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Gerenciamento de riscos da cadeia de suprimentos e padronização de peças

Quantos modelos de radiador uma montadora de automóveis precisa? Claro qeu ela precisa de modelos para se adaptar aos diferentes tipos de carro que produz: uma pick-up com oito cilindros grandes precisa de um radiador diferente de um carro compacto com quatro cilindros pequenos. Mas estamos falando de 20 ou de 100 modelos de radiadores diferentes?

risco cadeia suprimentosA Bloomberg mostra que a Toyota vem trabalhando nesse problema para diminuir o número de radiadores e outras peças de seus carros.

Em uma das maiores iniciativas do presidente Akio Toyoda desde que assumiu em 2009, a montadora quer diminuir o número de peças utilizadas e aumentar o número de componentes comuns nos seus modelos. A ideia é reduzir o tempo e o custo para a criação de novos modelos em até 30 por cento, de acordo com estimativas da Toyota.

No passado, a Toyota focava no desenvolvimento de peças personalizadas. Como exemplo, ela utilizava 50 tipos de airbags na altura dos joelhos, porque os assentos dos vários modelos tinham perfis diferentes. Ao padronizar a “altura do quadril” em seus carros, a Toyota diz que pode reduzir em 80% esse número, ou cair de 50 para 10 tipos de airbags.

Desde o ano passado, a montadora diminuiu o número de radiadores de 100 para 21, de acordo com Shinichi Sasaki, chefe global de compras da Toyota. E a empresa está reduzindo o número de tamanhos de cilindros em seus motores para seis ante aos mais de 18 (planos para 2016).

“A partir de agora, a Toyota vai buscar a compatibilidade de certas partes que ela usa com peças padrão usadas por muitos fabricantes de automóveis no mundo todo”, disse em uma declaração.

Alguns dos benefícios previstos aqui são bastante óbvios. Por exemplo, o artigo menciona que a padronização de peças para as quais os consumidores não se importam muito (ou nem sabem que o carro tem, como um radiador), irá liberar tempo de engenharia para trabalhar no desenho do modelo ou cockpit, algo muito mais importante aos olhos dos consumidores.

A parte mais interessante são as implicações para o risco da cadeia de suprimentos. Basicamente, existem duas considerações com as quais a Toyota teve de lidar nos últimos anos. Do lado positivo, é que a padronização de peças permite a terceirização global no sentido de que o radiador pode vir de várias partes do mundo, ao invés de um único fornecedor especializado naquele modelo.

A Toyota e outras montadoras (principalmente as japoneses) tiveram problemas com a terceirização usando um conjunto muito limitado de fábricas em uma região geográfica pequena. Este problema ficou muito claro quando o Japão foi atingido por um terremoto e um tsunami em 2011. Se todas as peças pudessem ser produzidas em meia dúzia de instalações diferentes em quatro locais distintos, uma montadora importante como a Toytota não seria afetada por um desastre natural ou outro problema em um lugar específico.

O outro lado da moeda é que se a Toyota está usando muitas das mesmas partes que as outras grandes montadoras também usam, as fábricas dos seus fornecedores não podem ter toneladas de excesso de capacidade. Se, por exemplo, a fábrica tailandesa de um fornecedor fecha por causa de inundações, pode transferir a produção para a Toyota em um local diferente, mas que, provavelmente outras montadoras enfrentarão o mesmo problema. Dada a sua dimensão, a Toyota provavelmente vai ser atendida, mas este movimento também irá torná-los mais dependentes dos grandes fornecedores mundiais e a Toyota não pode ter certeza de estar no topo da lista de clientes para todos os fornecedores cruciais.

O segundo aspecto do risco é o que acontece quando há um problema com alguma peça. Peças mais comuns significa mais correlação entre os modelos quando algo dá errado.

Para a Toyota, a mudança aumenta o risco de vários milhões de veículos, disse Hiroshi Ataka, analista da empresa de pesquisa IHS Automotive, em Tóquio. Freios defeituosos usados em vários modelos, por exemplo, exigiria um recall de veículos muito maior do que um problema com os freios encontrados apenas no Corolla ou no Prius. Vale lembrar que a Toyota já fez recall de mais de 10 milhões de veículos em 2009 e 2010, após relatos de aceleração não intencional.

