico (com 16 GB) custa pra Apple cerca de US $ 316 16GB, que a empresa vende por US $ 499 – uma margem de cerca de 37%, não incluindo os custos além da fabricação. Dobrar o espaço de armazenamento para 32GB custa pra Apple custos US$ 17 a mais, mas ela cobra 599 dólares por esse modelo, aumentando sua margem para 45%. No melhor modelo, com Wi-Fi e 64 GB, você paga US$ 699, a margem de lucro da Apple dispara para 48%. Mas isso não é tudo! Se você receber um iPad com conectividade na rede de celular, seu iPad é o máximo! Mas por este modelo você pagará 829 dólares por um aparelho que custou 408 dólares para a Apple – uma margem de 51%, ou o dobro do que a Apple ganha no mais barato.

Estas margens de lucro enormes carregam consigo duas perguntas. Primeiro, por que empresas de tecnologia conseguem cobrar tanto por apenas alguns dólares de material extra? Em segundo lugar, eles estão nos explorando? As respostas são bastante simples: eles arrancam esse dinheiro de você porque eles podem. E, claro, você está sendo roubado! Tente lembrar-se disso quando você estiver sendo tentado pela atualização dos produtos. Ultimamente, parece que para a maioria das pessoas, o espaço extra é um exagero.

Então, eu não tenho um iPad com GBs de armazenamento. Mas se tivesse, isso faria de mim um idiota?

Há algumas coisas a se notar aqui. Primeiro, só porque uma empresa tem uma grande marca, isso não significa que os clientes irão fazer um mau negócio. Se o comprador realmente valoriza a opção pelo preço oferecido, é uma transação justa. A fabricante dos carros Mini cobra até US$ 2.000 extra pelos assentos de couro. Isso só pode estar sendo cobrado a mais! Não há nenhuma mudança na tecnologia de banco, entre os assentos de tecido normal e os bancos de couro. É só a mudança da cobertura, e mesmo o couro sendo mais caro do que tecido, não pode ser muito mais. Mas se eu realmente prefiro sentar meu traseiro no couro, eu pagaria por esse negócio.

Em segundo lugar, o argumento apresentado no artigo é que os preços praticados existem porque os consumidores são irracionais e pagam por capacidades extras de armazenamento que realmente não precisam. Isso pode ser verdade…

Gostaria de contrariar que podemos ver esse tipo de posicionamento de produtos e preços, mesmo se os consumidores são completamente racional e muito sofisticados. Na verdade, tudo o que tem é um modelo muito normal dos consumidores. Suponha que todos os consumidores valorizam mais armazenamento (é verdade, pois mais é melhor), mas que há dois segmentos que diferem em quanto eles estão dispostos a pagar pelo armazenamento. Então temos o segmento alto (ou classe A, ou premium, ou elite…) que está disposto a pagar mais pela capacidade extra que o segmento baixo (ou padrão, ou normal). Se a empresa soubesse a qual segmento o cliente pertence quando eles entraram na loja, ela poderia dar um preço para cada tipo de cliente e maximizar o lucro da empresa pode fazer a partir desse segmento.

Agora, suponha que a empresa não sabe se um cliente pertence ao segmento de alta ou baixa. Se a empresa oferece dois modelos, ela expõe os dois e deixa o cliente escolher (ao contrário de mostrar a um cliente chegando apenas a produto destinado para ele). É possível que os produtos e preços que a empresa mostra quando poderia identificar os clientes não funcionem mais. Em particular, clientes de alto valor podem desfrutar de uma maior utilidade do produto (e preço) destinado ao segmento de baixo valor.

Como a empresa consegue corrigir isso? Ela pode aumentar o preço do produto básico. Isso poderia forçar os clientes de alto valor a comprar o produto certo, mas seria realmente ruim para os clientes de baixo valor. Ou a empresa pode cortar o preço do produto melhor. Isso dá uma ajuda aos clientes de alto valor e pode ainda induzir o segmento de baixo valor a pegar o produto melhor.

