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Um projeto para o comércio exterior

Em recente palestra durante seminário sobre os rumos da política de comércio exterior na Fundação Getúlio Vargas (FGV), o diretor de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abimaq), Klaus Curt Muller, afirmou que não basta abrir o mercado nacional, mas dar condições para o fabricante brasileiro enfrentar não só o produto importado como colocar o seu equipamento lá fora. De fato, como disse o empresário, se a máquina brasileira é 30% mais cara do que a alemã, por exemplo, fica mais difícil vender não só aqui, mas também no exterior.

brasil comercio exteriorSuperar essas dificuldades não será tarefa fácil, mas o próximo governo precisará estar consciente, desde o primeiro dia de janeiro de 2015, de que terá de colocar em prática um projeto de comércio exterior que não inclua apenas a América Latina ou países africanos ou o Oriente Médio, mas todo o planeta. Sem uma diretriz global, o País continuará a perder mercado não só em sua própria casa como especialmente no exterior, inclusive naqueles mercados que são considerados tradicionais. Aliás, isso já acontece na Argentina, onde, apesar do Mercosul, os produtos chineses substituem os brasileiros nas prateleiras, em razão das facilidades cambiais que os asiáticos oferecem.

Na verdade, pouco adiantará traçar uma estratégia para a abertura de mercados se o novo governo não fizer a sua lição de casa, ou seja, atacar as causas do chamado custo Brasil, que fazem, por exemplo, a nafta, principal insumo dos produtos químicos, custar 30% mais cara do que no mercado europeu ou o dobro do valor pago nos Estados Unidos. Também não se pode pensar em resolver os problemas do comércio exterior por setores, como tem tentado, sem muito êxito, o governo atual.

É preciso definir uma estratégia global que, além de estabelecer com blocos ou nações isoladamente tratados de preferências comerciais, venha a ser desenvolvida ao mesmo tempo em que sejam construídas e reformadas rodovias e aeroportos e ampliada a malha ferroviária, bem como reduzido o atual caos portuário, com a instalação de novos terminais públicos e privados, devidamente acessíveis por caminhões, trens e barcaças, o que inclui a modernização do precário e incipiente sistema hidroviário de hoje.

Só assim, com tal visão estratégica, será possível avançar para assegurar custos mais baixos de produção que possam alterar o atual quadro de desvantagem que o produto brasileiro sofre no exterior, em razão de numerosos acordos de preferências que foram estabelecidos e
dos quais, por inércia ou incompetência dos últimos governos, o País não se beneficia.

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Mercosul: novos rumos

Criado há quase 24 anos – mais precisamente a 26 de março de 1991 –, depois da assinatura pelos presidentes do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai do Tratado de Assunção, que constitui, na verdade, a ata de sua fundação, o Mercosul ainda causa grande apreensão a industriais, exportadores, importadores e formuladores da política de comércio exterior, todos preocupados com os seus rumos.

mercosulDe alcance regional, o acordo apresentou resultados animadores em seus primeiros anos: basta ver que, em 1998, os demais países do Mercosul absorveram 17% das exportações brasileiras. Mas depois entrou numa fase de retrocesso. Em 2005, aquela fatia representava apenas 9,9% e o Mercosul seguia um caminho que poderia levá-lo ao definhamento completo. Talvez por isso, em 2006, buscou-se um “novo Mercosul” com o ingresso da Venezuela, à época comandada pelo presidente Hugo Chávez (1954-2013), o que só se efetivou em 2012. Mas, transformado em fórum ideológico pelos governos do Brasil, Argentina e Venezuela, o Mercosul não se abriu para negociações com vistas à formalização
de outros acordos comerciais. Nem avançou nas reformas e na abertura econômica.

Hoje, é senso comum que o Mercosul deve passar por uma flexibilização, sem que haja rompimento entre os parceiros. Até porque a sua sobrevivência ainda é importante para o comércio e a economia dos seus sócios. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), entre 1991 e 2013, o fluxo de comércio entre os sócios do Mercosul aumentou 800% e o Brasil registrou saldo comercial com o bloco de aproximadamente US$ 80 bilhões, valendo-se principalmente da diversidade de sua pauta de exportação.

