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O maior desafio logístico de todos os tempos (parte 1/2)

E tudo tem mesmo a ver com o tempo. Tudo tem mesmo a ver com a Logística. As deficiências acumuladas, a falta de infraestrutura e de interesse na solução dos problemas que atormentam grande parte da população mundial – que tem os olhos voltados apenas para a produção de forma insustentável sem a preocupação com os descartes, com a poluição e sem um meio eficiente de distribuição – obrigarão o setor logístico a perseguir soluções jamais imaginadas. Terá que desenvolver em duas décadas muito mais do que desenvolveu em mais de um século.

desafio logisticoSabe aquela história que sempre ouvimos sobre meio ambiente? Pois é, a conta chegou. Transformamos tudo em lixo e não transformamos o lixo, entramos no curso do desperdício e agora precisamos olhar para trás para enxergar o futuro.

No final de março de 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou o documento que, segundo especialistas, é o levantamento mais bem feito sobre o futuro da Terra até agora. O relatório tem como base mais de 12 mil estudos publicados em revistas científicas que relatam atualidades e consequências das ações humanas no planeta para os próximos 30 anos. Muito tempo? Não diria para um processo de modernização logístico/ambiental que se faz necessário.

Com alguns detalhes desse estudo e com a real situação dos setores logísticos mundiais estudados em meus 15 anos de dedicação à Logística, com seus erros e acertos – mais erros do que acertos –, é possível mensurar o tamanho do desafio que vai muito além de acreditar ou não em aquecimento global, de estarmos ou não no caminho certo, de termos ou não tecnologia para romper o tempo que parece estar contra nós. Tudo precisa ser revisto, reaprendido, reposicionado, embora a situação atual seja considerada irreversível.

A previsão do aumento da fome no continente africano, das temperaturas (em 2 graus Celsius) dos sistemas como o mar do Ártico, das enchentes na Europa e na Ásia e das catástrofes “naturais” nas Américas resultam, entre outros problemas, na diminuição de mais de 25% da produção de grãos até 2050, mesmo ano em que se estima que haja nove bilhões de pessoas no planeta.

Hoje a população mundial é de 7,2 bilhões de pessoas. Os problemas são muitos: falta de água limpa para 11% das pessoas; 40% não têm acesso a produtos de higiene bucal (no Brasil são 58%); 17% não são alfabetizadas e, com o número de chips de celulares se igualando ao número de pessoas, 83% possuem celulares, bem mais do que os 65% que usufruem de saneamento básico; também 83% têm energia elétrica e só 50% têm acesso à internet. Ou seja, teríamos que melhorar muito a oferta de água, comida, saúde, educação e infraestrutura para enfrentarmos as décadas futuras.

Enquanto muitos países ricos se negam a diminuir suas agressões ao meio ambiente, sabendo que não estão imunes, alguns começam a investir em soluções contra eventos climáticos, como Grã-Bretanha, Estados Unidos e Japão. Mas, nada pode ser garantido se não houver a união de todas as nações. Contudo, o choque de interesses parece bem mais forte do que a preservação da vida.

As pessoas buscarão, cada vez mais, as grandes metrópoles fugindo das dificuldades; a logística humanitária ganha um papel ainda mais importante; as ferramentas para uma distribuição eficaz serão postas à prova. Cabem aos governos os investimentos e à Logística a inovação com novas estratégias, eficientemente sustentáveis com modelos e metas bem diferentes. É, nova logística para novos tempos… E, essencial como sempre foi.

O mesmo relatório, que aponta ferramentas para lidar com o problema, aponta também para uma conta multibilionária. Só não aponta quem pagará. Porém, já se sabe que aquele dinheiro que ganhamos explorando a Terra seria convertido em soluções buscando reparar parte do que destruímos. Só não conseguimos ainda entender que a “casa” não é nossa e que o bem-estar dos nossos filhos, dos nossos netos, depende do nosso respeito por ela. Tão repetitivo isso, não é mesmo? Então, permitam-me mais uma repetição do que tantos já ouviram: Ainda não aprendemos.

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Gestão Gestão da Cadeia de Suprimentos Logística Supply Chain Management

Sustentabilidade como fator de tomada de decisão

A tomada de decisão é um processo cada vez mais complicado no mundo corporativo atual. Anteriormente, de uma maneira geral, a tomada de decisão das corporações era realizada baseada em um ou dois elementos. Custo certamente era um deles.

sustentabilidadeMudar uma fábrica de localização (por exemplo, do Brasil para a China), é uma decisão que está atrelada à oportunidade de reduzir custo de mão-de-obra, incentivos econômicos ou outros.

