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A logística da costura dos tênis

Tênis existem há muito tempo e as técnicas básicas de fabricação são as mesmas desde então. Materiais são cortados e costurados – seja algodão, couro ou qualquer outro tecido – e formam a parte superior do tênis. Esta parte de cima é então costurada à uma sola. Simples assim. Mas isto está mudando, pelo menos para uns tênis de corrida muito diferentes.

O tênis em questão é o Flyknit da Nike, um calçado de corrida ultra-leve, fabricado para fazer você se sentir usando apenas meias. Para dar a sensação de que ele é apenas uma meia, a fabricação da parte da cima segue os princípios de fabricação de uma meia! Exceto que trata-se de uma meia de última tecnologia.

Em um processo que a Nike chama de “engenharia de ultra precisão”, um programa de computador comanda a máquina para alterar minuciosamente a estabilidade e a estética do calçado. Se o dedão do pé precisa de mais elástico, o projeto pode ser alterada digitalmente instantaneamente para adicionar lycra. Para maior resistência no calcanhar, o software utiliza várias camadas de fios de diferentes espessuras. A Nike planeja patentear o processo, evidentemente.

E como a parte superior é feita em uma única peça, o Flyknit tem uma grande vantagem em relação ao popular modelo Air Pegasus +28: ele tem 35 partes a menos para serem montadas. Isso torna a produção mais rápida, com menos trabalho e as margens de lucro são maiores. O processo Flyknit também se encaixa na ideia de sustentabilidade da Nike porque a quantidade de material desperdiçado na fabricação de cada par pesa o mesmo que uma folha de papel. A Nike afirma que o Flyknit produz 66% menos resíduos que Air Pegasus +28.

O processo reduz a fabricação dos components da parte superior do tênis em apenas duas peças – basicamente, a língua e resto.

Isso reduz a quantidade de trabalho necessário para montar o sapato e levanta uma outra discussão: onde estes tênis devem ser fabricados. Isso mesmo, a costura desse tênis levanta questões da cadeia de suprimentos.

A Nike produz 96% dos seus sapatos no Vietnã, China e Indonésia, onde os custos de mão de obra são baixos. A desvantagem é o tempo que leva para os sapatos chegarem aos mercados como dos EUA. Um sapato passa boa parte de seu tempo num barco vindo da Ásia. Se você pudesse eliminar essa etapa seria uma grande economia de tempo.

O fato é que a fabricação de calçados no mercado interno ainda custaria mais caro, mas com menos estoques e com uma resposta mais rápida e (supostamente) mais vendas. A produção local e o processo em si poderiam permitir a custmização e personalização maior dos tênis – tanto em termos de forma que de cores.

Este é um exemplo de como a inovação no processo pode abrir uma infinidade de possibilidades de como gerir a cadeia de suprimentos. A Nike certamente está em posição de explorar esta tecnologia tanto do lado do marketing quanto de sua presença no varejo. Uma coisa é certa. Isso não vai ser um renascimento da indústria de calçados dos EUA, pelo menos em termos de empregos. Mesmo que a Nike implante esta tecnologia em uma vasta gama de produtos, o número de postos de trabalho abertos será pequeno. Na verdade, a necessidade de pouca mão-de-obra é a única razão pela qual se poderia pensar em fabricar estes sapatos nos EUA.

 

Baseado no texto “Knitting shoes” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Postponement e a importação de carros

Se você compra um Toyota fabricado no Japão, onde você acha que a última etapa de produção e montagem ocorre? Se a compra acontece nos EUA, esta última montagem ocorre em um porto próximo a Nova Iorque!

Os carros são importados do Japão e a última parte da montagem ocorre bem próximo ao cliente. A finalização é atrasada o máximo possível. Isto é o postponement. Não é surpresa que a montadora japonesa tenha equipes que verifiquem e reparem algum problema que tenha acontecido durante o transporte. O que nos surpreende um pouco é que algum trabalho de customização aconteça bem próximo do cliente, quando o carro já está importado. Estas etapas incluem instalação de comunicação Bluetooth ou do rack no teto.

linha de produção toyotaAs instalações da Toyota junto ao porto de Newark tem quase 400 mil metros quadrados. É praticamente uma pequena planta de produção, apesar de todo o trabalho – o que chamam de “instalação no porto” das opções para 21 modelos diferentes – ser feita basicamente com ferramentas simples, ao invés de robôs controlados por computadores. Cerca de 185 funcionários trabalham nas diferentes estações: lavação, controle de qualidade e 5 centros de produção.

Ao adicionar itens tais como tapetes ou aparelhos de GPS nos centros de distribuição ao invés de o fazer nas fábricas, a Toyota dá aos consumidores e chance de mexer nos pedidos até 2 dias antes de o veículos chegarem aos EUA. E também dá aos vendedores uma chance de se destacar da concorrência.

“Nós queremos adaptar o veículo para aquilo que o cliente quer”, disse Bill Barret, gerente nacional de logística na instalação de Newark. “Nós construímos o carro que eles querem”.