Essa flexibilização vai exigir o apoio dos setores industriais, que tradicionalmente sempre se opuseram à liberalização tarifária para os produtos importados. É de lembrar que o Mercosul já firmou acordo com Chile, Colômbia e Peru para levar a tarifa a zero até 2019, mas ainda estuda a possibilidade de antecipar essa medida de desgravação, o que poderá estimular ainda mais o comércio sul-americano, que vem crescendo sobremaneira.

Se o esforço der certo, o Brasil, com certeza, ampliará seus mercados, com a criação de uma zona sul-americana de livre comércio, inclusive com a adesão da Bolívia ao acordo. Pena que o México, que forma com Chile, Peru e Colômbia a Aliança do Pacífico, não tenha sido incluído nas negociações, o que ampliaria o espectro do tratado. Seja como for, não se pode imaginar que a ampliação do Mercosul resolverá todos os problemas do País na área de comércio exterior.

É preciso recuperar o tempo perdido com a assinatura de tratados com outros países ou blocos, independente do Mercosul, que, aliás, não
impede os seus parceiros de buscar isoladamente outros acordos. E seguir o exemplo de Colômbia e México. Só o México possui 12 acordos com o total de 44 países e regiões. Já a Colômbia tem tratados de livre comércio com Estados Unidos, Canadá e China e pode levar seus produtos a esses mercados com preços melhores do que os dos países do Mercosul.

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Professor: a importância sem o valor

Algumas coisas incomodam os brasileiros que querem um país melhor: são questões acerca do Código Penal, da distribuição de renda, da carga tributária… Porém, nada se compara à necessidade de uma renovação do modelo educacional que, há muito tempo, promove a falta de respeito, em todos os aspectos, com aqueles que são essenciais para o alcance dessas e tantas outras mudanças obtidas através da educação: os professores.

professorQue me perdoem os movimentos que atuam no Brasil na busca de espaço – que é um direito – na sociedade, na redução da violência, no combate à discriminação e muitos outros que têm seus valores reconhecidos para a construção de uma sociedade com justiça e igualdade. São legítimos e necessários, mas enquanto não dermos o devido valor à educação com todos os seus elementos fundamentais à solidez de nossas conquistas, viveremos com a ilusão de vitória numa batalha de uma guerra perdida.

A atual situação não comporta mais os discursos rasos de políticos e intelectuais, nem as promessas em palanques que se valem da educação como moeda em eleições. Nossos professores estão sendo humilhados e agredidos em escolas públicas e particulares! Chega de homenagens írritas no dia 15 de outubro! O que precisamos mesmo é de uma solução.

De onde virá a solução? Da admiração com a estrutura em outros países ou da indignação ao vermos que nossas escolas públicas não têm água, energia elétrica, banheiros, merenda, cadeiras, livros e até paredes? A solução começa no respeito às pessoas e ao nosso futuro. Virá de uma política que não nos enxergue apenas enquanto apertamos um botão e daquela que não nos prive dos meios necessários para o nosso preparo ao apertá-lo. Virá da decisão de irmos a essa política e cobrá-la já que não vem até nós para nos ouvir. Acima de tudo, virá da certeza de que começa comigo, pois o inteiro só será bom se a minha fração também for.

A solução que buscamos é entregar a educação de nossos filhos integralmente a um professor para que nos sobre mais tempo. Tempo para quê? Para ir ao colégio repreender o professor que repreendeu meu filho? Incoerências que encorajam os alunos a enfrentar desrespeitosamente seus professores. Numa ação perigosa de alunos, pais e do poder público, muitos professores estão preferindo a omissão para continuar sobrevivendo. Às vezes, até confundimos com despreparos também presentes, pois alguns não têm vocação, mas na maioria das vezes é desespero mesmo.

É impossível compreender a desvalorização de um professor cujas demais profissões passam por suas orientações. Um professor não se lembra de todos os alunos, mas todos os alunos carregam consigo seus professores. É uma pena que a política seja vista como ferramenta de autoridade e não como serviço ao público e que, para isso, promova um verdadeiro massacre dessa profissão tão nobre e tão necessária para um país com tantos recursos e tão carente de soluções. Se o interesse é mesmo manter o povo aprisionado, dominado pelo cerceamento do direito ao conhecimento em troca de direitos concedidos como “favores”, está dando certo.

Órgãos como o Ministério da Educação e Cultura (MEC), que distribui livros com erros grosseiros, é detentor de um papel frio, quase inexistente, na oferta de condições dignas para os professores e no avanço do nível da educação. Os professores estão sozinhos e de mãos atadas.