Entretanto, a mudança do perfil do consumidor – hoje o consumidor é consciente, ciente dos seus direitos e preocupado com as consequências do seu consumo (claro, essa característica se aplica ainda a uma razoável, mas crescente, parcela da população), modificou também a maneira como ele toma a decisão de compra ou de escolha de um serviço ou outro.

O fator Custo certamente ainda tem elevada importância, mas a decisão do consumo é hoje baseada em uma árvore complexa de fatores. E o mais jovem desses fatores é a questão da sustentabilidade. Os impactos diretos e indiretos da atividade da empresa e a maneira como a empresa administra esses impactos são portanto levados em consideração no momento da escolha do consumidor.

A Sustentabilidade é portanto hoje elemento definidor da competividade das companhias. Fazer parte de um “mundo sustentável” é a única alternativa (em médio prazo) para que uma empresa seja capaz de sobreviver no mercado.

O “surgimento” dessa necessidade está também associado a outro fenômeno: a velocidade e eficiência da integração da comunicação. O que se diz ou se faz aqui, pode-se ouvir em segundos em qualquer outro canto do mundo.

Assim, muitas vezes por uma necessidade movida por fatores exógenos (demanda vinda dos consumidores) e não por fatores endógenos (sua própria politica), as grandes corporações do século XXI levantam a bandeira da sustentabilidade !

No Brasil, muitos executivos ainda não têm maturidade de conhecimento do próprio negócio para entender que hoje, a definição da estratégia da sua empresa, vem do consumidor, e não dele próprio. Assim, de maneira geral, a sustentabilidade faz parte da preocupação das empresas, porém não é uma prioridade na tomada de decisão das corporações.

Quem quiser sobreviver no mercado é melhor estar atento às demandas do consumo !

Por Thiago Barros Brito: doutorando em Engenharia Logística na USP, e mestre em Engenharia de Produção, ambos com foco em Logística Global , Cadeia de Suprimento. Atualmente é pesquisador da USP, onde pesquisa métodos de simulação e otimização. Baseado em Sao Paulo, também é sócio da Genoa Consultoria Logística.

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Gestão Logística Transportes

A Logística Verde e o Custo Logístico

A Logística Verde, conceito definido em tópico passado desse blog, está relacionada a iniciativas e preocupações com os aspectos da atividade logística e seu entorno (sociedade, meio ambiente, economia, etc.). E a primeira e grande preocupação dos administradores e tomadores de decisão são os custos associados a essas iniciativas. É na avaliação do trade-off entre o verde e o financeiro que está o ponto crucial dessa forma de se fazer logística.

Inegavelmente, um dos propósitos primais da logística é reduzir custos (especialmente de transporte). Entretanto, as estratégias de redução de custos são usualmente antagônicas à consideração da variável ambiental na gestão empresarial. Um exemplo bem simples seria a programação de entrega de produtos usando uma frota de veículo antiga ou uma frota de veículos renovada. Certamente a aquisição da frota antiga é mais barata do que a aquisição da frota renovada.

O que acontece é que os custos relacionados a possíveis economias logísticas não “somem”, não evaporam no ar, mas são externalizados no sistema. Isso quer dizer que quem assume essa diferença de custo é o meio ambiente, com consequências como maior emissão de CO2, maiores riscos de vazamentos e acidentes, destinação irresponsável dos insumos, maior geração de resíduos, entre outros. Como o meio ambiente é uma fonte não renovável de geração de recursos, esses custos causam prejuízos irreparáveis à nossa geração e às gerações futuras.

A adoção de politicas de logística sem a consideração ambiental – consequentemente mais baratas, causa uma primeira percepção do usuário, do consumidor e do gestor de benefícios na redução dos custos financeiros diretos.

Entretanto, o fenômeno hoje é que a sociedade está cada vez menos propensa a aceitar e absorver esse custo irreparável, e a pressão tem invariavelmente crescido para inclusão de considerações ambientais nas operações logísticas. Por tal motivo, a preocupação com a preservação do meio ambiente está diretamente relacionada à sobrevivência das corporações.

