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Gestão da Cadeia de Suprimentos Logística Supply Chain Management

A logística da costura dos tênis

Tênis existem há muito tempo e as técnicas básicas de fabricação são as mesmas desde então. Materiais são cortados e costurados – seja algodão, couro ou qualquer outro tecido – e formam a parte superior do tênis. Esta parte de cima é então costurada à uma sola. Simples assim. Mas isto está mudando, pelo menos para uns tênis de corrida muito diferentes.

O tênis em questão é o Flyknit da Nike, um calçado de corrida ultra-leve, fabricado para fazer você se sentir usando apenas meias. Para dar a sensação de que ele é apenas uma meia, a fabricação da parte da cima segue os princípios de fabricação de uma meia! Exceto que trata-se de uma meia de última tecnologia.

Em um processo que a Nike chama de “engenharia de ultra precisão”, um programa de computador comanda a máquina para alterar minuciosamente a estabilidade e a estética do calçado. Se o dedão do pé precisa de mais elástico, o projeto pode ser alterada digitalmente instantaneamente para adicionar lycra. Para maior resistência no calcanhar, o software utiliza várias camadas de fios de diferentes espessuras. A Nike planeja patentear o processo, evidentemente.

E como a parte superior é feita em uma única peça, o Flyknit tem uma grande vantagem em relação ao popular modelo Air Pegasus +28: ele tem 35 partes a menos para serem montadas. Isso torna a produção mais rápida, com menos trabalho e as margens de lucro são maiores. O processo Flyknit também se encaixa na ideia de sustentabilidade da Nike porque a quantidade de material desperdiçado na fabricação de cada par pesa o mesmo que uma folha de papel. A Nike afirma que o Flyknit produz 66% menos resíduos que Air Pegasus +28.

O processo reduz a fabricação dos components da parte superior do tênis em apenas duas peças – basicamente, a língua e resto.

Isso reduz a quantidade de trabalho necessário para montar o sapato e levanta uma outra discussão: onde estes tênis devem ser fabricados. Isso mesmo, a costura desse tênis levanta questões da cadeia de suprimentos.

A Nike produz 96% dos seus sapatos no Vietnã, China e Indonésia, onde os custos de mão de obra são baixos. A desvantagem é o tempo que leva para os sapatos chegarem aos mercados como dos EUA. Um sapato passa boa parte de seu tempo num barco vindo da Ásia. Se você pudesse eliminar essa etapa seria uma grande economia de tempo.

O fato é que a fabricação de calçados no mercado interno ainda custaria mais caro, mas com menos estoques e com uma resposta mais rápida e (supostamente) mais vendas. A produção local e o processo em si poderiam permitir a custmização e personalização maior dos tênis – tanto em termos de forma que de cores.

Este é um exemplo de como a inovação no processo pode abrir uma infinidade de possibilidades de como gerir a cadeia de suprimentos. A Nike certamente está em posição de explorar esta tecnologia tanto do lado do marketing quanto de sua presença no varejo. Uma coisa é certa. Isso não vai ser um renascimento da indústria de calçados dos EUA, pelo menos em termos de empregos. Mesmo que a Nike implante esta tecnologia em uma vasta gama de produtos, o número de postos de trabalho abertos será pequeno. Na verdade, a necessidade de pouca mão-de-obra é a única razão pela qual se poderia pensar em fabricar estes sapatos nos EUA.

 

Baseado no texto “Knitting shoes” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Demanda Desempenho Geral

O que o Brasil deve aprender com a China

O Ocidente está prestes a declarar guerra à China. Será uma luta desigual e o ataque será a qualquer momento.

Os motivos são graves. A China vinha sorrateiramente se preparando há tempos com estratégias para enfraquecer o futuro inimigo. Ela conseguiu, destruindo todas as estruturas econômicas dos países ocidentais. O Ocidente está em profunda crise econômica, só resta reagir com o uso de sua estrutura militar antes que seja tarde demais. Por isso o primeiro ataque será a qualquer momento.

Você se assustou? Ainda bem que podemos brincar com coisas sérias numa situação seríssima.

A economia ocidental realmente está em profunda crise e todos querem culpar a China.

