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Brasil – EUA: a retomada

Os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que, desde 2009, o Brasil importa mais do que exporta para os EUA, o que é um contrassenso, pois, diante do maior mercado importador do mundo, o normal seria que a balança da nação norte-americana fosse deficitária em relação ao parceiro. Eis os números: em 2009, o déficit do Brasil foi de US$ 4,4 bilhões; em 2010, de US$ 7,7 bilhões; em 2011, de US$ 8,1 bilhões; em 2012, de US$ 5,6 bilhões; em 2013, de US$ 11,4 bilhões; e em 2014, de US$ 7,9 bilhões.

br eua relacaoEssa relação desigual, no entanto, está com os dias contados, pois, ao que parece, os EUA deverão voltar a ser o principal destino das exportações brasileiras, senão em 2015, pelo menos em 2016 ou 2017. Ou seja, em breve, os EUA deverão recuperar a liderança perdida para a China em 2009, o que deverá acontecer não só em função do crescimento da economia norte-americana e da desvalorização do real como da queda nas cotações das commodities agrícolas e minerais.

O crescimento da China não apresenta o fôlego de antes e não necessita tanto de matérias-primas. O resultado está na queda de 35% que tiveram os embarques com destino ao país asiático. Esse não é bom sinal, pois o ideal seria que o Brasil aumentasse o volume de vendas para os EUA de produtos semimanufaturados e manufaturados, sem deixar de vender commodities para a China nos níveis dos últimos anos.

É de se notar que aqueles produtos são aqueles de maior valor agregado e que, por isso mesmo, geram mais empregos e reativam o mercado doméstico. Sem contar que estão menos sujeitos às oscilações de preços. Portanto, é de se comemorar essa retomada das vendas de produtos industriais para os EUA que, aliás, em 2014, superaram a Argentina, tornando-se o principal destino de exportações de manufaturados do Brasil, com embarques de US$ 15,1 bilhões.

Hoje, segundo a Funcex, os manufaturados respondem por 54% dos embarques para os EUA, os semimanufaturados por 21% e os básicos por 25%. Mas é de se lembrar que, desde 2006, o petróleo é o maior item na pauta de exportações para os EUA. Em 2014, as vendas do produto chegaram a US$ 3,4 bilhões e representaram 12,6% dos embarques. Mas, em seguida, vieram produtos manufaturados, como os de ferro e aço (US$ 2,2 bilhões), aviões (US$ 1,93 bilhão) e motores e turbinas para aviões (US$ 1,57 bilhão).

Até o começo deste século XXI, o mercado norte-americano respondia por 24% das vendas brasileiras, mas, em 2014, ficou com 12%. Isso significa que há muito que fazer para se recuperar o terreno perdido. Ainda bem que o governo brasileiro, no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, parece que aprendeu com a sabedoria chinesa que negócios são negócios.

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Brasil-EUA: correção de rota

Em 2009, para justificar a adesão à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) da Guiné Equatorial, país africano governado desde 1979 por partido único e por um mesmo dirigente autoritário e onde poucas pessoas falam o Português, uma alta autoridade do governo brasileiro da época saiu-se com esta: “Negócios são negócios”. Essa estratégia política, ao que parece, não foi seguida em relação aos Estados Unidos, o maior mercado do planeta, pois houve nos últimos governos um propósito deliberado de procurar um distanciamento com aquela nação, a pretexto de diminuir uma possível dependência comercial e política.

brasil euaAo que parece, o atual governo já deixou para trás esse tipo de doença infantil e tem procurado se reaproximar de Washington. E, não fosse o episódio de julho de 2013, quando veio à tona o escândalo sobre a espionagem de cidadãos e empresas brasileiras pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), que levou a presidente brasileira a cancelar uma visita àquela nação, as negociações estariam bem mais adiantadas.

