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Mercosul ou voo solo?

Não se pode deixar de reconhecer que os resultados alcançados pelo Mercosul em seus 24 anos de existência foram significativos, mas isso não quer dizer que o Brasil tem de ficar atrelado a esse acordo indefinidamente. Por isso, é preciso que o governo avalie muito bem a situação à que chegou o bloco e tome as decisões que se afigurem como as melhores para o País. O que se lê até mesmo em editoriais de grandes jornais é que o Mercosul impediria os seus sócios de firmar acordos isoladamente, mas esse entendimento começa a ser flexibilizado. A ideia que fica é que esse possível impedimento estava sendo usado apenas como uma desculpa esfarrapada para justificar o injustificável, ou seja, a ineficiência da diplomacia para fechar acordos com outros países ou blocos.

brasil argentinaSe o Mercosul impedisse que seus parceiros fechassem tratados isoladamente, a Argentina não teria firmado recentemente 15 acordos com a China que vão permitir aos chineses investir em obras de infraestrutura naquele país, recebendo em troca facilidades para vender equipamentos. Além disso, os chineses vão fornecer linhas de crédito, valendo-se de um acordo de swap (permuta) do yuan em relação ao peso para evitar uma futura alta nos juros. Não é preciso ser muito atilado para se concluir que esses acordos são contrários ao espírito do Mercosul e aos interesses brasileiros, especialmente dos exportadores de manufaturados.

Ainda apegado a uma estratégia que considera a Argentina parceira fundamental e sócia privilegiada, em função do mercado que representa para os manufaturados, o governo tem assimilado essa e outras afrontas, como medidas burocráticas que têm restringido a entrada dos produtos nacionais na nação vizinha. E, assim, perdido um tempo que poderá ser fatal para os interesses do País, resultado de divergências entre os sócios do Mercosul em relação a um acordo com a União Europeia (UE).

Ora, se, depois de 15 anos de negociações infrutíferas, não há possibilidade de o Mercosul avançar unido para um tratado com a UE, então que o Brasil busque um acordo individual com os europeus. Isso não significaria o fim do Mercosul, até porque, além da proximidade geográfica, as economias dos parceiros sul-americanos são complementares. Tanto o Brasil precisa do mercado argentino para colocar seus produtos como a Argentina necessita do mercado brasileiro.

Como UE e EUA estão para concluir um tratado amplo sobre comércio e investimento, o que se prevê é uma redução do espaço para países que não tenham acordos semelhantes com esses dois mercados que são os maiores do planeta. Como hoje o Brasil é responsável por 37% do comércio entre a América Latina e a UE, perder esse espaço pode ser catastrófico numa situação já difícil como a que o País atravessa.

Portanto, o Brasil, seguindo o exemplo da Argentina, poderia encetar um voo solo em direção à UE, o que estaria mais em sintonia com os
interesses de um país que, por sua economia mais diversificada, difere bastante da de seus parceiros sul-americanos. Basta ver que a
indústria brasileira, apesar de todas as turbulências, ainda se mantém em pé, enquanto o parque fabril argentino está praticamente destruído depois da desvairada política kirchnerista.

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Comércio Exterior - COMEX Geral

O Mercosul e a Argentina

Em 2014, as exportações do Brasil para a Argentina foram de US$ 14,1 bilhões contra US$ 19,6 bilhões em 2013, o que significou uma queda de 27%. Já as importações foram de US$ 14,1 bilhões contra US$ 16,4 bilhões em 2013, o que representou um recuo de 14%. Em 2015, a tendência é de queda ainda mais acentuada: em janeiro, as exportações recuaram 30% e em fevereiro, 17%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

argentina mercosulO recuo está ligado às preferências que a Argentina tem dado a China, em troca de investimentos em infraestrutura e até da construção de uma base espacial na província de Neuquén, o que se tem refletido em bloqueio a produtos brasileiros com medidas burocráticas. Além disso, os manufaturados brasileiros têm perdido competitividade, em razão de desajustes na economia interna, provocados por alto custo de energia, aumento nos combustíveis, corte nas desonerações sobre a folha de pagamentos, juros altos e descontrole nas contas públicas.