Mas a China não tem culpa nenhuma. Ela apenas retirou o pano sob o qual se escondiam os resultados negativos que as falsas políticas sociais produziram no Ocidente. É necessário ter política social, mas isso é tarefa de governo e não se pode impor tal tarefa ao cidadão que cria empregos. Quando se cria vantagem para uma pessoa e desvantagem para outra, é óbvio que se cria um desequilíbrio operacional, e um dia a conta chegará ao próprio beneficiário. As políticas sociais, no âmbito trabalhista, são 100% originárias da demagogia política, porque são direitos artificiais oferecidos às custas de quem, ao criar um emprego, já está praticando o maior ato social. Um direito trabalhista não é um direito social, ele é um assalto institucional que obriga a vítima (o empregador) a colocar a mão no bolso e passar o dinheiro para uma terceira pessoa (o empregado), do qual o assaltante (o governo) espera um repasse da parcela em forma de “voto”. E chamam isso de política social.

Puro engano! A verdadeira política social é quando toda a sociedade, representada por seu governo, se mobiliza para ajudar quem necessita, mostrando como deveria realmente ser eficiente com a saúde, a segurança, a educação, para seus cidadãos contribuintes. Mas ele não o faz, para priorizar com mais recursos os salários milionários do corporativismo do Estado; para alimentar a corrupção e acobertar a incompetência administrativa, expressa na má qualidade dos eleitos pela maioria inculta ou inconsciente de eleitores. A carga tributária e a ineficiência administrativa são diretamente proporcionais ao índice de corrupção e demagogia do país.

Nós só temos que agradecer, e muito, à China.

Quando um político, demagogo por excelência, fala que mais de 40 milhões de brasileiros chegaram à classe média nos últimos anos não é porque o poder de compra deles aumentou, mas é porque o produto do sonho de consumo deles tornou-se muito barato e acessível, graças à China. “Não foi Maomé que foi à montanha, mas a montanha que foi até Maomé.”

Não fosse pela China, nós estaríamos pagando mais de R$ 500,00 por uma camisa e não R$ 25,00. Uma chapa de agulhas para máquina de costura reta, que há 30 anos se importava do Japão por US$ 6,00 (seis dólares) e se vendia por R$ 30,00, hoje se importa por US$ 0,20 (vinte centavos de dólar) e se vende por R$ 1,00. Tudo isso porque a China tem uma carga tributária entre 10% e 12% do PIB, e não de 40% como a nossa. Porque o chinês ama o trabalho e sua produção de um dia vale por cinco dias de produção de um trabalhador ocidental. Produz bem e barato porque vende apenas seu trabalho e não leva para a empresa empregadora obrigações produzidas por direitos artificiais de leis demagogas que só servem para aumentar o custo do produto e a ociosidade do trabalhador. Na China recolhem-se apenas tributos para a previdência social.

Prestem atenção a esta realidade da nossa sociedade:

Quando uma pessoa vai trabalhar para uma empresa, só fica preocupada com os direitos que os políticos criaram para ela, como vale-transporte e alimentação, direitos de maternidade, paternidade, férias, 13º, PLR etc., e reclamando de trabalho escravo, movimentos repetitivos, acúmulo de funções, pressão psicológica, carga horária rigorosa, riscos na viagem de ida e volta ao trabalho etc. Mas quando essa mesma pessoa, não encontrando trabalho nas empresas, decide montar seu próprio “ganha-pão”

em casa, com uma máquina de costura ou outra coisa, ela passa a trabalhar 15, 16 horas por dia, visando a uma grande produção e boa qualidade. Quem é, nesse momento, seu escravizador? Ninguém. É a sua vontade de trabalhar. Quem é que está lhe tirando os direitos? Simplesmente não existem direitos. Existe, sim, a grande perspectiva de ser bem-sucedido, porque o sucesso só se alcança com muito trabalho, e não com direitos artificiais. E lá na China essa filosofia não é de uma pessoa, mas de toda a nação. É no trabalho que os chineses estão encontrando a solução de todos os seus problemas, o sucesso de 1,5 bilhão de pessoas.

