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Roubos de cargas e seus efeitos

Está difícil encontrar os números reais para desenhar esse “mapa de prejuízos”. Os roubos de cargas crescem vertiginosamente sob os olhos das autoridades que, sem meios e sem interesse, resultam no que chamamos de “urso pescando salmão”: enquanto um peixe que salta é capturado pelo urso, vários seguem seus destinos. Difícil ainda é identificar quem é o urso e quem é o peixe nessa história.

roubo de cargaApesar das divulgações dos números por parte das associações ligadas ao setor de transportes, eles são incompletos por dois motivos principais: muitas transportadoras, para “competir” no mercado, não possuem seguro de cargas e assim não entram nas estatísticas, e certas informações de seguradoras que, por questões de sigilo de mercado, não revelam a real situação. Fica a dica para quem contrata: veja se seu produto e o trecho estão cobertos, exija os comprovantes de contratação do seguro e cheque-os, pois esse mercado está repleto desses prejuízos iminentes.

Em 2011, escrevi o artigo “Roubo de cargas – Um problema de todos”, onde se chamava atenção para os custos dessa atividade criminosa, que giram em torno de 15% com escoltas e equipamentos de segurança. Mas, devido ao aumento considerável nas duas variáveis principais: tipo de produto e número de ocorrências; esse percentual já é questionável. A ousadia das quadrilhas parece não ter limites.

Esse questionamento em relação aos custos se deve também pelo tipo de ocorrência. Alguns especialistas alegam que o trabalho policial expulsa as quadrilhas das BR´s. Eu arrisco afirmar que, pela facilidade e livre movimentação, essas quadrilhas se aproximaram ainda mais da fonte da carga e agora agem em fábricas e nos centros de distribuição. Os roubos pré-cargas era uma modalidade rural, onde o gado era furtado na calada da noite. Hoje, até pequenos produtores dormem em suas lavouras de tomates na tentativa de guardar seu produto. Do tomate ao equipamento eletrônico, nada escapa aos olhos dos larápios.

Como se não bastasse, os consumidores ainda são prejudicados de outras maneiras: um exemplo fica por conta dos Correios que, com a evolução do seu serviço de entregas, já não cobre certas áreas devido esse tipo de violência. E se engana quem pensa que o interesse é apenas em eletrônicos. Também são roubadas faturas de cartões para a aplicação de vários golpes.

Se prestarmos atenção às ocorrências, que em 2012 atingiu o maior patamar em 15 anos, e repetiu o infeliz recorde em 2013, observaremos que se tornou um grande negócio não só para as quadrilhas: houve um crescimento assombroso das empresas que oferecem escoltas armadas e do setor de segurança patrimonial de indústrias e transportadoras. A diversificação dos serviços também cresceu: serviços apenas para trechos mapeados como perigosos, planos especiais para armazéns, monitoração, rastreamentos… Tudo na intenção de reduzir custos para os clientes.

Se em 2009 já registrávamos mais de 13.500 casos no Brasil e falávamos de R$ 1 bilhão em prejuízos, em 2013 esses números chegaram a 15.200 casos e com o mesmo R$ 1 bilhão em prejuízos. A que se deve a “façanha” de manter o mesmo valor estimado? Sabemos que as transportadoras tentam diminuir a atração pelas cargas, mas não há como fazer com combustíveis e produtos de fabricantes específicos. Na realidade, estamos perdidos nessas informações. Não só pelo que foi citado sobre a questão da falha na informação das transportadoras e seguradoras. Partindo daquele princípio de que não se pode gerenciar aquilo que não se pode mensurar, podemos dizer que a solução está muito distante.

Em São Paulo, que bateu o recorde dos últimos 8 anos e onde se concentram 53% das ocorrências, seguido do Rio de Janeiro com 23%, foi sancionada uma lei que prevê a perda da Inscrição Estadual e do registro de ICMS para lojas que praticam o crime de receptação. Para tanto, seria muito bom se houvesse uma fiscalização eficaz, se não houvesse o “esquente” de notas fiscais e a “pulverização” desses produtos no mercado. E, se acima de tudo, não houvesse um questionamento sobre o grau de interesse do poder público em combater realmente esse tipo de ocorrência que, mesmo contra a cidadania, tem uma importante participação na movimentação da economia, na geração de empregos e na geração de mais combustível para a máquina dos impostos.