É provável que essa queda seja sazonal e que nos próximos anos haja um reaquecimento nas exportações para o país vizinho. É de lembrar que, desde 2008, o Mercosul tem sido o principal fornecedor de bens de capital para a Argentina, com o Brasil sendo responsável por mais de 90% desse fornecimento.

Em 2008, as exportações foram de US$ 17,6 bilhões; em 2009, de US$ 12,7 bilhões (-23%); em 2010, de US$ 18,5 bilhões (40%); em 2011, de US$ 22,7 bilhões (22%); e, em 2012, de US$ 17,9 bilhões (-20%). Entre os produtos mais vendidos estão automóveis, minério de ferro, alumina calcinada, chassis, tratores, pneus, autopeças, eletrônicos e têxteis. É de se ressaltar que, em 2014, dos US$ 14,2 bilhões vendidos, US$ 13 bilhões foram de produtos industrializados (93%). Já as importações da Argentina, em janeiro de 2015, sofreram um recuo de 20% e, em fevereiro, de 26%. É de notar, porém, que essas quedas estão dentro da média dos últimos anos: em 2008, o Brasil importou US$ 13,1 bilhões; em 2009, US$ 11,2 bilhões (-15%); em 2010, US$ 14,4 bilhões (29%); em 2011, US$ 16,9 bilhões (18%) e, em 2012, US$ 16,4 bilhões.

Por parte do Brasil, porém, não há nenhum embargo. Pelo contrário. Entre os produtos mais comprados estão trigo, automóveis, malte não
torrado, batata, cevada, polímeros de etileno, motores a diesel/semidiesel, nafta para petroquímica e ligas de alumínio. De US$ 14,1 bilhões em mercadorias adquiridas pelo Brasil da Argentina em 2014, US$ 12,5 bilhões foram de produtos industrializados (89%). Seja como for, a Argentina ainda representa para o Brasil mais de 90% do Mercosul. Basta ver que, no primeiro bimestre, a Argentina (US$ 1,8 bilhão) ficou atrás só dos EUA (US$ 3,8 bilhões) e da China (US$ 2,9 bilhões) entre os principais países de destino das exportações brasileiras.

Portanto, cabe ao governo envidar esforços para que essa parceria seja mantida pelo menos nos níveis atuais, evitando novos retrocessos. E, acima de tudo, exigir que as regras e disposições regulamentares do Mercosul sejam respeitadas por todos os parceiros.

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Comércio Exterior - COMEX Logística

Mercosul: novos rumos

Criado há quase 24 anos – mais precisamente a 26 de março de 1991 –, depois da assinatura pelos presidentes do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai do Tratado de Assunção, que constitui, na verdade, a ata de sua fundação, o Mercosul ainda causa grande apreensão a industriais, exportadores, importadores e formuladores da política de comércio exterior, todos preocupados com os seus rumos.

mercosulDe alcance regional, o acordo apresentou resultados animadores em seus primeiros anos: basta ver que, em 1998, os demais países do Mercosul absorveram 17% das exportações brasileiras. Mas depois entrou numa fase de retrocesso. Em 2005, aquela fatia representava apenas 9,9% e o Mercosul seguia um caminho que poderia levá-lo ao definhamento completo. Talvez por isso, em 2006, buscou-se um “novo Mercosul” com o ingresso da Venezuela, à época comandada pelo presidente Hugo Chávez (1954-2013), o que só se efetivou em 2012. Mas, transformado em fórum ideológico pelos governos do Brasil, Argentina e Venezuela, o Mercosul não se abriu para negociações com vistas à formalização
de outros acordos comerciais. Nem avançou nas reformas e na abertura econômica.

Hoje, é senso comum que o Mercosul deve passar por uma flexibilização, sem que haja rompimento entre os parceiros. Até porque a sua sobrevivência ainda é importante para o comércio e a economia dos seus sócios. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), entre 1991 e 2013, o fluxo de comércio entre os sócios do Mercosul aumentou 800% e o Brasil registrou saldo comercial com o bloco de aproximadamente US$ 80 bilhões, valendo-se principalmente da diversidade de sua pauta de exportação.

