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Gestão Logística

A logística na fila do descaso

O Brasil nunca esteve tão parado. Desde o início do Século XXI o país que foi, por muitas vezes, classificado como um grande canteiro de obras, atraindo investidores e gerando uma significativa movimentação na economia com uma ampla oferta de empregos, se vê hoje travado e sem expectativas. Se não fosse pela infame movimentação política e suas lutas pelo poder e os chocantes, embora previsíveis, nababescos atos de corrupção, ficaríamos até sem assuntos. Aliás, essa história de crise, guerra entre a presidência e o Congresso Nacional, escândalos da Petrobras e tantos outros paralisam o país que necessita de ações já! O Brasil precisa retomar sua rotina administrativa antes que essa letargia se torne rotina e nos embriague como vem embriagando os Três Poderes.

logistica filaAs obras para a Copa de 2014 foram, sem dúvidas, a maior movimentação em termos de ampliação estrutural e de mobilidade que o país viveu após a revolução industrial. Contudo, o que ficou como legado não foi, nem de longe, equivalente ao que foi investido, e sei que esse assunto também já rendeu o suficiente. Porém, jamais deveremos esquecer essa lição de que o Brasil se pôs numa vitrine e não vendeu bem o seu produto devido à falta de planejamento – e devido corrupções, é claro.

Essa falta de planejamento já é alarmante por si só, mas quando nem esse mau planejamento toma alguma forma de ação necessitada em tantos segmentos da economia… Aí realmente temos seríssimos problemas. Imagine uma empresa onde os funcionários cruzaram os braços aguardando o plano de produção que não veio; o setor administrativo interessado apenas em saber quem ganhará a batalha entre os diretores enquanto os clientes ficam sem atendimento […]. O que produzirá essa empresa e qual seu futuro? Só sabemos mesmo que os clientes serão os mais prejudicados, ou pelo descaso, ou pela necessidade do produto ou serviço e ainda pagar mais caro para suprir algo que já o estorrica no mercado.

Como profissional de logística há quase duas décadas, que me perdoem os otimistas, mas sempre que se noticia um programa de investimentos no país na área sempre fico com o pé atrás, pois não é só questão de investimento nisso ou naquilo que vai alavancar nossa logística e dar-lhe o que realmente necessita e merece. Nada disso será eficaz se não houver a consciência do real papel e da importância da logística em nosso país.

Mais um programa de investimentos que atola num canteiro de promessas antes mesmo que se ligue o motor do caminhão carregado com planos que parecem mais sonhos do que projetos. Escrevi sobre o PIL (Programa de Investimentos em Logística) para 2015 até 2018 que previa quase R$ 70 bi só para esse período. Muito? Não. Isso não é quase nada dos mais de R$ 293 bi que o Brasil precisa para recuperar e ampliar apenas nossas fatigantes rodovias. O ano praticamente acabou e o que saiu do papel foram as chamadas “receitas programáticas”, aquelas ações que engordam os cofres públicos com as concessões e privatizações, mas as “aplicações programáticas”, a exemplo do Plano de 2012, não se tornaram projetos no papel. Ainda é animadora a questão levantada sobre concessões e a importância de se investir em ferrovias e no transporte fluvial, mas se nada disso sai ou vai para o papel, é comum pensar que o Brasil ainda não dá a devida importância para o setor logístico. E se esse custo logístico representa dois terços do custo de um produto; se perdemos mais de um terço da nossa produção agrícola no transporte e na armazenagem; se deixamos de exportar bilhões de dólares pela precariedade dos nossos portos… Não sei mais o que pode ser usado para chamar atenção.

Os mais inteirados sabem que o país ganha com esse caos em forma de impostos: custo alto = imposto alto; morosidade = mais serviços = mais impostos… Essa é uma fórmula difícil de ser mudada quando o país prefere arrecadar ao invés de economizar. Com a necessidade de circular com recursos orçamentários para alimentar os canais de corrupção, parece que tanto faz se o que sobra vai ou não ser usado eficazmente.

Enquanto a solução por parte do poder público e com o envolvimento do povo não chega, nossa logística permanece na fila do descaso, assim como a educação e a saúde. Enquanto a política for vista como uma ferramenta de autopromoção e não como uma ferramenta de prestação de serviços, não podemos esperar por mudanças substanciais. Enquanto o país não aprender que prender custa mais do que educar, que curar é mais caro que prevenir e que soluções nos impulsionam, podemos incluir nossa logística numa fila estúpida sem cadeiras para sentar e descansar.

