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Setor têxtil e sua logística de sobrevivência

Poucos processos produtivos são tão apaixonantes quanto o processo têxtil. Ele desperta, a meu ver, uma fascinação em quem gosta do ambiente fabril, pois da lavoura algodoeira que fornece a fibra e que passará por processos precisos e interessantíssimos, com ou sem misturas, até se transformar no que você veste agora, é algo que tem minha admiração e meu respeito.

logistica setor textilPorém, se ao longo desse processo podemos ver essa transformação admirável, não enxergamos o respeito por parte de políticas públicas que maltrata, do agricultor ao empresário, aquele que depende do setor para o sustento de sua família e que continua trabalhando pela realização de seus sonhos passando por cima de dificuldades inimagináveis aos olhos de leigos. Se a cultura algodoeira sofre com os devastadores ataques do bicudo (inseto originário da América Central que, junto à Helicoverpa Armígera, representa a maior ameaça à cultura do algodão) desde meados da década de 80, todo o setor comercial dessa transformação sofre com ações equivocadas ou inexistentes de nossa política omissa e interesseira que se tornou a pior praga para o algodão pós-campo.

Longe de mim a defesa de certas medidas protecionistas adotadas por muitos países produtores, mas no caso do Brasil, é evidente o desprezo pelo setor agrícola, que tanto contribui para as riquezas do país, em especial pela cultura do algodão que vê seus gastos extraordinários elevados em até US$ 150 por hectare devido pragas e com efeitos financeiros aumentados por aberturas indiscriminadas do mercado internacional, em especial o da China, visando uma maior parceria… Parceria? Como assim? Sacrificar um setor que produziu, em 2014, mais de R$ 126 bilhões com quase 17% do total de trabalhadores da produção industrial deste mesmo ano – e que já representou bem mais antes dos ataques à sua economia – para proteger outros setores? Isso nos remete à situação da saúde pública que decide quem morre pela falta de atendimento. Estaria então, nossa economia doente e as mesmas ações políticas determinando o fim de segmentos inteiros para salvar outros? Na saúde o efeito disso não acaba quando o paciente morre, nem na economia, pois o segmento sobrevivente perecerá, mais cedo ou mais tarde, do mesmo mal acometido àquele que custeou sua “salvação”.

Segundo o “Relatório Setorial da Indústria Têxtil Brasileira – Brasil Têxtil 2015” elaborado pelo IEMI (Inteligência de Mercado, especializado em pesquisas e análises do setor têxtil e de vestuário), de 2010 a 2014, o número de unidades produtivas em atividade na cadeia têxtil cresceu 6,4%, mas as fiações apresentaram queda de 3,7%, as tecelagens de 3,6% e as malharias de 3,2%. Demonstrando que as importações da China são bem impactantes e que merecem maior atenção. E sabemos que não há essa coisa boa sobre a competitividade, pois o contexto está mesmo em questões que envolvem a exploração da mão-de-obra e do déficit tecnológico que deixou o Brasil de mãos atadas.

Contudo, a logística têxtil, não diferente de outros setores brasileiros que lidam diariamente com a falta de infraestrutura, é magnifica e consegue ainda se sobressair quando muitos já teriam entregado os pontos. O mesmo relatório do IEMI aponta que os investimentos em modernização e/ou ampliação da capacidade produtiva cresceram 8,1% de 2010 a 2014, embora neste último ano, a estimativa tenha chegado a R$ 4,3 bilhões, representando uma queda de 14,7% sobre 2013, mostra que o setor “tira leite de pedra” e que não se entrega facilmente.

Eu poderia trazer aqui vários números negativos que apontam para o aumento do déficit da balança comercial da cadeia têxtil que, em 2014, somou US$ 4,7 bilhões e que sobe em média 14% ao ano, mas prefiro destacar que nesse mesmo 2014, os investimentos em máquinas e equipamentos atingiram R$ 2,3 bilhões celebrando um crescimento de 21,9% no período de 2010 a 2014, para mostrar o quão grande e importante ainda é o setor têxtil brasileiro com seus empresários apaixonados, funcionários dedicados e habilidosos, uma logística forte e criativa e, sobretudo, um setor solidário que alimenta tantos outros setores com o desenvolvimento a ele negado pelas políticas públicas. Um setor cuja crise atravessa décadas e ainda se mantém vivo e resistente às turbulências e terremotos, não naturais, mas provocados por erros de governos que não enxergam um palmo além de uma economia desinteressada pela produção nacional, é realmente diferenciado e merecedor do sucesso que, com correções, trabalho, criatividade e a paixão que não lhe falta, está por vir.

Claro, ainda há muito que se modernizar, mas como é forte esse setor!

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Comércio Exterior - COMEX Desempenho Logística

Reindustrialização das exportações

Apesar do excelente desempenho das commodities nos últimos anos, mesmo enfrentando um dólar barato demais, o Brasil ocupa apenas a 22ª posição no ranking dos exportadores, embora tenha o sétimo Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Isso ocorre em razão da perda de competitividade dos produtos industrializados no mercado externo, que tem sido provocada pelo chamado custo Brasil.

exportacoes industriaisComo se sabe, essas duas palavras resumem um quadro complexo que representa um desafio para o próximo governo e também para as futuras gerações: infraestrutura deficiente e cara, alta carga tributária, falta de reformas de base e defasagem cambial. Tudo isso tem ajudado a ocasionar déficits comerciais que não param de crescer e trazem consigo a eliminação de empregos. E, à falta de empregos, milhares de jovens são levados à marginalidade, engrossando as estatísticas da violência social.

Portanto, é fundamental alterar essa situação a partir do aumento da participação industrial na pauta exportadora. Afinal, basta ver o citado ranking dos exportadores para perceber que os 14 maiores são países eminentemente vendedores de produtos manufaturados. É isso que permite a definição de uma política de comércio exterior.

Se o Brasil continuar por muito tempo dependendo da venda de commodities, com certeza, vai entrar num ciclo depressivo sem volta. Basta ver que a participação industrial na pauta de exportações caiu de 59% em 2000 para 37% em 2013. Se continuar nessa trajetória, não é difícil prever o aumento do desemprego na indústria, o que significa uma redução no número de consumidores e problemas também no mercado externo.

Esse fenômeno está também ligado à estratégia equivocada adotada pelo governo anterior, que decidiu substituir uma possível dependência à economia norte-americana por outros parceiros, esquecendo-se de que os Estados Unidos são o maior mercado do planeta, cujas compras ultrapassam a faixa de US$ 2,5 trilhões. O resultado foi que a participação dos Estados Unidos na exportação brasileira caiu de 25% em 2002 para 12% hoje.

Atualmente o maior parceiro comercial do Brasil é a China, que compra 17% de tudo o que o País vende para o exterior. Só que há uma diferença que explica o atual fenômeno da desindustrialização pelo qual o Brasil passa: enquanto os Estados Unidos  compram produtos industrializados, de maior valor agregado, o país asiático adquire basicamente grãos e minério de ferro.

Para piorar, além de ter um peso pequeno nas compras norte-americanas (1,5%), o Brasil se dá ao luxo de registrar déficits comerciais com os Estados Unidos, comprando mais do que exporta para lá. Portanto, é preciso urgentemente criar condições para que o País passe por um processo de reindustrialização que promova a sua inserção internacional.