Essa flexibilização vai exigir o apoio dos setores industriais, que tradicionalmente sempre se opuseram à liberalização tarifária para os produtos importados. É de lembrar que o Mercosul já firmou acordo com Chile, Colômbia e Peru para levar a tarifa a zero até 2019, mas ainda estuda a possibilidade de antecipar essa medida de desgravação, o que poderá estimular ainda mais o comércio sul-americano, que vem crescendo sobremaneira.

Se o esforço der certo, o Brasil, com certeza, ampliará seus mercados, com a criação de uma zona sul-americana de livre comércio, inclusive com a adesão da Bolívia ao acordo. Pena que o México, que forma com Chile, Peru e Colômbia a Aliança do Pacífico, não tenha sido incluído nas negociações, o que ampliaria o espectro do tratado. Seja como for, não se pode imaginar que a ampliação do Mercosul resolverá todos os problemas do País na área de comércio exterior.

É preciso recuperar o tempo perdido com a assinatura de tratados com outros países ou blocos, independente do Mercosul, que, aliás, não
impede os seus parceiros de buscar isoladamente outros acordos. E seguir o exemplo de Colômbia e México. Só o México possui 12 acordos com o total de 44 países e regiões. Já a Colômbia tem tratados de livre comércio com Estados Unidos, Canadá e China e pode levar seus produtos a esses mercados com preços melhores do que os dos países do Mercosul.

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Gestão Logística

Antes tarde do que nunca

Passados 11 anos, o atual governo, às vésperas de ser julgado nas urnas, a 5 de outubro, fez um mea culpa, ao admitir, ainda que não de maneira explícita, o erro que foi a decisão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do presidente argentino Nestor Kirchner (1950-2010), de trabalhar nos bastidores para o fracasso das negociações que visavam à formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelo governo norte-americano.

mercosulEsse mea culpa veio na forma de uma proposta do atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, que pretende inserir o Brasil no comércio global. É uma proposta que vai contra tudo o que defendeu nos últimos 12 anos a diplomacia comercial terceiro-mundista adotada pelo Brasil, que limitou a indústria nacional a fornecer produtos para países vizinhos e tornou o agronegócio abastecedor de matérias-primas para a China, criando uma dependência colonial com o país asiático superior à que havia no século XVIII em relação a Portugal.

Pena que esse mea culpa tenha vindo tão tarde e numa altura em que pouco há para se fazer, pois não se sabe se o atual ministro irá sobreviver às alterações políticas que virão por força da voz das urnas. Seja como for, não se pode deixar de elogiar a decisão do ministro de defender e trabalhar para concluir o acordo do Mercosul com a União Europeia que, como se sabe, arrasta-se também há mais de dez anos. E não só por culpa do governo brasileiro, mas também do argentino – aliás, os dois que funcionaram como coveiros da Alca.

Se até o final do ano esse acordo sair, será uma conquista inolvidável. Já a outra tarefa que assume proporções ciclópicas é tirar o Mercosul da situação de pane em que se encontra, já que não avança nem regride. A ideia do ministro é ampliar o espectro do Mercosul, atraindo os demais países vizinhos para uma integração ampla e a formação de uma zona de livre-comércio na América do Sul.

Como se disse, é de lamentar que a ideia tenha vindo tão tarde, até porque, depois do fracasso da Alca, países como Chile, Peru e Colômbia, talvez porque tiveram governos mais sensatos, constituíram com o México a Aliança do Pacífico e estão num plano mais avançado nas tratativas para buscar maior integração com a Europa e os Estados Unidos. Sem contar que os três países sul-americanos já assinaram acordos com vários blocos e nações industrializadas e avançaram sobremaneira na integração internacional. Unir, portanto, o Mercosul à Aliança do Pacífico não parece constituir missão das mais fáceis.

A outra proposta do ministro, igualmente meritória, é no sentido de aprofundar as relações comerciais com o México, que há muito tem uma economia complementar à do Brasil. Afinal, não é de hoje que muitas indústrias do setor de metalmecânica exportam para o México. Portanto, se as propostas do ministro forem levadas adiante, não há dúvida que o Brasil haverá de alcançar maior inserção internacional, apesar do atraso na infraestrutura logística nacional que hoje constitui a principal barreira ao desenvolvimento e à competitividade das empresas e dos produtos brasileiros.

