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O maior desafio logístico de todos os tempos (parte 1/2)

E tudo tem mesmo a ver com o tempo. Tudo tem mesmo a ver com a Logística. As deficiências acumuladas, a falta de infraestrutura e de interesse na solução dos problemas que atormentam grande parte da população mundial – que tem os olhos voltados apenas para a produção de forma insustentável sem a preocupação com os descartes, com a poluição e sem um meio eficiente de distribuição – obrigarão o setor logístico a perseguir soluções jamais imaginadas. Terá que desenvolver em duas décadas muito mais do que desenvolveu em mais de um século.

desafio logisticoSabe aquela história que sempre ouvimos sobre meio ambiente? Pois é, a conta chegou. Transformamos tudo em lixo e não transformamos o lixo, entramos no curso do desperdício e agora precisamos olhar para trás para enxergar o futuro.

No final de março de 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou o documento que, segundo especialistas, é o levantamento mais bem feito sobre o futuro da Terra até agora. O relatório tem como base mais de 12 mil estudos publicados em revistas científicas que relatam atualidades e consequências das ações humanas no planeta para os próximos 30 anos. Muito tempo? Não diria para um processo de modernização logístico/ambiental que se faz necessário.

Com alguns detalhes desse estudo e com a real situação dos setores logísticos mundiais estudados em meus 15 anos de dedicação à Logística, com seus erros e acertos – mais erros do que acertos –, é possível mensurar o tamanho do desafio que vai muito além de acreditar ou não em aquecimento global, de estarmos ou não no caminho certo, de termos ou não tecnologia para romper o tempo que parece estar contra nós. Tudo precisa ser revisto, reaprendido, reposicionado, embora a situação atual seja considerada irreversível.

A previsão do aumento da fome no continente africano, das temperaturas (em 2 graus Celsius) dos sistemas como o mar do Ártico, das enchentes na Europa e na Ásia e das catástrofes “naturais” nas Américas resultam, entre outros problemas, na diminuição de mais de 25% da produção de grãos até 2050, mesmo ano em que se estima que haja nove bilhões de pessoas no planeta.

Hoje a população mundial é de 7,2 bilhões de pessoas. Os problemas são muitos: falta de água limpa para 11% das pessoas; 40% não têm acesso a produtos de higiene bucal (no Brasil são 58%); 17% não são alfabetizadas e, com o número de chips de celulares se igualando ao número de pessoas, 83% possuem celulares, bem mais do que os 65% que usufruem de saneamento básico; também 83% têm energia elétrica e só 50% têm acesso à internet. Ou seja, teríamos que melhorar muito a oferta de água, comida, saúde, educação e infraestrutura para enfrentarmos as décadas futuras.

Enquanto muitos países ricos se negam a diminuir suas agressões ao meio ambiente, sabendo que não estão imunes, alguns começam a investir em soluções contra eventos climáticos, como Grã-Bretanha, Estados Unidos e Japão. Mas, nada pode ser garantido se não houver a união de todas as nações. Contudo, o choque de interesses parece bem mais forte do que a preservação da vida.

As pessoas buscarão, cada vez mais, as grandes metrópoles fugindo das dificuldades; a logística humanitária ganha um papel ainda mais importante; as ferramentas para uma distribuição eficaz serão postas à prova. Cabem aos governos os investimentos e à Logística a inovação com novas estratégias, eficientemente sustentáveis com modelos e metas bem diferentes. É, nova logística para novos tempos… E, essencial como sempre foi.

O mesmo relatório, que aponta ferramentas para lidar com o problema, aponta também para uma conta multibilionária. Só não aponta quem pagará. Porém, já se sabe que aquele dinheiro que ganhamos explorando a Terra seria convertido em soluções buscando reparar parte do que destruímos. Só não conseguimos ainda entender que a “casa” não é nossa e que o bem-estar dos nossos filhos, dos nossos netos, depende do nosso respeito por ela. Tão repetitivo isso, não é mesmo? Então, permitam-me mais uma repetição do que tantos já ouviram: Ainda não aprendemos.

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A logística que causa fome

Falávamos sobre logística no desenvolvimento mundial quando surgiu uma discussão muito interessante sobre a importância da logística no desenvolvimento econômico de países “desfavorecidos”. Veio então, a pergunta: A Logística Organizacional Integrada contribui com a fome em alguns países?