Seja como for, o resultado daquela desastrada estratégia pode ser conferido nos últimos dados sobre a corrente de comércio (importações/exportações) entre os dois países divulgados pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), ainda que se deva levar em conta também os efeitos da crise financeira global que se registrou a partir de 2008.

Na área de exportações, em 2014, o Brasil vendeu mercadorias para os Estados Unidos no montante de US$ 27 bilhões, o que representou um crescimento de 9,63% em relação a 2013 (US$ 24,6 bilhões), praticamente igualando a melhor marca até agora, obtida em 2008 (US$ 27,4 bilhões). Em 2009, esse valor caiu para US$ 15,6 bilhões, mas, desde então, foi registrada uma recuperação contínua. É de se ressaltar que, do montante de 2014, US$ 19 bilhões foram resultado da venda de produtos semimanufaturados e manufaturados, enquanto US$ 6,3 bilhões, de produtos básicos. Ou seja, isso mostra que o mercado norte-americano é extremamente importante para a sobrevivência da indústria brasileira, especialmente a paulista, porque absorve mais produtos de maior valor agregado.

Na área de importações, em 2014, o Brasil comprou US$ 34,9 bilhões em mercadorias, o que representou uma queda de 2,83% em relação a 2013 (US$ 36 bilhões), mas manteve a marca acima de US$ 30 bilhões que se registra desde 2011. Em 2008, época do início da crise global, o montante foi de US$ 25,6 bilhões, tendo caído para US$ 20 bilhões em 2009, recuperando-se em 2010 (US$ 27 bilhões).

O que se constata também é que o Brasil desde 2009 importa mais do que exporta para os Estados Unidos. Eis os números: em 2014, o déficit do Brasil foi de US$ 7,9 bilhões; em 2013, de US$ 11,4 bilhões; em 2012, de US$ 5,6 bilhões; em 2011, de US$ 8,1 bilhões; em 2010, de US$ 7,7 bilhões; e em 2009, de US$ 4,4 bilhões. Em outras palavras: o Brasil segue numa direção contrária à da maioria dos países, já que o mercado norte-americano é majoritariamente importador. É como se o Brasil fosse o país desenvolvido e os Estados Unidos a nação em desenvolvimento.

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O Brasil e o custo Brasil

Por que o Brasil corre célere para voltar a ser um reles fornecedor de matérias-primas ao mundo desenvolvido, tal como ao tempo em que era colônia de um Portugal pequenino, que, sempre ameaçado de anexação pela vizinha Espanha, funcionava como protetorado da Inglaterra? Essa questão tem tirado o sono de governantes, empresários, economistas, pensadores acadêmicos e de todos aqueles que se preocupam com o futuro do País.

custo brasilMas o que mais se vê é atribuir-se culpa à competição com os produtos chineses que vêm acabando com a produção de manufaturados brasileiros. Costuma-se dizer que é o baixo custo da mão de obra que empurra a economia chinesa, mas esse é apenas um lado da questão e
não o mais importante. Quem é do ramo sabe que são outros os fatores que encarecem o manufaturado brasileiro, ainda que haja no País matérias-primas em abundância. Além da corrupção, da burocracia excessiva e do desperdício, para os quais não há medição que se possa fazer, há os conhecidos fatores que formam o chamado custo Brasil e causam impacto direto sobre os preços dos manufaturados.

O principal obstáculo, sem dúvida, é a infraestrutura deficiente e inadequada que o País construiu ao longo dos séculos. Basta ver que nações de dimensões igualmente continentais dispõem de infraestrutura que torna seus produtos mais baratos em relação aos brasileiros. Por exemplo: nos Estados Unidos, essa diferença de custo é de 25% e na China chega a 33%. Boa parte dessa diferença sai da matriz de transporte de cada país: enquanto no Brasil mais de 70% das cargas seguem pelo modal rodoviário, nos Estados Unidos são 30% e na China, 10%. É de se lembrar que o modal rodoviário é mais caro, menos seguro e exige mais investimentos que os modais ferroviário e hidroviário. Obviamente, ninguém é contra o modal rodoviário, que continuará imprescindível para o transporte em média e curta distâncias.