O trabalho seria paralisado sem Rui Sousa, cujo trabalho é comprar os acessórios diariamente de vários fornecedores, de acordo com as expectativas e previsões para os próximos dois dias. A chave, segundo ele, é diminuir o volume de acessórios para carros pouco populares ou que estão passando por mudanças no modelo, e manter estoque suficiente para os mais populares. (Alguém identifica um início de análise ABC?)

“Estamos tentando encontrar o equilíbrio adequado”, disse Sousa, que afinou seu sistema tão bem que o tamanho dos estoques just-in-time foi diminuído em 66% durante os últimos 4 anos.

Este é realmente um bom exemplo de uma estratégia de postponement: atrasar a diferenciação do produto até que a demanda, se ainda não é totalmente conhecida, é ao menos “menos desconhecida”. Ao fazer a finalização em Newark dá aos vendedores várias semanas para determinar se eles realmente precisam daquelas rodas chiques ou do GPS nos carros.

A alternativa a fazer o trabalho no porto seria deixar que o vendedor faça a instalação dos acessórios, o que também existe. No entanto, a instalação centralizada deve ter alguma vantagem em relação aos vendedores. Primeiro, consegue-se um trabalho mais consistente. Isto não faz diferença para alguns eletrônicos que basta ligar um cabo e estão prontos, mas faz diferença quando modificações físicas são necessárias, como por exemplo quando os racks são parafusados no teto. Segundo, o estoque centralizado diminui os custos ao exigir menos estoques. Uma grande pilha de estoque em Newark certamente é maior do que cada um dos revendedores teria, mas muito menor do que a soma de todos os pequenos estoques que todos os revendedores teriam que manter.

Além de carros, quais outros produtos podem ser finalizados depois da produção principal? Discuta abaixo nos comentários com outros leitores.

Baseado no texto “Postponement and importing cars” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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O que é e como calcular o Lote Econômico de Produção (ou Fabricação)

Muitas empresas hoje precisam decidir se irão comprar ou fabricar algumas partes de seus produtos. Esta é uma decisão estratégica pois envolve não somente custos, mas o know-how e a flexibilidade que se tem ao fabricar as partes internamente, mas normalmente acarreta outras preocupações como treinamento da mão-de-obra, compra de equipamentos, manutenção, etc.

Ao decidir por comprar, a empresa pode usar o Lote Econômico de Compras, que já foi discutido e explicado em outro artigo. Se a opção for por fabricar, então veremos hoje qual a quantidade que deve ser produzida, utilizando o Lote Econômico de Produção (ou Lote Econômico de Fabricação).

Se no Lote Econômico de Compras os custos minimizados eram de estoque e de colocação do pedido, no Lote Econômico de Fabricação iremos minimizar os custos de fabricação, o custo de setup da máquina (ajuste para o tipo de produto) e custo por manter o estoque do lote fabricado. Para atender a demanda de um período (por exemplo um mês) a empresa pode optar por fabricar um grande lote igual a demanda, ou 2 lotes iguais a metade da demanda, ou 10 pequenos lotes iguais a 10% da demanda. Qual é a opção mais barata?

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Demanda Gestão Logística

Vacinas: produzindo mais, começando antes

produção de vacinasA temporada anual de gripe oferece algumas lições interessantes e várias observações para quem tem os olhos da gestão de operações. Dois grandes laboratórios se uniram para reduzir o lead time de produção das vacinas para a gripe, fato que ocorre todo ano no inverno do Hemisfério Norte. O Wall Street Journal (WSJ 8/out/2010) publicou que a Novartis se uniu ao Synthetic Genomics com o intuito de reduzir o tempo dedicado à pesquisa e produção das vacinas da gripe sazonal.

O processo tradicional leva em torno de 6 meses desde o momento em que a Organização Mundial de Saúde identifica o vírus mais ativo para o próximo inverno e o momento em que a vacina está disponível no mercado. Analistas afirmaram que a união das duas empresas pode reduzir drasticamente este tempo.

A ideia por trás da nova tecnologia é fazer um tipo de pré-processamento.

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Como é feita a cerveja

Complementando a matéria que tratou da fabricação da cerveja e de como ela poderia ser mais barata e ter sua fabricação facilitada se utilizasse garrafas PET para o envasamento, veja este vídeo sobre o processo produtivo da cerveja.

O material está em inglês, então apronte seus ouvidos. Caso não fale inglês, procure entender os desafios de cada etapa, mostradas com bastante detalhes.

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“Logística” da produção de bolas de futebol

Recebi um email do leitor Leandro com sugestão de um vídeo muito interessante: como são fabricadas bolas de futebol. Mas não é qualquer bola – são as bolas que serão utilizadas na Copa do Mundo.

Nada de musiquinha ou narração ao fundo, apenas o verdadeiro barulho das máquinas.

Eu gostei, e você?

Faça como o leitor Leandro e envie você também sua sugestão de vídeos ou matérias para o site.