Em 2014, o piso salarial da categoria foi fixado em R$ 1.697,37 para 40 horas semanais. Na realidade, alguns estados (AL, RO, BA, AC e CE) e muitos dos 5.570 municípios brasileiros não pagam o mínimo estabelecido aos professores. Já vimos casos de salários de R$ 200,00, pois alguns municípios não podem desativar por completo o ensino. E alguns ainda procuram respostas para a má colocação do Brasil nos rankings da educação […]

As mudanças, rápidas e sólidas, têm que vir com salários justos, melhores condições de trabalho, respeito e gratificações que motivem a manutenção da qualidade do ensino através da qualificação contínua dos professores. Mudanças para que não os vejamos afastados e desassistidos devido às agressões, estresse ou desempregados feito “ouro jogado às ruas”. Mudanças para não ouvirmos tantos desaconselhamentos quando alguém quiser seguir a profissão. Mudanças para acreditarmos que os professores ainda poderão abrir as portas para um novo caminho idealizado por aqueles que sabem que a educação é a saída. A única saída.

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Gestão Logística

O perigoso caminho das privatizações

Em 1991, o então Presidente Fernando Collor iniciou o programa de venda de estatais brasileiras, entre elas a Usiminas, Celma, CNA e Alcanorte. Em 1992, ano de seu impeachment, já somava 12 empresas vendidas quando assumiu o Presidente Itamar Franco que, em três anos, vendeu outras 9 empresas, entre elas a CSN, Açominas, Acesita e a Embraer e fez a concessão da Ponte Rio-Niterói.

privatizacaoEntre 1995 e 2002, o então Presidente Fernando Henrique Cardoso realizou as maiores privatizações da história do país. Foram 7 concessões de malhas ferroviárias incluindo 5 da Rede Ferroviária Federal, 5 concessões de rodovias e 10 empresas, incluído a Light, a Telebrás e outros 4 bancos. Mas, nada foi tão emblemático quanto à privatização da Vale do Rio Doce que se tornou uma referência de prejuízo substancial à economia do Brasil.

A Vale do Rio Doce foi criada em decorrência dos Acordos de Washington em 1942 no governo de Getúlio Vargas que, na Revolução de 1930, rescindiu o contrato de arrendamento onde o empresário estadunidense Percival Farquhar detinha direitos desde 1911. O objeto principal era a exploração das minas de ferro em Itabira-MG. Com o fim da Segunda Guerra, o Brasil passou a desenvolver a extração e por volta de 1969, com a exploração na região de Carajás no Pará, a Vale passou a ser a maior empresa de minério de ferro do mundo com jazidas suficientes para 400 anos. Tornou-se a terceira maior mineradora do mundo, a maior em extração de ouro na América Latina, com duas ferrovias, nove portos com a maior frota de navios graneleiros do mundo e várias empresas de alumínio, cobre, papel e celulose. Sua privatização, em 1997, desencadeou uma série de protestos nas ruas, no Congresso e ações judiciais. Porém, não foram suficientes para impedir a venda de uma empresa de patrimônio estimado em R$ 92 bilhões por R$ 3,3 bilhões. Para se ter uma ideia, no dia da privatização, a empresa tinha em caixa R$ 700 milhões e 13 bilhões de toneladas em reservas de minério de ferro, e não 3 bilhões como divulgado. E para o azeitamento da empresa foram demitidos quase 12 mil funcionários. Tornado-se uma empresa de capital aberto, a Vale alcançou R$ 12,4 bi em lucros só em 2006, e manteve um ritmo de crescimento constante sempre na casa dos bilhões de reais.

Em 2004, o então Presidente Lula reinicia a trajetória de privatizações com a venda de 2 bancos e a concessão de 8 importantes rodovias. Num passo seguinte, a Presidente Dilma Rousseff fez concessões de mais 2 rodovias e 5 aeroportos antes do leilão do pré-sal.

De 1991 até 2013 foram privatizadas 33 empresas e realizadas 29 concessões importantes no Brasil. Quanto ao valor, devido ao exemplo da Vale, não seria real estimar já que há um plano de desvalorização para obter o apoio da população e o interesse de grupos que, esses sim, sabem o quanto realmente custa. O que vale citar é que a arrecadação nessas transações se perde em contas públicas.