Tratamos como prejuízo, mas na verdade não é um grande negócio? Promissor porque nós cobrimos os custos e lucrativo porque ainda compramos os produtos – não sabendo se tratar de roubo ou sabendo e fomentando esse absurdo.

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A corrupção nos transportes

O que você e os setores perdem com essa prática

Nos últimos dias, mais um escândalo de corrupção veio minar, ainda mais, as estruturas do já deficiente Ministério dos Transportes. Não cabe aqui citar os já conhecidos nomes nem detalhar as tão noticiadas ações de corrupção tão praticadas nessas divisões. Cabe apenas mencionar que o antigo DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens), atual DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes) foi extinto devido às sérias e comprovadas ações de corrupção. O que se repete, com maior intensidade e monta no DNIT. Qual será o próximo nome para que continuemos a sofrer com esse câncer da corrupção que mata nosso desenvolvimento?

O DNIT se lamentou há pouco tempo que seu orçamento seria insuficiente para tantas necessidades que nossas rodovias apresentam. De R$ 9 bi chegaríamos aos R$ 30 bi anuais nos próximos oito anos para que fossem atendidas as necessidades básicas. Não precisa fazer muita conta para sabermos que, só nos últimos dez anos, as verbas seriam suficientes para duplicar os trechos mais importantes das BR’s, deixar perfeitamente trafegável os demais trechos implantados e ainda sobraria para as implantações tão necessárias ao escoamento de cargas, hoje limitado pela pouca ou muita corrupção. Sabe o que é pior? Quantas vidas se perderam devido a essa corrupção tão presente nas estradas de todo o nosso Brasil?

Não adianta mais mudar de nome. Tem que mudar de atitude. Um setor tão vital ao crescimento econômico do País não pode ser administrado com esses fins interesseiros, seja politicamente ou de forma pessoal. Sabemos que isso é de difícil erradicação, mas como fazer se é de extrema necessidade?

corrupção nos transportes - DNITQuanto mais impostos são pagos (só nesse ano superaremos em mais de 13% o ano passado) se percebe o uso danoso contrário ao curso do desenvolvimento de que tanto necessitamos. Só no ano passado, em seis meses, uma única modalidade de corrupção (sim, são muitas modalidades) desviou mais de R$ 780 milhões. Suponhamos aplicar a regra de três na atual situação com o plano orçamentário em R$ 30 bi. Chegaríamos aos R$ 2,6 bi desviados ao ano. Repito: só nessa modalidade. Daria para diminuir significativamente o custo de manutenção de frotas, o estresse nas roteirizações, o tempo e a qualidade nos ciclos de abastecimento e, o mais importante, os acidentes de cargas e passeios que, com frequência, ceifam vidas.

Com estradas em melhores condições elevaríamos o PIB (Produto Interno Bruto) tornando o País mais rico e elevaríamos a taxa de crescimento anual em cerca de um quarto percentual. Mais empregos e melhores perspectivas de vida e de mercado numa tradução simples.

Os frequentes escândalos são mais danosos do que imaginamos. Eles não só freiam o desenvolvimento como nos privam de soluções, muitas vezes simples. Isso parece estar tão incorporado ao nosso sistema que somos incapazes de mensurar nosso crescimento sem essa mazela. Não é difícil saber que ganharíamos muito em qualidade de vida já que nosso trabalho e vida pessoal seriam muito mais fáceis de administrar. Talvez a incapacidade de lidarmos com isso nos leve a incorporar, de forma tão natural, à nossa rotina. Um grande erro.

Não há como crescer sem uma boa infra-estrutura de transportes. O atual governo sabe disso e vive um momento delicado. Nós sabemos disso e pouco se pode fazer. Nossos concorrentes sabem disso e têm mais facilidades em competir conosco – e ganhar. O preço é alto. E, pior, isso desencadeia várias atitudes, as quais abordarei futuramente, como a corrupção dentro de outros segmentos e uma em especial: a corrupção dentro da logística.

Mas para que possamos discutir esses assuntos delicados, precisamos saber de onde vem e como acontece isso. Por mais assediado que seja um determinado setor, a corrupção não nasce nele. Nasce numa pessoa que espalha a obtenção de vantagens e, impunemente, planta essa facilidade na intenção de alguém sem ética e sem moral.

Há poucos dias percorri mais de dois mil quilômetros em rodovias federais. Foi o suficiente para ver a precariedade, acidentes fatais e pessoas alheias a tudo isso. Já não se fala dessas dificuldades. A vida segue. Mesmo que esse assunto seja chato e repetitivo, não podemos parar de abordá-lo. Não podemos nos convencer de que isso é normal. Quero me convencer de que podemos mudar isso para que eu possa continuar fazendo a minha parte – um pequeno, porém existente, pedaço de um todo.