Então nosso inimigo não está na China, mas dentro de casa. Em tudo o que torna nosso produto caro. Está na corrupção, na impunidade e, acima de tudo, nas leis trabalhistas, que só foram engenhadas e serviram para levar ao poder políticos corruptos e sindicalistas demagogos. Pior que, em pleno século 21, com o povo já culturalmente evoluído, ainda há “caras de pau” insistindo em novas leis, querendo reduzir a semana de trabalho de 44 para 40 horas, e que, com o Projeto de Lei 3941/89, já conseguiram aumentar o tempo de aviso prévio em até 300%, para onerar ainda mais o trabalho. Demagogia não falta para encarecer ainda mais o custo Brasil.

Gostaria de pedir a esses sindicalistas que nos demonstrem que, além da farta demagogia, possuem também inteligência e apresentem uma solução que possa resolver o atual problema.

Que promovam o ressurgimento das nossas indústrias, e em condições competitivas com as chinesas. E não me venham com a velha história de que os chineses ganham US$ 20 ou US$ 30 mensais porque nas cidades industriais o salário do operário, em moeda chinesa, é de 2 mil RMB (mais ou menos US$ 300), maior do que no Brasil; só que com 1 RMB se compra o equivalente ao que se compra com US$ 1 no Ocidente. Isso porque os preços internos não são inflacionados por altíssimos impostos e por leis trabalhistas demagogas.

Sindicalistas não sabem nada! E não têm o mínimo senso de responsabilidade em sua consciência, para pensar nos efeitos negativos de seus atos. Só sabem falar besteiras e, enquanto “defendem” os trabalhadores brasileiros, só usam produtos chineses!

Por Giuseppe Tropi Somma: empresário e presidente da Abramaco (giuseppe@cavemac.com.br)

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Demanda Desempenho Gestão da Cadeia de Suprimentos Logística Supply Chain Management

Postponement e a importação de carros

Se você compra um Toyota fabricado no Japão, onde você acha que a última etapa de produção e montagem ocorre? Se a compra acontece nos EUA, esta última montagem ocorre em um porto próximo a Nova Iorque!

Os carros são importados do Japão e a última parte da montagem ocorre bem próximo ao cliente. A finalização é atrasada o máximo possível. Isto é o postponement. Não é surpresa que a montadora japonesa tenha equipes que verifiquem e reparem algum problema que tenha acontecido durante o transporte. O que nos surpreende um pouco é que algum trabalho de customização aconteça bem próximo do cliente, quando o carro já está importado. Estas etapas incluem instalação de comunicação Bluetooth ou do rack no teto.

linha de produção toyotaAs instalações da Toyota junto ao porto de Newark tem quase 400 mil metros quadrados. É praticamente uma pequena planta de produção, apesar de todo o trabalho – o que chamam de “instalação no porto” das opções para 21 modelos diferentes – ser feita basicamente com ferramentas simples, ao invés de robôs controlados por computadores. Cerca de 185 funcionários trabalham nas diferentes estações: lavação, controle de qualidade e 5 centros de produção.

Ao adicionar itens tais como tapetes ou aparelhos de GPS nos centros de distribuição ao invés de o fazer nas fábricas, a Toyota dá aos consumidores e chance de mexer nos pedidos até 2 dias antes de o veículos chegarem aos EUA. E também dá aos vendedores uma chance de se destacar da concorrência.

“Nós queremos adaptar o veículo para aquilo que o cliente quer”, disse Bill Barret, gerente nacional de logística na instalação de Newark. “Nós construímos o carro que eles querem”.

O trabalho seria paralisado sem Rui Sousa, cujo trabalho é comprar os acessórios diariamente de vários fornecedores, de acordo com as expectativas e previsões para os próximos dois dias. A chave, segundo ele, é diminuir o volume de acessórios para carros pouco populares ou que estão passando por mudanças no modelo, e manter estoque suficiente para os mais populares. (Alguém identifica um início de análise ABC?)

“Estamos tentando encontrar o equilíbrio adequado”, disse Sousa, que afinou seu sistema tão bem que o tamanho dos estoques just-in-time foi diminuído em 66% durante os últimos 4 anos.

Este é realmente um bom exemplo de uma estratégia de postponement: atrasar a diferenciação do produto até que a demanda, se ainda não é totalmente conhecida, é ao menos “menos desconhecida”. Ao fazer a finalização em Newark dá aos vendedores várias semanas para determinar se eles realmente precisam daquelas rodas chiques ou do GPS nos carros.

