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A armazenagem das safras brasileiras

Historicamente, o Brasil possui sérios problemas acerca da capacidade de armazenagem de suas safras. São problemas registrados em diversos levantamentos, feitos por entidades ligadas às atividades do campo e do comércio, que já faziam parte do cenário da cadeia agrícola há quase trinta anos. Há 22 anos, por exemplo, o país colhia cerca de 73 milhões de toneladas de grãos e em 2016 a safra foi de 184 milhões de toneladas. Para 2017, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), previa uma safra de quase 225 milhões de toneladas.

Principais fatores que contribuíram para o aumento das safras brasileiras

Timidamente, o Brasil foi se convencendo da necessidade de proteger sua produção agrícola, a exemplo de outros países, e aos poucos, através de projetos de incentivo à produção, foi deixando de produzir números de importação, fazendo com que surgissem novas áreas e novas técnicas de cultivo, principalmente em relação às entressafras, e com o auxílio de estudos climáticos e dos solos, adaptou-se as culturas de forma mais eficiente.

Movidos por um cenário cada vez mais promissor, os produtores levaram o progresso tecnológico ao campo. Muitos dos defensivos agrícolas evoluíram para um maior controle de pragas altamente danosas à produção, as sementes passaram por melhoramentos, enquanto os equipamentos revolucionaram o sistema de colheita ofertando um ganho considerável de produtividade.

Mas, o que houve com a armazenagem?

Mais que rapidez, do plantio à colheita, os produtores contavam com os investimentos em infraestrutura que tornasse o escoamento da produção compatível com a grandiosidade que o campo já representava para o comércio doméstico e, principalmente, para os anseios do comércio internacional.

Contudo, o governo não ofereceu infraestrutura adequada, nem os produtores planejaram eficientemente as operações de escoamento da produção, e o setor hoje sofre com a oferta insuficiente do transporte e com a baixa capacidade de armazenagem, que deixa de atender hoje quase um terço do que é colhido.

Nos Estados Unidos, por exemplo, só a produção de soja e de milho está na casa de 500 milhões de toneladas e o país possui capacidade de armazenagem para uma safra e meia. Isso não lhes traz apenas melhores condições para o escoamento, como também mais ganhos no mercado através de grãos mais bem preservados e de negociações sem que o tempo seja o principal motivo para fechar negócio.

Entendendo a armazenagem de grãos no Brasil

As safras, em sua maioria, recorrem a três tipos de armazenagem: armazéns próprios, com cerca de 15% de capacidade instalada, terceirizados ou privados, que atendem cerca de 60%, e os públicos, cujos números são confusos, pois a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que conta com o cadastro de 17.707 armazéns (graneis, convencionais e frigoríficos) espalhados pelo país, considera-os como sendo sua a capacidade de armazenagem, porém, sabe-se que apenas 2% dos estoques estratégicos desses armazéns estão em terras públicas.

Ainda assim, a estatal divulgou no final de 2016 um leilão de armazéns após uma queda de 54% da procura naquele mesmo ano. A queda se justifica pela dificuldade em administrar 90% das estruturas públicas, segundo especialistas.

Transporte com o papel de armazenar

Além dos produtores estocarem grãos cobertos com lonas ao lado das rodovias para facilitar o escoamento, a armazenagem volante, aquela feita em caminhões disponibilizados para o transporte que, devido às más condições das rodovias e à espera prolongada para a descarga, também causa perdas e compromete a qualidade devido à fermentação provocada pela umidade, é usada desde a colheita na busca por suportar a conhecida precariedade do sistema. Além de encarecer o frete e provocar escassez de mão-de-obra, a prática congestiona outras etapas do processo de escoamento e afeta diretamente a competitividade dos grãos brasileiros, principalmente nos aspectos de tempo, qualidade e quantidade.

Atualmente, estima-se que o Brasil perca mais de R$ 8 bilhões com problemas no transporte, só da soja e do milho, e quase o dobro disso com os problemas de armazenagem que geram perdas, baixas na qualidade e descontos em contratos.

 

Este texto foi revisado por Cíntia Revisa!

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Comércio Exterior - COMEX Logística

Porto: o caos anunciado

 

Não é preciso dominar as artes da adivinhação para se saber que o Porto de Santos deverá viver de abril a outubro um período de caos, que vai se estender a todas as rodovias que ligam o Planalto às vias de acesso à faixa portuária. Esse é o período do escoamento da safra de grãos e açúcar e, a exemplo do que tem ocorrido em anos anteriores, não há por enquanto qualquer esperança de que as autoridades estejam planejando a implantação de um esquema de operação especial nas rodovias da região para absorver o aumento do número de caminhões em direção ao Porto.

Para agravar a situação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) acaba de anunciar com todas as pompas um recorde para a safra de grãos de 2010/2010. Ninguém é contrário a que o setor agrícola continue a bater recordes sucessivos de produção e exportação. O que se questiona é a falta de uma coordenação logística para que essa safra seja escoada sem que outros setores da economia sejam sensivelmente prejudicados, como tem ocorrido até aqui. E sem que a população das cidades da Região Metropolitana da Baixada Santista seja afetada em seus deslocamentos para São Paulo (e vice-versa).

Normalmente, o Porto de Santos, por onde passam 27% do comércio exterior brasileiro, já apresenta problemas que provocam atrasos e transferências de embarques e desembarques tanto na exportação como na importação não só em razão de obras de infraestrutura, manutenção e dragagem como de problemas de operação em terminais. Com a safra de grãos, a previsão do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Litoral Paulista (Sindisan) é que mais de 15 mil caminhões circulem por dia nas rodovias locais, quando normalmente o fluxo é de 10 a 11 mil.

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Logística Notícias

A logística do agronegócio

Os números não mentem: segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o ideal é que a capacidade total de estocagem seja 20% superior à safra. Entretanto, hoje, o Brasil consegue armazenar algo em torno de 133 milhões de toneladas de grãos, frente a uma produção que – neste ano – deve atingir um índice recorde de 144 milhões de toneladas, conforme estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Outro agravante, conforme os números da Conab, é a má distribuição geográfica dos silos existentes. De acordo com o levantamento da companhia, menos de 20% da capacidade de armazenagem do País está instalada dentro das propriedades rurais. Sendo assim, não apenas faltam silos, como os que existem não conseguem atender a demanda por, em sua maioria, estarem fora dos locais de produção.

Além disso, de acordo com o Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, em países desenvolvidos, mais de 50% dos armazéns são particulares, enquanto no Brasil esse volume atinge apenas 15%.