Há uma terceira possibilidade: degradar o produto para o segmento de baixo valor. Ou seja, oferecer um produto “capenga”, com armazenamento pequeno. Isso exigiria um corte de preços para manter os clientes do grupo baixo comprando o produto, mas os clientes do grupo baixo também valorizam o armazenamento, mas pagam menos por ele, então a queda no preço tem que ser pequena para não motivar os clientes do grupo alto a trocar de produto e pegar o mais simples. (Para ajudar a entender, suponha que os clientes do grupo baixo valorizam cada GB em US$ 5, enquanto o armazenamento vale US$ 10 para os clientes de alto valor. Se o armazenamento no modelo básico é cortado em 10GB e o preço cai US$ 50, os produtos são equivalentes para o cliente de baixo valor. Os clientes de alto valor acham que os 10GB valem US$ 100, mas o produto custa só US$ 50 a mais, então eles compram o produto melhor)

Há uma grande diferença entre o meu modelo e o mecanismo suposto no artigo acima. O artigo supõe que a maioria dos compradores de iPad com grande armazenamento são “enganados” e se arrependem depois quando perceberem isso. Meu modelo sugere que os compradores que querem o armazenamento grande estão em melhor situação porque a Apple não pode automaticamente identificá-los. Eles recebem o que querem no preço mais baixo do que seria cobrado se a Apple soubesse de suas necessidades de armazenamento. Já para os compradores de produtos básicos, eles recebem um iPad com armazenamento pequeno, mas ao menos ganharam um desconto.

ps: eu não tenho um iPad… mas se alguém quiser me presentear, aceito até o modelo básico.

Baseado no texto “So am I a chump for buying an iPad with a lot of storage?” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Logística

A importância da embalagem no Natal

O Natal não deve ser encarado como mais uma promoção, mas como a maior de todas as promoções do ano. É a data mais importante do calendário promocional brasileiro – momento esperado com grande expectativa, mais ou menos como o agricultor espera o momento da colheita.

A data traz consigo um forte apelo de consumo, sendo o momento em que as pessoas mais dão e recebem presentes. É quando o tráfego nas lojas se multiplica. Significa a grande oportunidade de vender mais. Portanto, todo cuidado é pouco para que as vendas sejam um sucesso.

embalagens de natalPorém, há um dilema: o consumidor está cada vez mais crítico e mais seletivo. Não se consegue destaque fazendo tudo sempre da mesma maneira. Para modificar os resultados é preciso oferecer “algo a mais”, o que pode ser feito através de embalagens diferenciadas.

Segundo estudos da Point of Purchase Advertising Institute (POPAI Brasil), 85% dos consumidores brasileiros decidem o que vão comprar no ponto de venda. A embalagem é um vendedor silencioso com quem a empresa pode contar. Fazer negócios é a atividade de criar valor para os clientes. Não basta um produto ser bom, ele também tem que parecer bom.

Para vender mais e melhor neste Natal do que nos anos anteriores, não é suficiente a empresa fazer uma decoração deslumbrante, ter um mix de produtos de qualidade, preços competitivos e condições de pagamento facilitadas. É preciso dar também atenção especial à forma com que os presentes são embalados, transformando seu ponto de venda numa fábrica de sonhos.

O Natal é um momento de resgate da infância e o reencontro com os sonhos, desejos, fantasias e esperanças. Tanto que as crianças anseiam muito pela chegada do Papai Noel. O bom varejo é aquele que consegue entrar nesse imaginário das pessoas e transformar isso tudo em um evento mágico.

Em um período que todas as lojas apresentam a mesma temática, a criatividade assume um papel relevante. É muito importante ser criativo para se destacar, pois o ser humano percebe as coisas pela ótica da diferenciação. Diferenciação é a capacidade que uma empresa tem de ser percebida como diferente dos demais concorrentes.