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Comércio Exterior - COMEX Geral

O Mercosul e a Argentina

Em 2014, as exportações do Brasil para a Argentina foram de US$ 14,1 bilhões contra US$ 19,6 bilhões em 2013, o que significou uma queda de 27%. Já as importações foram de US$ 14,1 bilhões contra US$ 16,4 bilhões em 2013, o que representou um recuo de 14%. Em 2015, a tendência é de queda ainda mais acentuada: em janeiro, as exportações recuaram 30% e em fevereiro, 17%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

argentina mercosulO recuo está ligado às preferências que a Argentina tem dado a China, em troca de investimentos em infraestrutura e até da construção de uma base espacial na província de Neuquén, o que se tem refletido em bloqueio a produtos brasileiros com medidas burocráticas. Além disso, os manufaturados brasileiros têm perdido competitividade, em razão de desajustes na economia interna, provocados por alto custo de energia, aumento nos combustíveis, corte nas desonerações sobre a folha de pagamentos, juros altos e descontrole nas contas públicas.

É provável que essa queda seja sazonal e que nos próximos anos haja um reaquecimento nas exportações para o país vizinho. É de lembrar que, desde 2008, o Mercosul tem sido o principal fornecedor de bens de capital para a Argentina, com o Brasil sendo responsável por mais de 90% desse fornecimento.

Em 2008, as exportações foram de US$ 17,6 bilhões; em 2009, de US$ 12,7 bilhões (-23%); em 2010, de US$ 18,5 bilhões (40%); em 2011, de US$ 22,7 bilhões (22%); e, em 2012, de US$ 17,9 bilhões (-20%). Entre os produtos mais vendidos estão automóveis, minério de ferro, alumina calcinada, chassis, tratores, pneus, autopeças, eletrônicos e têxteis. É de se ressaltar que, em 2014, dos US$ 14,2 bilhões vendidos, US$ 13 bilhões foram de produtos industrializados (93%). Já as importações da Argentina, em janeiro de 2015, sofreram um recuo de 20% e, em fevereiro, de 26%. É de notar, porém, que essas quedas estão dentro da média dos últimos anos: em 2008, o Brasil importou US$ 13,1 bilhões; em 2009, US$ 11,2 bilhões (-15%); em 2010, US$ 14,4 bilhões (29%); em 2011, US$ 16,9 bilhões (18%) e, em 2012, US$ 16,4 bilhões.

Por parte do Brasil, porém, não há nenhum embargo. Pelo contrário. Entre os produtos mais comprados estão trigo, automóveis, malte não
torrado, batata, cevada, polímeros de etileno, motores a diesel/semidiesel, nafta para petroquímica e ligas de alumínio. De US$ 14,1 bilhões em mercadorias adquiridas pelo Brasil da Argentina em 2014, US$ 12,5 bilhões foram de produtos industrializados (89%). Seja como for, a Argentina ainda representa para o Brasil mais de 90% do Mercosul. Basta ver que, no primeiro bimestre, a Argentina (US$ 1,8 bilhão) ficou atrás só dos EUA (US$ 3,8 bilhões) e da China (US$ 2,9 bilhões) entre os principais países de destino das exportações brasileiras.

Portanto, cabe ao governo envidar esforços para que essa parceria seja mantida pelo menos nos níveis atuais, evitando novos retrocessos. E, acima de tudo, exigir que as regras e disposições regulamentares do Mercosul sejam respeitadas por todos os parceiros.

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Comércio Exterior - COMEX Gestão Logística

Brasil-EUA: correção de rota

Em 2009, para justificar a adesão à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) da Guiné Equatorial, país africano governado desde 1979 por partido único e por um mesmo dirigente autoritário e onde poucas pessoas falam o Português, uma alta autoridade do governo brasileiro da época saiu-se com esta: “Negócios são negócios”. Essa estratégia política, ao que parece, não foi seguida em relação aos Estados Unidos, o maior mercado do planeta, pois houve nos últimos governos um propósito deliberado de procurar um distanciamento com aquela nação, a pretexto de diminuir uma possível dependência comercial e política.

brasil euaAo que parece, o atual governo já deixou para trás esse tipo de doença infantil e tem procurado se reaproximar de Washington. E, não fosse o episódio de julho de 2013, quando veio à tona o escândalo sobre a espionagem de cidadãos e empresas brasileiras pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), que levou a presidente brasileira a cancelar uma visita àquela nação, as negociações estariam bem mais adiantadas.

