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Comércio Exterior - COMEX Logística Transportes

O desafio brasileiro

Não são poucas as empresas do Interior do Estado de São Paulo que estão demitindo funcionários ou suspendendo temporariamente o contrato de trabalho (lay off). Isso é resultado da falta de competitividade da economia nacional, em função do chamado custo Brasil, que resume fatores como alta carga tributária, excessivos encargos trabalhistas, alto custo de energia, excesso de burocracia, juros elevados, baixo nível de investimentos, sobrevalorização cambial do real, uma política de comércio exterior desastrosa e falta de investimentos em infraestrutura nos últimos dez anos.

desafios brasil transportesSegundo dados do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), essa conjuntura tem tornado os produtos manufaturados 34,2% mais caros que os similares importados. Como o agronegócio obtém resultados cada vez melhores, mesmo tendo de escoar seus produtos por uma rede de infraestrutura sucateada e cara, exportando-os em grande quantidade principalmente para a China, o governo não pode se furtar a abrir o mercado para os manufaturados asiáticos, que são imbatíveis em preço. O resultado é uma atividade econômica à beira da paralisia e uma inflação que já está a 7% ao ano.

O que fazer? De pronto, o Brasil deveria deixar de ser refém do Mercosul e partir para acordos comerciais com países e blocos do Pacífico, União Europeia e Estados Unidos. E encontrar rapidamente um mercado que substitua a Argentina, hoje em colapso depois do calote anunciado pelo governo de Cristina Kirchner.

Ao mesmo tempo, é preciso acelerar a privatização de portos e aeroportos, atraindo pesados investimentos também para obras que modernizem a infraestrutura rodoviária, ferroviária e hidroviária, incluindo os acessos terrestres aos terminais. Sem esquecer de estimular a ampliação da capacidade de armazenagem de grãos, já que, à falta de armazéns no interior do País, os produtores despacham a safra a um só tempo, fazendo dos caminhões silos à beira das rodovias.

Sem infraestrutura adequada, o Brasil nunca conseguirá preços para que seus produtos possam atrair compradores no exterior. Mas, enquanto o País apresenta flagrantes deficiências estruturais, o que se vê é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiando 80% dos US$ 500 milhões que serão investidos no porto de Rocha, no Uruguai, e aplicando US$ 682 milhões na construção de um terminal no porto de Mariel, em Cuba.

No caso do porto uruguaio, é praticamente certo que esse novo complexo irá concorrer com os portos da região Sul, funcionando como hub port (porto concentrador de cargas), já que está sendo construído em área de águas profundas, com calado natural de 20 metros. E o pior é que vai atrair também minério, grãos e outras commodities dos países vizinhos, pois, fatalmente, oferecerá custos menores.

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Logística Transportes

O maior desafio logístico de todos os tempos (parte 2/2)

Ao buscarmos soluções sempre esbarramos em pontos como: inércia, cultura, conscientização, interesses, falta de compromisso e má gestão. E, enquanto nos preocupamos com o que gera o quê, nos tornamos mais ávidos por recursos que nos façam prosperar ou que nos proporcione comodidade, esquecendo que podemos escolher representar um problema ou uma solução.

desperdicio de graosApontada como “a solução” vem a Logística Reversa (LR). E seria parte muito importante se houvesse planejamento e estrutura para que se desenvolvesse. Mas, ainda estamos muito atrasados para entender a LR. Se não aprendermos logo como USAR as chances de REUTILIZAR vão se perder nas ações de uma minoria idealista, correta e bonita para satisfazer a consciência daqueles que dizem que, pelo menos, alguém está fazendo algo. E, sabe aqueles pontos que acabei de citar? Pois é, podemos agora dizer que a LR está inerte por causa da cultura e falta de conscientização dos indivíduos e, para as organizações, não há interesse em investir nem em estabelecer um compromisso já que o poder público se preocupa com impostos e não com impactos – só se esses forem resumidamente financeiros.

Hoje, uma folha de papel reciclado custa 15% a mais do que o convencional. Não seria assim com esse e outros exemplos se a questão da reciclagem não fosse uma grande hipocrisia: quando se diz que o lixo é o artigo mais caro do mundo vamos de encontro com as dificuldades das empresas e cooperativas de catadores que sobrevivem sem apoio e com míseros trocados; quando separamos nosso lixo em casa, a coleta que não é seletiva e é maioria, mistura tudo novamente. É mais fácil uma empresa que trata seus resíduos ser multada, pois precisa cumprir diversos itens para as licenças caras e demoradas, do que uma que lança seus resíduos indiscriminadamente.