Para constituir um diferencial, as embalagens devem satisfazer três critérios:

1. Destaque – serem únicas.

2. Superioridade – serem superiores às utilizadas pelos concorrentes.

3. Exclusividade – não serem facilmente encontradas no mercado.

Quanto mais semelhantes forem os bens em termos de preço e de qualidade, maior é a importância da embalagem, uma vez que ela empresta ao produto a sua personalidade e representa um importante fator de diferenciação e de escolha.

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Logística, marketing e consumo consciente

O marketing existe desde que o homem fez a sua primeira transação comercial. A capacidade de agregar valor aos produtos, que é chamada pelos mais velhos de “tino para negócios”, é a prova de que marketing e comércio nasceram juntos. Porém, é inegável que o poder do marketing só se mostra definitivamente para o mundo a partir da Revolução Industrial. O excedente gerado pela produção em massa precisava ser escoado, o que foi possível a partir do uso das ferramentas de marketing.

Falar em escoar a produção automaticamente aproxima marketing de logística. Com mais produtos disponíveis, se tornava obrigatório incrementar os processos de distribuição. Estudar e sistematizar a melhor forma de fazer o produto chegar ao consumidor era a “bola da vez”.

logística marketing consumo conscienceNo entanto, esse desespero por produzir mais, em larga escala, teve um preço. E ele foi muito alto. Já consumimos 25% a mais dos recursos naturais que o planeta tem condições de nos ofertar. E em menos de 50 anos serão necessários dois planetas Terra para atender às nossas necessidades de água, energia e alimentos. E assim surge um dilema – produzir mais, ou esgotar as chances de sobrevivência?

O tempo passou. Viramos a página da disputa por qualidade. E hoje, não escolhemos comprar produtos e serviços pela sua qualidade (ou falta dela!). Compramos marcas, de acordo com a percepção construída ao longo do tempo. Podemos nunca ter usado um produto de uma determinada marca, e isso não impede que tenhamos uma opinião sobre aquele fabricante e sua linha de produtos. E é por isso que hoje tantas empresas se aventuram no campo da responsabilidade ambiental.

Estudos comprovam que o consumidor contemporâneo já aponta preferências por produtos ecologicamente e socialmente corretos. O dilema entre consumir muito e consumir de forma consciente tende a diminuir nas próximas décadas, o que abre novas perspectivas para o marketing. Se antes o bom era produzir e vender muito, agora a tendência é produzir cada vez melhor para se garantir uma relação cada vez mais duradoura entre produto e consumidor. Será que é um mero acaso que algumas empresas já estejam trabalhando a life warranty? Victorinox (a dos famosos canivetes suíços), Kingstom (quem não conhece os pendrives dessa marca?) e Nordweg (importante fabricante de pastas e bolsas) são exemplos de indústrias que já trabalham com garantia permanente. É um novo olhar sobre o relacionamento com o cliente.

Produzir de forma sustentável, produtos que proporcionem uma relação cada vez mais duradoura com o consumidor virou meta de qualquer empresa. Isso garante sustentabilidade, produtos de alta qualidade e satisfação do consumidor. Interessante reforçar que produzir de forma sustentável envolve também a logística! A partir da ideia da cadeia de suprimentos sustentável, podemos pensar em um processo logístico correto do ponto de vista ambiental, justo na ótica social e que seja rentável economicamente. Esse “tripé” garante uma cadeia de suprimentos sustentável e um perfeito alinhamento com a produção gerida de forma responsável.

Certamente os processos logísticos passam a assumir outras atribuições importantes, extrapolando os limites da tradicional logística direta. A primeira novidade no processo logístico está diretamente ligada a life warranty. Nesse caso, serviços como assistência técnica, atendimento ao cliente, reposição, troca precisam ser ágeis e alinhados com o atributo da qualidade que carregam esses produtos. Assim, a percepção do consumidor, construída a partir de uma relação tão duradoura, não correria riscos de ser comprometida por possíveis falhas nesses serviços. Dessa forma, os serviços estariam agregando mais valor a esses tangíveis. Com relacionamentos mais duradouros, a logística precisa se adaptar e esse novo modelo de consumo de longo prazo, com respostas rápidas, certeiras, dentro dos prazos.