A alternativa a fazer o trabalho no porto seria deixar que o vendedor faça a instalação dos acessórios, o que também existe. No entanto, a instalação centralizada deve ter alguma vantagem em relação aos vendedores. Primeiro, consegue-se um trabalho mais consistente. Isto não faz diferença para alguns eletrônicos que basta ligar um cabo e estão prontos, mas faz diferença quando modificações físicas são necessárias, como por exemplo quando os racks são parafusados no teto. Segundo, o estoque centralizado diminui os custos ao exigir menos estoques. Uma grande pilha de estoque em Newark certamente é maior do que cada um dos revendedores teria, mas muito menor do que a soma de todos os pequenos estoques que todos os revendedores teriam que manter.

Além de carros, quais outros produtos podem ser finalizados depois da produção principal? Discuta abaixo nos comentários com outros leitores.

Baseado no texto “Postponement and importing cars” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Gestão Logística

Consumo inteligente: saber consumir é uma arte

Quando falamos em consumo, logo citamos os Estados Unidos. Sua população representa 5% do planeta, mas seu consumo é de mais de 30% de todos os bens de consumo produzidos no mundo. Fala-se que os americanos reciclam apenas 5% do seu descarte, mas estima-se que esse número é bem menor, pois a obsolescência desses produtos é de apenas seis meses. Ou seja, do consumo norte-americano, pouco mais de 1% ainda estará em uso após seis meses. Isso é impactante pois falamos de QUASE todas as linhas de consumo.

consumo inteligente - saber consumir é uma arteDurante décadas, fomos orientados a consumir. Afinal, a máquina produtiva se desenvolve com isso. No entanto, também faz parte da estratégia que possamos comprar e descartar cada vez mais rápido e, com isso, nos preocupar cada vez menos com a origem desses produtos e com o seu destino final. A qualidade nunca será parceira da quantidade dentro desses processos. Chega um momento em que se deve optar por um caminho. Você percebe qual o caminho que a maioria está optando?

Nesses dois caminhos há o domínio da tecnologia. Mas podemos ver a dicotomia dessa tecnologia em expansionista e inteligente na medida em que o mercado produz para criar o consumo e não CRIA para produzir com qualidade. Nesse fator de tecnologia inteligente, os processos são mais valorizados porque são mais desafiadores, tornando-se assim, mais completos e sustentáveis. A questão é que para essa proposta de mercado atual, esses processos são caros e atingem um público ainda muito pequeno que busca um consumo inteligente. Aí está a razão para o baixíssimo alcance da boa logística reversa tão importante para o nosso Planeta, que agoniza esperando soluções que possam, no mínimo, diminuir essa exploração.

A desarmonia nessa relação de consumo é o que chama atenção. Afinal, somos pessoas voltadas à qualidade. Ou você não dá mais valor àquela “comidinha” caseira ou àquele suco natural do que os industrializados? Nunca percebeu que um alfaiate lhe veste bem melhor que uma linha de produção? E a casa que você construiu do seu jeito é mais aconchegante do que essas vendidas sem se importar com sua altura ou com quantos filhos têm ou pretende ter? É claro que nosso objetivo final é a qualidade de vida. No entanto, o que realmente importa é que o suco industrializado dá menos trabalho, o alfaiate é mais caro e a casa requer mais tempo.

Tempo é o que mais ganhamos com tudo isso. Então qual a razão de reclamarmos que nos falta tempo para a família, amigos e até para nós mesmos conforme pesquisas divulgadas em vários países? Como se explica que quanto mais bens de consumo se adquirem mais nossa felicidade decai? Quanto mais oportunidades são geradas mais aumenta a violência e a desigualdade? Há algo errado nisso tudo. A resposta virá quando entendermos que somos parte desse projeto sustentável e que nossas ações sinérgicas podem redirecionar muito do que está descontrolado agora.

Uma matéria recente nos falou que as cascas das frutas e legumes possuem até três vezes mais vitaminas, proteínas e fibras. Nossa aceitação por cascas não é lá essas coisas… Mesmo pagando pelos alimentos para obter energia, desperdiçamos a maior fonte porque crescemos com métodos errados de fruição da natureza. Assim como nosso consumo da água do Planeta também não é bem entendido. Não é mais aceitável essa tônica de cultura num mundo com menos recursos e muito mais pessoas que outrora.