Responda a essa pergunta: O que seria diferente na sua vida se as estradas fossem melhores?

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Roubo de cargas – um problema de todos

 

Há muitos e muitos anos lidamos com essa imposição da violência que assola o Brasil e o mundo. Muitos não param para pensar o quanto ela nos custa devido sua presença constante em nossa rotina. Ela, a violência, custa caro, muito caro.

Não seria exagero calcular que, assim como os impostos, o preço do carro que você dirige teve e tem um percentual para a violência, o computador que você usa agora teve seu preço acrescido em torno de 15% ou até mais, a depender do tipo e local onde se encontra, devido ao perigo, puro e simples, do roubo de cargas. Imagine que até no pãozinho o custo da violência está presente. Como se não bastasse pagarmos por ela, ainda temos que suportar as diversas mazelas que nos traz.

roubo de carga no transporte rodoviárioEsse valor cobrado pela violência sobre o nosso consumo vem do seu efeito sobre a logística, na forma do roubo de cargas e da violência no trânsito, os chamados “sinistros”. Assim como no ano de 2009, com mais de 13.500 ocorrências de roubo de cargas e R$ 1 bi em prejuízos em todo o País, em 2010 seguiram crescendo. Só os empresários paulistanos amargaram um prejuízo direto de R$ 280 milhões e, nos primeiros levantamentos de 2011, já se registrou R$ 70 milhões em mais de 1.800 ocorrências. Do total no Brasil, 53% das ocorrências são registradas no estado de São Paulo, com maior incidência nas rodovias Régis Bittencourt (BR-116) e Anhanguera, e 21% no Rio de Janeiro. O foco dos bandidos se volta às cargas com alimentos, eletroeletrônicos e medicamentos, mas não se restringe a esses produtos.

Na busca pela diminuição dessas ocorrências, as transportadoras, sem direito à escolha, têm um custo de 15%, em média, voltado à escolta e equipamentos de segurança – Já foi explicado no início quem paga esse valor. É muito. Mas, o que fazer? Os bandidos possuem equipamentos de bloqueio de sinal onde neutralizam a ação da segurança. Não temem a escolta armada porque possuem armamento mais pesado e, às vezes, estão disfarçados de policiais nos acessos às capitais. E o Estado, que deve proteger o comércio e o cidadão? Afinal, os impostos também se baseiam em serviços essenciais. O problema é que absorvemos essas ações da violência e compomos nossa rotina. O problema virou fator de cálculo na hora de compor um preço – “Deixe-me ver… 48% de impostos… 15% para a violência…” Está errado. Isso não pode ser tratado com naturalidade. Estamos falando da vida de motoristas, em especial. Se pagar por isso já é um absurdo, que dirá o custo de uma vida humana.

As ações da polícia visam à inibição dessa prática. É bem sabido que o crime se atualiza constantemente. As modalidades vão emprestando seus recursos a outras à medida que o combate se intensifica. Em São Paulo, a patrulha aérea das ruas começa indicar um paliativo. É claro que é impossível zerar esse tipo de ocorrência [Eu também acabo de trazer isso para minha rotina real]. Mas, ações sempre terão que ser tomadas e atualizadas. Os bandidos são os únicos que deveriam estar acuados. Esse combate deveria se intensificar aos receptadores também. Esses roubos só acontecem porque a carga já possui um destino. O comércio formal é o destino da grande maioria delas.

As empresas voltadas ao transporte de cargas também têm um papel importantíssimo, tanto no aprimoramento de suas operações quanto no treinamento de seu pessoal, em especial, motoristas para rever certos hábitos. Eles correm perigo e continuam atraídos à falta de atenção e de estratégia conjunta com a base operacional. É quase uma estratégia de guerra. Claro, reagir nunca. Mas, as cargas não são roubadas apenas por seu conteúdo, muitas o são por seu comportamento.

Com isso, concluo que a violência é a única coisa que existe no mundo em que não há um só indivíduo que sofra efeitos indiretos. Ela é de efeito direto em todas as pessoas, sem exceção alguma. Se ela não lhe rouba o carro, sua bolsa ou carteira, lhe rouba qualidade de vida. E só nos resta combatê-la fora da normalidade. Trazê-la à normalidade é admitir que não há solução.