Outro ponto que é mais difícil de ser mensurado diretamente é relação entre o investimento em políticas ambientais e os retornos financeiros da empresa. Segundo avaliação do DSJI (Dow Jones Sustainability Group Index), o índice de benchmark mais reconhecido mundialmente na questão de sustentabilidade e responsabilidade ambiental, baseado na análise dos desempenhos econômicos, ambientais e sociais (com pesos iguais para as três variáveis) de mais de 3000 companhias globais, as empresas que adotam procedimentos operacionais com vistas a reduzir os impactos ambientais de suas atividades estão obtendo em geral um maior retorno financeiro. Para comprovar essa relação, foi realizado um estudo por pesquisadores da Universidade de Granada na Espanha, disponibilizado gratuitamente aqui (disponível em inglês) utilizando a base de dados do DSJI. Segundo os pesquisadores, em uma avaliação de curto prazo, a correlação entre o desempenho econômico e o investimento em alternativas ambientais é negativa. Ou seja, o desempenho econômico é prejudicado com a implantação de políticas ambientais nos primeiros anos.

Assim, para que a adoção de políticas ambientais torne-se vantajosa é necessário que haja uma readequação da mentalidade de investimento das companhias, tornando-as capazes de absorver e avaliar objetivos de longo prazo.

Quem pode desempenhar um papel importante nesse aumento de capacidade de percepção dos benefícios das políticas ambientais é o governo, com a adoção de medidas legais e financeiras que beneficiem as práticas ambientais.

Por Thiago Barros Brito: doutorando em Engenharia Logística na USP, e mestre em Engenharia de Produção, ambos com foco em Logística Global , Cadeia de Suprimento. Atualmente é pesquisador da USP, onde pesquisa métodos de simulação e otimização. Baseado em Sao Paulo, também é sócio da Genoa Consultoria Logística.

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Gestão Logística

O que é Logística Verde?

A questão logística é abordada diariamente nos artigos publicados nesse blog. Tratada como uma arte e ciência, o objetivo de um bom planejamento logístico é promover a armazenagem, circulação e distribuição adequadas de produtos. A avaliação do bom rendimento dos processos logísticos está normalmente associada a um único parâmetro: custo. Tanto o custo associado com os processos de transporte e armazenagem diretamente, quanto os custos associados à disponibilidade ou indisponibilidade de venda.

Essa visão simplista já não é mais suficiente para garantir um bom desempenho da cadeia logística. Primeiramente, a complexidade das relações dentro da cadeia logística é infinitamente superior do que há algumas décadas, com fluxo de informações, pessoas e materiais organizados em uma emaranhada rede com intercâmbios entre todos os seus participantes, e que não segue mais o sentido simples e lógico da cadeia logística do passado. Além disso, as exigências de performance do mundo corporativo, pressionado pela sociedade, questões políticas e legislativas, vão além dos resultados financeiros e econômicos, englobando, principalmente, questões de responsabilidade ambiental, jurídicas e sociais.

Hoje, segundo pesquisa elaborada durante o Green Logistics Forum realizado na Europa em 2010, 94% dos profissionais do alto nível que atuam no setor de logística e cadeia de suprimentos consideram a questão da Logística Verde como prioridade para o seu negócio. Mas será que todos sabem de fato sobre o que se trata a Logística Verde? Qual sua implicação, suas possibilidades e consequências? E que ações tomar para tornar sua logística verde?

Bom, vamos procurar esclarecer esses pontos aqui aos poucos, com exemplos, ideias, iniciativas que funcionaram (ou que não funcionaram), projetos de pesquisa, definições, e tudo mais que puder enriquecer essa discussão. Esse meu primeiro artigo é dedicado à definição de logística verde e quais as implicações imediatas que essa “atitude” traz para as corporações de forma geral.

Como afirmado anteriormente, o objetivo principal da logística é coordenar as atividades de armazenagem, circulação e distribuição de produtos de forma a atender às necessidades do cliente a um custo mínimo. No passado, esse custo foi definido em termos puramente monetários. Com o aumento da preocupação com o meio ambiente, as empresas devem ter em conta os custos externos da logística associada principalmente com a mudança climática, poluição do ar, poluição sonora, risco de acidentes, entre outros. Assim, surge a necessidade de equilibrar a atividade logística em três grandes pilares: econômico/financeiro, social e meio ambiente, em um processo de equilíbrio sustentável que considere e beneficie esses três objetivos

Com a quebra do paradigma que remete o desempenho da cadeia logística a custo monetário, é possível começar a trabalhar para buscar mudanças na forma de fazer logística, de fazer negócio e até viver a vida!

Por Thiago Barros Brito: doutorando em Engenharia Logística na USP, e mestre em Engenharia de Produção, ambos com foco em Logística Global , Cadeia de Suprimento. Atualmente é pesquisador da USP, onde pesquisa métodos de simulação e otimização. Baseado em Sao Paulo, também é sócio da Genoa Consultoria Logística.