Outro fator é uma carga tributária muito alta e injusta, que acaba por punir exatamente aqueles que têm menor poder aquisitivo. Basta ver que 80% dos brasileiros que ganham por mês até três salários mínimos contribuem com 53% da arrecadação total dos impostos. Além desses e outros percalços, como os juros escorchantes cobrados pelos bancos, importadores e exportadores têm ainda de enfrentar a cobrança da sobreestadia de contêiner, a demurrage, que consiste na devolução ao transportador da caixa metálica com atraso. Diante da precariedade da infraestrutura rodoviária e portuária, hoje, é praticamente impossível evitar a demurrage.

Com isso, não são poucos os exportadores e importadores que acabam caindo na inadimplência, pois não conseguem acompanhar a fluência das cobranças. O resultado são ações que costumam se arrastar por anos nos escaninhos do Judiciário. E maior volume de contêineres nos já abarrotados terminais alfandegados.

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Gestão Logística

Antes tarde do que nunca

Passados 11 anos, o atual governo, às vésperas de ser julgado nas urnas, a 5 de outubro, fez um mea culpa, ao admitir, ainda que não de maneira explícita, o erro que foi a decisão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do presidente argentino Nestor Kirchner (1950-2010), de trabalhar nos bastidores para o fracasso das negociações que visavam à formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelo governo norte-americano.

mercosulEsse mea culpa veio na forma de uma proposta do atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, que pretende inserir o Brasil no comércio global. É uma proposta que vai contra tudo o que defendeu nos últimos 12 anos a diplomacia comercial terceiro-mundista adotada pelo Brasil, que limitou a indústria nacional a fornecer produtos para países vizinhos e tornou o agronegócio abastecedor de matérias-primas para a China, criando uma dependência colonial com o país asiático superior à que havia no século XVIII em relação a Portugal.

Pena que esse mea culpa tenha vindo tão tarde e numa altura em que pouco há para se fazer, pois não se sabe se o atual ministro irá sobreviver às alterações políticas que virão por força da voz das urnas. Seja como for, não se pode deixar de elogiar a decisão do ministro de defender e trabalhar para concluir o acordo do Mercosul com a União Europeia que, como se sabe, arrasta-se também há mais de dez anos. E não só por culpa do governo brasileiro, mas também do argentino – aliás, os dois que funcionaram como coveiros da Alca.

Se até o final do ano esse acordo sair, será uma conquista inolvidável. Já a outra tarefa que assume proporções ciclópicas é tirar o Mercosul da situação de pane em que se encontra, já que não avança nem regride. A ideia do ministro é ampliar o espectro do Mercosul, atraindo os demais países vizinhos para uma integração ampla e a formação de uma zona de livre-comércio na América do Sul.

Como se disse, é de lamentar que a ideia tenha vindo tão tarde, até porque, depois do fracasso da Alca, países como Chile, Peru e Colômbia, talvez porque tiveram governos mais sensatos, constituíram com o México a Aliança do Pacífico e estão num plano mais avançado nas tratativas para buscar maior integração com a Europa e os Estados Unidos. Sem contar que os três países sul-americanos já assinaram acordos com vários blocos e nações industrializadas e avançaram sobremaneira na integração internacional. Unir, portanto, o Mercosul à Aliança do Pacífico não parece constituir missão das mais fáceis.

A outra proposta do ministro, igualmente meritória, é no sentido de aprofundar as relações comerciais com o México, que há muito tem uma economia complementar à do Brasil. Afinal, não é de hoje que muitas indústrias do setor de metalmecânica exportam para o México. Portanto, se as propostas do ministro forem levadas adiante, não há dúvida que o Brasil haverá de alcançar maior inserção internacional, apesar do atraso na infraestrutura logística nacional que hoje constitui a principal barreira ao desenvolvimento e à competitividade das empresas e dos produtos brasileiros.