Seja como for, o resultado daquela desastrada estratégia pode ser conferido nos últimos dados sobre a corrente de comércio (importações/exportações) entre os dois países divulgados pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), ainda que se deva levar em conta também os efeitos da crise financeira global que se registrou a partir de 2008.

Na área de exportações, em 2014, o Brasil vendeu mercadorias para os Estados Unidos no montante de US$ 27 bilhões, o que representou um crescimento de 9,63% em relação a 2013 (US$ 24,6 bilhões), praticamente igualando a melhor marca até agora, obtida em 2008 (US$ 27,4 bilhões). Em 2009, esse valor caiu para US$ 15,6 bilhões, mas, desde então, foi registrada uma recuperação contínua. É de se ressaltar que, do montante de 2014, US$ 19 bilhões foram resultado da venda de produtos semimanufaturados e manufaturados, enquanto US$ 6,3 bilhões, de produtos básicos. Ou seja, isso mostra que o mercado norte-americano é extremamente importante para a sobrevivência da indústria brasileira, especialmente a paulista, porque absorve mais produtos de maior valor agregado.

Na área de importações, em 2014, o Brasil comprou US$ 34,9 bilhões em mercadorias, o que representou uma queda de 2,83% em relação a 2013 (US$ 36 bilhões), mas manteve a marca acima de US$ 30 bilhões que se registra desde 2011. Em 2008, época do início da crise global, o montante foi de US$ 25,6 bilhões, tendo caído para US$ 20 bilhões em 2009, recuperando-se em 2010 (US$ 27 bilhões).

O que se constata também é que o Brasil desde 2009 importa mais do que exporta para os Estados Unidos. Eis os números: em 2014, o déficit do Brasil foi de US$ 7,9 bilhões; em 2013, de US$ 11,4 bilhões; em 2012, de US$ 5,6 bilhões; em 2011, de US$ 8,1 bilhões; em 2010, de US$ 7,7 bilhões; e em 2009, de US$ 4,4 bilhões. Em outras palavras: o Brasil segue numa direção contrária à da maioria dos países, já que o mercado norte-americano é majoritariamente importador. É como se o Brasil fosse o país desenvolvido e os Estados Unidos a nação em desenvolvimento.

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Comércio Exterior - COMEX Demanda Gestão Logística

Ministério do Desenvolvimento (MDIC): um novo rumo

A nomeação do senador Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em substituição a Mauro Borges, é um indício de que o novo governo pretende mudar a diretriz que marcou a pasta na última gestão, caracterizada pela inércia diante da perda de competitividade do produto manufaturado brasileiro no mercado mundial.

desenvolvimento industria comercio brasilDisposto a eliminar ou reduzir alguns dos fatores que compõem o custo Brasil, o novo ministro já anunciou que pretende combater o “excesso de regulamentação e os procedimentos burocráticos” que impedem o desenvolvimento das atividades produtivas do País, além de defender a conclusão do acordo Mercosul-União Europeia e a formalização de um tratado entre o Mercosul e os países da Aliança do Pacífico Empresário, com carreira ligada à indústria, Monteiro conhece muito bem as dificuldades que exportadores e importadores encontram para atuar e, com certeza, será bastante receptivo às reivindicações do setor. Por isso, uma das primeiras reivindicações que deveria analisar é a proposta da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) para que haja uma reforma estrutural que possa oferecer ao produto brasileiro competitividade no exterior, a partir de um pacto federativo em favor da completa imunidade tributária nas exportações de bens e serviços.

Essa sugestão da AEB prevê a desoneração do produto exportado, ao longo de toda sua cadeia produtiva, livrando-o de quaisquer impostos, taxas, contribuições e outros gravames. Com isso, seriam eliminados os problemas provocados por compensações, acúmulo de créditos ou
ressarcimento aos exportadores.

Outra sugestão da AEB é a criação de um fundo de financiamento a programas de exportação, formado por diversificadas fontes de recursos, mas que conte com a participação da União no aporte do montante inicial. Esse fundo facilitaria o acesso ao crédito por parte de micro, pequenas e médias empresas, incentivando a maior participação dessas organizações nas atividades de exportação.