Com cerca de um bilhão de pessoas passando fome no mundo (e isso não se restringe apenas à África e à Ásia) e, segundo a FAO (Agência para Alimentação e Agricultura) ligada à ONU (Organização das Nações Unidas) dezesseis mil crianças com menos de cinco anos de idade morrem todos os dias por consequências da fome no mundo, é algo que merece atenção.

fome logisticaDe início, achei um absurdo pensar nesse questionamento. A logística em que atuo é algo muito bom. Ela é a solução e não o problema. É inconcebível pensar na logística como algo que venha a prejudicar pessoas e promover a fome. Não havia pensado que para se consolidar a logística precisa ainda ultrapassar tantas barreiras, inclusive a maior: Saber que, a logística, algo tão bom, é conduzida de forma tão desigual por economias unilateralistas e tolhida por políticas públicas que privam países inteiros do benefício da qualidade de vida.

É sabido que paradoxos surgem sempre que tentamos unir desenvolvimento econômico com qualidade de vida. Afinal, em muitos casos, o comércio deixou de ser lucro em mão dupla e a exploração de mão-de-obra e de matérias-primas passou a ser um ponto crítico e ameaçador para o equilíbrio social do Planeta.

Quando escrevi “Consumo Inteligente: Saber Consumir é uma Arte”, onde se fala da dicotomia da tecnologia em expansionista e inteligente, estava lá parte da minha resposta para essa pergunta incômoda. Exatamente num crescimento desordenado em que a logística é usada (mal usada) para promover tal crescimento baseado no consumismo.

Mas a logística que me encanta não é para isso. Infelizmente, como tudo que é bom, também pode ser usada de forma incorreta por aqueles que a distorcem e buscam interesses próprios. O problema é que falamos de países; muitos países… grandes países.

Quando a logística foi extraída do contexto das guerras, trouxe, para alguns, um pouco da razão de “ferir” em sua nova condição. Embora abdicando de armas, desenvolveu novas ferramentas. Mas, vale dizer que, isso ocorre nas cabeças distorcidas daqueles que acolhem a logística para condicioná-la a uma atividade que lhes gerem lucros indiscriminados. Assim como a matemática e a física que foram usadas para desenvolver bombas atômicas, a logística não estaria livre disso.

Entretanto, é necessário entender como se dá essa “contribuição” da logística para a ascensão de países ricos e para a fome em países pobres:

A competitividade é cada vez mais presente no mercado globalizado. As empresas lutam para conquistar e fidelizar seus clientes que, cada vez mais exigentes, impulsionam o mercado para uma prática de inovação – Até aqui, nada mais natural e bom. Com isso, diminui-se o ciclo de vida dos produtos e obrigam-se as empresas a buscarem novas técnicas de gestão logística. Em muitos casos (e aqui começa a parte ruim), os produtos se tornaram commodities (produtos primários) e os países com monoculturas não desenvolveram tecnologias de produção e logística para incrementar suas economias. Os países mais desenvolvidos passaram a utilizar-se desses produtos em suas indústrias. Acontece que as commodities têm seus preços fixados pelo mercado importador. Isso significa falta de recursos para o desenvolvimento tecnológico dos países produtores para que possa lhes colocar em uma situação melhor perante seus “concorrentes” e, ajudados por uma política pública ineficaz, se desenvolve uma condição de dependência que beira à exploração, levando países inteiros à falência e expondo seus habitantes às condições desumanas. Instala-se a fome. Claro que estamos falando de fatores econômicos e não podemos esquecer que as causas da fome são várias e antigas, como conflitos armados, desigualdades sociais, entre outros.

O Brasil, durante décadas, exportou só o café, mas vem conseguindo diversificar seu comércio. O País está muito à frente de vários países africanos, asiáticos e também sul-americanos, mas também sofre com esse problema, principalmente com combustíveis. Mesmo auto-suficiente em petróleo cru, não tem um parque industrial suficiente para nossa demanda de combustíveis, principalmente de gasolina, o que nos leva a amargar um preço fixado por um desenvolvimento logístico melhor que o nosso, alimentado por motivos claros e outros obtusos.

Seguindo essa linha, poderíamos concluir que a logística contribui para situações desiguais na economia mundial devido suas possibilidades de reduzir os custos de produção e de distribuição. Mas observa-se um contra-senso: A logística só o faz devido às inúmeras possibilidades inovadoras no desenvolvimento que propõe com um extenso pacote de soluções e mudanças. Se mudanças boas ou más, nós decidimos. Não existe logística boa ou má. Ela não se divide. Por isso a defendo, pois isso me encanta. Me encanta, porém não me ilude. Sei que ainda há muito que mudar. Principalmente, a intenção do homem.