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Gestão Logística Transportes

Logística das garrafas d’água mais finas

Com a tendência em dar mais atenção ao meio ambiente e ter produtos e operações mais ambientalmente responsáveis, hoje iremos falar sobre as garrafas plásticas, como essas em que compramos água.  É comum encontrar um alinhamento entre a gestão de operações e a consciência ambiental. Isso significa que uma mudança que objetiva antes de mais nada economizar dinheiro, também pode, por exemplo, reduzir o impacto no meio ambiente.

Considere a Nestlé, presente na América do Norte através da marca Nestlé Waters; ela é a a empresa por trás de marcas de água como Poland Spring, Arrowhead, e Deer Park. Ela fabrica as suas próprias garrafas – um número impressionante que alcança 20 bilhões por ano. Há cerca de sete anos, a empresa começou a examinar seus processos. Descobriu  que 1) poderia usar muito menos materiais na fabricação de suas garrafas, e que 2) essas garrafas representavam 55% das emissões de carbono da empresa. “Quando você faz melhorias”, diz o diretor Kim Jeffery, “você ataca itens com maior impacto em primeiro lugar. A garrafa era o lugar lógico para ir.”

As diferenças não são apenas estéticas. Para fazer a garrafa de 2005 eram necessários 14,6 gramas de resina. A garrafa 2012 usa apenas 9,2 gramas de resina. (O plástico é um termo geral que descreve um material moldável. O plástico da garrafa de água e de muitos refrigerantes é feita de tipo tipo específico de resina, o PET.) “Costumávamos usar 270 mil toneladas de resina por ano”, diz Jeffery. “Hoje, mesmo fazendo mais garrafas porque o negócio tem crescido, usamos 180 mil toneladas de resina.”

Isso representa menos desperdício de material (e observe ainda que o rótulo da garrafa de 2012 é menor, o que conserva papel). Ela também leva a menos desperdício de energia. A resina para cada garrafa começa com a forma de um tubo de ensaio, antes que uma máquina o aqueça e o encha de ar para esticar. Com menos de resina em cada garrafa, é preciso menos calor e ar para esticar a garrafa. “Isso é uma economia imediata de 10% de energia na própria garrafa”, diz Jeffery. E as máquinas da empresa produzem 1200 garrafas… a cada minuto!

As garrafas mais finas também pesam menos, o que impacta o transporte delas para as lojas. Assim, as emissões de carbono do sistema de distribuição também são reduzidas.

Este é um exemplo bem prático (e legal) de como é possível melhorar a sustentabilidade de uma empresa sem abrir mão do lucro. Também tem um ar de sistema Toyota, pois se você reduz os desperdícios, tudo flui melhor. Os clientes querem comprar a água de uma maneira conveniente. Não querem a garrafa, querem a água! Assim, a garrafa e tudo o que envolve sua produção e transporte é desperdício. Reduzir o desperdício sistematicamente faz todos ficarem mais contentes.

Baseado no texto “Thin water bottles” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Logística

Embalagens e sustentabilidade – o que podemos esperar?

A escassez dos recursos naturais, o aquecimento global, o consumo consciente e tantas outras situações relacionadas à sustentabilidade se tornaram discussões freqüentes no mundo empresarial. A adoção de processos sustentáveis deixou de ser diferencial, passando a ser incorporados por marcas e produtos, uma questão de sobrevivência.

embalagem sustentávelEmpresas que investem em sustentabilidade já ganham a preferência do consumidor. Segundo a Pesquisa “Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro”, dos Institutos Akatu e Ethos, de dezembro de 2010, dois em cada cinco brasileiros (41%) já concordam pagar um pouco mais por produtos de marcas que tenham posturas sustentáveis.

Para ser correta do ponto de vista ambiental uma empresa precisa estar preocupada com todo o processo produtivo. Inclusive com embalagens e resíduos dos produtos pós-consumo. Não dá para dizer que isso é uma moda. É tendência. Em 2003, durante o evento SPDESIGN, seis tendências para o segmento de embalagens foram apontadas. É bom relembrar:

1) TAMANHO:

Cada vez mais os espaços serão reduzidos nas prateleiras, em função do aumento da oferta de produtos concorrentes. As embalagens se tornarão cada vez menores. Assim, a diferenciação passará a ser importante para qualquer produto. Funcionalidade e conveniência das embalagens serão mais valorizadas.

2) EMBALAGEM GLOBAL:

Cada vez mais as embalagens passarão a ter menos palavras, utilizando símbolos e figuras universais para auxiliar na fixação da imagem dos produtos em qualquer parte do mundo. Com a globalização dos mercados as embalagens também passam a ser globais.