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O Brasil e o futuro do comércio exterior

Depois de ficar por quase 12 anos tratando ingenuamente os Estados Unidos como o grande Satã do Norte, como se vivêssemos ainda ao tempo da Guerra Fria (1945-1991), o governo brasileiro parece que decidiu reabrir os canais de negociação com o governo norte-americano, enviando a Washington representantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O que se espera é que dessas conversações preliminares possa nascer algum grande acordo de livre-comércio, que inclua o cambaleante Mercosul.

comex brasilForam 12 anos perdidos com a aposta equivocada na chamada Rodada Doha, que defendia a Organização Mundial do Comércio (OMC), com sede em Genebra, como o grande órgão gestor de negociações multilaterais. O fracasso da Rodada Doha atingiu em cheio o Brasil e deixou claro que o mundo caminha para acordos regionais ou de grandes blocos, enquanto a OMC acabou reduzida a mero órgão consultivo ou, no máximo, um tribunal de pequenas causas. Diante disso, a presença de um brasileiro à frente da direção-geral da OMC também perdeu importância, ainda que o organismo mantenha alguma representatividade.

Assim, só resta ao Brasil sair em busca do tempo perdido porque, nesse longo período, o mundo mudou. Na América Latina, por exemplo, enquanto o Mercosul continua preso aos humores da política externa argentina e o seu protecionismo acendrado, México, Chile, Colômbia e Peru partiram para negociações com os Estados Unidos e União Europeia e formaram a Aliança do Pacífico. Já o Mercosul preferiu acolher um vizinho problemático, a Venezuela, que só trouxe mais dissensões ao bloco. Na verdade, o Mercosul deveria ter atraído para o seu lado México, Chile, Colômbia e Peru.

Com o fracasso das negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que se deveu basicamente ao comportamento do governo brasileiro, os Estados Unidos procuraram outros caminhos, negociando a Parceria Transpacífica (TPP) com as economias asiáticas, com exceção da China, e a Parceria Transatlântica (TTIP) com a União Europeia, que ainda estão em andamento.

Se esses acordos forem fechados, o Brasil e o Mercosul ficarão a reboque das grandes decisões comerciais no mundo, reduzidos a cumprir o que vier de cima, sem direito a dar sugestões ou reivindicar tratamento preferencial. É verdade que o Brasil procurou uma alternativa com os Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), anunciando o propósito de realizar o comércio entre eles com suas próprias moedas como meio de pagamento.

Imagina-se que maior comércio dentro dos Brics protegerá as economias desses países de ciclos de depressão no mundo ocidental. Mas não se pode depender apenas dos Brics. Em comércio, a melhor política sempre foi o pragmatismo responsável.

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Gestão da Cadeia de Suprimentos Logística Supply Chain Management

A logística da costura dos tênis

Tênis existem há muito tempo e as técnicas básicas de fabricação são as mesmas desde então. Materiais são cortados e costurados – seja algodão, couro ou qualquer outro tecido – e formam a parte superior do tênis. Esta parte de cima é então costurada à uma sola. Simples assim. Mas isto está mudando, pelo menos para uns tênis de corrida muito diferentes.

O tênis em questão é o Flyknit da Nike, um calçado de corrida ultra-leve, fabricado para fazer você se sentir usando apenas meias. Para dar a sensação de que ele é apenas uma meia, a fabricação da parte da cima segue os princípios de fabricação de uma meia! Exceto que trata-se de uma meia de última tecnologia.

Em um processo que a Nike chama de “engenharia de ultra precisão”, um programa de computador comanda a máquina para alterar minuciosamente a estabilidade e a estética do calçado. Se o dedão do pé precisa de mais elástico, o projeto pode ser alterada digitalmente instantaneamente para adicionar lycra. Para maior resistência no calcanhar, o software utiliza várias camadas de fios de diferentes espessuras. A Nike planeja patentear o processo, evidentemente.