Outra atribuição fundamental da área de logística em tempos de relacionamentos duradouros está diretamente ligada ao gerenciamento do fluxo de materiais. De forma primária é muito comum pensar a logística como a gestão de fluxos de materiais desde o ponto de compra da matéria prima até o seu ponto de venda do produto acabado. Porém, nos esquecemos que existe também um fluxo reverso, que deve estar atento para o gerenciamento do caminho e dos destinos de produtos e embalagens depois que saem do local onde são consumidos, retornando para o seu ponto de origem. É a chamada logística reversa.

Assim, se forma um ciclo onde ganham o meio ambiente, o comércio e o consumidor. E o marketing poderá explorar, no sentido mais positivo da palavra, a força de marcas e produtos. De uma vez por todas, o grande público passará a entender que marketing não é pirotecnia nem ferramenta para convencer os consumidores a comprarem algo que não desejem. E as pessoas irão internalizar que ferramentas de marketing são utilizadas para construir e manter relacionamentos.

Por Heitor Ferrari Marback:  administrador, mestre em administração estratégica e especialista em marketing. Tem experiência com consultoria e gestão de marketing. Na área pública atuou com planejamento e comunicação governamental. Professor Assistente da Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC.

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Logística

A logística que causa fome

Falávamos sobre logística no desenvolvimento mundial quando surgiu uma discussão muito interessante sobre a importância da logística no desenvolvimento econômico de países “desfavorecidos”. Veio então, a pergunta: A Logística Organizacional Integrada contribui com a fome em alguns países?

Com cerca de um bilhão de pessoas passando fome no mundo (e isso não se restringe apenas à África e à Ásia) e, segundo a FAO (Agência para Alimentação e Agricultura) ligada à ONU (Organização das Nações Unidas) dezesseis mil crianças com menos de cinco anos de idade morrem todos os dias por consequências da fome no mundo, é algo que merece atenção.

fome logisticaDe início, achei um absurdo pensar nesse questionamento. A logística em que atuo é algo muito bom. Ela é a solução e não o problema. É inconcebível pensar na logística como algo que venha a prejudicar pessoas e promover a fome. Não havia pensado que para se consolidar a logística precisa ainda ultrapassar tantas barreiras, inclusive a maior: Saber que, a logística, algo tão bom, é conduzida de forma tão desigual por economias unilateralistas e tolhida por políticas públicas que privam países inteiros do benefício da qualidade de vida.

É sabido que paradoxos surgem sempre que tentamos unir desenvolvimento econômico com qualidade de vida. Afinal, em muitos casos, o comércio deixou de ser lucro em mão dupla e a exploração de mão-de-obra e de matérias-primas passou a ser um ponto crítico e ameaçador para o equilíbrio social do Planeta.

Quando escrevi “Consumo Inteligente: Saber Consumir é uma Arte”, onde se fala da dicotomia da tecnologia em expansionista e inteligente, estava lá parte da minha resposta para essa pergunta incômoda. Exatamente num crescimento desordenado em que a logística é usada (mal usada) para promover tal crescimento baseado no consumismo.

Mas a logística que me encanta não é para isso. Infelizmente, como tudo que é bom, também pode ser usada de forma incorreta por aqueles que a distorcem e buscam interesses próprios. O problema é que falamos de países; muitos países… grandes países.

Quando a logística foi extraída do contexto das guerras, trouxe, para alguns, um pouco da razão de “ferir” em sua nova condição. Embora abdicando de armas, desenvolveu novas ferramentas. Mas, vale dizer que, isso ocorre nas cabeças distorcidas daqueles que acolhem a logística para condicioná-la a uma atividade que lhes gerem lucros indiscriminados. Assim como a matemática e a física que foram usadas para desenvolver bombas atômicas, a logística não estaria livre disso.