3) HOLOGRAFIA:

Já acontece nos EUA e no Japão, e deverá passar a ser também uma realidade para outros países, principalmente quando se trata de produtos com elevado valor agregado. Funciona também no combate à pirataria.

4) EMBALAGEM QUE “FALA”:

Em breve, boa parte das embalagens ao ser aberta deverá “falar” ao cliente  informações sobre o produto. Já são encontrados hoje no mercado embalagens que trazem indicadores de tempo e temperatura (TTI).

5) EMBALAGEM ECOLÓGICA:

Com o crescimento da consciência ecológica a produção de embalagens recicláveis e recicladas, de refis e de embalagens que após descartadas ocupem menos espaço nos aterros sanitários passa a ser uma realidade.

6) EMBALAGEM AUTO-DESTRUTÍVEL:

A engenharia de materiais terá grandes avanços no sentido de ofertar dentro de pouco tempo materiais que possam consolidar desta tendência.

Das seis tendências apontadas, duas estão diretamente ligadas às questões ambientais. Portanto, é fundamental que a sua empresa repense durante todo o tempo sobre essa situação. Seja por consciência ambiental, seja por exigência legal. Sim! A Política Nacional de Resíduos Sólidos já é uma realidade, e regulamenta a destinação pós-consumo de embalagens e resíduos de alguns setores da indústria brasileira (pneus, lâmpadas, lubrificantes, agrotóxicos, pilhas e baterias). Enquanto a Logística Tradicional trata do fluxo dos produtos fabrica x cliente, a Logística Reversa trata do retorno de produtos, materiais e peças do consumidor final ao processo produtivo da empresa.

É provável que em pouco tempo as regras devam envolver outros setores produtivos. Para onde vão as embalagens dos seus produtos depois do consumo? Em que medida elas agridem ao meio ambiente? A logística reversa já é uma realidade. Não é apenas um diferencial.

Por Heitor Marback é administrador: mestre em administração estratégica e especialista em marketing. Tem experiência com consultoria e gestão de marketing. Na área pública atuou com planejamento e comunicação governamental. Professor Assistente da Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC – Bahia.

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Gestão Logística

Logística, marketing e consumo consciente

O marketing existe desde que o homem fez a sua primeira transação comercial. A capacidade de agregar valor aos produtos, que é chamada pelos mais velhos de “tino para negócios”, é a prova de que marketing e comércio nasceram juntos. Porém, é inegável que o poder do marketing só se mostra definitivamente para o mundo a partir da Revolução Industrial. O excedente gerado pela produção em massa precisava ser escoado, o que foi possível a partir do uso das ferramentas de marketing.

Falar em escoar a produção automaticamente aproxima marketing de logística. Com mais produtos disponíveis, se tornava obrigatório incrementar os processos de distribuição. Estudar e sistematizar a melhor forma de fazer o produto chegar ao consumidor era a “bola da vez”.

logística marketing consumo conscienceNo entanto, esse desespero por produzir mais, em larga escala, teve um preço. E ele foi muito alto. Já consumimos 25% a mais dos recursos naturais que o planeta tem condições de nos ofertar. E em menos de 50 anos serão necessários dois planetas Terra para atender às nossas necessidades de água, energia e alimentos. E assim surge um dilema – produzir mais, ou esgotar as chances de sobrevivência?

O tempo passou. Viramos a página da disputa por qualidade. E hoje, não escolhemos comprar produtos e serviços pela sua qualidade (ou falta dela!). Compramos marcas, de acordo com a percepção construída ao longo do tempo. Podemos nunca ter usado um produto de uma determinada marca, e isso não impede que tenhamos uma opinião sobre aquele fabricante e sua linha de produtos. E é por isso que hoje tantas empresas se aventuram no campo da responsabilidade ambiental.

Estudos comprovam que o consumidor contemporâneo já aponta preferências por produtos ecologicamente e socialmente corretos. O dilema entre consumir muito e consumir de forma consciente tende a diminuir nas próximas décadas, o que abre novas perspectivas para o marketing. Se antes o bom era produzir e vender muito, agora a tendência é produzir cada vez melhor para se garantir uma relação cada vez mais duradoura entre produto e consumidor. Será que é um mero acaso que algumas empresas já estejam trabalhando a life warranty? Victorinox (a dos famosos canivetes suíços), Kingstom (quem não conhece os pendrives dessa marca?) e Nordweg (importante fabricante de pastas e bolsas) são exemplos de indústrias que já trabalham com garantia permanente. É um novo olhar sobre o relacionamento com o cliente.

