Estamos vivendo, sem dúvidas, o momento mais crítico de nossa política. Diferente de outras épocas, não é aquele momento em que se separam homens de meninos como se dizia, mas onde se confunde coisas tão misturadas que para nós está cada vez mais difícil separar, embora fácil de entender, já que as engrenagens políticas funcionam em ritmos e direções diferentes em qualquer lugar do mundo.
Mas, falando de Brasil, já imaginou se o povo entendesse e aprendesse a fazer política? Com certeza, estaríamos com o país num outro patamar. O problema é que enquanto os políticos produzem política, o povo produz paixões. E aqui cabe dizer que a politicagem também seria banida se o povo agisse politicamente e não passionalmente.
Os políticos precisam de nossas paixões para cometer suas sandices, assim como nós cometemos quando apaixonados, mas nossas paixões sobrevivem independentes da política e isso é muito ruim para o bem comum. A diferença é que eles não estão apaixonados, eles estão políticos e estão dispostos a mexer com qualquer tipo de sentimento em prol de seus objetivos político-econômicos.
Enquanto nossas paixões nos cegam, nossos políticos nos conduzem… E nos conduziram a um cenário lamentável, de abandono da moral, da ética e de conceitos inimagináveis. Mas, e se analisarmos a coisa toda politicamente? Política é assim mesmo e isso não vai mudar… Que tal o POVO mudar? E para quem pensa que estamos mudando, está se enganando, pois só estamos nos dividindo e nos apaixonando cada vez mais, e assim, mais sujeitos a sermos usados.
Eliminando esse nosso ambiente parcial que nossa paixão produz, viveríamos no ambiente político, como deveria ser e, consequentemente, expurgaríamos incompetentes, politicagens e teríamos políticos mais qualificados e mais comprometidos com os interesses do povo, que só assim deixaria de ser usado, como todo apaixonado o é por aqueles que da paixão se valem.
Note bem que a solução é a mesma para esquerdistas, direitistas e os do centro e suas tendências que, paixões à parte, querem a mesma coisa: um país limpo de corrupção, com saúde, segurança e uma educação de qualidade.
Completamente parado, onde só os níveis de desemprego aumentam e rodeado por problemas ligados a uma economia sem expectativas, o Brasil está naquela “cadeira elétrica torcendo para faltar energia”. Com o processo de Impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff em andamento, para alguns esse é o sinal da “falta de energia”, pois quem assumiria, em vários andares da linha de sucessão, não possuem qualificações e lisura para tal, embora isso trouxesse uma esperança, um suspiro a mais; enquanto para outros é a institucionalização da “cadeira elétrica” com a quebra do regime democrático que escolhemos após períodos sombrios; ou ainda para outros, é o desejo de segurar na “cadeira elétrica” no momento da execução como prova de lealdade e defesa de seus conceitos.
Não cabe aqui julgar qual grupo está correto ou qual grupo está mais apaixonado. Porém, cabe parar e pensar: “Ôpa! Não estamos querendo as mesmas coisas?” Sim, queremos as mesmas coisas! Só estamos jogando com regras diferentes e essas regras sim, estas estão erradas!
A mistura da paixão com a política só é boa quando aquele que entra para a política o faz com o intuito de servir aos seus representantes, já quando votamos em representantes escolhidos pelos efeitos produzidos pela paixão, o resultado é catastrófico.
Apenas uma coisa é bem defendida nesse meio: a alternância de poder. Isso funciona muito bem em qualquer regime, que não o ditatorial, é claro, mas a melhoria contínua proposta por essas alternâncias não nos vem trazendo muito proveito, pois as formas de governar estão ficando cada vez mais iguais. E embora alguns números possam apontar para um ou outro governo exercido no país nas últimas décadas, todos eles resultaram em escândalos de corrupção. Com cerca de 35 partidos políticos tão iguais, não temos como nos unir e escolher uma ideologia a ser seguida. Claro que isso é democracia, mas se a dúvida nos segura na bifurcação de duas paixões, que dirá com 35 possibilidades…
Longe de uma reforma política, a saída mais prudente parece ser nós mesmos reformarmos nossa política. E o primeiro passo me parece enxergá-la com a razão política e não com a unilateralidade da paixão.