Outro dano causado pela falta de informação na hora da compra é o pagamento por tecnologia obsoleta. É fácil ver em determinadas lojas de eletrodomésticos, pessoas pagando por um modelo já ultrapassado pelo preço de produtos em lançamento. Isso prejudica diretamente o avanço da qualidade, da economia de energia e de novas tecnologias desenvolvidas que visam também, pesquisas com novas matérias-primas menos nocivas ao Planeta. Sem contar que o consumidor paga mais por isso e que logo atualizará esse produto com uma nova compra.

A nossa forma de consumir deve ser vista como uma arte. A proposta não é se privar de tecnologias ou de confortos, mas saber quanto custa para mim e para o Planeta, se essa compra está dentro do meu planejamento financeiro, se conheço o meu objeto de compra, o destino do “obsoleto” e, o mais difícil, se conheço o fornecedor e seus processos de fabricação e descarte.

Nossa responsabilidade no consumo vai além da política de necessidades pessoais e de uma economia global. Ela chega ao desenvolvimento humano nas chamadas exteriorizações de custos. Isso significa que o preço que você paga num móvel, numa peça de roupa, num aparelho eletrônico ou até mesmo num alimento, não é o custo efetivo. Esse valor só lhe foi possível devido a uma possível exploração de recursos não renováveis e/ou de pessoas submetidas ao trabalho sem direitos à dignidade.

Se ainda não nos acostumamos com aquela “perguntinha” básica: “Tem nota fiscal”? Estamos precisando caminhar um pouco mais rápido para essa conscientização. Não importa agora se você acha que os governos investem bem ou não esses impostos, importa sim que esse é um dos passos primários na busca da sua segurança como consumidor, na organização dos mercados e na prática de direito de justiça com empregabilidade e combate ao ilícito.

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A evolução das linhas de montagem e produção

Hoje repletas de tecnologias, robôs e muitas esteiras, as primeiras linhas de montagem foram idealizadas nas Fábricas da Ford em 1908. Ford já havia construído outros veículos de forma artesanal desde 1896, quando trabalhava como engenheiro para a empresa de componentes elétricos de Thomas Edison (sim, o inventor da lâmpada!).

Em 1908 Ford idealizou a linha de montagem, que baratearia custos de produção e produziria os veículos de maneira muito mais ágil. De fato, a ideia deu certo e revolucionou as fábricas do mundo todo no último século.

Em 1910 a produção de um modelo Ford T levava apenas 93 minutos. O preço era muito abaixo de outros veículos comercializados na época: um modelo de 4 lugares era vendido em 1909 por US $850 (equivalente a US $20 700 hoje), enquanto outros veículos eram vendidos entre 2 e 3 mil dólares, algo em torno de 50 a 70 mil dólares hoje em dia. Em 1913 o preço caiu para US $550 e em 1915 para US $440, equivalentes a menos de 10 mil dólares hoje. Em 1914, um operário da linha de montagem do próprio Ford T conseguia comprar um destes carros com o salário de 4 meses.

linha de montagem do ford tCom esta inovação nas linhas de montagem, onde os produtos moviam-se de um funcionário ao outro, era preciso pensar em questões de segurança. Ford tinha regras de segurança bem estritas, limitando o espaço por onde os funcionários podiam se mover nas fábricas. Isto reduziu drasticamente os acidentes de trabalho. O sucesso da linha de montagem de Ford, associando bons salários com alta eficiência de produção foi logo imitado por várias indústrias.

Hoje as fábricas são muito mais modernas do que eram no início do século passado. Computadores controlam boa parte do processo e muitos robôs interagem com humanos ou mesmo fazem etapas da produção de maneira autônoma.

Um exemplo recente desta tendência é a Foxconn, empresa que fabrica muitos dos produtos da Apple (como iPhone, iPad, iPod) e que se instalará no Brasil para produzir alguns destes produtos em breve. A empresa emprega 1 milhão e 200 mil pessoas e tem atualmente em torno de 10 mil robôs. Na última semana, a empresa declarou que substituirá parte de seus empregados por 1 milhão de robôs nos próximos 3 anos. Os robôs seriam encarregados de tarefas simples e repetitivas tais como soldagem, passar spray e montar os produtos. Ao contrário das antigas fábricas da Ford, algumas fábricas da Foxconn tiveram problemas com baixas condições de trabalho e alguns suicídios.