Produzir de forma sustentável, produtos que proporcionem uma relação cada vez mais duradoura com o consumidor virou meta de qualquer empresa. Isso garante sustentabilidade, produtos de alta qualidade e satisfação do consumidor. Interessante reforçar que produzir de forma sustentável envolve também a logística! A partir da ideia da cadeia de suprimentos sustentável, podemos pensar em um processo logístico correto do ponto de vista ambiental, justo na ótica social e que seja rentável economicamente. Esse “tripé” garante uma cadeia de suprimentos sustentável e um perfeito alinhamento com a produção gerida de forma responsável.

Certamente os processos logísticos passam a assumir outras atribuições importantes, extrapolando os limites da tradicional logística direta. A primeira novidade no processo logístico está diretamente ligada a life warranty. Nesse caso, serviços como assistência técnica, atendimento ao cliente, reposição, troca precisam ser ágeis e alinhados com o atributo da qualidade que carregam esses produtos. Assim, a percepção do consumidor, construída a partir de uma relação tão duradoura, não correria riscos de ser comprometida por possíveis falhas nesses serviços. Dessa forma, os serviços estariam agregando mais valor a esses tangíveis. Com relacionamentos mais duradouros, a logística precisa se adaptar e esse novo modelo de consumo de longo prazo, com respostas rápidas, certeiras, dentro dos prazos.

Outra atribuição fundamental da área de logística em tempos de relacionamentos duradouros está diretamente ligada ao gerenciamento do fluxo de materiais. De forma primária é muito comum pensar a logística como a gestão de fluxos de materiais desde o ponto de compra da matéria prima até o seu ponto de venda do produto acabado. Porém, nos esquecemos que existe também um fluxo reverso, que deve estar atento para o gerenciamento do caminho e dos destinos de produtos e embalagens depois que saem do local onde são consumidos, retornando para o seu ponto de origem. É a chamada logística reversa.

Assim, se forma um ciclo onde ganham o meio ambiente, o comércio e o consumidor. E o marketing poderá explorar, no sentido mais positivo da palavra, a força de marcas e produtos. De uma vez por todas, o grande público passará a entender que marketing não é pirotecnia nem ferramenta para convencer os consumidores a comprarem algo que não desejem. E as pessoas irão internalizar que ferramentas de marketing são utilizadas para construir e manter relacionamentos.

Por Heitor Ferrari Marback:  administrador, mestre em administração estratégica e especialista em marketing. Tem experiência com consultoria e gestão de marketing. Na área pública atuou com planejamento e comunicação governamental. Professor Assistente da Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC.

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Gestão Logística

Logística reversa: sentidos econômico, social e de sustentabilidade

Por Eduardo Lopes

Imagine a seguinte uma situação: operadores de coleta, seleção e armazenagem de resíduos sólidos uniformizados, equipados com dispositivos de segurança e de higiene, iPad ou celular e dirigindo um veículo especialmente projetado, produzido para esta finalidade e dotado de GPS. Esta figura exibe um bom status social e tem pelo menos curso de nível médio/técnico, CNH e demais documentos em ordem. Tem seguro-saúde e demais benefícios que a sua condição de risco exige. É acima de tudo, um cidadão. Já deu para notar que é muito diferente dos atuais “mendigos que vemos zanzando por aí.

Visto dessa forma a tentação agora é discutir aspectos de rentabilidade, retorno de investimentos, viabilidade de empreendimentos e tudo o mais que faz parte da atividade logística reversa. Não vou tratar aqui de outras especialidades da Logística Reversa como operações de “recall”, retorno de produtos enviados para efeito de demonstração e outros. Nossa atenção deve estar centrada na complexidade e dificuldade de proceder a coletas em ambientes dispersos. Sim, a maior dificuldade é coletar resíduos que se apresentam espalhados no meio urbano e até mesmo rural.

Eis aí o maior problema e que torna a Logística Reversa tão difícil de ser aplicada. Às vezes o custo de buscar e recolher tais objetos é tão alto que não justifica tanto esforço. Não se vai enviar um caminhão para buscar 5 ou 100kg de carga porque não se justifica. Então. O que fazer? Aqui vou expor algumas idéias e talvez uma resposta para esta questão.