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Logística Transportes

Hidrovia Mercosul entre Brasil e Uruguai possível em 2014

Integração via Lagoa Mirim (entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai) viabilizaria movimentação de 1,5 milhão de toneladas em cargas por ano

Um antigo desejo dos setores de logística e de agronegócio do País, principalmente da região Sul, voltou a ser debatido entre autoridades do Brasil e do Uruguai. A Hidrovia Mercosul, que possibilitará o transporte de cargas entre os dois países por meio do corredor Lagoa Mirim-Canal de São Gonçalo-Lagoa dos Patos, deve receber investimentos e intervenções necessárias entre 2013 e 2014. A expectativa é do diretor de Logística e Integração da Ciência da Secretaria de Infraestrutura do Rio Grande do Sul (Seinfra), Álvaro Woiciechoski.

Em 14 de junho, os governos estadual e federal formalizaram um protocolo de gestão compartilhada para recuperar mil quilômetros de hidrovias e reformar o parque de máquinas do Rio Grande do Sul. Os planos foram apresentados ao vice-presidente da Administração Nacional de Portos da República Oriental do Uruguai, Juan José Dominguez.

A hidrovia é pensada como uma via de mão dupla, servindo de rota de saída para cargas oriundas do Uruguai (por meio do Porto de Rio Grande) e de entrada de produtos brasileiros no mercado uruguaio (principalmente grãos, como a soja). Para Woiciechoski, a implantação da hidrovia serve diretamente aos interesses do Brasil em aumentar as exportações entre os dois países. O presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, cita um estudo feito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) há cerca de quatro anos, por meio da Agência da Lagoa Mirim, que prevê um potencial de 1,5 milhão de toneladas a serem movimentadas na lagoa anualmente.

A aproximação em torno dessa discussão vem ocorrendo desde o fim de 2010, aponta o diretor da Seinfra. Naquele ano, foram anunciados R$ 217 milhões, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC2), a serem investidos ao longo de cinco anos em obras de dragagem, segundo a combinação de o Brasil fornecer condições de navegação na região – o Uruguai também deve receber investimentos nesse sentido, tanto do governo quanto da iniciativa privada, para a construção de terminais portuários. Até o fim de 2012, Woiciechoski espera que sejam concluídos o plano diretor e a regulamentação da navegação, para dar início às obras em 2013. A gestão da hidrovia será estadual, por delegação da União.

Hidrovia é alternativa ao transporte rodoviário

O debate sobre a implantação de uma hidrovia que ligue as duas lagoas existe há mais de cem anos, indica o presidente da Associação Brasileiras de Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli. “Ela é estratégica para facilitar e baratear o transporte, além de ampliar o desenvolvimento da região Sul”, defende. Em um panorama mais amplo, a hidrovia viabilizaria o corredor multimodal entre Montevidéu, no Uruguai, e São Paulo. Para o dirigente, a hidrovia seria uma grande alternativa para desafogar o trânsito da região – a BR-116 e a BR-392, que formam o principal acesso ao Porto de Rio Grande, são gargalos entre as rodovias brasileiras -, mas depende de uma postura mais firme do Estado.

Manteli estima que as hidrovias navegáveis foram reduzidas de 1,2 mil a 700 quilômetros nos últimos 40 anos. Em compensação, o comércio do Mercosul, aponta o presidente da ABTP, é movimentado principalmente pelo modal rodoviário. Por isso, ele destaca a importância de explorar a rede hidroviária entre os demais países do Mercosul. “É muito mais barato, mais competitivo e polui menos”, considera.

Fonte: Terra

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Comércio Exterior - COMEX Gestão

Faltam acordos comerciais

Olhando friamente os números, não há dúvida que o comércio internacional praticado pelo Brasil cresceu bastante nos últimos 15 anos: afinal, em 1996, o País exportou US$ 47,7 bilhões e, em 2010, US$ 201,9 bilhões. Acontece que o comércio internacional também cresceu de maneira vertiginosa nesse período, especialmente com a entrada em cena da China, e, dessa maneira, o Brasil continuou a participar de apenas 1% das compras e vendas globais.

faltam acordos comerciais brasilA rigor, o superávit comercial de R$ 20,2 bilhões alcançado em 2010 pelo Brasil, o menos expressivo em menos de oito anos, só foi obtido graças a uma contingência de mercado, ou seja, a elevação de preços das commodities, notadamente soja e minério de ferro, que, aliás, nos últimos dias, começaram a despencar. Não houve, na verdade, nos últimos anos, nenhuma medida estrutural que tivesse por escopo alcançar melhores resultados no comércio exterior do País.