Com isso, seria possível aumentar significativamente o número de empresas exportadoras. É de se notar que, em 2007, as empresas exportadoras somavam 20.889 e que, em 2014 foram 19.250, depois de chegar a 18.809 em 2013, segundo dados do MDIC. Já as importadoras eram 28.911 em 2007 e chegavam a 44.069 em 2012, ou seja, houve um crescimento de 52%. À falta de números mais atualizados, pode-se dizer que hoje há três vezes mais empresas importadoras que exportadoras.

Obviamente, a defesa de uma política voltada para o incremento da produção de manufaturados e sua inserção no mercado mundial não significa uma posição contrária à exportação de commodities. Pelo contrário. Com maiores investimentos do governo na infraestrutura logística, as commodities manteriam o poder de competição, diante de uma possível baixa nas cotações mundiais.

Seja como for, o fundamental é aumentar a exportação de manufaturados, atividade que adiciona maior valor agregado e gera mais empregos formais e qualificados, fatores fundamentais para movimentar a economia.

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Comércio Exterior - COMEX Desempenho Gestão da Cadeia de Suprimentos Logística Supply Chain Management

O que esperar de 2015

Ainda que se queira evitar qualquer sintoma de sinistrose, a verdade é que para 2015 está armado um cenário de estagnação para o comércio exterior, que nada deverá contribuir para a expansão da economia brasileira. Segundo dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a expectativa é que as exportações atinjam US$ 215,3 bilhões, o que significará uma queda de 4,3% em relação aos US$ 225 bilhões de 2014. Já para as importações o que se prevê é um montante de US$ 207,2 bilhões, o que representará uma queda de 9,8% em relação aos US$ 229,6 bilhões alcançados em 2014.

2015Se a Pangloss, o eterno otimista imaginado por Voltaire (1694-1778), fosse dada a oportunidade de analisar estas projeções, com certeza, ele trataria de comemorá-los, pois, em números absolutos, significam que, em 2015, haverá um superávit na balança comercial de US$ 8,1 bilhões, o que permitirá reverter o déficit de US$ 4,5 bilhões registrado em 2014. Mas esta é apenas uma meia verdade, ou seja, uma afirmação que não é falsa, mas na qual se oculta alguma informação. Afinal, o superávit será alcançado não pelo aumento das exportações, mas por uma forte queda nas importações. E, principalmente, por uma redução na corrente de comércio (exportações/importações), o que significa queda na atividade econômica.

Pior: o superávit só será alcançado se a China continuar com crescimento econômico elevado, o que significa que as cotações das matérias-primas (commodities) serão mantidas em patamar elevado. Dessa maneira, será possível manter o superávit e, de certo modo, “esconder” os problemas cruciais que afligem o País, que passam pela destruição do seu parque industrial na medida em que não se consegue deter a perda de competitividade dos produtos manufaturados, que se iniciou em 2007.

Essa perda de competitividade tem se refletido no fechamento de mercados importantes para o manufaturado brasileiro, como os Estados Unidos, o maior importador do planeta, e a União Europeia. Sem contar que o principal destino dos manufaturados brasileiros, a Argentina, enfrenta muita instabilidade, a exemplo de outros países latino-americanos e africanos, que passam a ter menor poder de importação na medida em que suas commodities registram queda nas cotações mundiais. É o caso da Venezuela, que vinha proporcionando superávits comerciais ao Brasil. A esse grupo deve-se juntar a Rússia, país com o qual o Brasil mantém superávit comercial, mas que poderá reduzir suas compras.

O que fazer? Se quiser reverter esse quadro, o novo governo precisa se valer do relativo cacife que as urnas lhe deram para realizar as reformas estruturais tão reclamadas nas áreas tributária e trabalhista, além de investir com maior vigor na infraestrutura para baixar os custos logísticos e procurar reduzir a burocracia.

Só assim os produtos manufaturados voltarão se tornar competitivos, sem ficar na dependência de uma taxa de câmbio que, na verdade, só tem favorecido alguns segmentos. Caso contrário, o Brasil corre o risco de se tornar apenas um fornecedor de matérias-primas.