Tudo isso nos remete à atual situação da Petrobras. Será mesmo que estamos prestes a ver uma história fatídica se repetir? Precisamos analisar de forma apartidária para termos a ciência de que o Brasil vendeu uma riqueza conquistada em décadas de trabalho e não se desfez, como muitos pensam, de empresas que só nos traziam prejuízos. As diversas falhas na condução de estatais nada têm a ver com a inviabilidade dos negócios, mas com a incapacidade administrativa e com uma malha de corrupção que quer nos fazer acreditar que o bom negócio é nos livrar o quanto antes já que não conseguem gerenciar. Nos tornamos coniventes com um sistema político-administrativo incapaz, alimentadores da corrupção e omissos no controle patrimonial do país ao matamos a vaca para matar os carrapatos.

Um país funciona como uma empresa. Nele deve haver todos os procedimentos necessários que transformem seus planos, suas ações e seus controles num atendimento digno à sua população. Uma empresa que não possui patrimônio passa a ser uma atravessadora, assim como um país que não tem o domínio de suas riquezas passa a ser um simples arrecadador, e ambos não atraem os olhares de investidores.

Há casos de sucesso, mas da forma com que vem sendo conduzida a razão de uma privatização, só nos empurra para um estado de pobreza e de aceitação diante da incompetência em administrar. Se pensarmos que uma empresa pública que gera riquezas para o país deva ser vendida porque dá trabalho administrar, estamos, sem dúvidas, no caminho errado e muito perigoso para a economia do Brasil.

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Comércio exterior: mudar é preciso

O balanço sobre a movimentação de cargas nos portos e terminais portuários do Brasil, divulgado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) em agosto, é uma prova incontestável de que o comércio exterior brasileiro não vai bem e carece de uma diretriz política que o coloque no rumo certo. Segundo o relatório da Antaq, no primeiro semestre de 2014, o volume de cargas enviadas pelos portos e terminais portuários nacionais para o exterior recuou, quando o destino foram os tradicionais clientes.

comercio exteriorNa comparação com o mesmo período de 2013, as vendas para os Estados Unidos alcançaram 10,8 milhões de toneladas, registrando uma queda de 5%. Para o Japão, o volume caiu 8%, registrando 15 milhões de toneladas. Também sofreram redução as vendas para a Holanda (14%) e Coréia do Sul (9%). Isso mostra que o País não vem fazendo uma política de comércio exterior eficaz no sentido de não só abrir mercados como ampliar sua participação nas vendas para clientes já tradicionais.

Por outro lado, o Brasil importou 28% menos produtos da Argentina e 20% menos da Espanha, em consequência talvez da crise econômica que tem afetado esses dois países. Em compensação, as importações dos Estados Unidos cresceram 24%, o que denota um contrassenso. Afinal, os Estados Unidos são o maior mercado do planeta e o normal é que os demais países registrem superávit em seu relacionamento com aquela nação, ou seja, o comum é que vendam mais do que comprem.

Já o relacionamento  com a China só aumentou no semestre passado, o que deixa claro o viés ideológico adotado pelo atual governo em sua política comercial: o Brasil importou 31% mais e exportou um volume de carga 14% mais do que no primeiro semestre.

O problema é que a China compra basicamente commodities, limitando-se a vender produtos manufaturados, enquanto os Estados Unidos tradicionalmente compram do Brasil mais produtos industrializados e de maior valor agregado. Nesse ritmo, o País corre célere para se tornar um fornecedor de matérias-primas, o que é um mau sinal para o parque industrial brasileiro.

Os números divulgados pela Antaq, portanto, atestam os erros da diplomacia econômica do País e, ao mesmo tempo, explicam em boa parte os problemas que a indústria enfrenta. Ou seja, atado a um Mercosul que não avança, o Brasil sofre as consequências das desastrosas administrações dos governos Kirchner na Argentina e de uma política vesga que, nos últimos 20 anos, privou o País de acordos comerciais com mercados mais desenvolvidos, o que limitou o intercâmbio  do setor industrial e estimulou a concentração das exportações nos mercados sul-americanos.

Em outras palavras: se o Brasil já vem perdendo espaço até com seus tradicionais clientes, a situação poderá piorar sensivelmente se Estados Unidos e União Europeia, os dois mais importantes mercados do mundo, concluírem as negociações para a formação de uma área de livre-comércio.