E como a parte superior é feita em uma única peça, o Flyknit tem uma grande vantagem em relação ao popular modelo Air Pegasus +28: ele tem 35 partes a menos para serem montadas. Isso torna a produção mais rápida, com menos trabalho e as margens de lucro são maiores. O processo Flyknit também se encaixa na ideia de sustentabilidade da Nike porque a quantidade de material desperdiçado na fabricação de cada par pesa o mesmo que uma folha de papel. A Nike afirma que o Flyknit produz 66% menos resíduos que Air Pegasus +28.

O processo reduz a fabricação dos components da parte superior do tênis em apenas duas peças – basicamente, a língua e resto.

Isso reduz a quantidade de trabalho necessário para montar o sapato e levanta uma outra discussão: onde estes tênis devem ser fabricados. Isso mesmo, a costura desse tênis levanta questões da cadeia de suprimentos.

A Nike produz 96% dos seus sapatos no Vietnã, China e Indonésia, onde os custos de mão de obra são baixos. A desvantagem é o tempo que leva para os sapatos chegarem aos mercados como dos EUA. Um sapato passa boa parte de seu tempo num barco vindo da Ásia. Se você pudesse eliminar essa etapa seria uma grande economia de tempo.

O fato é que a fabricação de calçados no mercado interno ainda custaria mais caro, mas com menos estoques e com uma resposta mais rápida e (supostamente) mais vendas. A produção local e o processo em si poderiam permitir a custmização e personalização maior dos tênis – tanto em termos de forma que de cores.

Este é um exemplo de como a inovação no processo pode abrir uma infinidade de possibilidades de como gerir a cadeia de suprimentos. A Nike certamente está em posição de explorar esta tecnologia tanto do lado do marketing quanto de sua presença no varejo. Uma coisa é certa. Isso não vai ser um renascimento da indústria de calçados dos EUA, pelo menos em termos de empregos. Mesmo que a Nike implante esta tecnologia em uma vasta gama de produtos, o número de postos de trabalho abertos será pequeno. Na verdade, a necessidade de pouca mão-de-obra é a única razão pela qual se poderia pensar em fabricar estes sapatos nos EUA.

 

Baseado no texto “Knitting shoes” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Vídeos

Ferrovia ligando a Rússia aos EUA

Autoridades da Rússia anunciaram planos ambiciosos de construir uma ferrovia subterrânea que conectará o país aos Estados Unidos.

Citada há algumas semanas aqui no Logística Descomplicada, esta ferrovia gerou debates e comentários curiosos. Leia mais sobre esta matéria em Grandes obras e investimentos em infraestrutura. Seguem algumas informações extras bem como um vídeo explicando o projeto.

A construção sem precedentes passaria sob os 105 quilômetros das águas gélidas do Estreito de Bering. A obra teria o dobro do comprimento do Túnel do Canal da Mancha, que liga a Grã-Bretanha à França.

A estimativa é a de que somente o túnel pelo qual passará a ferrovia custará entre US$ 10 e US$ 12 bilhões, sendo que o projeto todo custará até US$ 90 bilhões e será concluído dentro de 10 a 15 anos.

 

Fonte: BBC Brasil

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Comércio Exterior - COMEX Gestão

Faltam acordos comerciais

Olhando friamente os números, não há dúvida que o comércio internacional praticado pelo Brasil cresceu bastante nos últimos 15 anos: afinal, em 1996, o País exportou US$ 47,7 bilhões e, em 2010, US$ 201,9 bilhões. Acontece que o comércio internacional também cresceu de maneira vertiginosa nesse período, especialmente com a entrada em cena da China, e, dessa maneira, o Brasil continuou a participar de apenas 1% das compras e vendas globais.

faltam acordos comerciais brasilA rigor, o superávit comercial de R$ 20,2 bilhões alcançado em 2010 pelo Brasil, o menos expressivo em menos de oito anos, só foi obtido graças a uma contingência de mercado, ou seja, a elevação de preços das commodities, notadamente soja e minério de ferro, que, aliás, nos últimos dias, começaram a despencar. Não houve, na verdade, nos últimos anos, nenhuma medida estrutural que tivesse por escopo alcançar melhores resultados no comércio exterior do País.