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Comércio Exterior - COMEX Logística Transportes

A fundo perdido

Se em vez de investir R$ 2,6 bilhões na construção de um terminal no porto de Mariel, em Cuba, o governo brasileiro tivesse feito semelhante investimento no Norte ou Nordeste, com certeza, o escoamento da safra agrícola do Centro-Oeste não precisaria necessariamente mais ser executado pelos portos de Santos e Paranaguá. Além de promover economia de combustível, já que a distância seria menor, o governo teria levado o desenvolvimento a regiões mais carentes, já que seria obrigado também a investir em rodovias e ferrovias.

bndesTambém teria evitado o atual contencioso que levou a Advocacia Geral da União a recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender lei municipal de Santos sancionada em novembro de 2013 que proíbe a movimentação de grãos no bairro da Ponta da Praia. Ainda que o governo federal alegue que os novos editais de arrendamento no Porto de Santos prevêem a obrigatoriedade de que os arrendatários utilizem equipamentos que reduzam a liberação de resíduos poluentes na atmosfera, a verdade é que não há condições de se estabelecer uma boa convivência entre os moradores e os terminais graneleiros naquela área urbana.

Nesse caso, melhor teria sido se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em vez de se mostrar tão “generoso” na concessão de crédito a Cuba, tivesse financiado a instalação desses terminais na área continental de Santos, zona pouco povoada. Fosse como fosse, não há dúvida que a melhor solução passaria por uma descentralização do Porto de Santos, reservando-o para produtos de maior valor agregado.

É de reconhecer a preocupação do governo em facilitar o escoamento das exportações agrícolas, responsáveis pelo superávit que a balança comercial ainda apresenta, mas nada justifica essa concentração de terminais graneleiros na Ponta da Praia, bairro densamente povoado.

O pior é que os recursos destinados à revitalização do porto de Mariel, em Cuba, aparentemente, pouco retorno darão ao Brasil, já que o regime cubano tradicionalmente não costuma cumprir seus compromissos internacionais. Se, por outro lado, esse carcomido regime vier a cair em breve, fatalmente, o capital cubano concentrado hoje em Miami migrará para a ilha, ao lado de maciços investimentos norte-americanos. Isso significa que Cuba, a exemplo de Porto Rico, logo poderá se tornar um estado associado aos Estados Unidos.

Nesse cenário, igualmente, pouco espaço restaria para o Brasil. Ou seja, fez-se um investimento a fundo perdido. Como se o Brasil fosse hoje um país de Primeiro Mundo, com todos os seus problemas de educação, saúde pública, saneamento básico, infraestrutura de transporte e empregabilidade já resolvidos.

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Comércio Exterior - COMEX Desempenho Logística Transportes

Menos proteção, mais ousadia

Análise divulgada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) deixa claro que a indústria brasileira vem encontrando dificuldades para competir com os produtos importados no mercado interno. E mostra que a desvalorização do real em 2013 não foi suficiente para restituir a competitividade ao produto nacional.

investimentos-brasilO que fazer? Governos anteriores – cujos gestores não se notabilizaram por uma inteligência acurada – a primeira medida que tomaram, diante de uma situação como essa, foi recorrer ao fechamento do mercado aos produtos estrangeiros ou, então, à elevação da tarifa do Imposto de Importação para dificultar a entrada dessas mercadorias no País.

Como ensina a História, nada disso deu bons resultados a longo prazo. Pelo contrário: só serviu para condenar o País ao atraso tecnológico, como bem lembra quem acompanhou os danos causados pela lei da reserva informática em favor dos produtos fabricados na Zona Franca de Manaus, que acabou por obrigar os brasileiros a usar por anos a fio computadores ultrapassados em relação aos países mais desenvolvidos.

Hoje o que se tem claro é que a preservação da indústria nacional – e dos empregos da população – passa mais por medidas que estimulem a desoneração de tributos e pela redução da burocracia do que pelo fechamento do mercado ao produto estrangeiro concorrente.

Sem contar a superação das conhecidas deficiências logísticas, com o asfaltamento de estradas no interior do País, a construção de uma rede de armazenagem para as safras agrícolas, a recuperação e expansão da malha ferroviária, a criação da opção hidroviária para o transporte de cargas e, enfim, a ampliação e modernização dos portos. Neste caso, bastaria ao governo brasileiro financiar a construção de pelo menos três portos – um no Norte, outro no Nordeste e outro no Sul – nos moldes do de Mariel, construído em Cuba com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Em outras palavras: o País precisa abandonar de vez a mentalidade protecionista que ainda o caracteriza e partir para um modelo que estimule a sua inserção no mercado internacional, a partir da assinatura de maior número de acordos comerciais. Para tanto, precisa deixar de ser refém do Mercosul que, se deu bons resultados num primeiro momento, hoje atrapalha a sua expansão em direção a uma integração internacional.