Um dos robôs que está cotado para ser “contratado” pela Foxconn é o Frida, produzido pela ABB. Você confere um vídeo sobre o Frida abaixo:

Gostou? Recomende e deixe sua opinião abaixo.

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Logística

Manufatura enxuta na produção sob encomenda

Adaptar é tão importante quando adotar

A manufatura enxuta, desenvolvida no Japão pela Toyota no cenário pós-guerra, foi popularizada pelo trabalho de Womack, Jones e Roos em 1990, intitulado “A máquina que mudou o mundo”. Na sua essência, manufatura enxuta é um meio pelo qual os processos de negócios são organizados de forma a oferecer produtos com maior variedade e qualidade superior, utilizando menos recursos e em um tempo menor do que pode ser alcançado por métodos de produção em massa.

lean manufacturing - sistemas sob encomendaImplantar os princípios e ferramentas do lean manufacturing nos processos produtivos de médio a alto volume e baixo a médio mix de produtos deixou de ser um grande desafio. A popularização da filosofia chegou a um ponto que muitas empresas, cobrindo um amplo espectro de tamanho e complexidade, estão perguntando: “Será a manufatura enxuta relevante para nós e, em caso afirmativo, quais os princípios que podemos aplicar diretamente e que podemos adaptar para atender às nossas circunstâncias?”

Neste contexto, surge um grande desafio: as empresas que produzem sob encomenda, ou seja, usam a tipologia de produção Make-To-Order (MTO), com baixo volume e alto mix de produtos. As ferramentas e princípios do lean dificilmente funcionam sem adaptações nesses casos, sendo assim, são necessárias soluções que levem em consideração este contexto variável.

Muitos estudos e aplicações já comprovaram a relevância do lean nesses ambientes instáveis, com exemplos bem sucedidos em fabricação de aeronaves, remanufatura de peças de navios, fabricação de palhetas de turbinas de hidroelétricas, fabricação de equipamentos industriais (bens de transformação) tais como pontes rolantes, etc.

O segredo da aplicação do lean em ambientes MTO está na adaptação de suas ferramentas. Nas empresas MTO, os desperdícios acontecem frequentemente em decorrência da falta de sincronismo entre as áreas. A falta de sincronismo gera esperas, informações paradas, projetos na área de engenharia empacados, atrasando os pedidos no departamento de compras, acarretando em excesso de estoques na área fabril.

Para reduzir estes desperdícios típicos, a aplicação do lean deve ter foco na criação de flexibilidade nos recursos e controle das variações quando e onde for possível. Para isso, a aplicação de células de trabalho e de trabalho padronizado nesse ambiente ajuda a construir limites sobre as fontes de variação. Como o ambiente é instável, a padronização dos processos não deve ser altamente detalhada, somente o suficiente para prover flexibilidade ao processo. A equipe de produção deve ser altamente treinada, porém não especializada, com alto grau de conhecimento para realizar trabalhos que variam ao longo do tempo. Sugere-se também o uso de buffers (estoques amortecedores) de recursos estrategicamente posicionados, de ferramentas, material e mão-de-obra. As irregularidades do processo devem ser alertadas por meio da gestão visual, inspirando a melhoria contínua dos processos.

Outras ferramentas da manufatura enxuta podem ser aplicadas, como a troca rápida de ferramentas (TRF) ou set-up rápido, o que viabiliza a redução dos lotes de produção e a criação de um fluxo contínuo. Vale ressaltar que projeto de produtos modulares – aquele no qual o projeto de peças e subsistemas tolera nível aceitável de redundância e permitem modularidade – é um fator chave para o sucesso do lean MTO, quando possível sua aplicação. Projetos modulares podem reduzir estoques ao amortecer variações, aumentam volume de compra por material, o que pode resultar em preços menores e relação de parceria com fornecedores, facilidade em padronização dos processos, uso do leiaute celular, dentre outros.