A questão é analisar o tamanho do risco de grandes recalls. Dado que a Toyota vende um volume elevado de alguns modelos (como o Corolla), ela está exposta ao risco de grandes recalls se usar a mesma peça por vários anos. Além disso, na medida em que a Toyota busca “a compatibilidade de certas peças utilizadas com peças-padrão usadas por muitos fabricantes de automóveis a nível mundial,” se as coisas vão mal para eles, elas vão ser ruins para muitas montadoras. Isso pode fazer os números de recall da Toyota ficarem em melhor perspective frente à toda a indústria automobilística.

Finalmente, vale também ressaltar que o uso das mesmas peças em vários modelos ajuda a centralizar esforços de engenharia e controle de qualidade, pois a mesma peça passa a ser avaliada por grupos desenvolvendo vários modelos. Isto pode também ajudar a diminuir os riscos e identificar problemas antes que os veículos entrem em produção.

Baseado no texto “Managing supply chain risk and standardizing parts” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Gestão da Cadeia de Suprimentos na Gestão de Operações

A Gestão da Cadeia de Suprimentos significa para a gestão de operações o mesmo que o oxigênio significa para nosso corpo. As operações de uma empresa não podem funcionar sem uma boa prática de gestão da cadeia de suprimentos. A gestão da cadeia de suprimentos garante que uma organização receba suas matérias-primas no momento correto, bem como bens e serviços que sejam essenciais para a gestão da empresa.

Toda a atividade da empresa está ligada numa cadeia de processos que desempenham um papel fundamental na alimentação da fome de materiais das linhas de produção. Um gerente de cadeia de suprimento deve assegurar que cada elo da cadeia desempenhe o seu papel corretamente. Trata-se de um processo contínuo, composto de várias etapas.

Vamos discutir alguns dos passos abaixo:

Planejamento

Depois que a organização já conhece os requisitos exatos do cliente, é hora de projetar a cadeia de suprimentos de forma que permita a organização cumprir os requisitos do cliente. Este é o primeiro passo e deve ser tomado cuidadosamente de forma que cada sub-passo seja cautelosamente planejado para dar o máximo retorno, pois recursos e tempo são limitados. O objetivo final é, naturalmente, a satisfação do cliente – e esse deve ser o objetivo de todo o resto do plano.

Desenvolvimento

Depois que o plano é desenvolvido, é hora de identificar os fornecedores viáveis e confiáveis. É importante que os fornecedores se identifiquem com os objetivos da organização, para que isso lhes permita ajustar as suas atividades em conformidade. O gerente de operações deve não só identificar os fornecedores de matérias-primas, mas também formular os termos e condições adequadas dos contratos de compra, para assegurar que os fornecedores sejam obrigados a fornecer os materiais a tempo e na qualidade adequada, bem como nas quantidades estipuladas. Também é fundamental que a interação com o fornecedor seja mantida ativa e que o seu desempenho seja revisto periodicamente.

Acompanhamento

A organização precisa ter uma prática de gerenciamento de estoques sólida para que ela possa tirar o máximo proveito dos fornecimentos. Uma gestão de estoques sadia permite que a empresa utilize corretamente os suprimentos e mantenha um monitoramento da utilização de estoques para a produção final dos bens.

Fabricação

A organização precisa agora usar o material e preparar as mercadorias para o cliente. A organização deve usar todas as suas técnicas de qualidade, de processos e todo o seu pessoal para garantir que a mercadoria cumpra os critérios de aceitação, conforme definido em parceria com o cliente. Depois de passado o teste de qualidade, é hora de empacotar os produtos e enviá-lo para o cliente. Pontualidade é fator crítico para satisfação do cliente.

Atendimento ao cliente

É hora de ouvir as sugestões e feedback dos clientes depois que as mercadorias são entregues. As sugestões formariam a base para novas melhorias no produto e a empresa precisa fazer desse processo uma jornada contínua de melhoria da qualidade. Também é a hora de identificar pontos para melhoria nos produtos, correção de defeitos e outras ideias sugeridas pelos clientes.

As etapas acima evidentemente variam um pouco de acordo com práticas organizacionais específicas, mas a essência da gestão da cadeia de suprimentos permanece a mesma. O objetivo principal do gerente de cadeia de suprimentos é para assegurar que cada parte do processo funcione bem e em sincronia com o conjunto, que o cliente esteja satisfeito e que todos os processos estejam ligados de forma eficiente.

