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Entendendo os custos logísticos (parte 2)

Muito bom tê-lo de volta após conferir a primeira parte deste artigo que chama atenção para a importância dos custos logísticos.

Os fatores que afetam os custos logísticos se dispersam por diferentes áreas. Muitas vezes, escondidos por trás das faltas de conhecimento e de ação de uma gestão, não se sabe como eles começam nem aonde vão com seus impactos. Por isso, é importante identificá-los, de acordo com sua tipologia, para que as ações sejam assertivas. Assim, outros tipos de custos também são aplicáveis à Logística:

– Controláveis e Não Controláveis – estes são identificados de acordo com a influência ou não de um gestor de uma área: os Controláveis são aqueles sobre os quais ele exerce ação de decisão sobre determinada atividade; já para os Não Controláveis que, mesmo aplicados em seu centro de custos, são definidos por outras esferas de responsabilidades;

– Relevantes – são aqueles que influenciam numa tomada de decisão e que, a dado prazo, impactarão nas finanças da empresa. Por exemplo, a escolha do modal de transporte;

– Custos de Oportunidade – são gerados em meio à ineficiência de um investimento quando este não se paga com a atividade a que se propôs gerando a renúncia de outro benefício. Por exemplo: uma empresa financiou uma carreta para fazer transporte FTL (Full Truck Load – carga completa), mas acabou ficando mais tempo parada porque o transporte LTL (Less than Truck Load – carga fracionada) tem mais força na empresa. O valor adicionado pelo equipamento é menor que os JUROS pagos no financiamento;

– Ocultos – são aqueles que não são previstos pelo gestor, pois ocorrem em condições anormais afetando os resultados econômicos da empresa. Dentre muitas situações, pode-se destacar a manutenção repentina de um caminhão que vai gerar um custo imprevisível no conserto e perdas na operação por sua indisponibilidade;

– Irrecuperáveis – são aqueles empregados na construção de ativos (depreciados) e que agora fazem parte do passado não influenciando tanto nas tomadas de decisão.

– Custo Kaisen – está relacionado à melhoria contínua dos processos visando alcançar reduções no custo total.

Na Logística, quando uma atividade é finalizada outra se inicia. Assim acontece com o fluxo da cadeia de suprimentos (supply chain) e com a compreensão acerca das responsabilidades de cada área. Com os custos que rondam todas as atividades, a redução desejada está mais voltada à totalidade, pois às vezes, uma área pode ter que perder para que outra ganhe e assim beneficiar um todo. Por isso é determinante para um controle eficaz dos custos logísticos o domínio de cada parte que venha a compor esse total.

Trade-off logístico

É muito comum uma área “aumentar” – de forma planejada – seus custos em favor de outra no que chamamos de trade-off (expressão em inglês que significa a ação de trocar, escolher alguma coisa causando efeitos em outra; como a expressão ‘perde-e-ganha’). Originada no sistema financeiro, é também aplicável na Logística, em diversos segmentos no mercado e até em nosso controle financeiro pessoal.

A Logística está sempre tendo que escolher onde aplicar suas mudanças para que a empresa reduza custos atendendo melhor seus clientes. Por isso, se for necessário aumentar estoques para atender no prazo, alugar ou construir outro armazém para melhorar o fluxo, aumentar ou diversificar a frota para alcançar mais clientes, mesmo sabendo que, inevitavelmente, tais aumentos nos custos incidirão sobre seus produtos, estar-se-á praticando “trade-off”.

Custo Total das atividades logísticas

O Custo Total das atividades logísticas compreende Custo de Inventário, Custo do Lote, Custos de Processamento de Pedidos e Informação, Custo de Armazenagem e Custo de Transporte.

O gerenciamento eficaz dos custos deve atender às exigências do nível de serviço ideal para a empresa e para o consumidor, de forma que o resultado final sempre convirja para um serviço executado ao menor preço sem que a qualidade seja prejudicada. Confira este e outros assuntos nos próximos posts. Até lá!