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Antes tarde do que nunca

Passados 11 anos, o atual governo, às vésperas de ser julgado nas urnas, a 5 de outubro, fez um mea culpa, ao admitir, ainda que não de maneira explícita, o erro que foi a decisão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do presidente argentino Nestor Kirchner (1950-2010), de trabalhar nos bastidores para o fracasso das negociações que visavam à formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelo governo norte-americano.

mercosulEsse mea culpa veio na forma de uma proposta do atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, que pretende inserir o Brasil no comércio global. É uma proposta que vai contra tudo o que defendeu nos últimos 12 anos a diplomacia comercial terceiro-mundista adotada pelo Brasil, que limitou a indústria nacional a fornecer produtos para países vizinhos e tornou o agronegócio abastecedor de matérias-primas para a China, criando uma dependência colonial com o país asiático superior à que havia no século XVIII em relação a Portugal.

Pena que esse mea culpa tenha vindo tão tarde e numa altura em que pouco há para se fazer, pois não se sabe se o atual ministro irá sobreviver às alterações políticas que virão por força da voz das urnas. Seja como for, não se pode deixar de elogiar a decisão do ministro de defender e trabalhar para concluir o acordo do Mercosul com a União Europeia que, como se sabe, arrasta-se também há mais de dez anos. E não só por culpa do governo brasileiro, mas também do argentino – aliás, os dois que funcionaram como coveiros da Alca.

Se até o final do ano esse acordo sair, será uma conquista inolvidável. Já a outra tarefa que assume proporções ciclópicas é tirar o Mercosul da situação de pane em que se encontra, já que não avança nem regride. A ideia do ministro é ampliar o espectro do Mercosul, atraindo os demais países vizinhos para uma integração ampla e a formação de uma zona de livre-comércio na América do Sul.

Como se disse, é de lamentar que a ideia tenha vindo tão tarde, até porque, depois do fracasso da Alca, países como Chile, Peru e Colômbia, talvez porque tiveram governos mais sensatos, constituíram com o México a Aliança do Pacífico e estão num plano mais avançado nas tratativas para buscar maior integração com a Europa e os Estados Unidos. Sem contar que os três países sul-americanos já assinaram acordos com vários blocos e nações industrializadas e avançaram sobremaneira na integração internacional. Unir, portanto, o Mercosul à Aliança do Pacífico não parece constituir missão das mais fáceis.

A outra proposta do ministro, igualmente meritória, é no sentido de aprofundar as relações comerciais com o México, que há muito tem uma economia complementar à do Brasil. Afinal, não é de hoje que muitas indústrias do setor de metalmecânica exportam para o México. Portanto, se as propostas do ministro forem levadas adiante, não há dúvida que o Brasil haverá de alcançar maior inserção internacional, apesar do atraso na infraestrutura logística nacional que hoje constitui a principal barreira ao desenvolvimento e à competitividade das empresas e dos produtos brasileiros.

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Gestão Logística

Perdendo bilhões por não investir milhões

A saúde financeira do Brasil inspira cuidados. E não é de hoje. As “Eras de Getúlio e Juscelino” ainda são lembradas como sinônimos de avanço de um país que, naquele tempo, deixava, tardiamente, os efeitos de uma colonização; embora ainda tenhamos muitos “vícios” desse período presentes na nossa nação. Depois do período “JK” (Juscelino Kubitschek), em 1961, o Brasil ainda respirava ares de desenvolvimento, quando em 1964 fomos apresentados à Ditadura Militar que se estenderia até 1985.

dinheiroDe lá para cá, o Brasil só “dançou conforme a música” e nos abrimos à globalização como meio de sobrevivência. Nossos governantes – e aqui fica o registro de que a crítica não é partidária, pois os da direita e os da esquerda governam com uma semelhança absurda – até se destacaram em um ou outro segmento, mas sem grandes avanços, num ritmo ditado pela economia global.

Nossa infraestrutura atual não esconde nossas deficiências ao escoar nossos produtos. É lamentável, e chega a ser revoltante, a falta de atenção com que o país trata a Logística. O Brasil vem se especializando em arrecadar impostos e esquecendo que tem o dever de oferecer meios para que a produção sobreviva, mesmo que para pagar mais impostos […] Produtores de alguns estados estão pavimentando vias para diminuir o preço do frete. Ou seja, fazendo o papel de investidores, produtores e o do próprio governo.