Entretanto, é necessário entender como se dá essa “contribuição” da logística para a ascensão de países ricos e para a fome em países pobres:

A competitividade é cada vez mais presente no mercado globalizado. As empresas lutam para conquistar e fidelizar seus clientes que, cada vez mais exigentes, impulsionam o mercado para uma prática de inovação – Até aqui, nada mais natural e bom. Com isso, diminui-se o ciclo de vida dos produtos e obrigam-se as empresas a buscarem novas técnicas de gestão logística. Em muitos casos (e aqui começa a parte ruim), os produtos se tornaram commodities (produtos primários) e os países com monoculturas não desenvolveram tecnologias de produção e logística para incrementar suas economias. Os países mais desenvolvidos passaram a utilizar-se desses produtos em suas indústrias. Acontece que as commodities têm seus preços fixados pelo mercado importador. Isso significa falta de recursos para o desenvolvimento tecnológico dos países produtores para que possa lhes colocar em uma situação melhor perante seus “concorrentes” e, ajudados por uma política pública ineficaz, se desenvolve uma condição de dependência que beira à exploração, levando países inteiros à falência e expondo seus habitantes às condições desumanas. Instala-se a fome. Claro que estamos falando de fatores econômicos e não podemos esquecer que as causas da fome são várias e antigas, como conflitos armados, desigualdades sociais, entre outros.

O Brasil, durante décadas, exportou só o café, mas vem conseguindo diversificar seu comércio. O País está muito à frente de vários países africanos, asiáticos e também sul-americanos, mas também sofre com esse problema, principalmente com combustíveis. Mesmo auto-suficiente em petróleo cru, não tem um parque industrial suficiente para nossa demanda de combustíveis, principalmente de gasolina, o que nos leva a amargar um preço fixado por um desenvolvimento logístico melhor que o nosso, alimentado por motivos claros e outros obtusos.

Seguindo essa linha, poderíamos concluir que a logística contribui para situações desiguais na economia mundial devido suas possibilidades de reduzir os custos de produção e de distribuição. Mas observa-se um contra-senso: A logística só o faz devido às inúmeras possibilidades inovadoras no desenvolvimento que propõe com um extenso pacote de soluções e mudanças. Se mudanças boas ou más, nós decidimos. Não existe logística boa ou má. Ela não se divide. Por isso a defendo, pois isso me encanta. Me encanta, porém não me ilude. Sei que ainda há muito que mudar. Principalmente, a intenção do homem.

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Consumo inteligente: saber consumir é uma arte

Quando falamos em consumo, logo citamos os Estados Unidos. Sua população representa 5% do planeta, mas seu consumo é de mais de 30% de todos os bens de consumo produzidos no mundo. Fala-se que os americanos reciclam apenas 5% do seu descarte, mas estima-se que esse número é bem menor, pois a obsolescência desses produtos é de apenas seis meses. Ou seja, do consumo norte-americano, pouco mais de 1% ainda estará em uso após seis meses. Isso é impactante pois falamos de QUASE todas as linhas de consumo.

consumo inteligente - saber consumir é uma arteDurante décadas, fomos orientados a consumir. Afinal, a máquina produtiva se desenvolve com isso. No entanto, também faz parte da estratégia que possamos comprar e descartar cada vez mais rápido e, com isso, nos preocupar cada vez menos com a origem desses produtos e com o seu destino final. A qualidade nunca será parceira da quantidade dentro desses processos. Chega um momento em que se deve optar por um caminho. Você percebe qual o caminho que a maioria está optando?

Nesses dois caminhos há o domínio da tecnologia. Mas podemos ver a dicotomia dessa tecnologia em expansionista e inteligente na medida em que o mercado produz para criar o consumo e não CRIA para produzir com qualidade. Nesse fator de tecnologia inteligente, os processos são mais valorizados porque são mais desafiadores, tornando-se assim, mais completos e sustentáveis. A questão é que para essa proposta de mercado atual, esses processos são caros e atingem um público ainda muito pequeno que busca um consumo inteligente. Aí está a razão para o baixíssimo alcance da boa logística reversa tão importante para o nosso Planeta, que agoniza esperando soluções que possam, no mínimo, diminuir essa exploração.