Ainda desperdiçamos um terço (mais de 1,3 bilhão de toneladas) de todo o alimento produzido no mundo, seja por questões culturais ou problemas com infraestrutura de transportes e de armazenagem. Esse valor representa cerca de US$ 750 bilhões por ano, fora outros efeitos como a emissão de 3,3 bilhões de toneladas de gases na atmosfera, o uso da água para a produção desses alimentos, que equivale ao fluxo anual do maior rio da Europa, o Volga na parte européia da Rússia, e a contaminação do solo e lençóis freáticos. No Brasil, produzimos mais de 25% a mais do que precisaríamos para nos alimentar. Mas, do que fica no mercado interno, só consumimos 36%, pois 20% do alimento pronto é desperdiçado, mais 20% na colheita, 15% no processo industrial, 8% no transporte e 1% no varejo.

Nessa conta desumana conseguimos entender as dificuldades logísticas para a busca de soluções: uma logística enxuta (lean) que funciona numa empresa, mas não em nossas casas (comportamento); um avanço tecnológico muito à frente da nossa infraestrutura (meios e condições). Estamos buscando acertar dentro de um ambiente de erros. Temos o melhor carro sem estradas, o trem mais rápido sem os trilhos e um navio sem mar.

A Logística precisa ser vista como aquela que oferece e não como a que necessita. Precisa ser moldada dentro de coerências e se desenvolver de forma planejada. Os “aventureiros” precisam parar de brincar de logística e dar seus lugares àqueles que realmente sabem o que têm e sabem como usar.

É duro admitir que tudo o que esperamos da Logística está trancado por teorias, ás vezes, fantasiosas se tentarmos implantar projetos com essa atual infraestrutura e modelo de gestão pública e privada que neutraliza qualquer boa ideia que não tenha como único objetivo a lucratividade. É duro aceitar que um setor vital, como é a Logística, esteja fadado a sobrevier sempre no sufoco e tendo que “se virar” em meio às crises de combustíveis, energética, de abastecimento de água, de falta de mobilidade e, causadora de tudo, a crise da falta de honestidade – seja ela de caráter financeiro ou de informação.

Sem dúvidas, a conscientização com os investimentos corretamente direcionados serão importantíssimos para uma saída logística, embora não signifique que aquele país que melhor fizer seu dever de casa estará livre de consequências. O que realmente assusta é que todos os estudos apontam para uma necessidade urgente de uma renovação logística, de uma mudança de comportamento, e não estamos vendo isso acontecer. Sem apoio, o setor está altamente dependente de outros segmentos e vê, de longe, suas soluções enterradas em conceitos e estruturas ultrapassadas, deficientes e cuja única função hoje é “enxugar gelo”.

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Gestão Logística

Desafios logísticos na Amazônia

Por Alceu Balbim Júnior e Ivan Henrique Vey

a logística na região amazônicaEste estudo sobre desafios logísticos na Amazônia tem como objetivo apresentar as características dos seus diversos modais de transportes de modo a propor alternativas para o transporte na região, levando em consideração diversos aspectos referentes à região.

A Amazônia Legal Brasileira, criada em 1953 pelo Decreto Federal n.º 1806, teve por base a concepção de integração regional através da combinação de fatores econômicos, políticos e geográficos. Seu território engloba os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e a parte ocidental do Maranhão.

A ocupação da Amazônia passou por várias fases. O grande impulso foi dado pelo governo militar a partir de 1964, com a finalidade de ocupar espaços vazios, transformando a área em válvula de escape para os problemas vivenciados no sul do país, procurando garantir a soberania com o slogan “ocupar e integrar”. Alguns marcos podem ser identificados tais como a criação da Sudam em 1966 e da Suframa em 1967. Em 1970 surge o primeiro grande plano de desenvolvimento para a região, chamado de Plano de Integração Nacional, que promoveu a abertura e construção de estradas, tais como: Transamazônica, Belém-Brasília e a Cuibá-Santarém. Através de um processo de incentivos fiscais procurou atrair investidores para a região, incentivando a agricultura, pecuária, extração de madeira e minerais, agroindústria. Isto gerou a formação de grandes latifúndios em paralelo com assentamentos de pequenos agricultores, ocasionando um aumento expressivo da população.