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Diferentes riscos para cadeias de suprimentos

As coisas não estão melhorando rápido o suficiente para as montadoras de veículos do Japão – especialmente para a Toyota. O CEO da empresa, Akio Toyoda, falou durante uma conferência para a imprensa na semana passada que eles terão que esperar até o final do ano para que a Toyota volte a produzir com a mesma velocidade. A Toyota está em pior situação dentre os demais fabricantes de veículos japoneses principalmente porque uma fração muito maior da sua produção está concentrada no Japão. Enquanto a Nissan produz 28% dos seus 4 milhões de carros fabricados em 2010 no Japão, a Honda 27% (de uma produção global de pouco mais de 3,5 milhões de unidades), a Toyota produz 43% dos seus veículos no Japão (de mais de 7,5 milhões de veículos produzidos em 2010).

O mais interessante da reunião com a imprensa são os detalhes sobre o que causa os problemas (Wall Street Journal, 23/abril/2011):

A Toyota afirma ainda ter dificuldades no suprimento de 150 componentes, muitos deles relativamente simples como produtos químicos, resinas e borracha. A maioria eram fabricados e fornecidos para atender especificações exatas, o que torna difícil comprá-los de outros fornecedores, de acordo com a empresa. Ainda assim, o número caiu muito, pois em meados de março eram aproximadamente 500 itens.

O Vice Presidente Executivo Shinichi Sasaki disse que a Toyota irá conduzir uma revisão do seu sistema centralizado de fornecimento, incluindo uma análise se seria viável usar peças e material mais comumente encontrados, além de uma reavaliação de sua dependência de um único fornecedor no Japão para muitas destas partes.

Mesmo em casos onde pensávamos que tínhamos mais de um fornecedor, aconteceu em mais de uma ocasião que eles compravam subcomponentes de uma mesma firma”, disse o Sr. Sasaki. “Também estamos tentando aumentar o número de fornecedores de fora do Japão, na medida em que descobrimos que temos altíssima dependência de subcomponentes fabricados localmente”.

riscos toyota produção - supply chainOu então, para reescrever estas falas, a Toyota falhou feio ao estimar os riscos que estavam enfrentando.

A Toyota, é claro, é louvada há décadas por seu excelente trabalho com os fornecedores. Esta habilidade geralmente rende ótimos dividendos – talvez o mais famoso tenha sido quando um incêndio destruiu um fornecedor de peças-chave em 1997. Mas o que deu errado desta vez?

Eu vejo alguns fatores diferentes. Uma possibilidade é culpar o crescimento rápido da Toyota na última década. Aliás, esta tem sido a resposta padrão para tudo que deu errado para a Toyota nos últimos anos. Mas eu acho esta resposta um pouco simplista.

Uma afirmação mais razoável é que isto é uma conseqüência inevitável das tendências da indústria automobilística. Durante os últimos 20 anos vimos um crescimento dos principais fornecedores, que desenvolveram muitas habilidades diferentes. Onde antes um fornecedor entregaria uma peça, o superfornecedor de hoje entrega sistemas completos. Isso possibilitou à Toyota (e outras) a trabalhar com um número pequeno de grandes fornecedores, deixando a tarefa de controlar os pequenos fornecedores para os grandes parceiros. Por isso as “indústrias automobilísticas” são hoje chamadas de “montadoras”. Indiscutivelmente, esta era a maneira mais eficiente de gerenciar o fluxo de materiais, na medida em que os carros tornavam-se cada vez mais complexos. Mas isso também deixa as montadoras cegas para as ligações entre os fornecedores quando, como a Toyota descobriu, alguns dos grandes parceiros compartilham um mesmo fornecedor.

Também é válido notar que este problema não é exclusividade da Toyota. Eles foram atingidos com mais força por esta tempestade, mas isso abriu os olhos das outras montadoras. A verdadeira pergunta agora é: o que se pode fazer a este respeito? Minha opinião é que se pode fazer menos do que as montadoras gostariam – pelo menos no curto prazo. Como você pode imaginar, os componentes que estão atrasando a produção não são commodities. Assim, eles estão presos ao destino de seus fornecedores até que consigam redesenhar o componente ou qualificar outro fornecedor. O que desconfio que irá acontecer é que trabalharão em conjunto com seus grandes parceiros para entender melhor o fornecimento de base e garantir que os fornecedores estão bem dispersos geograficamente. Isto é, um fornecedor fabricará um componente chave mas ele terá a capacidade de produzi-lo em várias regiões. Desta forma, um desastre natural ou desequilíbrio político em uma região não fará desmoronar o castelo de cartas. Os fornecedores também estarão dispostos a entrar neste jogo, visto que eles também estão feridos por não terem diversificado antes.