A desarmonia nessa relação de consumo é o que chama atenção. Afinal, somos pessoas voltadas à qualidade. Ou você não dá mais valor àquela “comidinha” caseira ou àquele suco natural do que os industrializados? Nunca percebeu que um alfaiate lhe veste bem melhor que uma linha de produção? E a casa que você construiu do seu jeito é mais aconchegante do que essas vendidas sem se importar com sua altura ou com quantos filhos têm ou pretende ter? É claro que nosso objetivo final é a qualidade de vida. No entanto, o que realmente importa é que o suco industrializado dá menos trabalho, o alfaiate é mais caro e a casa requer mais tempo.

Tempo é o que mais ganhamos com tudo isso. Então qual a razão de reclamarmos que nos falta tempo para a família, amigos e até para nós mesmos conforme pesquisas divulgadas em vários países? Como se explica que quanto mais bens de consumo se adquirem mais nossa felicidade decai? Quanto mais oportunidades são geradas mais aumenta a violência e a desigualdade? Há algo errado nisso tudo. A resposta virá quando entendermos que somos parte desse projeto sustentável e que nossas ações sinérgicas podem redirecionar muito do que está descontrolado agora.

Uma matéria recente nos falou que as cascas das frutas e legumes possuem até três vezes mais vitaminas, proteínas e fibras. Nossa aceitação por cascas não é lá essas coisas… Mesmo pagando pelos alimentos para obter energia, desperdiçamos a maior fonte porque crescemos com métodos errados de fruição da natureza. Assim como nosso consumo da água do Planeta também não é bem entendido. Não é mais aceitável essa tônica de cultura num mundo com menos recursos e muito mais pessoas que outrora.

Outro dano causado pela falta de informação na hora da compra é o pagamento por tecnologia obsoleta. É fácil ver em determinadas lojas de eletrodomésticos, pessoas pagando por um modelo já ultrapassado pelo preço de produtos em lançamento. Isso prejudica diretamente o avanço da qualidade, da economia de energia e de novas tecnologias desenvolvidas que visam também, pesquisas com novas matérias-primas menos nocivas ao Planeta. Sem contar que o consumidor paga mais por isso e que logo atualizará esse produto com uma nova compra.

A nossa forma de consumir deve ser vista como uma arte. A proposta não é se privar de tecnologias ou de confortos, mas saber quanto custa para mim e para o Planeta, se essa compra está dentro do meu planejamento financeiro, se conheço o meu objeto de compra, o destino do “obsoleto” e, o mais difícil, se conheço o fornecedor e seus processos de fabricação e descarte.

Nossa responsabilidade no consumo vai além da política de necessidades pessoais e de uma economia global. Ela chega ao desenvolvimento humano nas chamadas exteriorizações de custos. Isso significa que o preço que você paga num móvel, numa peça de roupa, num aparelho eletrônico ou até mesmo num alimento, não é o custo efetivo. Esse valor só lhe foi possível devido a uma possível exploração de recursos não renováveis e/ou de pessoas submetidas ao trabalho sem direitos à dignidade.

Se ainda não nos acostumamos com aquela “perguntinha” básica: “Tem nota fiscal”? Estamos precisando caminhar um pouco mais rápido para essa conscientização. Não importa agora se você acha que os governos investem bem ou não esses impostos, importa sim que esse é um dos passos primários na busca da sua segurança como consumidor, na organização dos mercados e na prática de direito de justiça com empregabilidade e combate ao ilícito.

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As classes sociais e a desigualdade no Brasil

Leia também sobre as implicações econômicas do crescimento da economia do Brasil em:

Brasil: 6ª potência econômica no ranking do PIB mundial

Ainda existem muitas dúvidas sobre a classificação das classes sociais no Brasil, e nesta matéria iremos não apenas explicar como é feita esta separação mas também oferecer ao leitor a possibilidade de calcular a sua classe social e comparar com o resto dos leitores, ao responder nossa enquete ao final do texto.