E ainda, vale lembrar que a implantação do lean, seja em ambientes complexos ou estáveis, deve ser um processo planejado e contínuo. Para isso, medidas de desempenho podem e devem ser utilizadas como termômetro da eficiência da empresa. Indicadores como: utilização de espaço, tempos de set-up, OTIF (entregas On Time In Full), dentre outros são importantes mecanismos de controle e servem como base para tomadas de decisão. Para estes controles ficarem mais efetivos, o uso da Gestão Visual é essencial, uma vez que torna claro a todos onde estão os problemas, assim como auxilia no acompanhamento de ações, projetos, indicadores, etc.

Por fim, é importante salientar que não há solução padrão para problemas específicos. Cada empresa tem sua realidade, e os princípios e ferramentas do lean devem ser adaptados a cada necessidade. A dica é pensar enxuto, produzir valor em processos contínuos e, a cada dia, buscar uma melhor forma de atender o cliente.

* Por Marina Bouzon: formada em Engenharia de Produção Civil pela UFSC e mestre pelo Programa de Pós-Graduação da Eng. Mecânica na UFSC na área de manufatura enxuta. Colaborou em programas de aplicação da Manufatura Enxuta em empresas como Whirlpool e Intelbrás. Atualmente é doutoranda em Logística pelo Programa de Pós-Graduação em Eng. de Produção da UFSC, integrante do Laboratório de Desempenho Logístico, professora e consultora em Manufatura Enxuta e Logística.

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Leitura Recomendada

Teoria das Restrições na prática

A TOC (Theory of Constraints – Teoria das restrições) foi criada na década de 1970 por um físico israelense chamado Eli Goldratt para solucionar alguns problemas da logística da produção. A metodologia desenvolvida propõe que a produção seja programada em função das restrições, dado que todo sistema produtivo possui alguma restrição que o impede de ser melhor. Pode ser uma máquina que limita a capacidade de produção, pode ser a qualidade da matéria-prima, a habilidade dos funcionários, ou se tudo isto está funcionando com sobras, a restrição pode ser até mesmo a demanda ou o mercado (que não são tão grandes quanto poderiam).

Na década de 1980, o criador da TOC publicou o excelente livro A Meta, que mostra as dificuldades de um gerente de fábrica numa história envolvente. Este livro já foi indicado aqui no site e você pode ler mais sobre a recomendação de leitura. Lá, ele mostra uma série de etapas a serem seguidas para aplicar a Teoria das Restrições: identificar a restrição do sistema; explorar a restrição do sistema; subordinar tudo a decisão anterior; elevar a restrição do sistema.

livro a meta na prática - teoria das restriçõesO criador desta técnica faleceu neste final de semana, em 11 de junho. O legado que ele deixa para as empresas e para os seguidores da metodologia é imenso. Seguindo a evolução de seu sistema, Goldratt desenvolveu também processos de raciocínio lógico que poderiam ser aplicados à produção, depois de implantada a TOC, permitindo superar as novas dificuldades num processo de otimização contínua.

Por este motivo, hoje voltamos ao assunto da Teoria das Restrições e a indicação de leitura é uma outra obra de Goldratt, onde ele explica na prática como aplicar a TOC. No livro A Meta na Prática, que possui um CD ROM com um software para a aplicação da TOC, a ênfase recai no conhecimento de como conduzir a empresa à mudança e os exercícios com o simulador mostram como identificar, na prática, o problema e chegar rapidamente à sua solução e ao desempenho otimizado da produção.

O livro é baseado no processo que deve-se passar para solucionar o problema, e para isto ele conduz o leitor por atividades onde você preenche tabelas, listas e faz exercícios ao longo do livro para identificar e resolver a sua situação. Em paralelo, ele ensina a utilizar o software de simulação que acompanha o livro em CD ROM, deixando a leitura mais interativa e muito prática.

Este livro pode ser encontrado no Submarino ou na Saraiva.

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Logística

Promoção: 3 livros de logística

Em mais uma promoção do Logística Descomplicada em parceria com a Editora Cengage Learning você tem seu acesso facilitado à três excelentes livros da nossa área. Todos eles já foram recomendados aqui no site e também já tivemos sorteios de todos os títulos.

Desta vez, os títulos escolhidos envolvem a logística reversa, a administração da produção e operações e a logística internacional. Os assuntos são variados para que todos possam aproveitar.