Ou seja, o Brasil precisa convencer seus sócios da necessidade de acordos comerciais com a União Europeia, com os Estados Unidos e com os países da Ásia. Caso contrário, esses três grandes atores vão chegar a um amplo acordo antes e, praticamente, determinar o padrão de comércio mundial, em termos de legislação aduaneira, ambiental, fitossanitária e tarifária. E aos demais só restará aceitar as regras do jogo, sob pena de serem excluídos do comércio global.

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Gestão Logística

Petrobras: por trás de Pasadena

Mais um desastre econômico no Brasil vem afetar, não só o já deficiente mercado logístico de combustíveis, como a confiabilidade nos negócios da Petrobras conduzidos de forma desastrosa e interesseira.

petrobras pasadenaA compra de uma refinaria em Pasadena, no estado do Texas (EUA), por quase US$ 1,19 bi quando esta valia pouco mais de US$ 42 milhões, é mais uma razão para sermos o 13º país com o combustível fóssil mais caro do mundo e, considerando nossas reservas de petróleo, termos a gasolina mais cara do mundo entre os principais países produtores, mesmo com uma mistura (hoje de 25%) de álcool para “reduzir” os custos. Mas, o que realmente está por trás de um negócio mal conduzido como esse? Quais os impactos logísticos/econômicos?

Apesar de nos chocarmos com a corrupção praticada na Petrobras, não só com esse caso de Pasadena como com a refinaria de Pernambuco (Abreu e Lima) que, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), a obra orçada em US$ 2 bi saltou para US$ 18 bi (são mais R$ 36,5 bilhões de diferença), essas manobras comerciais indicam que há algo monstruoso crescendo nesse mercado para ir além de propinas milionárias.

Em setembro de 2010 a Petrobras celebrou a maior capitalização realizada no mundo. Foram R$ 120 bi injetados no caixa com a emissão de mais de quatro bilhões de ações. Só no primeiro ano, investidores amargaram perdas na casa de 20%. Em 2012 consolidou-se a compra dos outros 50% da refinaria em Pasadena, detidos por um conglomerado de empresas belgas, após uma disputa judicial que custou mais US$ 171 milhões. O Conselho da Petrobras, que tinha à frente a hoje presidente Dilma Rousseff, aprovou o arrendamento dos primeiros 50% da refinaria em 2006 e, anos depois, alegou não ter conhecimento de cláusulas contratuais que obrigaria a Petrobras garantir lucro de 6,9% à empresa belga Astra Oil Company e nem da obrigação em pagar pela outra metade em caso de divergências entre as partes. Contudo, em 2007, o mesmo Conselho aprovou a compra de uma refinaria no Japão com cláusulas idênticas ao contrato de Pasadena.

Não há dúvidas de que os problemas de infraestrutura no Brasil vão além das tentativas de garantir o abastecimento no país. Alguns devem se perguntar sobre a razão de comprar refinarias estrangeiras, mas as razões são as mesmas que levaram a Petrobras vender quase metade de suas reservas de petróleo da camada pré-sal: insuficiência estrutural para extrair, refinar e atender a demanda nacional. Na verdade, a razão, além da corrupção que está por trás dessas ações desastrosas, tem a ver com a desvalorização de um patrimônio nacional na busca futura de uma negociação de uma empresa que tanto foi motivo de orgulho para os brasileiros – razão não menos corrupta do que as citadas e de tantas outras “varridas para baixo do tapete”.

Talvez estejamos nos preocupando à-toa? Não se observarmos que o setor de telecomunicações, não menos importante para o país, foi conduzido da mesma forma e hoje sabemos como está. Nada de ser a favor ou contra privatizações desde que sejam proveitosas para o Brasil e não negociadas de forma a enriquecer A ou B. A forma de desapego pela estatal plantada aos poucos nos brasileiros conduz a negócios sujos que se escondem na nossa ideia de que é “apenas” ingerência de capital ou mais uma da corrupção que permeia nossa velha política.

Há anos a Petrobras vem “nadando contra a correnteza” sem o real conhecimento da maioria dos brasileiros. São ações sem lucros, rebaixamentos da credibilidade para investimentos, negócios mal conduzidos – pelo menos para o povo brasileiro – e desvalorização patrimonial mesmo com os investimentos e projetos tocados pela empresa. O patrimônio que era de quase R$ 500 bilhões, hoje vale menos de R$ 200 bilhões. Infelizmente, o pré-sal não será suficiente para reverter esse quadro, pois o intuito verdadeiro é de que não seja mesmo.