Por Leandro Callegari Coelho e Ludmar Rodrigues Coelho *

Há algum tempo não podemos mais falar em pirâmide de classes sociais no Brasil. Se antigamente as classes D e E continham a maioria da população, formando uma grande base, hoje encontramos um losango de classes sociais, com o inchaço da classe C nos últimos anos, vinda de uma migração das classes menos favorecidas.

Os dados abaixo refletem pesquisa realizada com 1500 pessoas em 70 cidades (incluindo nove regiões metropolitanas), na última semana de 2010. A pesquisa está disponível para download ao final do texto.

Apenas no ano de 2010, 19 milhões de pessoas deixaram as classes DE e 12 milhões subiram as classes AB. Há 5 anos, as classes A, B e C somadas representavam apenas 49% da população, enquanto em 2010 elas somavam 74%. Sobram apenas 26% para formar a velha base da pirâmide, que começa a tomar forma mais igualitária. Repare na tabela e no gráfico abaixo como as classes DE vêm perdendo massa, e como a classe C vem aumentando.

Distribuição da população por classe social

[table id=37 /]

gráfico da evolução das classes sociais no brasil

Repare também como mudou a distribuição da “pirâmide” de 2006 para 2010, se insistirmos em colocarmos as classes DE na base.

pirâmide das classes sociais no brasil em 2005 e 2010

 

Mas se fizermos o gráfico baseado no tamanho, repare como a diferença é mais marcante:

nova pirâmide das classes sociais no brasil 2005 e 2010

A chamada classe C ou a Classe Média Brasileira teve o acréscimo de 19 milhões de pessoas no ano de 2010, passando, assim, a ter 101 milhões de brasileiros e representando 53% da população do País.

Desigualdade social

De acordo com dados de 2005 da CIA, o Coeficiente de Gini do Brasil é de 56,7. Este coeficiente mede a desigualdade na distribuição de renda, sendo que se ele for igual a 100 indica distribuição totalmente desigual e igual a 0 indica total igualdade na distribuição da renda. Como comparação, países como Suécia, Dinamarca, Finlândia e muitos outros europeus tem este coeficiente abaixo de 30. No mesmo patamar do Brasil estão Guatemala, Colômbia, Honduras, Zimbábue e Haiti.

Outra indicação da distribuição de renda, além do Coeficiente de Gini, é a relação entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres da população. Neste caso, enquanto as melhores relações são menores que 10 (chegando a níveis tão bons quanto 4), no Brasil a relação é de 49,8 (ainda de acordo com dados da CIA). Esta relação é comparável à de países como Guatemala, Venezuela e El Salvador.

Como são calculadas as classes sociais?

A classificação de classes sociais utilizada no Brasil segue o estabelecido no Critério de Classificação Econômica Brasil, ou Critério Brasil. O Critério Brasil define as classes sociais em função do poder de compra e consumo de determinados itens. Se uma família tem acesso a cada um dos itens, ela ganha pontos, que são somados e comparados com uma tabela. A classe social desta família é determinada pelo número de pontos que ela conseguir somar, e existem 7 classes econômicas diferentes (A1, A2, B1, B2, C, D, E).

Em qual classe social estou?

Some os pontos que sua família atinge utilizando as tabelas a seguir:

[table id=38 /]

Tendo seus pontos somados, compare com as faixas de corte abaixo para determinar qual a classe social de sua família:

[table id=39 /]

A tabela acima é a que determina em qual classe social cada família está, e não as rendas médias apresentadas em algumas pesquisas. A renda pode representar uma família de 2 pessoas ou de 10 pessoas, por isso há muita divergência. O importante é conhecer se aquela família tem acesso aos bens e serviços descritos acima.

Agora que você já sabe a sua classe social, responda a enquete abaixo e veja como você se situa dentre os leitores do site:

[poll id=”19″]


Fontes: Pesquisa O Observador Brasil 2011, CIA 1 e 2.