Especialistas alertam: nós nos beneficiamos com as crises na Europa e Estados Unidos, mas agora que há a recuperação dessas economias, estamos perdendo investidores por causa de uma infraestrutura deficiente. Transportes precários, investimentos ínfimos em infraestrutura estão trazendo de volta um Brasil sem grandes conquistas, sem aquavias, sem ferrovias… Se você acha que é exagero, basta lembrarmos que não estamos investindo em novos projetos como deveríamos nem estamos investindo suficientemente em manutenção para a conservação do que temos. Qual o resultado disso?

Se compararmos o ranking das maiores economias mundiais em 2012 com 2014, poderemos observar que, mesmo o Banco Mundial acrescentando à metodologia do estudo “a paridade do poder de compra”, houve uma ascensão de países com mais investimentos em infraestrutura. O Brasil, que ocupou o 5º lugar após passar o Reino Unido e a França, hoje é a 7ª economia do mundo depois de sermos ultrapassados por Índia e Rússia que ocupavam as últimas posições entre as 10 mais. Como se não bastasse, é provável devolvermos as posições para França e Reino Unido que estão logo abaixo do Brasil e aquecendo a economia. Já para o Fundo Monetário Internacional (FMI), que tem índices mais diretos para o cálculo, o Brasil também ocupa a 7ª posição geral, mas entre os 22 países emergentes ocupamos a 13ª posição, perdendo para países como Tailândia, Filipinas e Vietnã.

Em 2013, o Produto Interno Bruto (PIB) chegou a R$ 4,8 trilhões (só com impostos, o Brasil arrecadou R$ 1,1 trilhão) e os investimentos em infraestrutura estão na casa dos 2% quando deveria ser de, no mínimo, 4% do PIB para um nível razoável de modernização logística. Para isso, o país necessita investir R$ 2,5 trilhões nos próximos 25 anos. Isso representaria cerca de R$ 100 bi a mais por ano. Mas, como já informado, o orçamento para rodovias 2013, por exemplo, não foi utilizado nem a metade devido entraves por denúncias de corrupção. Vale lembrar que era um ano crucial para investimentos devido a Copa.

O pacote anunciado de R$ 133 bi corresponde a apenas 6% do necessário. E, se tratando de qualidade de investimento, esses números são aterrorizantes. A baixa qualidade das obras com baixa tecnologia empregada e altos custos, não são feitas para durar em outros mandatos políticos. No Brasil, “se quebra para colocar a torneira, depois para colocar o cano”.

Para comparar gastos, a política brasileira consome mais de R$ 20 bi/ano (fora ajudas partidárias, campanhas etc.); o Bolsa Família quase R$ 21 bi/ano – e nada contra o programa desde que seja temporário, pois um programa social obtém sucesso quando há a SAÍDA de inscritos e não constantes aumentos – e os investimentos em infraestrutura não chegam aos R$ 13 bi. “É o Brasil matando a abelha e esperando que gafanhoto produza mel”.

E vamos perdendo recursos diante dos olhos ávidos do Estado e sua falta de planejamento, produzindo menos e não ofertando uma qualidade de vida melhor para nós brasileiros que levamos o país no peito e nas costas.

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Religião, futebol, política e logística

Há tempos esses assuntos rondam as conversas entre os brasileiros, embora ainda se acredite que não devam ser discutidos devido às inúmeras divergências.

discussaoEssa opinião é do tempo em que algumas religiões não eram tão responsáveis por catástrofes sociais como acompanhamos em vários países, apesar de motivarem opressões e assassinatos cruéis e covardes há muito tempo. Hoje se mata, não só “por Deus”, como por interesses econômicos, diferenças étnicas ou pelo “prazer” da guerra. Podemos sim, discutir religião, pois tendo Deus como o seu maior fundamento, somos levados a nos preocupar com o próximo e não ficarmos indiferentes diante de tantas atrocidades cometidas “em nome do amor”.

E o amor ao futebol com toda a sua politicagem que coloca interesses escusos acima de tudo, não merece discussão? A perda ou o exagero desse “amor” faz com que o “torcedor” que frequenta os estádios de futebol se envolva em tumultos que sempre acabam em agressões graves e se estendem às ruas deixando bem longe o intuito de apoiar seu time. O futebol precisa mesmo ser discutido, não só em mesinhas de bar, como no Congresso e no Senado para que as leis sejam eficazes.

O que falar então da nossa velha política? E como está velha a política! Com uma extrema necessidade de mudanças, ela insiste na garantia da obscuridade, na ineficiência e no casamento torto com a corrupção. Merece mesmo que nos calemos e deixemos esse assunto de fora de nossas conversas? Mesmo sabendo que a conscientização é um degrau importante para mudarmos essa situação?