Para o dia 4 de outubro, em Bruxelas, está marcada uma reunião de cúpula entre Brasil e União Europeia (UE), com a presença da presidente Dilma Rousseff, e essa se afigura como oportunidade única para reverter esse quadro de apatia, dando ao País um novo impulso em suas relações econômicas. Com a UE, o comércio bilateral aumentou 175% no período de 2000 a 2010, mas, nos últimos meses, a UE vem perdendo espaço no mercado brasileiro, enquanto a participação do Brasil no mercado europeu continua bastante limitada, em torno de 2% de tudo o que o bloco importa.

É verdade que vários países do bloco europeu estão em crise, mas há ainda um grande espaço para o crescimento dos negócios, principalmente se houver mais cooperação bilateral na área de tributação para reduzir o peso sobre investimentos e um bom encaminhamento das discussões sobre questões regulatórias em energia, telecomunicações, infraestrutura e matérias-primas.

Seria muito proveitoso se essa cúpula em Bruxelas pudesse também destravar as negociações para um acordo entre Mercosul-UE, que, desde 2004, esbarra em resistências dos dois lados. O setor agrícola europeu resiste a oferecer mais acesso aos produtos do Mercosul, enquanto do lado brasileiro alguns setores industriais, pressionados pela atual distorção de câmbio e pelo apetite comercial chinês, colocam-se contra a maior abertura do mercado nacional.

Seja como for, o que não se pode aceitar é o imobilismo que se tem registrado até aqui, com a ausência de acordos comerciais relevantes. Para piorar, nos dois últimos governos, a tônica foi um infantil tom antiamericanista nas relações exteriores que não levou a nada. Ou melhor, contribuiu para a perda de espaço do produto brasileiro no maior mercado do planeta. Em oito anos, não foi organizada nenhuma missão para vender produtos aos norte-americanos. Dessa maneira, a participação dos EUA nas exportações brasileiras recuou de 25,5% em 2002 para 9,5% em 2010.

Por outro lado, o governo anterior procurou fortalecer os laços comerciais com os países africanos, do Oriente Médio e das Américas, ainda que o Mercosul tenha registrado poucos avanços, limitando-se a funcionar como uma união aduaneira. Vale a pena continuar investindo nessas regiões. Mas não só. É de ressaltar que com a América Central o relacionamento comercial do Brasil não passa de uma carta de intenções. Tanto que, com o México, país com mais de 100 milhões habitantes, o comércio bilateral pouco passa de US$ 5 bilhões.

Diante disso, o que se espera é que, a partir de Bruxelas, o governo procure recuperar o terreno perdido, encetando novos tratados de livre comércio, dentro de uma estratégia diferenciada que pode incluir também países como Coreia, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Na moderna concepção de governo, a política comercial é que deve marcar a política externa e não o contrário.

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Colaborações

EUA deixam ‘clube’ de 14 países com dívida mais segura

Rebaixamento dos papéis do governo americano tirou país de uma lista que agora inclui apenas 14 países

O anúncio na sexta-feira de que a Standard & Poor’s (S&P) rebaixou pela primeira vez na história os papéis da dívida americana – de AAA para AA+ – fez com que o país deixasse uma seleta lista de nações consideradas mais seguras para os investidores.