Para o dia 4 de outubro, em Bruxelas, está marcada uma reunião de cúpula entre Brasil e União Europeia (UE), com a presença da presidente Dilma Rousseff, e essa se afigura como oportunidade única para reverter esse quadro de apatia, dando ao País um novo impulso em suas relações econômicas. Com a UE, o comércio bilateral aumentou 175% no período de 2000 a 2010, mas, nos últimos meses, a UE vem perdendo espaço no mercado brasileiro, enquanto a participação do Brasil no mercado europeu continua bastante limitada, em torno de 2% de tudo o que o bloco importa.

É verdade que vários países do bloco europeu estão em crise, mas há ainda um grande espaço para o crescimento dos negócios, principalmente se houver mais cooperação bilateral na área de tributação para reduzir o peso sobre investimentos e um bom encaminhamento das discussões sobre questões regulatórias em energia, telecomunicações, infraestrutura e matérias-primas.

Seria muito proveitoso se essa cúpula em Bruxelas pudesse também destravar as negociações para um acordo entre Mercosul-UE, que, desde 2004, esbarra em resistências dos dois lados. O setor agrícola europeu resiste a oferecer mais acesso aos produtos do Mercosul, enquanto do lado brasileiro alguns setores industriais, pressionados pela atual distorção de câmbio e pelo apetite comercial chinês, colocam-se contra a maior abertura do mercado nacional.

Seja como for, o que não se pode aceitar é o imobilismo que se tem registrado até aqui, com a ausência de acordos comerciais relevantes. Para piorar, nos dois últimos governos, a tônica foi um infantil tom antiamericanista nas relações exteriores que não levou a nada. Ou melhor, contribuiu para a perda de espaço do produto brasileiro no maior mercado do planeta. Em oito anos, não foi organizada nenhuma missão para vender produtos aos norte-americanos. Dessa maneira, a participação dos EUA nas exportações brasileiras recuou de 25,5% em 2002 para 9,5% em 2010.

Por outro lado, o governo anterior procurou fortalecer os laços comerciais com os países africanos, do Oriente Médio e das Américas, ainda que o Mercosul tenha registrado poucos avanços, limitando-se a funcionar como uma união aduaneira. Vale a pena continuar investindo nessas regiões. Mas não só. É de ressaltar que com a América Central o relacionamento comercial do Brasil não passa de uma carta de intenções. Tanto que, com o México, país com mais de 100 milhões habitantes, o comércio bilateral pouco passa de US$ 5 bilhões.

Diante disso, o que se espera é que, a partir de Bruxelas, o governo procure recuperar o terreno perdido, encetando novos tratados de livre comércio, dentro de uma estratégia diferenciada que pode incluir também países como Coreia, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Na moderna concepção de governo, a política comercial é que deve marcar a política externa e não o contrário.

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Comércio Exterior - COMEX

Comércio exterior: novos rumos

Um levantamento dos últimos quinze anos mostra que o comércio exterior praticado pelo Brasil cresceu de maneira vertiginosa: segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 1996, o País exportou US$ 47,7 bilhões e, em 2010, US$ 201 bilhões. Mas nada disso, porém, foi resultado de esforço concentrado da diplomacia brasileira, marcada nos últimos oito anos por um viés ideológico que pouco contribuiu nesse sentido. Pelo contrário.

Não houve nesse tempo nenhum esforço para reduzir barreiras tarifárias ou criar com algum bloco ou grande país um ambiente que pudesse ampliar a penetração dos produtos nacionais. Em outras palavras: não foi assinado nenhum acordo de livre comércio que envolvesse um grande mercado. O Mercosul, com duas décadas de existência, continua à espera de avanços que nunca se concretizam, depois de muitas rodadas de negociações inócuas. Portanto, a ampliação das exportações deu-se muito mais em função do aumento da procura internacional, especialmente de países asiáticos e, muito particularmente, da China.

comércio exterior brasil novos rumosO problema é que a China só tem interesse, praticamente, em commodities. Em razão disso, a proporção da exportação de produtos de alta, média e baixa intensidade tecnológica vem caindo, o que significa que o País está perdendo espaço no mercado de produtos baseados no conhecimento e na tecnologia. Não adianta o governo brandir a previsão segundo a qual o saldo comercial (diferença entre exportações e importações) de 2011 deverá atingir US$ 30 bilhões, quando se sabe que essa perspectiva só existe em função da manutenção de preços altos dos produtos agrícolas.