Basta lembrarmos quantas vezes já ouvimos que esses assuntos não se discutem para podermos associar o caótico com a nossa omissão. Contudo, vimos que não são assuntos distantes uns dos outros e são importantes para uma sociedade mais humana, mais livre e mais estruturada.

E a Logística, que em tudo está presente, também não se discute? Não estamos dando a atenção necessária a esse “novo” assunto e, assim, podemos fazer com que piore em meio à falta de conhecimento e de atitudes.

A Logística vem sendo sufocada em conversas vazias. Profissionais da área estão limitados pela falta de investimento em infraestrutura e pela simples repetição de estratégias de terceiros que deram certo em alguns segmentos. Ora, Logística é mais que isso! Mas, a falta de diálogo vem escondendo soluções, novidades e melhorias nessa atividade que tem muito que avançar. Imagine se alguém tivesse falado para Jomini, Thorpe e Eccles que eles não poderiam falar sobre logística… Já pensou quantas soluções emergem numa boa conversa em que há o respeito e a valorização das opiniões?

O que estamos discutindo então? Temos mesmo assuntos mais importantes do que aquilo que leva ao desenvolvimento do espírito e melhoria da qualidade de vida através da justiça, do nosso crescimento sustentável e de um caminho melhor para nossas vidas? Não estamos nos atendo demais às futilidades televisivas que nos privam do nosso próprio intelecto? Cresça! Seja grande! Leia! Discuta!

Logística é coisa séria Brasil! Estamos atrasados em mais de duas décadas. Estamos abraçando teorias logísticas insustentáveis que contam com o que não têm, vêem o que não existe e esperam pelo que não vai chegar. Práticas “sanguessugas” que tiram de um mercado para dar para outro aniquilando as próprias chances de sobrevivência. O exemplo é um setor de transportes viciado e arcaico, corrupto e ineficiente, cheio de falhas e explorado de tal forma que diminui, dia após dia, as possibilidades de encontrar ainda um pouco de oxigênio.

Como mudar tudo isso? Parando de encontrar desculpas com o velho “isso não se discute” que, na verdade, esconde nossa imaturidade, falta de conhecimento ou de interesse em conhecer, e nossa extrema dificuldade em acolher opiniões diferentes. Ou paramos de correr do “bicho” e o enfrentamos, ou ele vai nos alcançar esgotados e sem nenhuma chance de defesa.

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Por uma nova política externa

Com uma dívida externa ao redor de US$ 300 bilhões, um produto interno bruto (PIB) de US$ 2 trilhões e reservas próximas de US$ 370 bilhões, o Brasil não precisa se preocupar com uma possível desaceleração da atividade econômica da China, que poderia cortar drasticamente suas compras de soja e minério. É o que diz o economista norte-americano Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2008, para quem o Brasil se saiu muito bem da crise mundial e já não é a economia vulnerável de outros tempos.

brasil politica externaÉ claro que essa análise faz bem para o ego coletivo da Nação, mas não se pode descuidar porque, se os governantes errarem muito, é sempre possível ocorrer um retrocesso. Embora não deixe explícito, o atual governo tem reconhecido a necessidade de rever a condução de sua política externa que até aqui tem colhido mais fracassos do que êxitos. Mesmo no caso de uma eventual reeleição da atual governante, o que se prevê é que venha por aí uma política externa mais empenhada em aumentar a inserção do País no mercado mundial. É o que se depreende do esforço brasileiro em avançar as negociações para levar o Mercosul a um acordo com a União Europeia.

Parece que o governo, finalmente, acordou para a ameaça que representa para o Brasil deixar de figurar como parceiro num grande bloco, já que o Mercosul, ainda que tenha sido uma iniciativa louvável e continue a gerar bons negócios às empresas do País, não avança nem recua. E o avanço pode vir exatamente a partir de um acordo amplo com a União Europeia.

Depois de o governo anterior ter trabalhado com afinco para o malogro das negociações que previam a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o Brasil assistiu à criação da Aliança do Pacífico, que reúne Chile, Peru, Colômbia e México. E vê agora com apreensão a possibilidade de acordos da União Europeia com o Canadá e com os Estados Unidos, já que esses tratados podem inviabilizar ou ao menos comprometer em termos de competitividade as exportações brasileiras para aqueles países.