Já não se vê a abertura para empresas estrangeiras como uma boa estratégia para contornar nossos inúmeros e sérios problemas logísticos. Na verdade, nossos problemas de infraestrutura são oportunos. A situação toda reforça ainda mais a opinião de alguns parlamentares que defendem a necessidade de privatização abrindo mão de mais um segmento: o mais forte para a economia do país. Talvez estejamos à mercê da outra face da corrupção: aquela que, não satisfeita em ganhar com a venda dos “ovos de ouro”, anseia por vender a “galinha”. Já vimos essa história antes[…]

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Logística

Só temos grama verdinha para a Copa de 2014

Em maio de 2011 escrevi um artigo sobre a Copa 2014 (Brasil 2014: Com ou sem emoção?) onde chamava atenção aos pontos favoráveis e desfavoráveis para a realização de uma Copa do Mundo em nosso país. Antes de torcer pela nossa Seleção eu torcia para estar errado quanto ao curso que isso tudo tomaria.

grama verdeHoje, às vésperas do evento, é difícil ter o mesmo entusiasmo quanto ao aproveitamento logístico de um evento que poderia nos colocar numa evidência diferente da que conhecemos. Tivemos quase sete anos para nos preparar, faltando três começamos a planejar, licitar e corrigir o que começou com um orçamento de R$ 11 bi, depois foi para R$ 23 bi e vimos que só os aeroportos consumiriam isso e ainda não atenderiam a demanda. E agora olhamos, sentados numa arquibancada, para quase R$ 30 bi e tudo o que vemos são estádios. Embora se divulgue que eles, os estádios, consumiram apenas R$ 9 bi desse total. E o resto?

As obras são financiadas pelas três esferas: municipal, estadual e federal. Embora no lançamento da campanha tenha-se dito que a maior parte dos recursos seria privada. Contudo, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o dinheiro público representa 98,5%. O Governo Federal tem responsabilidade sobre 261 obras de mobilidade urbana (aquelas para melhorar o transporte e o acesso aos locais do evento). Com o juiz quase apitando para o início da partida, sabe quantas estão prontas? 7. Dessas obras de mobilidade, 36 seriam exclusivas para a Copa, mas apenas 3% estão em andamento. Os estados e municípios atuariam em tantas outras, mas percebemos muito pouco do que foi divulgado e quase nada do que seria necessário.

Infelizmente, ficou aquele bordão: “Para se fazer uma Copa, o Brasil precisa de estádios.” E é só o que temos. E o resto? Impossível fazermos em quatro meses o que não fizemos em quatro anos. Sem contar que o dinheiro já “foi pro mato, pois o jogo era de campeonato!”

A África do Sul gastou R$ 3,8 bi em seus dez estádios para a Copa anterior e hoje não realiza qualquer evento que pague os custos com manutenção – o menor estádio custa quase R$ 2,5 milhões por ano. Ainda bem que não é o nosso caso, pois nossos estádios serão explorados pelos cartolas do futebol brasileiro que, logo que possível, pagarão todos os investimentos […]. Para aqueles estádios onde o futebol do estado não é tão forte, depois que nossos irmãos sul-africanos aprenderem o caminho, talvez a gente os imite nisto também.

Rindo à toa mesmo, só alguns políticos, empreiteiros e a FIFA que bateu recorde de vendas de ingressos para o evento. Não importa se os visitantes desembarcarão no “puxadinho” do aeroporto em Fortaleza já que não dará tempo concluir as obras e tendas serão montadas de improviso; ou se espantarão com as goteiras e filas intermináveis dos aeroportos do Rio e São Paulo; ou se não conseguirem chegar a tempo aos estádios devido à precariedade do trânsito; se alguns segmentos do mercado já corrigiram seus preços em mais de 200%, não importa. O que importa mesmo é que nossa grama está verdinha…

Com todo “interesse e dedicação” ao projeto da Copa, ainda temos que ouvir do Sr. Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA, de que somos desorganizados e deixamos tudo para última hora. Ora, ele pensa que pode mexer com nossos “patrimônios nacionais”? Já não basta interferir no futebol, agora quer mudar o nosso “jeitinho de deixar tudo para última hora”?