Com a saída dos Estados Unidos, o restrito ‘clube’ possui apenas 14 países cujas dívidas recebem a nota máxima das agências de risco.

crise e dívida dos EUAEm nota, a S&P justificou que o acordo firmado nesta semana entre republicanos e democratas é insuficiente para dispersar as dúvidas que o mercado tem sobre a redução do déficit público americano, que já ultrapassa os 10% do PIB.

A dívida total americana, de US$ 14,3 trilhões, equivale a quase uma vez o PIB do país. O acordo aprovado na segunda-feira autoriza a elevação da dívida em até US$ 2,4 trilhões em troca de cortes de gastos no mesmo valor.

Com um déficit público na dimensão do atual, o novo teto da dívida seria alcançado até o final do ano que vem.

Juros mais baixos

As classificações de risco avaliam a capacidade do país de honrar suas dívidas e servem como parâmetros para orientar os investidores. A classificação AAA significa um risco praticamente zero de a dívida não ser paga, portanto mais segura para os investidores.

Em teoria, os países com classificação da dívida mais alta têm mais facilidade de captar empréstimos no mercado internacional a juros mais baixos do que os países cujas dívidas são consideradas menos seguras.

Atualmente, apenas 14 países têm a classificação AAA nas três principais agências – Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá, Cingapura, Dinamarca, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Holanda, Luxemburgo, Noruega, Suécia e Suíça.

Além desses países, a lista AAA da Standard & Poor’s inclui também Liechtenstein e os territórios de Ilha de Man, Guernsey e Hong Kong, a Fitch inclui Bermuda e Nova Zelândia e a Moody’s, Ilha de Man e Nova Zelândia.

Sob risco

A dívida brasileira é classificada pelas três principais agências nos níveis mais baixos entre os níveis com recomendação de investimento – BBB- pela Standard & Poor’s (no 10º entre os 22 níveis de classificação da agência), Baa2 pela Moody’s (9º entre 22 níveis) e BBB pela Fitch (9º entre 20 níveis).

Os Estados Unidos perderam a classificação máxima de sua dívida pela primeira vez na história, mas outras grandes economias já sofreram com o problema no passado.

O Japão, que tem a maior proporção mundial da dívida em relação ao PIB (mais de 200%), foi rebaixado pelas principais agências entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000, quando a economia do país começou a patinar.

Atualmente, a Standard & Poor’s classifica a dívida japonesa como AA- (4º nível), a Fitch de AA- (4º nível) e a Moody’s de Aa2 (3º nível).

Segundo alguns analistas, França e Grã-Bretanha são os países que correm mais risco de ter suas dívidas rebaixadas pelas agências no médio prazo, por terem dívidas altas em relação aos seus PIBs, altos déficits públicos (5,6% do PIB no caso da França e 8,7% no da Grã-Bretanha) e economias com perspectivas de baixo crescimento.

Fonte: BBC

 

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Desempenho Geral

Brasil-China: dificuldades

A visita da presidente Dilma Rousseff a China em abril teve por objetivo tentar colocar nos eixos algumas diferenças que persistiam no relacionamento comercial entre os dois países. É indiscutível que o Brasil tem crescido, apesar de muitos obstáculos internos, mas principalmente por causa da estabilidade macroeconômica alcançada e, principalmente, por ter sido beneficiado por um forte crescimento global, promovido, sobretudo, pela China. Diante disso, nada mais justo que o governo procure preservar e estimular esse relacionamento comercial com os chineses.

Isso não significa, porém, que o País tenha de se abrir completamente aos anseios chineses, sem receber nada em troca. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio, pois o relacionamento só será justo e produtivo se ambas as partes saírem ganhando. Do lado brasileiro, é justa a preocupação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) com o avanço muito rápido de máquinas e equipamentos chineses no mercado brasileiro, que começa a destruir a estrutura industrial do País. Basta ver que o déficit comercial do setor, de US$ 15,7 bilhões em 2010, deve dobrar e atingir US$ 30 bilhões até o final do ano. E, se em 2004 as indústrias nacionais do setor dominavam 60% do faturamento do mercado, hoje já são minoritárias e detêm 40%.