Obviamente, se dependesse da vontade do empresariado brasileiro, há muito que o Brasil teria uma relação mais produtiva com os Estados Unidos, por meio da ampliação de nossas exportações e importações. Sem ter tido nos últimos anos um ministro de Comércio Exterior que representasse os anseios do empresariado, a política externa ficou à mercê de decisões politicamente ingênuas que colocaram os interesses comerciais em segundo plano.

Ao apostar na negociação multilateral da Rodada Doha, o Brasil não colheu nenhum fruto. Para piorar, deu prioridade à aproximação com mercados emergentes que, no fundo, só estão à espera de favores ou benevolências a fundo perdido, como se o Brasil fosse uma nação de primeiro mundo.

Portanto, o que se espera é que o novo governo tenha maturidade para construir não só uma parceria soberana com os Estados Unidos como levar o Mercosul a um acordo com a União Europeia. Sem intercâmbio com economias mais desenvolvidas, o setor industrial estará condenado a perder competitividade e espaço no mercado internacional.

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O que muda com uma nova política

O Brasil vem acompanhando manifestações em vários municípios que declaram insatisfação com o atual sistema político que, cercado pela corrupção, fica alheio às necessidades de melhorias nos setores de transporte, educação, saúde, segurança e infraestrutura.

brasilUma política cara e pouco eficiente vem se mostrando ainda pouco preocupada com uma nova forma com que a população a enxerga. Os excessos cometidos por alguns parlamentares demonstram que a necessidade de uma reforma política é vista no final de uma longa estrada. Talvez não esteja tão longe assim se observada com os olhos do povo.

Claro que nada acontece do dia para noite. Basta observarmos que há quinze anos não tínhamos acesso às contas públicas. Ainda não têm a transparência necessária, mas hoje já se sabe, pelo menos, qual o custo com pessoal da máquina pública que, por sinal, em 2013 representará mais de R$ 108 bilhões.

O que realmente evoluiu de uma forma bem mais rápida foi um povo consciente de que sua qualidade de vida está ligada à política e se essa vai mal, a saúde, a segurança, o emprego vai mal. Essa foi, sem dúvidas, a vitória mais significativa dos últimos tempos. Embora pequena para poucos, muitos estão incluindo assuntos políticos onde assuntos esportivos reinavam absolutos. A história de que falar de política é perda de tempo está, cada vez mais, ficando no passado.

O sistema político é o cérebro de um país. As pessoas vêm atrelando seus fracassos e conquistas pessoais em meio à situação gerada por esse sistema. Mais exigentes, essas pessoas desenham um novo quadro definido com o voto e com um acompanhamento mais atento àqueles escolhidos para representá-las.

O que ainda dificulta o caminho político no Brasil é a quantidade de partidos políticos. Considerando que, teoricamente, cada partido representa uma ideologia, a política brasileira perde o foco, pois hoje são trinta partidos políticos e outros trinta e um buscando efetivação em meio a tantas diversidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, os Republicanos e os Democratas compõem os dois partidos do desenho político daquele país. Há como comportar tantas ideologias políticas no Brasil?

Mudanças estão sendo propostas. Plebiscitos ainda buscam salvar os interesses da própria política definindo recursos de campanhas que, antes de uma reestruturação, de nada servirão senão para alimentar a ilicitude. Projetos estão nascendo para dificultar a visibilidade, a clareza das contas públicas com o intuito de alienar o povo agora mais ativo.

Não se pode esperar que a mudança parta de dentro de um sistema cujos interesses não atendam às necessidades do povo. Essa mudança parte de fora; parte do maior interessado: o povo. Afinal, o que esperar de um corpo doente, contaminado por séculos e enfraquecido pelos organismos que corrompem mais e mais o que ainda há de são? Esperar que o antídoto saia desse meio é como esperar que uma criança aprenda sem uma professora ou um paciente seja curado sem um tratamento médico, ou ainda que um médico cure um grande mal sem o uso de remédios. O remédio para esse sistema vem do povo, e só dele. Ou continuar defendendo o óbvio para conquistar aquilo que já é de direito.

O que muda com uma nova política? Essa resposta talvez ainda precise de um pouco mais de tempo, mas as pessoas que se atentaram aos problemas antes desprezados no dia a dia sabem o que mudou NO POVO: Formou-se um “médico” para cuidar do “doente”.