Dito isto, agora existe um problema de coordenação. O sistema todo pára se alguém não diversificar. Alguns fornecedores americanos devem estar amargando um período ruim mesmo tendo toda a produção a milhares de quilômetros do Japão. Por quê? Porque as fábricas da Toyota ou Honda nos EUA não podem funcionar normalmente sem algumas peças complementares vindas do Japão.

Baseado no texto “Layers of supply chain risk” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Demanda Logística

As limitações do Lote Econômico de Compras e como superá-las

O Lote Econômico de Compras é a quantidade a ser comprada que vai minimizar os custos de estocagem e de aquisição, simultaneamente. Do ponto de vista da gestão de estoques, queremos mantê-los sempre baixos pois isso gera baixos custos de estoque. Por isso, é desejável fazer muitas compras de pequenos lotes. Por outro lado, existe um custo associado a cada pedido, e se fizermos poucos pedidos (de grandes quantidades), economizaremos no custo de pedido.

O problema é então equilibrar os custos totais (de estoque + de pedido) no seu valor mínimo, e isto é feito através do Lote Econômico de Compras (LEC). Se você quer saber como se calcula o LEC, veja a matéria Entendendo o Lote Econômico de Compras.

Apesar de muito prático, o LEC não é perfeito. Ele faz várias suposições que nem sempre são verdade (veja uma lista destas suposições na matéria anterior).

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Desempenho Gestão Gestão da Cadeia de Suprimentos Logística Supply Chain Management Transportes

Terremotos, vulcões e outros riscos para as cadeias de suprimentos

Você lembra do vulcão da Islândia que em abril de 2010 lançou cinzas na atmosfera e fechou o espaço aéreo europeu, causando atrasos e prejuízos para milhares de pessoas? Se você quer lembrar desta história, veja nossa matéria daquela semana Vulcão, caos aéreo na Europa e a logística. Não foram apenas pessoas em férias que tiveram sua rotina afetada. Como você pode imaginar, muitas empresas sofreram com os atrasos e algumas pararam sua produção por falta de matéria-prima.

No terremoto que abalou o Japão na última sexta-feira (11/mar/2011), a situação não foi diferente. Além das vidas perdidas, houve muitos danos materiais além de aeroportos e estações de trem fechadas. Grandes fábricas de carros suspenderam suas atividades em decorrência da catástofre. O mercado norte-americano deve sofrer um desabastecimento de alguns modelos da Toyota em função desta suspensão.

Uma das tendências dos últimos 20 anos é de buscar fornecedores no mundo todo e comprar de poucos deles. A justificativa é muito boa. Ao escolher fornecedores ao redor do mundo é possível encontrar preços mais baixos, tecnologia melhor e as melhores técnicas. Ao comprar de poucos fornecedores você evita variação dos produtos e pode concentrar-se em melhorias, tanto no design do componente quanto no seu processo de produção. Mas essa estratégia também significa tornar-se mais vulnerável a riscos tão peculiares (e improváveis) quanto um vulcão ou um grande terremoto.

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Gestão Logística

Tamanho do pedido, quantidades de entregas e o relacionamento com o cliente

Neste artigo discutiremos os pontos de vistas de fornecedores e clientes no que toca o tamanho dos pedidos e as quantidades de entregas, e como isso influencia a relação entre compradores e vendedores.

De maneira geral, os fornecedores querem entregar lotes cada vez maiores: assim vendem mais e conseguem eficiência no transporte. Para o fornecedor que paga pelo transporte é melhor entregar 1000 unidades uma vez por mês do que 500 unidades fazendo duas viagens mensais (desconsiderando as necessidades do processo produtivo).

Por outro lado, o cliente prefere receber pequenos lotes: mantém baixos os gastos em produtos estocados, não prejudica o fluxo de caixa e precisa de pouco espaço para armazenagem.