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Gestão Logística Transportes

A Logística Verde e o Custo Logístico

A Logística Verde, conceito definido em tópico passado desse blog, está relacionada a iniciativas e preocupações com os aspectos da atividade logística e seu entorno (sociedade, meio ambiente, economia, etc.). E a primeira e grande preocupação dos administradores e tomadores de decisão são os custos associados a essas iniciativas. É na avaliação do trade-off entre o verde e o financeiro que está o ponto crucial dessa forma de se fazer logística.

Inegavelmente, um dos propósitos primais da logística é reduzir custos (especialmente de transporte). Entretanto, as estratégias de redução de custos são usualmente antagônicas à consideração da variável ambiental na gestão empresarial. Um exemplo bem simples seria a programação de entrega de produtos usando uma frota de veículo antiga ou uma frota de veículos renovada. Certamente a aquisição da frota antiga é mais barata do que a aquisição da frota renovada.

O que acontece é que os custos relacionados a possíveis economias logísticas não “somem”, não evaporam no ar, mas são externalizados no sistema. Isso quer dizer que quem assume essa diferença de custo é o meio ambiente, com consequências como maior emissão de CO2, maiores riscos de vazamentos e acidentes, destinação irresponsável dos insumos, maior geração de resíduos, entre outros. Como o meio ambiente é uma fonte não renovável de geração de recursos, esses custos causam prejuízos irreparáveis à nossa geração e às gerações futuras.

A adoção de politicas de logística sem a consideração ambiental – consequentemente mais baratas, causa uma primeira percepção do usuário, do consumidor e do gestor de benefícios na redução dos custos financeiros diretos.

Entretanto, o fenômeno hoje é que a sociedade está cada vez menos propensa a aceitar e absorver esse custo irreparável, e a pressão tem invariavelmente crescido para inclusão de considerações ambientais nas operações logísticas. Por tal motivo, a preocupação com a preservação do meio ambiente está diretamente relacionada à sobrevivência das corporações.

Outro ponto que é mais difícil de ser mensurado diretamente é relação entre o investimento em políticas ambientais e os retornos financeiros da empresa. Segundo avaliação do DSJI (Dow Jones Sustainability Group Index), o índice de benchmark mais reconhecido mundialmente na questão de sustentabilidade e responsabilidade ambiental, baseado na análise dos desempenhos econômicos, ambientais e sociais (com pesos iguais para as três variáveis) de mais de 3000 companhias globais, as empresas que adotam procedimentos operacionais com vistas a reduzir os impactos ambientais de suas atividades estão obtendo em geral um maior retorno financeiro. Para comprovar essa relação, foi realizado um estudo por pesquisadores da Universidade de Granada na Espanha, disponibilizado gratuitamente aqui (disponível em inglês) utilizando a base de dados do DSJI. Segundo os pesquisadores, em uma avaliação de curto prazo, a correlação entre o desempenho econômico e o investimento em alternativas ambientais é negativa. Ou seja, o desempenho econômico é prejudicado com a implantação de políticas ambientais nos primeiros anos.

Assim, para que a adoção de políticas ambientais torne-se vantajosa é necessário que haja uma readequação da mentalidade de investimento das companhias, tornando-as capazes de absorver e avaliar objetivos de longo prazo.

Quem pode desempenhar um papel importante nesse aumento de capacidade de percepção dos benefícios das políticas ambientais é o governo, com a adoção de medidas legais e financeiras que beneficiem as práticas ambientais.

Por Thiago Barros Brito: doutorando em Engenharia Logística na USP, e mestre em Engenharia de Produção, ambos com foco em Logística Global , Cadeia de Suprimento. Atualmente é pesquisador da USP, onde pesquisa métodos de simulação e otimização. Baseado em Sao Paulo, também é sócio da Genoa Consultoria Logística.