Ao contrário da China, que a partir da década de 1980 definiu uma estratégia de inserção global que, hoje, dá os frutos esperados, o Brasil, ao longo dos últimos governos, nunca mostrou uma política de expansão comercial. Geralmente, a política comercial andou atrelada à política externa, quando o pragmatismo indicaria que deveria ser o contrário. Isso significou uma redução na corrente de comércio com os Estados Unidos, a maior economia do planeta e também o grande concorrente do agronegócio brasileiro. O pior é que o governo norte-americano vem negociando acordos com países latino-americanos, com a Coreia e a Austrália, que podem reduzir o espaço do agronegócio brasileiro no mundo.

A falta de uma estratégia de inserção global se constata também na ausência de um plano de reestruturação da precária infraestrutura portuária e de transporte do País, cuja implementação é tarefa para décadas.  E não só.  Falta coragem também para enfrentar problemas difíceis, como a votação pelo Congresso de uma reforça tributária séria e colocar um fim na chamada “guerra fiscal”, que não favorece a produção interna. Enquanto isso, a venda de produtos manufaturados para o exterior perde participação no total exportado, pois era de 41,1% no acumulado dos primeiros cinco meses de 2010 e agora é de 36,4%.

Portanto, está na hora de o País reagir, atacando em várias frentes, desde um avanço diplomático em busca de novos mercados até a redução do chamado custo Brasil, que inclui a construção de uma infraestrutura mais eficiente e menos cara, uma carga tributária menos extorsiva e preços de energia menos exorbitantes, entre outros temas.

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Comércio Exterior - COMEX Logística

O Brasil e o Mercosul

 

O dia 26 de março de 2011 marcará a passagem do 20º aniversário da assinatura do Tratado de Assunção que assinalou a criação do Mercosul. Duas décadas depois, a pergunta que se impõe é esta: para que serve o Mercosul? Levando-se em conta os números, já não serve para muita coisa, até porque, independente do acordo, Brasil e Argentina, em razão das circunstâncias geográficas, estariam destinados a se tornar grandes parceiros comerciais.

É verdade que, em outros tempos, o acordo representou uma parcela significativa do comércio externo entre os seus países-membros. Em 1998, os demais países do Mercosul – Argentina, Uruguai e Paraguai – absorviam 17,4% das exportações brasileiras. Dez anos depois, essa faixa era de 8,9%. Hoje, não passa de 7%. E não foi porque o Brasil estaria preferindo exportar para outros mercados – antes fosse –, mas porque a Argentina, o parceiro que realmente conta nesse acordo, tem optado por comprar mais da China e de outros países.

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Leitura Recomendada

Transporte de mercadorias e pessoas no Mercosul

livro sobre transporte de mercadorias no mercosulQuem trabalha com comércio exterior sabe da importância dos acordos bilaterais e dos mercados comuns tais como o Mercosul. Não apenas facilitam o deslocamento de pessoas e mercadorias, mas tornam mais ágeis os processos comerciais.

Quando estes negócios são feitos numa área do tamanho do próprio Mercosul, questões logísticas começam a vir à tona. É relativamente fácil transportar mercadorias dentro da Europa, com países pequenos mas alimentados por rodovias, portos e ferrovias. Agora imagine o pesadelo de transportar equipamentos de Manaus até Buenos Aires (Argentina), ou de Fortaleza até Assunção (Paraguai). É preciso fazer da multimodalidade algo real e eficiente.

Estes e outros assuntos são abordados no livro Transporte Internacional de mercadorias e pessoas no Mercosul, que aborda com grande ênfase o transporte multimodal, as resposabilidades dos operadores deste transporte e os limites de responsabilidade em cada um dos países membros do bloco (fundamental conhecer isto para quem trabalha com comércio exterior nesta região).