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A ascensão da Classe C – classes sociais no Brasil

 

Existe uma atualização desta matéria em As classes sociais e a desigualdade no Brasil

distribuição de renda brasileira - classes sociaisHá algum tempo publiquei aqui no Logística Descomplicada a matéria O Brasil, suas classes sociais e a implicação na economia, e citei que com base em dados de 2008, a classificação de renda para a determinação das classes sociais, segungo a ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), estava assim dividida levando em consideração a Renda Total Familiar (por mês), considerando uma família de 4 pessoas:

– A1 com renda familiar acima de R$ 38.933,88

– A2 com renda até R$ 38.933,88

– B1 com renda de até R$ 26.254,92

– B2 com renda familiar até 13.917,44

– C1 com renda familiar até R$ 8.050,68

– C2 com renda de até 4.778,12

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O Brasil, suas classes sociais e a implicação na economia

 

Existe uma nova versão deste artigo em As classes sociais e a desigualdade no Brasil

O Brasil, segundo dados do IBGE, possuía no ano de 2009 uma população de 193.722.793 habitantes, sendo composta por 95,4 milhões de homens e 98,3 milhões de mulheres. Desse total, 86,12% vivem na área urbana e por consequencia são potenciais consumidores de tudo o que é produzido e do que o mercado oferece.

Com a aceleração da economia e a estabilidade econômica, o brasileiro passou a cuidar-se mais fisicamente, a alimentar-se melhor, e com isso a esperança de vida passou de 69,6 anos para 72,8 anos no período de 1998 a 2008. Mesmo com a melhora, a expectativa de vida brasileira ainda é considerada baixa levando-se em conta comparações com nações desenvolvidas, como Japão, Suíça, França e Itália, onde a média supera os 81 anos.

Com o aumento da expectativa de vida, alguma melhora nas condições financeiras e o desenvolvimento da indústria interna, o consumo do brasileiro não pára de crescer. Parte deste consumo vem da chamada classe média, a atual classe C.

Mas porque Classe Média ou C, Rica ou A?

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Para especialista, nova classe C ignora sustentabilidade

Confira abaixo entrevista do professor e sócio da consultoria de comportamento do consumidor InSearch Fábio Mariano, concedida para a Folha. Por Ricardo Mioto.

Mais da metade dos brasileiros já fazem parte da classe C, que engloba famílias com rendas mensais entre R$ 1.000 e R$ 4.500, aproximadamente.

Em seis anos, 20 milhões subiram para esta faixa –e o fluxo continua. É gente descobrindo como é bom consumir, mas que não se preocupa muito com o planeta, diz Fábio Mariano.

FOLHA – A classe C pensa em consumo responsável ou só quer preço?
FÁBIO MARIANO – Ninguém se importa só com o preço. A classe C, por exemplo, vai ver quanto os eletrodomésticos consomem de energia. Mas porque ela está preocupada com a carteira, não com o mundo.

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A história das coisas

Este vídeo merece ser visto com muita atenção. Apresenta diversos exemplos de fluxos logísticos: fluxos de materiais, fluxos financeiros, de informação… apresenta de maneira muito simples o que temos feito com o meio ambiente e com a sociedade de forma geral.

Mas o vídeo também possui um viés muito forte, e é preciso prestar atenção para não se deixar levar por argumentos fracos e frágeis, sem embasamento.

Sou muito cético quanto à algumas conclusões do filme, mas gosto muito de diversas explicações, e espero que vocês, amantes da logística, também possam aproveitar algumas partes.

Chama-se “A história das coisas”, e mostra como da extração e produção até a venda, consumo e descarte, todos os produtos em nossa vida afetam comunidades em diversos países, a maior parte delas longe de nossos olhos.

Lembrando que o filme é longo (20 min) e que por isso ele está divido em 3 partes. Confira abaixo:

Para ver as outras 2 partes do vídeo, clique abaixo e veja a matéria completa. Lembre-se de deixar sua opinião para os demais leitores do site.