Como brasileiro e amante desse país, gostaria que muitas coisas fossem diferentes, mas não dá para ir contra a lógica apresentada. Não dá para enfeitar tudo e fingir que as desigualdades não incomodam e que o Brasil não tem outras prioridades. Não se trata de ser contra ou a favor da Copa, mas perdemos a chance de melhorar a logística dos brasileiros da forma que tanto queríamos e tanto precisávamos, pois todo aquele legado prometido, por enquanto, está só no papel.

Pelo menos a grama já está verdinha… É para ela que alguns – já que muitos não poderão pagar para ver de perto – vão olhar. De lá, não dará para ver a crise na educação, o colapso da saúde e o aumento da violência no país… Yes! Nós temos grama verdinha […].

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Demanda Desempenho Gestão

Como a balança comercial interfere em nossas vidas

Alguns economistas renomados explicam números e não enxergam as mudanças no mercado, esquecendo que a economia é a relação da lógica com as perspectivas da evolução dos mercados que impactam diretamente no desenvolvimento da sociedade. Assim, índices e fatos econômicos dizem muito sobre como ficará sua vida, sejam esses fatos positivos ou negativos.

balanca comercialDe uma forma simples, a balança comercial é o levantamento dos bens e serviços negociados com outros países. Se o valor das exportações foi maior do que o valor das importações o país gerou superávit e indica crescimento produtivo e/ou melhor política comercial, caso contrário, ou seja, se comprarmos mais de outros países do que vendermos, gera-se o déficit comercial que desencadeia uma série de consequências:

– No caso de déficit na balança comercial há um recuo da produção no país, pois sem negócios, há o aumento do estoque que muitas vezes é comercializado no mercado nacional e, não só pelo público-alvo, mas pelos impostos, os custos de produção não são cobertos porque a estrutura do negócio está atrelada ao dólar.

– Com o recuo da produção há o aumento da taxa de desemprego. Isso combinado ainda com o efeito deficitário, sobre o aumento das importações, há mais saída de dólares do que entrada e assim, cada vez mais, produtos internacionais inundam o mercado e começam afetar mais empresas nacionais.

– Com a saída de dólares do país, o Banco Central tem que disponibilizar mais da moeda no mercado para segurar a cotação. Isso diminui as reservas brasileiras e nem sempre tem o resultado esperado.

– Com a diminuição da produção e aumento do desemprego, o Produto Interno Bruto (PIB) é afetado e o Brasil não alcança suas metas de crescimento e não atrai investidores estrangeiros. Com esse efeito vem a questão do aumento da dívida pública, diminuição de arrecadação de impostos e os cofres do país são afetados contribuindo para aquela avaliação internacional, chamada risco Brasil, que pontua o perigo de investimentos em títulos públicos. Não é o nosso caso, mas numa situação persistente ocorre então o risco de recessão.

– Todas essas situações que levam ao aumento do custo de vida resultam em aumento da inflação. Isso nós conhecemos muito bem.

– Os efeitos desse déficit na balança comercial seguem impactando em vários segmentos e, todos eles, refletem no seu bolso afetando sua qualidade de vida. Importante também citar que tais efeitos têm origem em vários segmentos econômicos e se intensificam sob vários aspectos.

O ano de 2014 não começou nada bem. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior divulgou que os números em janeiro são os piores desde 1994. As compras do Brasil no exterior totalizaram US$ 20 bilhões enquanto que as vendas externas totalizaram US$ 16 bilhões, o que gera um déficit de US$ 4 bilhões. As causas de maior relevância foram os sucessivos aumentos nas importações de máquinas de uso doméstico, móveis, vestuário, automóveis, produtos alimentícios e bebidas. Matérias-primas, peças para o setor agrícola, produtos químicos e farmacêuticos também contribuíram com esses números num percentual menor, porém maior que o mesmo período do ano passado.

O curioso é que importamos menos 19% de combustíveis e lubrificantes em janeiro, mas muito disso se deve ao governo e sua política de preços que absorve os aumentos internacionais do petróleo. Não foi pela diminuição da necessidade, pois o país precisa, cada vez mais, de combustíveis fósseis que chegaram a faltar nas distribuidoras na segunda quinzena do mês – o consumidor final não percebeu esse desabastecimento –. Contribuindo com isso, vêm as velhas deficiências dos nossos portos para a descarga do produto que protelam futuras negociações.

Mesmo com o aumento da exportação de petróleo cru, o Brasil não conseguiu equilibrar esse indicativo, mas ainda é cedo para pensarmos nesses efeitos desagradáveis. Tomara!