Não se trata de sorteio, todos os leitores terão acesso ao desconto exclusivo de 30% nos títulos abaixo. Basta acessar o site promocional exclusivo (acesse o link!) para o Logística Descomplicada e ter acesso ao preço promocional.

promoção Cengage Learning e Logística Descomplicada

Logística Reversa e Sustentabilidade: A abordagem do livro segue uma linha de raciocínio clara, tratando os fundamentos da logística reversa e integrada e apresentando como é feita a gestão reversa de resíduos sólidos urbanos no Brasil. Leia a recomendação do livro Logística Reversa e Sustentabilidade e acesse o site para comprá-lo com o desconto exclusivo.

Administração da Produção e Operações: aborda desde o processo de tomada de decisões, passando pelas definições do sistema de produção e pela operação e controle do mesmo, este livro trata de previsão de demanda, controle de qualidade, pesquisa operacional, controle de estoques, processos enxutos (lean), dentre outros. Leia mais sobre este livro e visite o site para comprá-lo com 30% de desconto.

Logística Internacional: conheça como se executam várias etapas com a qualidade de “classe mundial”. Todas as questões relevantes, incluindo documentação, prazos de pagamento, termos de comércio internacional (Incoterms), risco de câmbio, seguro internacional, trâmites alfandegários, contratos de vendas por agenciamento ou distribuição, embalagem e transporte, são explicadas em detalhes. Veja mais informações sobre o livro e visite o site promocional para obtê-lo com 30% de desconto exclusivo.

Aproveite, esta promoção é válida de 09/maio até 24/maio.

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Demanda Logística

O Just in Time está nos atrasando?

Todos já sabemos que estes são tempos difíceis, mas será que sabemos por que a economia está sofrendo tanto? Uma teoria diz que o Just in Time (JIT) (bem como outras práticas de manufatura enxuta) são os culpados.

Veja uma analogia interessante: animais com um “estoque” de gordura tem mais chances de sobreviver em tempos difíceis do que animais muito magros. Ou ainda, pense num grupo de alpinistas numa geleira. A teoria do JIT diz que eles devem estar todos amarrados juntos com cordas bem pequenas… assim quando um deles cair, todos caem em sequência! Será que essas metáforas estão corretas? Será a manufatura enxura a causa dos nossos problemas? Existem razões para crer que ela é de fato o bode expiatório.

Pense na indústria automobilística, e na GM em particular. A demanda está (ou estava até bem pouco tempo) muito mais baixa do que a capacidade instalada. (Na verdade, já estava assim há bastante tempo, mas só agora percebe-se essa enorme discrepância.) Se eles mantiverem a produção atrelada à capacidade, então continuarão a aumentar seus estoques, convertendo dinheiro em estoque. Isto pode até funcionar por algum tempo mas eventualmente seu dinheiro acaba, e aparece o risco da falência. Foi este o problema que eles enfrentaram. A alternativa é para a produção, mas então você paga seus funcionários para fazer nada, e neste caso você continua gastando dinheiro, sem ao menos ter um produto aparecendo no final do dia. Isto é muito caro – em teoria, estoque pode ser eventualmente transformado em alguma receita.

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Demanda Logística

O que é e como calcular o Lote Econômico de Produção (ou Fabricação)

Muitas empresas hoje precisam decidir se irão comprar ou fabricar algumas partes de seus produtos. Esta é uma decisão estratégica pois envolve não somente custos, mas o know-how e a flexibilidade que se tem ao fabricar as partes internamente, mas normalmente acarreta outras preocupações como treinamento da mão-de-obra, compra de equipamentos, manutenção, etc.

Ao decidir por comprar, a empresa pode usar o Lote Econômico de Compras, que já foi discutido e explicado em outro artigo. Se a opção for por fabricar, então veremos hoje qual a quantidade que deve ser produzida, utilizando o Lote Econômico de Produção (ou Lote Econômico de Fabricação).

Se no Lote Econômico de Compras os custos minimizados eram de estoque e de colocação do pedido, no Lote Econômico de Fabricação iremos minimizar os custos de fabricação, o custo de setup da máquina (ajuste para o tipo de produto) e custo por manter o estoque do lote fabricado. Para atender a demanda de um período (por exemplo um mês) a empresa pode optar por fabricar um grande lote igual a demanda, ou 2 lotes iguais a metade da demanda, ou 10 pequenos lotes iguais a 10% da demanda. Qual é a opção mais barata?