O que fazer quando tudo está onde não sabemos?

logística reversa - sustentabilidade e economiaEm primeiro lugar devemos pensar em campanha educativa para gerar interesse em colaborar. Se a comunidade envolvida não tiver essa vontade, nada feito. Em segunda instância convém adotar e usar recursos web avançados como meios de manter os operadores conectados entre si e à gerência de operações, neste caso de logística reversa. Isto vai facilitar interação dos agentes e operadores mesmo estando espalhados por aí.
Por isto entendo que, para bons efeitos, a interação exige recursos que já existem e que podem ser disponibilizados pelas empresas. São recursos que facilitam acesso às fontes de informação, como por exemplo, onde existe carga de resíduos para coletar, que coletor está nas proximidades, qual é a natureza e o volume, quem faz a gestão do processo todo e vai por aí a fora.

Cooperativismo de Produção

Atenção, não é “cooperativa de catadores” porque isto não funciona. Numa cooperativa de produção grupos de pessoas se organizam em razão do interesse maior de produzir e efetivar negócios. O trabalho de coleta passa a ser secundário para eles próprios. Nem sempre os agentes de coleta e processamento têm conhecimento das atividades de seus pares e no entanto, em muitas circunstâncias este conhecimento pode ser fundamental. Ora é o interesse de aproveitar algum frete que possa ser compartilhado, ora é a disponibilidade para algum trabalho conjunto, também o uso comum de algum equipamento de transformação e assim por diante.

O problema continua sendo relativo ao isolamento dos agentes coletores mas isto pode ser resolvido na medida em que seu papel na sociedade em especial, na economia sustentável, segue sendo cada vez mais reconhecido.

Por isto pintei no início o retrato do novo agente operacional de reciclagem como cidadão dotado de cultura, portador de conhecimentos e práticas otimizadas. Desta forma estará também devidamente sindicalizado, associado e será, como todos, um contribuinte à administração e poder público.

A modalidade cooperativa de produção responde a esta aspiração.

A solução portal ou intranet

Este é um recurso extraordinário. Para quem não conhece um portal é como um site de dimensões mais amplas e mais completo. Dispõe de recursos para acesso via telefonia móvel, GPS, banco de dados, isto é, informações de toda ordem dispostas pela empresa interessada ou de diversas outras que estão relacionada com a questão. No caso da Logística Reversa o portal integra todos os envolvidos. Possibilita manter toda a turma de coletores bem informada e em contato permanente entre si, principalmente se estiverem organizados em cooperativas de produção

Um bom portal deve dispor uma organização espacial e de cenários de operações, pessoas envolvidas e equipamentos disponíveis. Também exibe um quadro de funções e atividades relacionadas como aspectos de saúde, de manutenção, de segurança, informações sobre legislação, roteiros e meios de coleta, armazenagem e transporte, indicadores sobre valores (custos e preços), assim por diante.

A gestão integrada do processo de reciclagem deve ser muito bem feita e exige perfeita definição de relacionamentos e hierarquia, canais de comunicação e de reciprocidade bem estruturados e desimpedidos. Todo o processo de colaboração entre os implicados, pessoas ou empresas, demanda regras bem definidas elaboradas em consenso. Isto pode ser feito por colaboração em cadeia tal como se faz em redes sociais.

Enfim, existem novos recursos e a sua adoção só depende da boa vontade de gestores do processo de Logística Reversa.

Por Eduardo Lopes: designer para desenvolvimento de novos produtos e consultor, palestrante e facilitador em treinamentos para gestores; dispõe de um esquema completo para modelagem de portais corporativos – SGR, Sistema Geral de Referência.

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Sustentabilidade na logística – exemplos reais

Já discutimos como a logística pode ajudar o meio ambiente, como por exemplo com embalagens mais sustentáveis ou através da logística reversa. Hoje veremos exemplos de grandes empresas que contribuem para esta tendência, como Walmart, PepsiCo e IBM. Estes exemplos vem do jornal LA Times e mostram como o Walmart e outras companhias têm se esforçado para melhorar sua sustentabilidade. Há alguns exemplos interessantes que se aplicam além da gigante do varejo.

exemplos e estudos de caso em logística reversa e sustentabilidadeA cervejaria Anheuser-Busch InBev disse querer reduzir em 30% o uso de água em seus processos produtivos em até 5 anos e reciclar 99% de seus resíduos até 2012. A varejista de ferramentas Lowe’s reciclou quase meio bilhão de quilos de pallets de madeira e papelão.

No ano que vem, a PepsiCo Inc. está planejando testar garrafas feitas a base de plantas – que incluiriam mais de meio milhão toneladas de cascas de aveia e de laranja, que normalmente são resíduos de outras atividades da empresa.