País em franco crescimento, a China é hoje o principal destino das exportações brasileiras de minério de ferro, soja e petróleo. Ou seja, commodities. Por isso, é fundamental que a China venha também a comprar produtos industrializados, aumentando o valor agregado de sua pauta. No entanto, o país asiático enfrenta obstáculos que são levantados pela própria estrutura do Brasil hoje: diferenças cambiais, alta carga tributária e infraestrutura precária que encarecem sobremaneira os produtos brasileiros. E, se o Brasil não fizer a sua lição de casa, nada haverá que possa convencer os chineses a comprar produtos de que não precisam e a preços pouco atraentes.

Portanto, se o atual governo, em seu início de trabalho, não aproveitar este momento para fazer a tão reivindicada reforma tributária, com o apoio do Congresso Nacional, o Brasil continuará a crescer, é verdade, podendo chegar neste ano a um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 2,4 trilhões, colocando-se entre as seis maiores economias do mundo, mas estará condenado a se tornar um exportador de produtos de baixa competitividade baseada no conhecimento e na tecnologia.

atritos entre brasil e chinaOra, esse é justamente o caminho inverso percorrido pela China desde a década de 1980. E que a está levando a assumir-se como uma das maiores economias do planeta. É um modelo que aposta na exportação de produtos com valor agregado. Se o Brasil segue na direção contrária, é claro que o futuro se afigura preocupante. E não é preciso olhar tão longe: neste ano mesmo, se continuarem a cair os embarques de produtos de alta tecnologia nacional, há o risco de o País não apresentar superávit na balança comercial.

Para piorar, no relacionamento Brasil-China, há a questão da “triangulação”, operação tecnicamente denominada “circunvenção”, que vem prejudicando sensivelmente a indústria brasileira. Fabricantes chineses costumam fraudar certificados de origem do produto para escapar da punição por dumping, ou seja, por venda ao exterior a preço inferior ao praticado no mercado interno, chegando os produtos ao Brasil como se tivessem sido fabricados em países como Taiwan, Vietnã, Malásia, Indonésia e outros.

Como as medidas adotadas desde 2008 contra essa prática têm se mostrado ineficazes porque a ação repressiva da fiscalização é sempre demorada, não se sabe se o governo chinês tem algum interesse em impedir os seus fabricantes de continuarem a recorrer a esse expediente.

Portanto, a visita da presidente foi marcada por questões extremamente delicadas e que, dificilmente, foram bem acolhidas pelo lado chinês. Também não se sabe se a presidente conseguiu convencer as autoridades chinesas a diversificar suas importações do Brasil e a investir no País em infraestrutura e setores de alto valor agregado. Até porque a pretensão esbarra na alta demanda chinesa por recursos naturais. De qualquer forma, se a China tem os seus objetivos, o Brasil tem interesses a preservar. E não pode ficar refém de outro país.

Seja como for, é forçoso admitir que essa situação embaraçosa foi criada pelo governo anterior, ao privilegiar suas relações com a China, em detrimento do mercado norte-americano. Basta ver que, nos últimos oito anos, nenhuma missão brasileira foi organizada para vender produtos aos EUA. O resultado disso é que a participação norte-americana nas exportações brasileiras recuou de 25,5% em 2002 para 9,5% em 2010. E que a balança com aquele país, superavitária até 2008, ficou negativa em 2010 em US$ 7,8 bilhões.

Além disso, o Brasil não assinou tratados de livre-comércio que ajudassem a impulsionar as exportações de produtos manufaturados. Nem intensificou suas relações comerciais com os países latino-americanos tanto quanto deveria, limitando-se a preservar o Mercosul, que se arrasta por 20 anos sem grandes avanços. Portanto, estamos colhendo o que plantamos.