A IBM ficou em primeiro lugar dentre 100 empresas no quesito ambiental da lista da Corporate Responsability Magazine. Mas o ambientalismo não é somente “uma demonstração de virtude da empresa” ou uma forma de filantropismo, segundo o diretor executivo Samuel Palmisano. É uma estratégia de crescimento.

“As preocupações sobre nosso meio ambiente não se opõem às preocupações sobre nossas economias e sociedades – elas são uma só”.

Para o Walmart, algumas iniciativas vão diretamente para as operações do dia-a-dia. Mas por trás das prateleiras, as operações passaram por grandes mudanças sustentáveis. A empresa afirmou que 80% dos seus resíduos na Califórnia não vão mais para os aterros sanitários – eles são reciclados em novos produtos. Ela já economizou milhões de dólares reciclando embalagens de produtos.

Mas isto vem com uma advertência: o Walmart afirma que acompanha o processo cautelosamente, pois qualquer passo dado afeta milhares de fornecedores.

“Como uma grande empresa, temos a responsabilidade e uma oportunidade – as decisões que tomamos podem acelerar mudanças por toda a cadeia de suprimentos”, disse Leslie Dach, vice-presidente executiva de assuntos corporativos. “Mas nós temos que ser mais cautelosos devido ao nosso porte”.

É uma troca interessante. Por um lado, o Walmart pode fazer muitas empresas entrarem nesta corrida. Se eles decidem que algo deve ser feito, empresas e cadeias de suprimentos podem mudar rapidamente. Por outro lado, eles sabem que existem consequências severas se eles estiverem errados. Isto significa que empresas pequenas podem arriscar mais se encontrarem alguém disposto a arriscar com eles. O Walmart certamente encontrará alguém disposto a jogar o jogo deles, mas se estiverem errados isto custará muito dinheiro para muitas pessoas.

Baseado no texto “Green packaging” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.

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Embalagem sustentável

Uma área normalmente negligenciada nos estudos de gestão de operações, mas com grande interação com ela é a área de embalagem.

Algumas matérias recentes mostram como a alta nos preços do petróleo tem levado à inovações em como os produtos são empacotados. embalagem lâmpada - sustentabilidade e menos plásticoUma delas destaca como as empresas têm trocado as embalagens plásticas por outras que contenham menos plástico (veja a imagem ao lado).

“Com a instabilidade no preço de produtos derivados de petróleo, como o plástico, as pessoas começam a pensar em alternativas para as embalagens plásticas,” disse Jeff Kellogg, vice-presidente de eletrônicos para consumo e segurança na embalagem de uma grande companhia americana.

Mas reduzir as embalagens é mais complicado em lojas físicas que em lojas online. A embalagem ajuda a vender o produto, seja com textos explicativos, cores vivas ou visual atraente. E ainda tem que deter os ladrões. Redes de varejo perderam em torno de 1,44% das vendas para o roubo em 2009, de acordo com a Federação Nacional do Varejo dos EUA.

“Embalagens plásticas serviram bem a este propósito por 20 ou 30 anos”, disse Kellogg. Então, o preço do petróleo subiu em 2008 e novamente este ano, e o custo de produção destas embalagens subiu junto.

Existem diferentes interesses nessa área, além da própria sustentabilidade. A Amazon tem incentivado o uso de embalagens menores, já que eles não precisam vender o produto exposto, mas sim apenas o manuseiam num armazém. Agora outros grandes varejistas (com lojas físicas) entraram no mesmo movimento, e usam placas nas prateleiras para chamar a atenção dos clientes e sistemas de segurança para evitar roubos.

Além disso, reduzir o tamanho da embalagem tem consequências que vão além do uso de menos hidrocarbonetos. Existem outros ganhos ao migrar das grandes embalagens plásticas para as cartelas plásticas (como as dos medicamentos).

As reduções de custo são enormes. Com a cartela, o custo de materiais e mão-de-obra é até 30% menor que com a embalagem plástica. Além disso, a quantidade de produtos que consegue-se colocar na prateleira é muito maior com a cartela. Do ponto de vista da logística e do transporte a densidade é de 30 a 40% mais com este tipo de embalagem. Finalmente, esta embalagem também atende um desejo dos varejistas, pois imagens e textos podem ser impressos diretamente nelas. Dado que a maioria das pessoas não consegue abrir uma cartela dessas só com as mãos, isto também previne roubo.

Baseado no texto “Green packaging” de Martin A. Lariviere, publicado no blog The Operations Room. Tradução e adaptação feitas por Leandro Callegari Coelho e autorizadas pelos autores exclusivamente para o Logística Descomplicada.